domingo, 3 de outubro de 2004

Rosa, sem choque (II)

O debate do PS foi, portanto, substantivo.
Porque havia duas concepções de Estado, duas visões sobre a economia, duas políticas de alianças, duas visões sobre a questão do Iraque, duas saídas para o aborto... E as diferenças eram substanciais. Como ganhou claramemte um dos lados, parece-me que se passou algo de importante, decisivo.
Dir-se-á que Sócrates é mais do mesmo, sem nada que o distinga de Guterres, ou, pior, de Santana. Mas isso também me parece importante - o PS assumiu-se, novamente, quase três anos após a saída do Governo, como uma máquina de poder. Não estou a fazer juízos de moral, ou sequer de adesão. Constato.
Não tenho ilusões sobre os limites à capacidade de governação num ambiente francamente globalizado, desde logo à escala europeia. Por isso, não espero dos partidos com capacidade para liderar governos propostas fracturantes, ou mesmo reformistas em estado avançado. Tudo se joga nos pormenores, nas opções de tom. Por exemplo - deslocando a questão de quadrante político, para que se perceba melhor -, um governo PSD/PP não é igual a um governo PSD. Não apenas na questão do pessoal político, mas de alguns tiques, de certas tonalidades mais carregadas (nacionalismo, aborto..).
Quanto às propostas concretas que ainda não saltaram - sou daqueles que consideram os famosos Estados Gerais do eng.º Guterres uma das coisas mais interessantes dos últimos anos na política portuguesa. Pela abertura à sociedade e pela possibilidade de circulação de ideias e propostas. Não terá sido por acaso que o PSD e (é verdade!!!) até o PCP tentaram imitar a ideia. Daí que me parece excelente que Sócrates siga o mesmo caminho. Pelos calendários normais, estamos a dois anos de eleições legislativas (a um ano, pelo calendário das antecipadas...), pelo que acho normal que Guterres - perdão, Sócrates - queira gerir esse calendário. E que as propostas venham a seu tempo.
Pretendia-se, ainda, um nome para as Finanças. Essa é hilariante.
Lembram-se dos nomes que Durão queria para as Finanças? Presumo, mesmo, que muitos tenham votado nele a pensar num ministro das Finanças específico (e, já agora, no choque fiscal...). Acabou por ter que se amanhar com que havia. E que veio a sair melhor que a encomenda...