Os assessores do Expresso
Deve ser monótona a vida dos assessores de Cavaco. Numa semana, procuram, procuram e desenterram um artigo com dois anos sobre o semi-presidencialismo. Publicam-no no Expresso. Noutra semana, dão voltas à cabeça e ao calendário, voltas e mais voltas, e descobrem que o raio calendário consegue meter numa só semana uma eleição autárquica, um orçamento de Estado e uma aparição em Fátima. O professor, magicam, não pode falar. Mas há que fazer saber que o professor não fala. Publique-se, então, onde, onde? Ora onde haveria de ser? No Expresso. Depois, na outra semana, há um livro sobre o professor, no qual foi colocada a frase mortal, mortalmente mortal: «Ainda é cedo para avaliar Sócrates». Notem a perfídia, a malvadez: ainda é cedo, mas o dia há-de chegar. Melhor: ele até já está a ser avaliado, não se pode é saber o resultado. Mas convém que se saiba que o professor há-de avaliar Sócrates. Ou não fosse ele professor. E onde se há-de publicar tão profunda coisa? Mas haveria outro sítio senão... isso mesmo, o Expresso. A isto, meus senhores, chama-se alta política. Está visto, não é para todos.
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