'Tá bem, indigno-me
Pronto, a indignação obrigatória da saison é o Darfur. Os milhares de mortos, os milhões de desalojados, a hipocrisia generalizada, mas convenientemente hierarquizada segundo as conveniências da praxe. Sim, que a malta não se indigna gratuitamente, a malta indigna-se só quando percebe que pode lucrar alguma coisa com isso. Que os nossos podem lucrar alguma coisa com isso. Não há indignações gratuitas.
E, por isso, o cortejo das palavras, das acusações, das insinuações é previsível. Demasiado previsível.
No entanto, o Darfur sempre lá esteve. Seja ali, na África mais esquecida porque é deserto verdadeiramente, seja na América Latina, na Ásia ou mesmo às portas da Europa. As condições para que aquilo aconteça sempre estiveram um pouco por todo o lado e sempre convivemos muito bem com tudo isso.
As Nações Unidas, por exemplo. É fácil, alivia a consciência e até dá jeito, zurzir nas Nações Unidas. Construir o edifício teórico da sua inutilidade à sombra de práticas que outra coisa não visavam. E depois gritar: «Vejam... as Nações Unidas não fazem nada». Mas como podem fazer se quem manda, quem verdadeiramente manda, não deixa que as Nações Unidas mexam uma palha sem a sua autorização?
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