quinta-feira, 7 de outubro de 2004

Duplicidades

Gabriel Silva [Blasfémias] levanta algumas questões a propósito do caso Marcelo que vale a pena discutir. No fundo, está em causa o papel do Estado.
Ora, quando abro um peixaria tenho de me submeter a um determinado número de regras. Algumas delas escritas, em forma de lei, outras derivadas do mais banal consenso não escrito. É a vida em sociedade. Quando, em vez de uma peixaria, abro uma estação de televisão, tenho de observar um conjunto de regras adaptado às circunstâncias. A ideia de que a uma empresa privada tudo é permitido não corresponde à realidade. Assim como a ideia de que a liberdade de expressão é um valor absoluto tem muito que se lhe diga.
Uma outra questão que o GS levanta e que se prende com esta é a da «formação» ou «educação» do povo. Que não compete ao Estado, ou seja a quem for, velar por esse tipo de valores. Mas é não disso que falam as elites quando se indignam contra a cobertura mediática do caso Joana? Ou seja, quando se trata dos comentários do Professor, não deve haver qualquer regulação, quando se trata da vidinha, ai Jesus que estão a exagerar, a manipular, o diabo a sete. Há aqui uma evidente duplicidade de critérios que conviria evitar.