quarta-feira, 16 de março de 2005

Parasitando Mainardi

A edição desta semana da Veja é histórica. Enfim, não exageremos... O Mainardi desistiu de escrever sobre Lula. O Mainardi, para quem não conhece, é o mais acabado (infelizmente, não no sentido mais literal da palavra) parasita intelectual que conheço. O rapaz não escreve mal. Quer dizer, põe o sujeito, o predicado e o resto da tralha pela ordem estabelecida. E depois tem aquele jeito brasileiro de escrever que encanta qualquer um. Até brasileiros. Digo-vos: há duas semanas, dei comigo a ler na Veja a história de uma namorada do Ronaldo (Daniela?) que deu uma tareia numa antecessora. Das milhares de histórias destas que a imprensa portuguesa publica, não li uma. A da Veja, foi de fio a pavio. Lá está - o tal jeito brasileiro de escrever e contar histórias. Pois o Mainardi é isso. Escreve desse jeito. E tem - tinha, diz ele - um tema exclusivo: Lula. Semana atrás de semana, se Lula fazia assado, ele achava que era cozido. Se Lula dizia, ele desdizia. Se Lula mexia, ele parava. Uma seca. O Mainardi parasitava Lula. Era uma espécie de eco invertido. O Mainardi não tinha uma linha de pensamento - o sua linha era ser sempre contra Lula. Há quem ache graça a isto. Há quem ache graça a tudo. É democrático. E há até quem por cá imite Lula. É democrático. Há quem parasite e quem parasite o parasita. E agora confesso eu: estava a ficar apanhado pelo síndroma Mainardi. Se o gajo escrevia branco, eu achava logo que era preto. Se o gajo batia, eu socorria. Escrevi duas ou três vezes sobre isso aqui. Mas pensei escrever muitas mais. Só não o fiz por causa daquela coisa do parasita. Não queria que pensassem isso. Agora que o Mainardi largou o Lula, eu devia largar o Mainardi. Mas não. Não imito e não desisto. Não parasito, parasitando. Se o Mainardi deixar de dizer disparates sobre o Lula, há-de dizer disparates sobre outra coisa qualquer. Matemático. E eu vou estar aqui, à coca. Parasitando, agora que ele já não parasita.