quinta-feira, 2 de setembro de 2004

Terrorismos (II)

Desde o 11 de Setembro que nos habituámos a que o terrorismo seja visto como um mal em si. Inegociável, injustificável. Os poucos que tentaram perceber as razões - não do terrorismo - mas das condições em que ele germina foram apelidados das coisas mais terríveis. Complacência, traição... por aí fora.
Pensar - parece-me - nunca fez mal a ninguém, e tentar perceber tudo o que nos rodeia - sim, incluindo os gestos loucos, sem justificação - é, mais que um livre exercício, um dever que quem gosta de se apresentar como ser humano.
Que o terrorismo não tenha desculpa, aceito. É uma evidência - nada justifica aquela violência indiscriminada, desmedida. Isso não impede, porém, que a sociedade e os estados reflictam sobre as causas - insisto, por mais irrazoáveis que elas sejam -, de forma a combater eficazmente o fenómeno.
Aquilo a que se tem assistido é exactamente o contrário - os mais altos representantes da civilização gritam, gritam contra todo o terrorismo, que não se deve pensar sequer sobre isso, e desatam aos tiros contra tudo o que se mexe - no caso foi o Iraque, como poderia ter sido Portugal em 74/75.
É por isso que, a propósito do caso checheno, que tem marcado estes dias, destaco aqui um artigo da Economist on-line que me parece justificar alguma atenção:
«Despite President Vladimir Putin's assertions to the contrary, Russia's latest wave of terror attacks has little, if anything, to do with al-Qaeda. But it has everything to do with Mr Putin's disastrous policy in the north Caucasus.»