terça-feira, 10 de agosto de 2004

A verdade (um caso)

O João Miranda [Blasfémias] acha que eu acho que as mentiras do senhor Michael Moore devem ser desculpadas por via das mentiras do senhor George W.
Ora o que eu verdadeiramente acho é isto: «E depois há sempre o problema da bitola - o Moore é mentiroso porque despreza a realidade. Mas qual realidade? A da dupla Bush/Blair? Bullshit...»
De onde se depreende que:
1. Eu não acho, ou pelo menos não o disse, que o senhor Moore seja mentiroso.
2. O que eu acho é que, nos dias que correm, não há verdades absolutas. Simplesmente, não há verdades.
3. Acho, então, que o senhor Moore tem direito à sua verdade, assim como o senhor Bush à sua. Exemplo: o senhor Moore acha que o senhor Bush tem laços promíscuos com a família real saudita; o senhor Bush acha que tem relações perfeitamente normais com a família real saudita. Quem tem razão? Eu não sei. E o ponto que pretendia sublinhar com o primeiro texto essa exactamente esse - duvido que alguém possa estabelecer a verdade sobre uma série de questões levantadas pelo filme do senhor Moore. Espanto-mo, por isso, com as certezas absolutas que por aí andam - certezas que, curiosamente, coincidem com a versão bushista da coisa. E escusam de me vir com os factos - na sociedade hipermediatizada em que estamos mergulhados, os factos são meras construções. Ficcionais. Há-os para todos os gostos.