Blogues em forma de assim
Um amigo que não é dos blogues comenta-me: «Não sei o que vêem vocês no Abrupto. Aquilo são quadros e poemas, poemas e quadros... textos originais só muito de vez em quando, política - que é o que toda a gente espera do Pacheco - passam-se semanas sem nada».
Uma das virtualidades do Abrupto é precisamente a de dar a ver o Pacheco não-político. Sou daqueles que gostam do Pacheco comentador (política e media...) e que me chego a entediar com o resto, embora perceba que funciona como registo de alma - um dia bom, um mau pressentimento, um comentário metafórico... Por vezes tenho é a sensação de aquilo ser meramente enumerativo - há aquele quadro como poderia haver outro. Ou seja, aquilo só teria interesse, só seria diarístico, se os quadros fossem acompanhados de algo mais. Assim é, quase sempre, pobre. Vem isto a propósito do que o Pedro Mexia escreve no Fora do Mundo: o Abrupto fica numa terra de ninguém, entre o registo diarístico e a análise política. Quando abrimos, nunca sabemos o que lá está. E se este era o jornal que JPP gostaria de fazer, há muito teria ido à falência.
Dou, então, comigo a pensar porque escrevo eu um blogue. Que não é um diário, nem um sítio de análise política, nem um exercício de escrita (um objecto literário). Há muitos meses - quando todos andávamos a metablogar (coisa a que agora voltámos) - escrevi que isto é para mim, antes de mais, um acto de vagabundagem. Faço o que quero, quando quero, como quero. Sem compromissos. Esse talvez seja o maior prazer - escrever, dar-me ao trabalho de pensar para escrever, sem objectivo definido. E a minha única pretensão é essa.
Por isso, em relação ao que o Ma-Schamba tem metablogado, acrescento: quando critico ou elogio, não prossigo qualquer intuito normalizador (reparo agora, por exemplo, que quando falei na «falha ética» de que o Abrupto padeceria, teria sido mais exacto se tivesse escrito «falha de etiqueta» - o que é um mundo de diferença). Apenas acho que tudo o que me rodeia é significante e, nessa medida, merecedor da minha atenção, chamem-lhe análise. Que a blogosfera tem por aí muitas pérolas, de todas as cores, feitios e tendências, é verdade. Mas que, mesmo nos sítios mais dados ao pingarelho, há muito de quase nada não deixa de ser igualmente verdade.
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