quinta-feira, 15 de julho de 2004

Vou pensar

Acho que foi o Paulo Gorjão que, há uns tempos, se questionava sobre o facto de a maioria dos blogues portugueses serem anónimos e de isso estar, de alguma forma, relacionado com um défice de democracia em Portugal.
Desde essa altura - foi há uns meses - nasceram muitos blogues assinados por baixo. De gente conhecida e de outra nem tanto.
O TdN começou por não ser assinado, depois foi explicitamente assinado e, agora, na última revisão do template, perdeu a assinatura. Primeiro por um acaso informático, depois porque sim.
O semi-anonimato dá um certo charme aos blogues. Pela parte que me toca, vou continuar assim - até porque quem quer saber quem é jmf já o sabe, quem não sabe e quer saber é só perguntar.
Esta conversa longa vem a propósito de uma coisa um pouco mais séria.
Nas últimas semanas, pela primeira vez, não me revi integralmente neste blogue, pela simples razão de que me auto-censurei.
Trabalho, profissionalmente, num jornal muito conhecido, propriedade de um grande grupo, mas que na prática é como se fosse estatal.
O que escrevo no blogue nada tem a ver com a minha actividade profissional - nunca misturei planos.
Mas percebi que, nos últimos tempos, houve uma certa profissionalização da blogosfera, com a chegada de funcionários partidários, pessoal de gabinetes e quejandos...
Sinto que o que escrevo por aqui - dentro dos critérios de total responsabilidade, mas igualmente de total liberdade - é lido em sítios e por pessoas que podem/querem tirar daqui consequências que nada têm a ver com um debate franco e sadio de ideias.
Quando criei o blogue, a política estava no fundo das prioridades, mas - olhem à vossa volta! - tornou-se o assunto central da nação.
Não tenho partidos por trás de mim que me tratem dos tachos e , como diz o outro, tenho família para sustentar.
Nesse exercício de auto-contenção, de medir as palavras, perde-se parte do gozo do blogue. E, insisto, o pior é que não me revejo.
É por isso que vou pensar.