terça-feira, 28 de outubro de 2003

O Império (uma resposta)

No Mar Salgado, gostaram muito do que aqui escrevi ontem sobre o Afeganistão e o Iraque. Não os quero desiludir. Por isso, aqui vai mais uma dose. Estes «disparates» não são tão apressados como os anteriores - desta vez, pensei cinco segundos antes de começar a escrever.
Começo pelo fim, pela referência de NMP às minhas «certezas» e «visão do mundo a preto e branco». É claro que NMP não leu (nem tinha que ler...) tudo o que escrevi, ao longo de meses, sobre o Iraque, Israel and so on... Se há alguém que não tem certezas sobre estas e muitas outras coisas, ei-lo aqui.
E prossigo com uma tirada ecologista - não acham os meus amigos do Mar Salgado que os EUA, enquanto única potência mundial, deveriam, além de expandir a democracia e o livre comércio à escala planetária, cuidar igualmente da diversidade cultural? A questão turística, a mim que não acho graça nenhuma a tudo o que não seja hotel de cinco de estrelas, não me parece uma questão assim tão secundária.
O Neptuno, quanto a esse aspecto, é especialmente distraído (reparou que tenho o Neil Young como musa? Ah, pois é canadiano...). E, falho de inspiração, plagia-me descaradamente. Então não fui eu próprio que me apelidei de «sacana» por estar aqui a defender «os talibãs, a ditadura, as mulheres asfixiadas»? Está bem, pronto, esqueci-me dos homens com bigode. Olhe que o Afeganistão, se espreitar bem, é capaz de ser um bocadinho mais que isso...
Presumo que, ao nível a que querem colocar o debate, poderíamos continuar com estes maniqueísmos - o Afeganistão é intrinsecamente bárbaro e só há uma maneira de o civilizar: à bomba. Mas, como o NMP ensaia um esboço de conversa séria, vamos a ela.
Entre uma ditadura (seja ela qual for) e uma democracia (mesmo musculada), prefiro sempre a segunda (peço desculpa aos meus leitores mais fiéis - estou sempre a repetir isto...).
Não me parece é nada natural que a democracia seja imposta de fora e muito menos à lei da bala. Acredito (vejam lá antiquado que sou...) em instituições como as Nações Unidas e estou convicto (Oh lírico...) que países como os EUA, se não tivessem o imperialismo escrito no sangue, podiam apostar mais nestas organizações (onde nunca perderiam a primazia, está bom de ver...), em vez de as debilitarem para depois virem dizer que tiveram de agir sozinhos porque os outros não quiseram ir.
Isto responde à questão fundamental que NMP levanta - agora que já invadiram aquilo, temos que resolver o problema. Pois é, mas os EUA continuam a tudo fazer para que isso se faça à margem da ONU e numa perspectiva unilateral. Basta ver o que se passou nas negociações para aprovação da última resolução do Conselho de Segurança. Kofi Annan, se pudesse, teria tanto a dizer sobre isto...
Nota para o Neptuno: escrevi este texto enquanto ouvia um Best Of acabadinho de sair dos Eagles, esses grandes comunas. A música não é grande coisa, diga-se, mas o som, remasterizado, é uma delícia...