sexta-feira, 3 de setembro de 2004

Sai, então, um debate sereno

Uma das coisas mais curiosas que acontecem com os temas hipermediatizados é quando surgem uma pessoas que dizem: «O assunto é importante, demasiado importante, e por isso não se compadece com radicalismos e folclores. Nós aceitamos debater, e até resolver as coisas, mas tem de ser através de um debate sereno, informado, sério».
Há quem diga isto sobre o terrorismo, o défice público, o aborto...
Geralmente, este tipo de afirmações recebe o aplauso geral. Mas a verdade é que este tipo de afirmações mais não é que o grau zero do debate, da política.
Porque, numa sociedade da informação, como aquela em que vivemos, o debate é permanente, poliédrico e histérico. Não há, objectivamente, condições para travar os ímpetos, fazer recuar a máquina da história, e reiniciar a discussão, em tom cordato, fazendo tábua rasa de tudo o que aconteceu até aí.
Na prática, quando se profere uma frase daquele género, o que se pretende é pôr ponto final na conversa, sem assumir o ónus, deixando no ar a ideia (falsa) de que se está disponível.