Ferro e os abutres
Quando, em Julho, aqui escrevi sobre a «cabala» de que Ferro Rodrigues se queixava, estava longe de imaginar que as coisas chegariam ao ponto a que chegaram.
Afirmei então: «Apenas me parece que a liderança do PS caiu nas garras de um tenebroso triângulo - política, justiça, media - que, há largos anos, tem agido em Portugal de forma absolutamente descontrolada.»
Independentemente de existir, ou não, um comando central nesta história toda, ou de existirem pequenos comandos descentralizados, agindo organizadamente ou de forma voluntariosa, cada vez estou mais convencido de que nada do que está acontecer é por acaso.
A manchete do Correio da Manhã de hoje - «Três jovens envolvem Ferro» - é um excelente exemplo. Dois dias após o líder do PS ter reafirmado que pretende continuar no seu posto, alguém no sistema de justiça põe na mão de um jornal uma história velha, que o jornal leva a manchete. Note-se bem - esta história já tinha sido manchete do Expresso há meses, esta história não levou o juiz de instrução a tornar Ferro arguido, esta história, na realidade, não existe. E só uma «mão invisível» pode vir agora repô-la na primeira linha.
Mas, se atentarmos bem, foi sempre assim - sempre que a liderança do PS fazia qualquer coisa, lá vinha a justiça e os media com uma historieta qualquer. E nada me garante que não haja aqui, igualmente, uma mão da política.
Quem gere esta história sabe que há, no sistema de justiça, mas principalmente no sistema mediático, muita gente que, por incompetência ou puro terrorismo, está sempre disponível para sujar as mãos de sangue.
O que verdadeiramente me espanta neste caso é que pessoas habitualmente muito críticas face aos media e sempre prontas a defender os políticos de ataques ilegítimos, primem agora pelo silêncio ou que, pior, alinhem no coro dos que acham que o problema está em Ferro e na liderança do PS.
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