O PS e os comentadores
Dou-me cada vez pior com os lugares-comuns. Deve ser falta de paciência, uma forma educada de me referir à minha própria idade.
Um dos lugares-comuns em que mais tropecei nas últimas semanas respeita à corrida para a liderança do PS. Que foi uma troca de insultos, ouvi. Que foi um deserto de ideias, li. Que nada de novo trouxe, disseram.
O lugar-comum: a política caiu no vazio.
Discordo.
Como raras vezes antes, discutiu-se política. Com ideias, com propostas marcadamente diferentes. Com propostas construtivas, no caso, de uma alternativa. Até com elevação, apesar das picardias normais, e até desejáveis, nestas coisas.
Parece-me que, nestes longos meses de campanha, ficou claro que Alegre e Sócrates têm um PS bem diferente um do outro na cabeça [parece que havia um terceiro candidato...]. A política de alianças, o papel do Estado, o aborto... uma data de coisas em que divergem e sobre as quais se pronunciaram.
E tudo isto foi feito em público, com clareza de linguagem.
Pela parte que me toca, estava bastante curioso acerca do desfecho, embora não tivesse dúvidas sobre o vencedor. Mas, pela primeira vez, ia ser esclarecido acerca do que pensa e que quer o eleitor médio do PS - parto do princípio de que os militantes são, de alguma forma, representativos do eleitorado.
Após o recentramento da era Guterres, interessava-me saber que PS temos, onde exactamente se coloca ele no espectro partidário.
Sobre isso, esta disputa pela liderança foi clarificadora. Como poucas vezes na política portuguesa. E é por isso que não entendo os comentadores.
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