segunda-feira, 6 de junho de 2005

Dos malefícios do hip-hop

Ando a ver pouco hip-hop. Sempre ouvi pouco hip-hop. Do pouco que conheço, concordo com a f. [Glória Fácil] - aquilo tresanda a reaccionarismo (e uso a palavra certa). Naquele universo de pretos e brancos pobres (ou fingindo que o são...), parece que ter um carrão, uns charutos e umas gajas é sinal de ascensão social, uma espécie de vingança. Obviamente, com a reprodução dos clichés, machistas e outros, que as classes mais ricas nunca deixaram de ostentar [sim, por exemplo, essa coisa de impôr o apelido...). Há ali uma boçalidade que incomoda e não passa apenas pelo sexo.
Isso parece-me a excepção e é aí que, se calhar, divergimos. Porque pegunto eu, implícito: tanto barulho por causa da excepção? E f. responder-me-ia com «a mensagem». Porque não se pode descansar, nem deixar de irritar, enquanto houver uma excepção à face da terra, uma «mensagem» errada. É por isso que uso a expressão «politicamente correcto» em sentido depreciativo - porque vejo nela uma pulsão normalizadora mais próxima da ditadura, da linguagem por exemplo, que do resto.
Politicamente correcto como, por exemplo, a história de «faltar alguma coisa» às mulheres incomodadas, irritadas. Mesmo dito a brincar, percebe-se que é a sério. Não a «falta de», apenas a fina culpabilização.