segunda-feira, 2 de maio de 2005

Ainda o Bloco

1. O peso sócio-mediático (se isso existe, ou me faço entender) do Bloco é desproporcionado face ao seu valor real (político, entenda-se). A razão de tal desequilíbrio resulta quase exclusivamente do sistema mediático, da pulsão dos media pela novidade, pela ruptura, pelo dissonante.
2. O Bloco desradicalizou a extrema-esquerda portuguesa - já não querem a revolução, o tudo ou nada, contentam-se em influenciar o status quo. Isso é positivo. Assim como o é o facto de o Bloco ter insistido na discussão de questões até então ignoradas. E aqui surge o problema - os media, como o Bloco, adoram questões «fracturantes», daí que esses temas tenham assumido um papel desproporcionado na agenda político-mediática. De importantes, mas secundários, tais temas passaram a prioritários e quase estruturantes.
3. A contestação a essa agenda bloquista tem sido assumida pela nova direita. O meu ponto é que essa direita se auto-menoriza ao eleger como adversária a agenda do Bloco. A minha dúvida é se o faz intencionalmente, ou porque nada mais tem para dizer (e quando fala de coisas normais parece que não tem - limitando-se a «descobrir a pólvora...).
4. Exemplo de tudo isto - o que essa nova direita escreveu este ano sobre o 25 de Abril. Nada de novo, rigorosamente nada de novo. Tudo se resumiu à contestação dos pontos de vista da esquerda radical.
[Vale a pena ler o que escreveu o Jaquinzinhos sobre esta matéria - aparentemente, é uma contestação ao que anteriormente escrevi; lido com atenção, acaba por confirmar a minha tese. A minha questão ao Jaquinzinhos é muito simples - percebo a necessidade de desmacarar os «disparates», mas interrogo-me se não se lhes estará a dar demasiada importância e, por essa via, a amplificar o seu impacto.]