quinta-feira, 19 de agosto de 2004

Bethânia - gostar, ou talvez não

Numa das blogo-espreitadelas das Férias Grandes dei com um texto do Rui Tavares [Barnabé] que me ficou atravessado. Era sobre a Maria Bethânia. E digo atravessado não porque discordasse particularmente do desamor confessado pelo Rui, mas porque estas questões do gosto - é disso que se trata -, particularmente na música, me deixam sempre razoavelmente desorientado.
A Bethânia, por exemplo. Há discos, canções, momentos dela que, seja qual for o ângulo pelos quais os peguemos, são simplemente superiores. E depois há muita coisa banal.
Mas a questão Bethânia levanta um outro aspecto - o da sobreexposição. Vivemos rodeados de música, há gente que já ouvimos cantar há décadas, têm disco novo todos os anos. Perde-se a frescura, a surpresa, eles perdem-se pelos cantos dos seus próprios tiques, traços distintivos, limitações.
Veja-se um caso paradigmático - a Norah Jones. Casa canção, ouvida com serenidade, com disponibilidade, é uma pequena pérola, a voz é excelente, os arranjos óptimos, tudo muito bom. E isto ultrapassa a questão do gosto - aquilo é bom, mesmo passado por qualquer crivo da técnica musical.
Mas a verdade é que, ao segundo disco, já ninguém suporta a Norah Jones, toda a gente acha aquilo banal. Acho que aconteceria o mesmo com qualquer um daqueles discos que temos na nossas estantes mais íntimas - passem-nos 10 vezes por dia, sete dias por semana, em 30 estações de rádio de Lisboa e vão ver que, ao fim de pouco tempo, já não aguentam mais.
O modo, fácil, acessível, barato, como hoje temos acesso a tudo e mais alguma coisa tem essa pequena desvantagem.
Voltando à Bethânia. Gostar, ou não, será sempre uma questão de... gosto. E, talvez, de emoções. Mas, aí, a conversa é outra.