Outra coisa
são, por exemplo, as sempre muito criticadas declarações de Mário Soares.
O que ele diz, no fundo, é que, para melhor lutar contra o terrorismo, temos de conhecer as suas causas, o campo onde germina, e combater as condições que o levam a crescer. E corrigir, se for caso disso, os actos que, do nosso lado, adubam essa planta daninha.
Tudo isto me parece muito razoável e até sábio. Só um tonto se lança numa guerra contra algo ou alguém sem, antes, tentar perceber o que leva o outro a estar em guerra. Quanto a esta guerra específica, na qual já se percebeu que o poderio militar não é factor de vantagem, haverá mesmo todo o interesse em desarmadilhar o inimigo, retirando-lhe as motivações, enfraquecendo a sua base de apoio.
A ideia de que os terroristas são simplesmente loucos fanáticos é inoperante. Devemos ouvir o que dizem, tentar perceber o que dizem e porque o dizem, para que, combatendo essa argumentação, lhes retiremos força.
Bradar que «somos todos ingleses», que «a razão está do nosso lado e por isso venceremos» parece-me uma atitude tão idiota, por ineficaz, como desatar a bombardear o Iraque.
À irracionalidade do outro campo só podemos responder com mais inteligência. E o primeiro acto de inteligência talvez seja de tentar encontrar pontos de convergência, de aproveitar todas as forças que estão do nosso lado, em vez de trabalhar com vista a detectar todas as mais mesquinhas divergências.
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