quinta-feira, 31 de julho de 2003

Diálogo com lalalala lalalala

- I gotta get away from this day-to-day running around...
- Cantarolas, amorzinho?
- É, jotinha. Everybody knows this is nowhere.

Diálogo com telemóvel

- Não largas o telemóvel vai pra meia hora... Nem me ligas, jotinha.
- Shiu, pá.
- Shiu, o quê? O que se passa?
- Faz pouco barulho, pá. Estou a escutar o escutador.

Diálogo com calor

- Jotinha, amor, ninguém fala de calor nos blogues.
- Pois não...
- Porque será, fofinho?
- É do calor, amor.

O tabu (uma achega)

Falam-me agora da existência de stocks de reportagens, investigações, informações, etc., comprometedoras para algumas figuras públicas de alto relevo, cuja não publicação estaria a servir de caução para o seu silêncio, complacência, imobilismo.
Quem o diz é o Textos de Contracapa.
E que chantagem é esta?
Estaremos agora a falar, por exemplo, de políticos que se passaram para as redacções dos jornais e que neles aplicam a teoria, aprendida nos gabinetes do poder, de fazerem dossiers just in case.
Ou estaremos a falar de redacções e gabinetes que trabalham em tal articulação que já nem eles próprios percebem onde acaba uma coisa e começa a outra?

O tabu

Pudor é uma palavra que gosto de usar quando falo de JPP. Porque, sabendo ele muito (entendam a expressão no seu mais amplo significado...), escreve e fala do que sabe sem nunca dizer tudo o que sabe.
Podia, muito simplesmente, dizer-nos que a presença de Paulo Portas num governo liderado pelo PSD, que a presença daquele jornalista no centro do poder, é um dos mais absolutos actos de chantagem a que a democracia portuguesa se entregou. Porque se trata de uma chantagem não assumida, uma chantagem doce.
Mas não. Prefere falar de uma «relação particularmente doentia e ambígua». E alguém falou aqui de Paulo Portas?
JPP, porém, não se fica por aí­. É um jogador, ou melhor, ele é a máquina, o computador, que joga connosco. Conhece a sequência de lances, dá-nos pistas, baralha o jogo.
«Como é que ele pode iludir que sabe, no mesmo gabinete, no mesmo partido, quem informa os jornais?», esse poder supremo de influência.
E, aqui, JPP esconde o jogo. De quem fala ele? Que ministros, que meandros do poder, tem Paulo Portas no bolso? Até onde chega a chantagem? Fica-se pelos corredores do Governo, ou desliza docemente por outros poderes muito menos visíveis?
JPP saberá alguma coisa sobre isso. Não esqueçam. Ele prometeu um texto sobre o jornalismo do velho Independente que tarda em aparecer. Ele é um coleccionador confesso. Ou acham que a famosa biblioteca é só primeiras edições da Montanha Mágica?
Por vezes, JPP abre o jogo. Como quando o cavaquismo entrou em decadência. Mas esta não é ainda a hora.

quarta-feira, 30 de julho de 2003

O casamento de Schopenhauer

No Desejjo Cassar alertam-me para o facto de Schopenhauer se escrever apenas com um p. Perplexo, solicito mais informação: quem Diabo é esse Schopenhauer?

Plágio VI (encore, a pedido das famílias)

Vou iniciar hoje uma nova secção a que chamarei Fodas Inter-Rail. São aquelas chafurdices que fazemos com as camónes e que ajudam a equilibrar o orçamento. Acho que tem sido muito menosprezado o peso da queca internacionalista nas contas da Nação. A dra. Ferreira Leite tem muito a aprender cá com o Pipi.
A primeira das minhas Fodas Inter-Rail passou-se na Praia do Barril. Gajo que é macho não frequenta sítios como a Praia dos Tomates ou lugares tão evidentemente rotos como a Manta Rota. Quem me deu a conhecer a Praia do Barril foi a Susete, que conheci nos tempos da Faculdade de Coimbra. Levou-me lá em homenagem à cobra esguichadeira cá do Pipi que ela, apropriadamente, chamava de Barril.
Voltei lá esta semana e não é que, logo ali a seguir ao bar, dou de caras com duas loiraças a pedirem festa. Ancorei. Não sei se já repararam, mas elas vêm sempre aos pares. Desconfiam das pontencialidades dos lusos mangalhos e trazem uma língua suplementar para as emergências.
A mais alta, porte germânico, estava deitada de costas e, mal olhei para ela, a vela içou-se imediatamente. Durante meia hora, nem à água consegui ir arrefecer a enguia. Não é que a gaja se apresentava com um calçãozinho que lhe entrava pelas badanas cagadeiras dentro e lhe deixava os entrefolhos arreganhados ali ao sol?
Aqui entra um daqueles efeitos, tipo série chunga, e agora já estou com ela atrás de um arbusto da Reserva Natural da Ria Formosa. Se há coisa que o Pipi estima é a natureza. Principalmente as moitas, embora as estevas do Parque de Monsanto também tenham muito que contar.
A magana não via o padeiro aí há um mês. Mas a coisa correu de feição, não sei pela visão do arrebentas cus cá do Pipi, se pelas escorrências de Copertone protecção 20 que lhe luziam nas trancas.
Quando lhe apliquei o nabo de surpresa já ela guinchava «Yes, yes...», entrecortados com «cariño, cariño...». Estas gajas, por mais que as rebentemos à maneira, não há meio de aprenderem a diferença entre um poste lusitano e um par de castanholas à sevilhana. Enfim, desculpei-lhe a insolência e apliquei-me na fodanga. Acho que foi à primeira esguichadela que a terra começou a tremer no Algarve.

Inspirado por O Meu Pipi.

Ânimo

Já vos falei do Colaço. É um novato da blogosfera. Nada como o Terras do Nunca, que já vai na quinta semana de existência... Pois o Colaço caiu na rede sem perceber no que se metia. Animava uma revista, que depois teve edição electrónica, mas que nos últimos tempos andava parada. Alguém o trouxe para os blogues e ele entrou desconfiado. Diz que não conhecia o meio, que tudo lhe parecia difícil. Isso foi há duas semanas. Nos últimos tempos, dou com ele às duas da manhã a e-mailar-me: Então não blogas nada? E agora foi de férias, anda pelas costa alentejana, mas deve ter levado portátil, telelé e quejandos. E ei-lo a blogar entre uns mexilhões e uma raia, com a linha a cair e a areia a meter-se na engrenagem. E a tentar animar um fórum sobre a TSF. E (céus!!!) a mexer no template. Acho que o melhor da Ânimo versão blogue ainda está para vir. Por enquanto, divirto-me, carinhosamente divirto-me, a imaginá-lo a suar as estopinhas, a não pensar noutra coisa, a viver para isto. Como nos velhos tempos das rádios piratas de emissor às costas e de outras aventuras. Ânimo, Colaço.

Jordanas e moleskines

Longe de mim querer impor regras. Queria apenas deixar duas sugestões, nascidas de uma leitura atenta destas coisas que medem os acessos e que espiam quem entra nestas nossas casas.
1.ª sugestão. Que alguém crie um site com fotos da Jordana Jardel. Falei uma única vez da citada senhora - para referir os seus mui selectos hábitos literários - e já cá vieram parar dois ou três cavalheiros (presumo...) que teclaram jordana jardel fotos no Google. Ora este blogue nem sequer tem fotos... Presumo, portanto, que se trata de um interessante nicho de mercado. Há por aí alguém que queira aproveitar?
2.ª sugestão. Que deixemos de falar nos nossos moleskines. O tecnhorati diz que também chega aqui gente à procura desses bloquinhos. Corremos, portanto, o risco de passarmos a ser conhecidos pela «brigada do Moleskine». Não me incomoda. Já me chateia que os fulanos que vendem os caderninhos nos processem - é que, enquanto perdem tempo, eventualmente, perdendo-se para sempre, na leitura dos blogues, os «estimados clientes» poderão esquecer-se do que iam fazer. Que era isto.

Outra dedicatória

Esta é para a Catarina, para ver se deixa o blogue em paz. Liga o som. Os outros só podem espreitar...

Diálogo mínimo com dedicatória

- Jota, fofo, nunca me falas de amor.
- Escuta:
Roubaste-me o coração minha irmã minha esposa
roubaste-me o coração com um só dos teus olhares
com uma só conta dos teus colares
que doces tuas carícias minha irmã minha noiva melhores tuas carícias do que vinho
a fragrância de teus perfumes do que todos os odores
teus lábios são favos escorrendo ó esposa mel e leite sob a tua língua
o aroma dos teus vestidos é o aroma do Líbano
.

[in Cântico dos Cânticos, trad. José Tolentino Mendonça]

Dedicado a Francisco J. Que venha a cerveja.

terça-feira, 29 de julho de 2003

Sim, um diálogo longo

- Jotinha, já leste o jornal de domingo?
- Jornal de domingo? Mas hoje é terça-feira, bebé.
- Mas vem aqui um artigo sobre blogues. Daquela fulaninha do Manhattan Connection. Ela diz que o blog vai extinguir a profissão de psicoterapeuta.
- Ah sim? E mais?
- Diz que o blog eliminou o conflito edipiano, já que o blogger conseguiu assassinar o pai/editor e imagina que consumou sua relação com o leitor/ mãe inesgotável..
- E mais? Conta mais.
- E que o blog sancionou a tentação confessional e promoveu uma estranha imodéstia entre pessoas inteligentes.
- Eh lá. Isso está a aquecer.
- E diz ainda que em meio a citações de Auden ou Kierkegaard, os bloggers servem-nos suas angústias e dores de cotovelo.
- Chega... chega. O quiducha, você vai me buscar um pouco de gelo da geladeira. O saco do cotovelo já esquentou, né?
- Jotinha, jotinha, bem te avisei para não subires o escadote. Vou dizer à Maria para mudar o Schoppenhauer para a estante de baixo.

Plágio V

A terra tremeu mais no Algarve. É impressionante o peso que a esquerda continua a ter no Instituto de Meteorologia. Tenham santa paciência. A própria noção de sismo tresanda a esquerdismo. Como o rapaz que veio cá a casa arranjar o computador. Trouxe-me o disco da Carla Bruni. Dispensei-me, por isso, de lhe mostrar o meu atestado de heterossexual. Ontem, fui à FNAC e reparei que há postos de audição para discos de onde sai a emissão da TSF. Onde nós vamos parar. Vou agora escrever sobre a Lib.... estou com pro...blemas no tec...lad

Inspirado pelo Dicionário do Diabo.

Plágio IV

A terra tremeu mais no Algarve. Foi assim que a TSF deu a notícia. A mentira foi depois repetida pela France Press nestes termos:
L'épicentre de la secousse, qui a également frappé le sud du Portugal, était situé en mer, à plus de 150 km au sud-ouest du cap de Sao Vicente (province d'Algarve, Portugal), a précisé à l'AFP un porte-parole de cet institut.
Podem confirmar, aqui, que nada disto aconteceu.

Inspirado pelo Valete Fratres.

Plágio III

A terra tremeu mais no Algarve. É por isso que gosto de Nietzsche. Viram o gato Varandas ao colo do meu marido no Telejornal da RTP?

Inspirado pela Bomba Inteligente.

Plágio II

A terra tremeu mais no Algarve. Nos céus do Algarve, nunca é mês de Marte. Nos céus do Algarve, estes são os meses com os aviões de publicidade (estou a elaborar os primeiros fragmentos de um tratado sobre aviões de publicidade, que depois publicarei aqui). Por isso, escusam de começar a fugir. Segundo os meus três contadores, já há gente a mais no Algarve. O que torna aquela imensa pedreira à beira mar num lugar de decadência. É sintomático que esta matéria não entre nos blogues.

Inspirado pelo Abrupto.

Plágio

A terra tremeu mais no Algarve. São cheios de luz os desígnios do Senhor. Ouçam Leonard Cohen: «Things are going to slide...»

Inspirado pela Voz do Deserto.

Estado das coisas

Vamos por partes.
1. Proposta de criação do blogue anti-Expresso. Recebi alguns alertas. O Hipatia, por exemplo, mandou-me um mail. Assim: Se a ideia até parece boa, tem o defeito de parecer um pouco inviável. Mesmo usando uma estrutura do tipo Lipor, como reciclamos tantas toneladas de papel?. Uma questão logística de peso, a ter em conta na primeira Assembleia Geral.
Também por mail, o zedasilva@hotmail.com (curioso nome...) interroga: Como se vai chamar? antiarquitecto? antibalseminhas? sacodeplastico? espessuras? Eis o ponto dois da ordem de trabalhos. Continuaremos a aceitar propostas até 24 horas antes da reunião.
2. A questão dos posts. Do Veto Político e do Retorta, chega a sugestão de Entrada. Gosto. Mas logo o Mata-mouros me alerta que a expressão Postas seria mais interessante, dadas as conotações que tem. Mais ideias?
3. Aproveito esta entrada, perdão, posta, para pôr alguma correspondência em dia. O Mata-mouros, o Catalaxia e o Cerco do Porto expressaram publicamente palavras de apreço sobre este meu cantinho que não posso deixar de agradecer. O Carimbo mandou um mail. Visitei e gostei.

Agora, não sei o que faça a seguir. Começo a desancar já os americanos, ou aguardo que oValete vá mesmo de férias? E ele, dadas as boas relações com a CIA, não terá já um telemóvel igual ao do Huuuuu? Ou acham que me mate a rir com a 100nada? Estará ele em contagem crescente para embarcar em direcção à Libéria? Meu Deus, tanta angústia, tanta dúvida.

segunda-feira, 28 de julho de 2003

A pia causa

«Casa Pia - um ponto de vista» é um texto do Guerra e Pas com o qual discordo profundamente. Ele insere-se numa linha de raciocínio - pois, pois, isso que estão a discutir é muito interessante, mas estão a esquecer-se das crianças abusados - que tem sido usado pelo ministro Bagão, a provedora Catalina e os-já-perceberam-qual-o-papel-deles-nesta-história? Namora e Granja.
Ora, ninguém está a esquecer as crianças e o seu sofrimento. Mas não me peçam para sofrer ou ter complexos de culpa em nome delas. Aquelas crianças foram entregues ao Estado, que prometeu cuidar delas. É o Estado, e nenhum dos cidadãos ou grupos de cidadãos, que deve ser integralmente responsabilizado pela segurança, carinho e educação daquelas crianças. Das que sofreram e das que lá estão e que se espera não venham a sofrer.
A existência de preventivos, o segredo de justiça, as escutas telefónicas, todas as tramas da investigação, os erros e sucessos da Justiça, nada disso tem a ver com o que atrás foi dito.
Falar das crianças de cada vez que se discute o funcionamento da justiça - alegando que nos estamos a refugiar na forma, esquecendo a substância - é de um populismo e demagogia totalmente paralisantes. Pela minha parte, recuso-me a ceder a essa chantagem.
No sistema mediático em que vivemos, há espaço para tudo. Para todos os debates. Que se discuta a melhor forma de proteger as crianças. Mas que não se menorizem as outras discussões.

Um posto

[Os leitores mais fiéis deste blogue - é preciso notar que a taxa de desemprego continua galopante e que, entre os que trabalham, não há sintomas de grandes progressos quanto à produtividade - já devem ter reparado na evolução cromática que atravessámos. Recapitulando: começámos no cor de laranja, tivemos uns momentos de verde, e agora estamos em tons de azul. Temem-se as mais tenebrosas leituras políticas...]

Pelos parênteses rectos, já deverão ter notado que este texto é sobre outro assunto.
É sobre posts, ou melhor, postas, ou melhor, postes. Bom, a verdade é que é sobre estas coias que escrevemos e para as quais ainda não achámos um nome consensual e agradável.
Em inglês, diz-se posts, o que faz sentido na língua deles. Mas isso soa muito mal em português e as alternativas que por aí andam - postas e postes - não são melhores.
O blog deu blogue, embora ainda haja quem prefira o blog. E criou-se a blogosfera, um nome assaz bonito. Angustia-me, por isso, que ainda nada se tenha inventado para post.
Antes que me chamem taradinho do metabloguismo, quero apenas esclarecer que esta minha dúvida tem uma razão de ser muito pouco umbiguista. Prende-se com a dificuldade que os não iniciados terão em nos entender.
Por exempo, imaginem o que pensará a audiência de um debate público quando ouvir um dos participantes virar-se para outro e atirar: «Discordo totalmente do poste que colocaste ontem». Ou o que dirá um leitor de jornal ao ler o comentário: «O blogue Blabla tinha ontem uma posta que me desagradou».
Percebem agora as razões da minha angústia?

Uma proposta séria

Faltam cinco dias e acho que ainda vamos a tempo. Falo da criação de um Blogue anti-Expresso. Tenho encontrado por estas bandas uma data de gente que vibra pelo Expresso. Presumo que fazem fila nas estações de serviço, madrugada alta de sexta para sábado, só para serem dos primeiros a agarrar um exemplar. Para poderem confirmar como aquilo é tudo manipulado, cinzento, institucional, apatetado, dispensável, desprezível, risível, impublicável, hediondo, rasca, inculto, do século passado, passado de todo... enfim, como aquilo é, ainda e sempre, o bom velho Expresso.
Pela minha parte, repito que não tenho quota. E, em abono dos meus créditos, até escrevi há dias um texto a cascar na rapaziada de Balsemão & Saraiva. Sinto-me, por isso, à vontade para propôr a criação de um Blogue anti-Expresso. Um blogue em que, todos os sábados, nos divertissemos à custa da coisa. Digo um sábado? Qual quê, um fim-de-semana inteiro, assunto não nos faltará. E, meus amigos, a próxima edição sai daqui a cinco dias. Apressemo-nos.

Diálogo vendo estrelas

- Jotinha, amor, anda ver aquela estrela...
- Não é uma estrela, quiducha, é um Airbus. E daqui a 3 minutos e 20 segundos passa nos céus da Marmeleira.
Ela sorriu e abraçou-o pela cintura. Pegou-lhe na mão e levou aos lábios a garrafa de Budweiser geladinha. Era a estreia do narrador nestes diálogos.

Pacheco de ponta

À 1 e 24 de domingo, 27 de Julho de 2003, alguém entrou neste blogue após teclar no Google a seguinte sequência de palavras pacheco pereira filosofia de ponta.

domingo, 27 de julho de 2003

A cabala - um caso

O Expresso de ontem (página 3) é um excelente exemplo das tais coincidências.
Em causa estão as auditorias feitas à Casa Pia, durante os governos socialistas, e que, no entender de algumas pessoas, são reveladoras do envolvimento avant la lettre da actual direcção do PS no escândalo da Casa Pia.
Diz o jornal que o PS «refuta as acusações» de que teria tido conhecimento de abusos sexuais na Casa Pia nessa altura. Mas, acrescenta o Expresso, «a investigação de 1998 relata-os». E o Expresso apresenta excertos da tal auditoria e as três referências a crimes sexuais que nela surgem:
1. Um aluna que era apalpada pelo director. Sobre isto, a inspectora não conseguiu «concluir pela veracidade e fundamento» da queixa. E escreve no relatório que a questão estava «ultrapassada».
2. Um funcionário desfloraria alunas sem ser incomodado. O relatório cita vários responsáveis da Casa Pia, que negam os factos, e fica-se por aí.
3. O famoso «funcionário de nome Silvino» que mantinha relações sexuais com rapazes. O relatório faz o historial: após ter sido demitido foi readmitido por ordem do Supremo Tribunal Administrativo (leram bem, Supremo...).
Ou seja, a auditoria, realizada por inspectores, refere dois não-casos e um caso resolvido (mal...) pela Justiça. Com isto, o Expresso fez um caso que já vai em dois episódios. E, sem que alguém levante o cu da cadeira para falar com alguém que tente explicar o que se passou, se houve pressões para suavizar o relatório (como os jornais anglo-saxónicos fizeram agora com o Iraque...), chama a isto investigação.
E há quem diga que estamos perante um caso de justiça! E há quem queira assacar responsabilidades políticas!

A cabala

É claro que não acredito na cabala de que Ferro Rodrigues fala intermitentemente.
Apenas me parece que a liderança do PS caiu nas garras de um tenebroso triângulo - política, justiça, media - que, há largos anos, tem agido em Portugal de forma absolutamente descontrolada.
É aquilo a que poderíamos chamar de Triângulo das Bermudas, pois, também neste, quem lá cai dificilmente de lá sai com vida.
Os três sistemas - política, justiça, media - têm leis que os colocam ao nível dos melhores a nível mundial, têm códigos de conduta que talvez façam inveja lá fora. É ao nível dos comportamentos que as coisas falham.
Na política, há os deputados que vão à bola e acham que é trabalho político. Há partidos que prometem baixar o IRS antes das eleições e sobem o IVA após as ganharem. Há dirigentes partidários que se comportam como autênticos abutres do líder eleito.
Na justiça, há um caso como o dos hemofílicos, que se prolonga por 13 anos, destrói a carreira de uma das nossas mais promissoras políticas, e acaba em nada. Nem condenação, nem ilibação. Nada. Compare-se com o que se passou em França.
Nos media, há jornais que numa semana publicam escutas telefónicas indiciando gravíssimos crimes, e na outra nem sequer falam do assunto. E ainda dizem que fazem jornalismo de investigação...
Mas o pior é quando estes três sistemas interagem. Quando os quilos de demagogia da política se cruzam com a ineficácia feita de preguiças várias da justiça e com a perfídia que se instalou no sistema mediático. E tudo isto por entre uma mistura explosiva de incompetência e cinismo que atravessa os três sistemas em doses mais ou menos equivalentes.
E Ferro Rodrigues? Não acredito, insisto, na tese da cabala. De que haverá uma central de informação que comanda tudo isto.
Mas acredito que, como refere o Mata-mouros, há coisas demasiado estranhas em toda esta história. Provavelmente, haverá apenas uma infeliz coincidência das mãos invisíveis que comandam os três sistemas. Provavelmente...

sábado, 26 de julho de 2003

O JN

O Jornal de Notícias é um dos melhores jornais do país. Despretensioso, completo, plural. Já o era há muitos anos, mas melhorou bastante nos últimos tempos. Num país que não lê jornais, o JN é líder de audiências sem ceder aos princípios fundamentais do jornalismo. Parece de somenos, mas, se pensarmos um pouco, é obra.
O JN é um jornal do Porto. Ou seja, tem sede no Porto. Mas o JN não é um jornal regional, nem sequer um jornal que tente ser a voz do Porto. Entenda-se, ser a voz do Porto em Lisboa. De tal forma que até tem duas edições e duas primeiras páginas. Quem o compra em Lisboa, compra um jornal mais centrado em Lisboa (com noticiário próprio) e com poucas ou nenhumas preocupações de fazer lobby.
Se formos aqui ao lado, a Espanha, o Vanguardia, por exemplo, é um jornal bem mais regional e regionalista que o JN.
O Guerra e Pas, o Cerco do Porto, o Mata-mouros e o Cidadão Livre estão a ter uma conversa interessante sobre o assunto.

Justiça - uma resposta ao Liberdade de Expressão (II)

O (meu) problema com o Liberdade de Expressão (LE) são coisas como estas:

O Terras do Nunca afirma que o PS desmentiu que Pedro Namora se tenha encontrado com um alto dirigente do PS entre os dias 25 de Novembro de 2002 e 13 de Fevereiro de 2003. O problema é que este desmentido vale muito pouco. A noção de alto dirigente do PS é demasiado vaga para que alguém possa desmentir o que quer que seja em nome de todos.
O próprio LE considera que a acusação é demasiado vaga (ou seja, atinge toda a gente, não atingindo ninguém...) para ser desmentida. Kafka, descansa em paz, tens seguidores à altura.

O Terras do Nunca afirma que eu não vejo a polémica, que envolve juízes, políticos, jornalistas, toda a gente, de todos os quadrantes políticos, que enche os media sobre vários aspectos do funcionamento da justiça. Claro que vejo, mas também vejo que esta é uma polémica estéril e inconsequente e resulta da histeria do momento.
O que de melhor esta polémica tem, a possibilidade de melhorar o sistema de justiça, de o afinar (mesmo o LE há-de reconhecer que o sistema não é perfeito, nunca é...), o LE decide ignorar. Afinal de contas, que se lixe o sistema, nós queremos é agarrar o gajo...

No caso Paulo Pedroso, foi dito que foi negado o direito ao recurso e a culpa foi lançada para o Juiz da Relação. Acontece que o juiz da relação cumpriu escrupulosamente a lei e não podia ter feito outra coisa.
O juiz antecipa a reapreciação do caso, quando tinha mais umas semanas para o fazer, numa altura que havia um recurso, e o LE acha normal. Ninguém acha isso, mas o LE acha.

Infelizmente, não sou eu que ridicularizo Ferro Rodrigues. É o próprio que o faz nas suas intervenções.
Esta é a frase que me leva a pensar que estou a perder tempo.

Vejo na televisão que o PS acaba de desmentir a notícia do Independente. Infelizmente, o PS não está em condições de desmentir o essencial da notícia do Independente. Isso só pode ser feito pelo director do CIDEC, por um tal Osvaldo Moleirinha, pelo procurador Joao Guerra ou por Saldanha Sanchez.
O que dizer sobre isto? O LE acha que toda a gente pode falar, dizer, contradizer, guardar factos durante oito (!!!) anos, falar quando lhe apetece. Toda a gente menos o PS. Toda a gente pode falar (e, logo, ter razão, na bitola do LE...),menos o PS.
No meio de tudo isto, só acho estranho que o LE considere que o sistema de justiça está a funcionar. Porque, para o LE, a justiça dever-se-ia limitar a prender o Ferro e o resto da maralha do PS. Quanto à acusação, as provas, o contraditório, a instrução, o julgamento, esses pormenores todos, isso depois logo de veria.
Termino aqui, que a coisa vai longa. E continuo com a sensação de que estou a perder tempo.

Diálogo com preguiça

- Jotinha, baby, nunca me levas a ver as estrelas.
- Florzinha, porque nunca me chamas Peter Pan?

Preguiça com diálogo

- Jotinha, querido, estou preocupada.
- Sim?
- O Pedro foi ler os jornais às três da tarde e ainda não voltou.
- Deixa lá, se calhar encontrou o Francisco J. e foram beber uma cerveja.

Mais preguiça

Às vezes, sabe bem preguiçar um pouco. Contemplar, apenas.
in Do lado de cá:
Estive a fazer limpezas no computador. Reorganizei as pastas, apaguei ficheiros antigos, esvaziei a reciclagem, limpei o desktop, libertei espaço e desfragmentei o disco. Agora só me falta descobrir uma maneira de fazer o mesmo comigo e um programa que me desfragmente a alma.

Preguiça

Às vezes, sabe bem preguiçar um pouco. Contemplar, apenas.
in A Formiga de Langton:
Soube ontem que o programa "Acontece" (RTP-2), acabou. Fico assim feliz por saber que, ... afinal durou e sobreviveu bem mais tempo que este próprio país, que faz muitos meses já se fechou em si mesmo ou parece estar para fechar. A etiqueta SALDOS-90%-MOTIVO-FECHO DA LOJA, já está na vitrine. A seguir prevejo a queda do 2010 - Magazine de Ciências e Tecnologia, que também não faz falta nenhuma. Em seu lugar surgirá um programa de actualidades: Boxe e Touradas. Tudo realizado em "plano Americano", tipo conferência de imprensa. De preferência com muito sangue e traições à mistura. A utilização da Lili Caneças neste programa, para fazer as doutas entrevistas, também está a ser pensado, apesar do cachet. Estão neste momento a decorrer análises de preço/qualidade.

sexta-feira, 25 de julho de 2003

Justiça - uma resposta ao Liberdade de Expressão

O Liberdade de Expressão (LE) sugere-me que explique porque considero primárias as suas apreciações acerca do caso Casa Pia e suas ramificações políticas.
O LE selecciona as notícias que lhe agradam, que sustentam as suas teses pré-concebidas, e ignora todas as outras. Exemplo: o LE espanta-se que uma notícia do Expresso não tenha tido impacto, mas no mesmo parágrafo diz que nem sequer era nova (já tinha vindo no DN e no Público)... Espanta que LE, leitor tão atento, não tenha visto os desmentidos às primeiras notícias. Como espanta que não tenha visto as reacções, no dia, às segundas, com promessa de processo judicial. Isto por um motivo muito simples: o LE tem horror do contradidório, da legítima defesa. Num estado de direito, quem é acusado tem direito a ser ouvido. E a que tenham as suas justificações em consideração.
O LE conclui um dos seus textos com uma asserção tenebrosa - uma notícia sobre um encontro de Pedro Namora com um «alto dirigente do PS». O PS desmentiu, mas, mais uma vez, o LE não viu. Pergunto ao LE: sabe do que se falou nesse encontro, partindo do princípio de que ele existiu?
Perco tempo. Porque o LE não vê nada. Não vê a polémica, que envolve juízes, políticos, jornalistas, toda a gente, de todos os quadrantes políticos, que enche os media sobre vários aspectos do funcionamento da justiça. Mais cego que a justiça, só o LE: «A máquina da Justiça está finalmente a funcionar». Parem o debate, o LE descobriu a pólvora.
E o LE não vê nada porquê? Porque o LE tem o raciocínio turvado pelo ódio. Em vários textos, o LE menoriza, ridiculariza, Ferro Rodrigues. Está no seu direito. O ódio pode ser um bom instrumento de acção política, não é, seguramente, aconselhável a quem gosta de reflectir sobre o mundo e a causa das coisas. Eu tento navegar no segundo grupo.

Diálogo II

- Jotinha, amor, tens aqui o JPP no telemóvel. Diz que está no Porto.
- Agora não, amor, que estou nos blogues.
- Ele pergunta se sabes do Francisco J. «Terá ido de férias?» pergunta.
- Diz-lhe que foi tomar uma cerveja e ainda não voltou.
- Jota, acho que estamos a repetir um diálogo.
- Hum, hum.. eu sei.
- E então?
- É por razões estéticas.
- Jotinha, jotinha... agora deste em esteta.

Lalalala lalalala... Aqui ouve-se. Aqui lê-se.

.
I think I'd like to go
back home
And take it easy
There's a woman that
I'd like to get to know
Living there

Everybody seems to wonder
What it's like down here
I gotta get away
from this day-to-day
running around,
Everybody knows
this is nowhere.

Everybody, everybody knows
Everybody knows.

Every time I think about
back home
It's cool and breezy
I wish that I could be there
right now
Just passing time.

Everybody seems to wonder
What it's like down here
I gotta get away
from this day-to-day
running around,
Everybody knows
this is nowhere.

Everybody, everybody knows
Everybody knows.

Obrigado

Chegou a hora de agradecer a quem nos incentiva. Adufe, Outro, eu, Leda Cruz, Cerco do Porto, Janela para o rio, Veto Político, Ânimo... O Rufus Wainwright continua à espera de todos os outros. Será que querem perder a audição antecipada de uma das canções mais espantosas dos últimos anos?

E aproveito para pôr a escrita em dia. Mais uma mão cheia de blogues que me tiram o sono:
Fumaças, 100nada, Cidadão Livre, Memória de Peixe, Ave-do-arremedo, Retórica e Persusao, Dias Estranhos, Para o intelecto inconformado, Retorta...

E o meu grande, enorme, espanto por tanta coisa interessante, estimulante, de muita qualidade, que se anda a fazer na blogosfera. As últimas semanas têm sido de muito estupefacção - mas onde andava esta gente antes de aqui chegar?

Fácil é perceber que preciso urgentemente de rever aquela listinha ali ao lado, onde está o que leio, gosto e recomendo. E que, como dá para perceber, está em acelerada desactualização. Espero pelas férias, se não se importam...

Declaração de amor à Economist

Folheio na Net a edição da Economist que só daqui a algumas horas chegará às bancas. Privilégios de assinante. A Economist é a melhor revista do mundo. Não dá notícias, no sentido em que não tem cachas, novidades absolutas. Limita-se a explicar-me o mundo, a racionalizar fragmentos, a tecer teias. Nunca complicando, sempre tornando mais simples: «É assim. Queres ver?»
Eu deixo-me guiar, maravilhado por vezes, pé atrás, noutros dias, por um mundo organizado em continentes, em temas, como já nenhum jornal faz. Num inglês elegante, sempre correcto, mas sempre vivo, como o português que eu gostaria de ver nos nossos media. A Economist dá-me segurança num mundo em estilhaços. Acho mesmo que é um dos últimos refúgios de sensatez e ponderação constantes, sem cedências.
E, depois, a Economist é o meu alter-ego. Eu sou contra a invasão do Iraque? Pois a Economist encarrega-se de me mostrar, semana após semana, quão errado estou. É claro que ela não sabe que eu fico na minha...
Quando eu for dono e director de um jornal - é esse o sonho de todo o bloguista (blogueiro?) - ele há-de ter no cabeçalho a frase que o Economist inventou em 1843 e que continua a publicar todas as semanas: to take part in a severe contest between intelligence, which presses forward, and an unworthy, timid ignorance obstructing our progress.

quinta-feira, 24 de julho de 2003

Oiçam isto

O Terras do Nunca completa um mês de actividade daqui a umas horinhas. Mas a prenda, quem a recebe são os nossos leitores. Ora vão lá aqui. Os que tiverem Fé podem ajoelhar e dar graças. Os outros podem agradecer aqui. E mandar os parabéns para aqui.

Libéria - uma polémica

O Pedro Mexia discorda do que aqui escrevi sobre a Libéria e propõe que se prolongue o debate. Concordo.
1. A minha perplexidade baseou-se em dois ou três textos que glosavam os apelos da esquerda bem pensante e caridosa, que, como se sabe, inclui o Papa, o Chirac e o professor Palhinhas, para uma intervenção americana na Libéria, em contradição com o «ai Jesus, que eles vão invadir o Iraque». Ora, eu não ouvi os apelos. Daí ter notado um erro de análise - o comentário comentava uma não-coisa. Havendo tantos e tão bons motivos para nos arranharmos, escusamos de nos esgotar em inutilidades.
2. Mas, como o PM vai à substância da coisa, aqui ficam dois ou três apontamentos para início de conversa:
- As relações internacionais devem basear-se em leis, doutrinas, «regras fixas». Mas a actuação concreta depende sempre da conjuntura, do cruzamento de interesses que se gera a cada momento. Daí que perceba, por exemplo, que os EUA tenham querido intervir no Iraque e não desejem fazer o mesmo na Coreia do Norte. Cada caso é um caso. O cinismo, no sentido nobre que a palavra possa ter, é pedra basilar das relações internacionais.
- Os laços, históricos, afectivos, económicos são motor das relações internacionais. Aceito, sem discussão de maior, que Portugal se envolva nos assuntos de Angola, mas nem com grandes debates me convencem de que devemos acudir a conflitos étnicos no Bangladesh.
- Iraque e Libéria são duas coisas completamente distintas. No Iraque, do ponto de vista dos EUA, tratava-se, essencialmente, de derrubar um regime para garantir condições de segurança aos seus vizinhos, aos EUA e ao mundo. A Libéria é um caso de emergência humanitária. Estão em confronto duas forças equilibradas que ameaçam arrasar o país. O poder já resignou (o Presidente aceitou o asilo). O que está em causa é a formação de uma força de interposição, que chegue lá e diga aos bandidos das duas partes - ponham as armas no chão, vamos negociar, chamar a ONU, a UA, a CEDEAO, fazer eleições. Os países vizinhos estão dispostos a isso, mas como eles próprios estão indirectamente envolvidos ou têm interesses no conflito, acham que será necessário alguém vindo de fora - e já agora com poderio militar - para pôr aquela gente na ordem.
- A operação militar seria sempre completamente diversa da do Iraque. Na Libéria, um pequeno contigente americano seria suficiente para liderar as forças internacionais.
3. A coisa vai longa. Fiquemos por aqui. Por agora.

quarta-feira, 23 de julho de 2003

A justiça que se esfuma

Tem sido o meu blogue de referência dos últimos dias, principalmente no que respeita à justiça, ao caso Casa Pia e às ramificações políticas do processo. É no Mata-mouros que leio coisas tão importantes como esta:

«Para além das más decisões e das não-decisões judiciais, perturbam-me os silêncios dos que, ao longo de anos de intervenções meritórias, ganharam um dever de cidadania acrescido.»

Vale a pena ler para perceber muito do que se passa à nossa volta. Nada que se pareça com as abordagens primárias do Liberdade de Expressão sobre as mesmas matérias.

O Iraque e o jornalismo que temos

Clara Ferreira Alves põe o dedo na ferida:

«Depois do escândalo do urânio do Níger e da morte de David Kelly, nada será como dantes. Porque, nesses países, a Grã-Bretanha e os Estados Unidos, o jornalismo de investigação, isento e brutal, existe. E em Portugal, país anestesiado, não existe. Existem receptores de informação canalizada com objectivos determinados.
Por isso, ninguém faz a pergunta: sr. Primeiro-Ministro, que provas das armas de destruição maciça, que motivaram o seu apoio aos americanos e ingleses, viu o senhor em Londres? Ou noutro lugar qualquer?»

Acho que só falta acrescentar: nos EUA e no Reino Unido, nenhum jornalista ficaria satisfeito com as respostas evasivas que os políticos portugueses se habituaram a dar.

Diálogo

- Jotinha, amor, tens aqui o JPP no telemóvel.
- Agora não, amor, que estou nos blogues.
- Ele pergunta se sabes do Francisco J.
- Diz-lhe que foi tomar uma cerveja e ainda não voltou.

What It Feels Like

O último número da Esquire americana compra-se porque traz a Jennifer Lopez na capa [É nestas alturas que me apetece aprender html para encher o blogue de fotos, mas sempre podem espreitar aqui].
Lá dentro, vem uma daquelas coisas que fazem as delícias dos blogues - listas, preferencialmente de coisas, digamos, inesperadas. No caso, a lista segue o mote «What It Feels Like...». Por exemplo, o que sente um fulano que é atacado por um crocodilo? E um rapazola envolvido num daqueles acidentes das corridas Nascar? E que sentem os cleptomaníacos? E uma rapariga com uns seios tão grandes, tão grandes, que a armação e o fecho do soutien tocam nos alarmes dos aeroportos?
Bom, mas para não pensarem que são só coisas bizarras, fiquem sabendo que a revista também trata de assuntos bem mais elevados, como a política. Por exemplo, no consultório da página 52, um leitor angustia-se: «When erect, my penis has a pronounced curve to the left». Um problema por resolver nas sociedades modernas, dominadas pelo neo-liberalismo conservador.

META-o-blogue

Afazeres relacionados com os funerais dos filhos do Saddam impediram-me de ver o debate sobre blogues na NTV. Felizmente, nenhum dos presentes escreveu sobre o que lá se passou, o que deita por terra todas as teorias vigentes sobre o umbiguismo e narcisismo desta coisa. Mas, como a blogosfera tem enviados especiais a todos os cantos do mundo, há um relato aqui. À pala do debate acabei, aliás, por descobrir um blogue interessante. É só lucro.

Declaração (ainda)

Não me faças cócegas no ouvido. Vá lá... Diz-me isso num blogue!

terça-feira, 22 de julho de 2003

Declaração

Porque não me dizes isso num blogue?

O disco de Verão

Em Junho do ano passado já tinha escolhido o meu disco de Verão. Foi Charango, dos Morcheeba. Um disco quente, pleno de paixão, e refrescante, com apelos dançantes e aquáticos. Este ano, estamos quase em Agosto e nada. Dizem-me que o que está a dar são os Tribalistas. Mas esse é claramente um disco de Primavera, de revelação, de quebra da inocência. Já Sei Namorar, por exemplo, tem o verso «já sei beijar de língua». Ora, no Verão, quantos sais já provou a língua?

Libéria

Há, na análise política, uma tendência para analisar a realidade com base em paradigmas que, geralmente, resulta em asneira. Um exemplo caseiro: durante o primeiro ano da dupla Sampaio-Guterres, uma data de comentadores (e até algumas manchetes de jornais...) trabalharam com base no paradigma anterior, Soares-Cavaco, ou seja, na ideia de conflitualidade. Asneiraram.
Agora é a Líbéria analisada à luz do Iraque. Que os EUA estarão a ser pressionados pela comunidade internacional, leia-se França, Mário Soares e quejandos, a intervir. Ou seja, as pressões estariam a partir dos mesmos que se opuseram à invasão do Iraque.
Ora basta conhecer um bocadinho, só um bocadinho, de História para perceber as razões pelas quais se fala dos EUA quando se fala de Libéria - um país fundado por americanos, com uma Constituição americana, e que foi base importante de americanos durante a Guerra Fria. Não é de estranhar que sejam os próprios liberianos a pedirem (implorarem...) a intervenção americana. O próprio Presidente, Charles Taylor, colocou isso como condição para aceitar o asilo na Nigéria.
A comparação com o Iarque não colhe, sob nenhum dos pontos de análise. O Economist ajuda a entender.

Expediente

Este mundo virtual está a crescer a um ritmo difícil de acompanhar. Ler tudo, ou pelo menos tudo o que possa interessar, começa a ser tarefa sobre-humana. E a qualidade tem acompanhado a quantidade. Depois do Verão se verá o que fica. Para já, umas breves notas de viagem.
1. A Origem do Amor entra na categoria de melhor título, mas fala de muitas outras coisas. É pena. Um blogue com este nome devia ser só sobre amor.
2. Campo dos Afectos, para quem gosta de teatro.
3. Esmaltes e Jóias é um blogue, bem interessante, de um jornalista português a viver nos states, mas que acompanha melhor a situação portuguesa do que muitos que cá vivem.
4. Icosaedro é um nome estranho que esconde algumas boas reflexões e uma mão cheia de boas fotos.
5. Procuro Marido não sabe o que anda a perder. A dr. Amélia e a Milu não fazem ideia das potencialidades do meu bigode. Vou mandar-lhes uma foto minha.
6. Vermelhar tem um nome curioso e é candidato à lista de template mais... mais... fora do comum.
7. O Mata-mouros colocou o Terras do Nunca na lista de blogues estimulantes. E é um blogue que trata as questões de justiça de uma forma bem interessante.
8. Portugal e Arredores abre com uma citação de JFK...
9. O Retorta também gosta de Neil Young. E, tal como o Icosaedro, reconhece Benfica.
10. O Reflexos de Azul Eléctrico reflecte que se farta. Ou não fosse o seu autor José Bragança de Miranda.
11. E há ainda, o Blogue de Notas , o Turista Acidental e o Entre pedras, palavras que me fizeram chegar e-mails anunciando a sua existência. Vou espreitar.
Após as férias, vou ter de arrumar aquela coluna ali ao lado.

segunda-feira, 21 de julho de 2003

Os Meus Livros (II)

O professor Marcelo lá enche duas páginas, sob a epígrafe «Li e Gostei». Desta vez, o tema é «obras menos faladas». Não as contei, mas aguardo impaciente a contabilidade do Abrupto.

Os Meus Livros

A revista Os Meus Livros, de Julho/Agosto, dedica quatro páginas aos «blogues literários». Com uma revelação: O Meu Pipi é «filho putativo do Luiz Pacheco». Que o Pacheco gosta de ir às meninas, já sabíamos. Agora, que se distrai e não usa camisinha, isso é novidade absoluta.
A reportagem, por assim dizer, é ilustrada com uma menina (um pouco sonsa, é certo...) teclando um pequenino portátil. Já aqui falámos três ou quatro vezes de livros. Gostaríamos, por isso, de perguntar à Teresa Coelho, directora da revista, a partir de quantos volumes é que temos direito à menina. Ou, dada a aparência um pouco enfezada da dita, podemos optar pelo portátil?

Gelo. Para si, gelo

A Bomba Inteligente, em defesa de quem oferecemos o peito, fez uma lista de blogues e esqueceu-se do Terras do Nunca. Como não somos de amuar, vamos enviar-lhe o belo disco Ophelia, de Natalie Merchant, onde poderá ouvir, na abalizada companhia do marido, a canção Frozen Charlotte.

Filomena e a conduta

Há uma semana, o Expresso levou das boas porque tinha publicado um Código de Conduta e (ai Jesus...) violava-o logo nesse número, com uma entrevista a Filomena Morais, quase-ex-Pinto da Costa. Que não se vislumbrava o interesse público...
Não tenho procuração nem especial admiração pelo semanário de Balsemão, Saraiva e Associados. Mas repararam que, uma semana depois, todos (repito, TODOS) os jornais e televisões se referiram ao assunto? Até a Lusa, que é suposto ser o referencial. Atenção: eu não escrevi «referência».

Metabloguismo

Há blogues sobre eu e o mundo e blogues sobre o mundo e eu. Prefiro os primeiros. Eu à procura do mundo.

domingo, 20 de julho de 2003

A deriva

Deriva neurótico-populista. Repito. Deriva neurótico-populista. Ana Sá Lopes, aqui, em três palavras. O retrato de Portugal, hoje.

I'm baaaaack.......

Wait and see.

sexta-feira, 18 de julho de 2003

Bom fim-de-semana

Arrumava as malas (enfim, isto é só uma figura literária...) para o fim-de-semana (sim, os blogues, às vezes, também metem folga - não contem comigo por uns dias, poucos), quando, ao dar uma volta pela blogosfera, fui atirado, literalmente, para o teclado.
[Reparem bem neste estilo cheio de parênteses, vírgulas, travessões e orações intercaladas - cuida-te Saramago, está a chegar um novo estilo literário a Portugal.]
E parto cheio de alegria. Porque eu e o Uhhhhh tínhamos discordado violentamente e, afinal, até nos podemos entender. Coisas de blog (pronto, desta faço a vontade ao Uhhhhh). É claro que, mais à frente, ainda nos haveremos de desentender outra vez.
E parto cheio de alegria. Porque, ainda não tinha eu digerido o Early Morning Blogs 12 - sim, a vida tem um editor -, quando dou de caras com um texto longo, sim. Se fosse um abaixo-assinado, fazia questão que o meu nome violasse a ordem alfabética e viesse logo ali, a abrir. Não sendo abaixo-assinado, que posso eu fazer?
E parto cheio de alegria. Porque isto anda tudo ligado e nesse tudo ligado é que está o encanto. A sedução da vagabundagem, como escrevi há dias [Olhem p'ra isto... Até já me cito. Eu não disse ao Saramago para se cuidar?].

O depósito obrigatório (II)

Uma das alternativas ao «depósito obrigatório» poderiam ser as cápsulas do tempo.
Por exemplo, meter num caixote uma bobina (hoje, talvez, um CD) da TSF, outra da Antena 2, outra da Rádio Antena Livre (de Abrantes), um DVD com a emissão da SIC Radical, outro com o Canal 2, outro com o Canal 18 (apanhando aquele horário de transfiguração, quando aquilo passa de canal para donas de casa para canal para dona(o)s de casa com o cio). E dopois ainda um exemplar do 24 horas, do Público, do Jornal de Negócios. E o folheto do Carrefour que me deixaram na caixa do correio. E mais, muito mais. Depois, colava-se uma etiqueta: «Portugal, 18 de Julho de 2003, um flash». Um retrato, um instantâneo do que somos.
Há, porém, uma coisa que me inquieta. Será que não há, de facto, alguém a guardar tudo o que aqui escrevemos. Não sei... Já repararam que tudo isto passa pela Blogger, uma empresa americana. Não é lá, nos states, que existe uma religião que anda a fotocopiar certidões de nascimento por esse mundo fora, a catalogá-las, a guardá-las em subterrâneos?

O depósito obrigatório

José Pacheco Pereira, no Público de quinta-feira, defendia um «depósito obrigatório» para a Internet.
Esta coisa do «depósito obrigatório» surgiu-me há 20 anos, quando trabalhava na rádio. Havia uma bobina que rodava muito devagarinho e que gravava toda a emissão. Nunca percebi para onde era encaminhado o resultado. Mas pensava: um ano são 365 bobinas, é muita coisa. E, na altura, ainda não havia rádios locais e as nacionais eram poucas. E havia ainda o problema da durabilidade do suporte.
Acho que muita gente guarda as entrevistas que faz na rádio. Talvez haja um ou outro que guarde programas. Mas e o resto? Para caracterizar os tempos que vivemos, para a História que alguém há-de fazer, parecia-me essencial que se guardasse tudo: os separadores de publicidade, a publicidade, as locuções de continuidade, os telefonemas dos ouvintes. É isso, mais que o programa muito elaborado, que marca uma época. [o Outro, Eu não quererá botar faladura sobre isto?]
O mesmo se passa na Net. Haverá gente que guarda o essencial do que por aqui deixa. E até haverá mesmo quem publique. Mas e o resto. O diletantismo, o disparate, a anotação sem importância? Que destino terá? E é isso, mais que as grandes teses, os grandes sites de investigação, que caracteriza os tempos que vivemos.

Os dias mais leves

São 11 da manhã e a blogosfera revela-se. Os que ainda dormem. Os que tentam despertar para a vida olhando absortamente o monte de papéis e o screensaver de um qualquer computador num escritório com excesso de iluminação. E os que madrugam e já nos sobressaltam com os seus Early Morning Posts (o Early é retórico - o relógio está atrasado uma hora...).
Reparo agora que estou com um dia em atraso. A Ânimo sai sempre às quintas, mesmo na blogosfera. E agora compreendo a angústia do animador - a Ânimo precisa mesmo daquele grafismo dos velhos tempos, daqueles desenhos, daqueles contornos, daquelas letras que ora se desalinham ora se alinham. Bolas, não há por aí um perito em html que possa dar uma ajuda? Além do mais, uma coisa chamado Ânimo, no estado geral em que o país se encontra, devia ter um subsídio do Ministério das Finanças, uma espécie de bandeirada...
Quanto ao RF, que apareça. O Marco do Correio está aberto 24 horas por dia. Só um aviso: os originais não publicados não serão devolvidos.

Prémios em São Bento [actualizado]

Este é um blogue de serviço público. Aproveitando a inexistência de um Código de Conduta para a blogosfera (se existir, invoco desde já o mais alto interesse nacional para o violar), passo a divulgar a notícia pela qual mais se esforçaram os 230 deputados da Nação no ano parlamentar que terminou. O Vosso esforço valeu a pena. Eis os prémios anualmente atribuídos pelos jornalistas parlamentares. EM RIGOROSA PRIMEIRA MÃO:
Deputado do ano: Lino de Carvalho
Decepção do ano: Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda
Revelação do ano (não atribuído)
Menções Honrosas:
Prémio «Eu também quero um Falcon para mim»: Mota Amaral
(que também ganhou o prémio «Associação Parlamentar de Amizade Portugal-Brasil»)
Prémio «Cruz Silva Do Ano»: Guilherme Silva
Prémio «Aceitei, era Louis Vuitton, e então?»: António Preto
Prémio «Só Lá Fui Pelas Sevilhanas»: Alberto Martins
Prémio «Líder Parlamentar do PCP»: Lino de Carvalho

A Acta regista que a votação decorreu durante um jantar, no Solar dos Bicos (curioso nome...), e que a votação foi digerida entre um bar irlandês e o Lux, locais de onde os jornalistas parlamentares foram sucessivamente expulsos.
É provável que vejam esta lista publicada nos próximos dias em qualquer lado. Mas não esqueçam, foi na Terra do Nunca que a viram primeiro.

No que me fui meter (adenda)

O Aviz mudou o layout. A letrinha é mai linda, mas custa mais a ler. Livrou-se do cor de laranja (alguém que ensine o Marmelo a fazer o mesmo...) Agora, só lhe falta apurar os links - por vezes duplica o http e depois a coisa não funciona. Quando fizer isso, deve avisar a Amélia e a sua amiga Milu, para elas copiarem de novo o template.
No Desejo Casar, alegram-se porque há cada vez mais jornalistas louras. Cuidado, amigos, fala-vos a voz da experiência: muitas delas são artificiais...
A Carta Roubada tem o link da semana - uma página em azul, com música linda. Só música. Assunto que nos leva ao Outro, eu. É claro que, com um nome destes, deve andar permanentemente angustiado. Agora não sabe se deve ter música. Eu, por mim, gosto muito mas dispenso. Isto porque um blogue com texto, imagem e música precisa de muita banda larga, coisa que por aí há muito, mas ainda não é generalizada. Mas a minha opinião pouco conta - do que eu gosto mesmo é de blogues despojados, como o Abrupto ou A Praia. Fica só a beleza do texto, a força da ideia, if you know what I mean...

No que me fui meter (iii)

Aconselhei os desiludidos do Pipi a dirigirem-se ao Macjête. Acho que o Macjête (e as suecas...) não se importou. O Huuuuu, só porque estava zangado comigo, achou o salto lógico um disparate.
Explico-me, então: o Pipi é coisa lúdica, de galhofa. Penso que ninguém irá ali com outros fins (ou irá, Huuuuu...?) O Macjête também galhofa, galhofa alegremente, sadiamente. São dois blogues lúdicos, sem que isto tenha algo de depreciativo. Entendidos?

No que me fui meter (ii)

Atirei-me ao Valete Fratres! Imaginei-o agente sombrio da CIA, contra-espionando em Bruxelas. Sai-me pessoa de humor fino, elegante. Mandou-me um e-mail (penso que não se importa que divulgue as ideias gerais) em que se desculpa de «não saber escrever» e, por isso, ter de abusar de truques cromáticos e outras rasteiras. Imagino-lhe o sorriso nos lábios, enquanto escreve... Depois, zás!, espeta-me com duas capas da Time e mostra, em meia dúzia de linhas, como os media falham mais que os políticos (americanos, entenda-se).
Muito a sério - o trabalho do Valete parece-me um bocadinho obcecado. Mas profissional, bem feito. Eu, que noutras encarnações lido com material de política internacional, dou comigo a pensar na lupa atenta do Valete cada vez que trato questão mais delicada.

No que me fui meter (i)

É verdade. No que me fui meter. Atirei-me ao Uhhhhh para defender a Bomba e, é claro, apanho com os estilhaços. Eu que não conheço a Bomba, nem o marido, muito menos o crítico dela.
Recoloquemos a questão: enquantos houver empresas que, a troco de um pequeno anúncio ou de uma nota sem importância, nos derem oportunidade de teclar sem freio, que teclemos. O espaço, para já, parece-me infinito. Cada um que o use como quiser, seja com receitas de pescada com chocolate, seja com entrevistas ao Pipi.
A verdade é que, pela primeira vez, encontro um media onde posso opinar, polemizar, irritar-me, maravilhar-me. Sem que me mandem calar. Isto, é claro, enquanto se mantiver um tom civilizado (o qual, previno, pode incluir alguma acutilância, violência até - valerão os argumentos, mais que a porrada).

quinta-feira, 17 de julho de 2003

Jordana e os livros

Veio hoje no inquérito de Verão do Correio da Manhã. Resposta de Jordana Jardel, quando lhe pedem para recomendar um livro: «Os Meus Segredos, de Jardel. Foi o único que li até hoje.»

À atenção do Pipi

A evidente falta de pedalada do Pipi, abriu portas a um novo nicho de mercado. Por exemplo, ontem, na Lusa:

Sydney, Austrália, 17 Jul (Lusa) - Os homens que se masturbam frequentemente reduzem os seus riscos de sofrer de um cancro na próstata, segundo um estudo publicado na Austrália.
Investigadores do Conselho do Cancro do Estado de Victoria indicaram que as ejaculações frequentes permitem evacuar as substâncias potencialmente cancerígenas da próstata.
O responsável pelo Conselho, Graham Giles, indicou que este estudo, efectuado em mais de 2.000 homens entre os 40 e os 69 anos, demonstrou que aqueles que ejaculam mais de cinco vezes por semana reduzem em um terço o risco de cancro na próstata.
"É uma grande notícia para os homens. A ejaculação é de facto inofensiva", afirmou Giles.
O mesmo responsável indicou que as ejaculações frequentes impedem o esperma de se acumular nos canais da próstata, onde pode tornar-se potencialmente cancerígeno.
"O esperma é uma associação de numerosas substâncias químicas que, devido à sua reactividade biológica, podem tornar-se cancerígenas se não foram evacuadas", afirmou Graham Giles.
Graham Gilles indicou que o efeito preventivo da ejaculação parece estar unicamente ligado à masturbação, mas não às relações sexuais frequentes.

As dúvidas de Isabel

«Tenho medo dos homens! Nunca sei se gostam de mim só por uma noite, se gostam de mim por uma imagem.»
Isabel Figueira, citada na Visão a partir de outra revista qualquer.

Minha cara, porquê tanto medo? Porquê tanta dúvida? Saiba que há homens que não são dados à filosofia.

Sugestão de leitura

Uma livraria surpreendeu-me hoje com É Este o Mundo em Que Queremos Viver? (ed. Inquérito). A surpresa vem do facto de a obra ter saído há poucas semanas em França, após um primeiro lançamento frustrado (uma providência na justiça atrasou a circulação). O livro é escrito por Eva Joly, a juíza que instruiu o famoso «caso Elf», um dos maiores processos de corrupção dos últimos anos envolvendo políticos. Trata da relação entre o poder judicial e o poder político, ou melhor, de quando o poder político tenta travar o poder judicial. E, claro, embora apenas de forma implícita, dos limites do poder judicial. Penso que nem é preciso referir as razões pelas quais a sua leitura, aqui e agora, se torna quase obrigatória.

Huuuuu... a bomba

O Huuuuu... o vento lá fora atira-se à  Bomba Inteligente de uma forma que talvez mereça a intervenção do marido para um duelo. Huuuuu (atenção, são cinco u) está a ser injusto. Quem já conviveu com a Bomba (há relatos avulsos por essa blogosfera fora...) diz que se trata, de facto, de uma bomba e que até é inteligente. Deixemo-nos de parvoíces... A senhora parece-me ser pessoa de rara sensibilidade. Escreve por aqui o que lhe apetece, como todos nós. E a vantagem disto é mesmo essa - isto é tão grande que há lugar para todos. Além disso, acho que os textos da Bomba reflectem um bocadinho do que cada um de nós é.
Por exemplo, hoje, no Icosaedro, encontrei uma foto de Benfica ao pôr do Sol. Tirada exactamente naquele lugar onde costumo apanhar o autocarro (peço desculpa ao Huuuuu, que é pessoa com conhecimentos informáticos, mas não sei fazer links directos). Não tenho nada de especial a dizer sobre o assunto. Apenas que reconheci um sí­tio que poucos de vós identificarão. E que, de alguma forma, eu também estou naquela foto, apesar de lá não estar. Tenho momentos assim.

Blog, blog, blog

Morreu Celia Cruz, rainha da salsa, nascida em Cuba. Convém que não se ponham a tecer loas, que o Guerra e Pas não gosta.
O Valete Fratres regressou de Bruxelas, mas está um bocadito murcho. Não sei se terá sido qualquer vírus apanhado nas cantinas da Comissão Europeia, ou se serão as notícias do cavalgante défice americano, as sondagens castigadoras para o W. Bush, a capa da Time que fala em «inverdades» sobre a o Iraque, ou se, simplesmente, os serviços da CIA em Lisboa se esqueceram de lhe enviar os recortes da semana.
A esquerda, pois essa também anda engasgada. Com a minha poderosa Netcabo demoro dois minutos (!!!) a abrir o Blog de Esquerda. Pronto, desisti. Acho que era isso mesmo que queriam. Ou será boicote dos marotos americanos da Blogger?

O emplastro (dois)

Meia blogosfera anda indignada com o facto de Herman José ter levado um atrasado mental, vulgo Emplastro, ao seu programa. Eu próprio, a quente, escrevi sobre isso, abusando eventualmente da ironia.
O Abrupto talvez tenha sido o mais radical. Porque propôs uma, digamos, solução (que o Herman peça desculpa, tão simples como isso...) e porque apelou a uma espécie de onda de indignação nacional. Porém, à hora a que escrevo, o tema ainda não extavasou os blogues.
Os textos do Abrupto (e de outros, num registo com menos arestas) levantam uma questão que extravasa o Herman (sobre o apresentador, concordo com o Mexia). E essa questão é a do limiar da indignação. Porque a verdade é que há uns anos que a televisão entrou numa espiral (ia dizer «de patamar em patamar», mas «espiral» é mais escorregadio) da qual não se percebe como possa sair. E nós, do lado de cá do vidro, já nos tornámos insensíveis porque, na verdade, perdemos as referências. Daí que já ninguém se indigne.
Foi o emplastro no Herman, mas na véspera tinha sido uma paraplégica a rezar/gritar/chorar/implorar/balbuciar em Fátima por um milagre. E não foi num talk show, foi no noticiário! E um destes dias um fulano que dissecou um cadáver na televisão vai esquartejar... um feto (!!!).
Há outra questão que gostaria de levantar. Quando é que toda esta barbárie ganha foros de barbárie? Quando passa na tv generalista, na tv por cabo, nos vídeos de aluguer? Quero dizer com isto: é legítimo que se filmem cenas de sado-masoquismo, de violência, de desumanidade para consumo em circuito restrito? Passam a ser chocantes apenas quando mostradas ao mundo?
Eu sei que talvez esteja a problematizar em demasia. E que o momento talvez exija o contrário, o da simplificação. Só ela conduz à acção.

quarta-feira, 16 de julho de 2003

O outro Cruz

Gostaria muito de escrever sobre Cruz Silva, o deputado do PSD que só aceitava depor por escrito num processo em tribunal, depois já aceitava depor oralmente, para acabar por recusar qualquer depoimento. Disse que gostava de escrever porque, nos jornais dos últimos dias, o caso foi, ora silenciado, ora remetido para uma breve ou rodapé. Como já escrevi aqui, preto no branco - ou seja, a propósito de António Preto e de Barry White - há, de facto, uma mão invisível nos media, que determina modas e silêncios.
Já agora, sobre este caso, porque é que algumas pessoas são presas para depor e a outras se lhes dá a oportunidade de deporem por escrito, ao vivo, ou nem sequer porem os pés no tribunal?

Aglomerados e estratificados

No Público de hoje, José Manuel Fernandes escreve (num texto que não tem link) sobre o «Problema das Estantes». Basicamente, o problema é: como arrumar todos aqueles livros com os quais o Público é vendido às quartas. Não me lembro de alguma vez o JMF (reparem nas maiúsculas...) se ter preocupado com outra magna questão: como arrumar os preciosos números do Público? De qualquer forma, como este é um blogue de serviço público, aí vai uma sugestão: que às quartas-feiras, junto com o livro, seja oferecida uma tabuínha destinada à montagem de uma estante. Uma oportunidade para recentrar o negócio da Sonae: o regresso aos aglomerados e estratificados.

Um atentado

«Dinamitem a Terra do Nunca». Assim, sem rodeios, é a ameaça que paira sobre este blogue. A habitual inveja do sucesso. Leio depois, no DN, pela pena de um tal EB (não tem link), que se trata de «quatro casos de autismo cinematográfico». Fico mais descansado.

terça-feira, 15 de julho de 2003

Vá lá, riam-se um bocadinho

Estão fartos do Pipi? Acham que perdeu a ponta? Aquilo já não vos dá ponta? Deixem-se disso. Façam vocês mesmos. E, se quiserem rir (antes ou depois...), vão aqui.

Ânimo

O Colaço escreve outro belo texto (isto hoje parece o Acontece...). Ele que, na verdade, anda a fazer um blogue há mais de vinte anos, lamenta-se de ter chegado tarde, de não dominar o meio. Haja quem o ajude (tecnicamente, que eu não sei...) a pôr na blogosfera a Ânimo destes anos todos.

Prazeres

O Cruzes Canhoto tem um belo texto sobre os blogues como instumento de sedução. Uma sedução que se faz de intimidade, cumplicidade e trivialidades. Já aqui falei desta vagabundagem, desta quase clandestinidade, num texto em que me questionava quantos de nós sobreviveremos a este amor de Verão. E, numa troca de e-mails com o Não Esperam Nada de Mim, também lhe falei do paradoxo desta coisa de uma escrita intimista que acaba por ser lida em rede. A tal sedução. Multipolar.

Lula (dois)

Sobre Lula, a esquerda e a necessidade de um mundo mais equilibrado, há hoje, no Público, um artigo que fala claro. De Teresa de Sousa, obviamente.

segunda-feira, 14 de julho de 2003

Barrilaro

Não conheci pessoalmente Henrique Barrilaro Ruas, provavelmente por não ter quaisquer simpatias monárquicas (esclareça-se que também saco da pistola quando ouço falar da «ética republicana»). Acabo de ler um texto de Pedro Mexia, que o conheceu e que o elogia sinceramente. Mas que, no embalo do elogio, acaba por ser injusto para outro monárquico (que conheci, de raspão, profissionalmente), cujas qualidades humanas e intelectuais me merecem todo o aplauso. Pessoa de uma afabilidade e disponibilidade raras. Falo de Gonçalo Ribeiro Telles. É verdade que o homem tinha o mau hábito de, por vezes, acompanhar com a esquerda quando a esquerda lhe comprava as ideias. Isso não deve justificar o esquecimento. Ou pior (vejam o que a Câmara de Lisboa lhe fez).

O estado das coisas

O Blog de Esquerda queixa-se que há tanto blogue para ler que pouco tempo resta para escrever. Pois, é como na vida real. Há tanta revista, tanto livro, que temos de escolher. Tanto CD que temos de nos decidir.
O Cruzes Canhoto, um dos blogues mais activos da nossa praça, andou a juntar umas citações que provam a total dispensabilidade deste meio. Não satisfeito, ainda acrescenta: quem terá interesse em ler os meus blocos de notas? Não li o site meter deles, mas, se calhar, mais do que pensam.
O Guerra e Pas tem a segunda recaída melancólica no espaço de duas semanas e já adivinha o fim da blogosfera. O Outro, eu discorda e eu concordo com ele. O Guerra e Pas até estava a fazer um curioso inventário da nossa imprensa e era pena que desistisse agora.
Volto atrás, como nas cerejas. O Blog de Esquerda queixa-se que ninguém ligou à nova página do DNA sobre blogues. Pois... Pacheco, Mexia, Viegas, José Mário Silva, Produções Fictícias. Se queriam citá-los, escusavam de ter esperado pelos blogues.
Enquanto não explode, a blogosfera vai tendo novos motivos de interesse. Não esperem nada de mim, ou a prova de que o Correio da Manhã não é só o que parece; O Cozinheiro, um blogue delicioso in so many ways; A Praia, apontamentos de um ex-ilustre (lay-out lindo, como sublinhou a Bomba Inteligente); O Maranhão, que se quer assumir como de fora de Lisboa e promete achigãs (que tal pôr-se em contacto com O Cozinheiro?). E há um blogue menos novo e que me fascina terrivelmente: A Formiga de Langton.

O Professor Marcelo

A propósito da notícia da morte de Henrique Barrilaro Ruas, Outro, eu questiona-se se o Professor Marcelo não terá um blogue. Pessoa bem informada que sou, posso garantir que não. Acontece apenas que o Professor Marcelo foi, ele próprio, o inventor da blogosfera. Só um louco, um intelectual louco, poderia ter inventado uma coisa em que toda a gente fala ao mesmo tempo, de todas as coisas, em qualquer sítio do mundo. E, assinale-se, sem dormir. Agora convém é que o Pacheco Pereira não saiba disto, senão ainda amua, retira-se, e lá se vai a nossa audiência.

Atenção, anti-americanos

O Valete Fratres informa-nos que vai estar fora por uns dias. Só volta à blogosfera na quarta-feira. Será que em Bruxelas ele vai estar permanentemente ligado ao computador? Nem quero imaginar a quantidade de mentiras que irão ser ditas sobre os Estados Unidos tentando escapar à sua vigilância orwelliana.
Atenção esquerdistas, jornalistas, inimigos de Bush, traidores, ou seja, toda a gente: têm menos de 48 horas de liberdade. Mas cuidado, muito cuidado, quando voltar, ele vai ler tudo.

Lula

O que irrita muita gente é que Lula é de esquerda, radicalmente de esquerda, mas é também inteligente e sensato. Que bom seria que ele fosse outro Chávez, outro Fidel. Que ele não tivesse ido a Washington, que ele não tivesse ido a Davos. Ou que ele tivesse ido e tivesse comido com as mãos, não usasse guardanapo. Que ele tivesse ido renovar os disparates clássicos das nacionalizações, reproduzir a cassete anti-capitalista. Enfim, que bom que ele fosse um assanhado.
Mas não. Por onde passa, é ele o sensato. Vejam o que aconteceu no Parlamento português.
Agora que a direita imita a esquerda e reivindica para si o monopólio do bom senso, o que irrita é que a esquerda tenha aprendido com os erros.

Do anonimato e outras coisas

É uma história que vale a pena ser contada. Parece-me que diz muito sobre a blogosfera, mas ainda não lhe encontrei a moral.
Acho que alguém revelou ao Colaço quem lhe tem elogiado a preserverança. E quebra-se um dos encantos do blogue. Aquele limbo de anonimato com o rabo de fora. Um anonimato que nada esconde, mas que simplesmente apela ao jogo.
O Colaço chegou a lançar alguns impropérios contra este tempo em que o conversar parece estar a ser substituído pelo teclar. Não te irrites homem. Há muito teórico que garante ser o teclado (e o rato, e o ecrã, e a memória ram...) apenas uma extensão do homem. Como já o era a escrita original. E vê lá tu se não foi pela palavra impressa, depois dita, depois internetada e agora blogada que fizeste amigos, retomaste antigas amizades, falaste do mundo e o mundo te comentou?
O anonimato, como já percebeste, é tão frágil como tudo o resto, como o nosso nome impresso em letra de jornal, se possível com a foto ao lado.
Quanto ao teclar, que tens tu contra a Compaq que não tens contra a Nokia?

Moleskine

Vou voltar a usar o Moleskine. Nas últimas semanas, dou com eles nos blogues, nas revistas, nas mãos de amigos... Prova de que a coisa entrou mesmo na moda é que, há dias, encontrei na Fernandes umas cópias de outra marca.

Os jornais portugueses

Depois do Abrupto, com as suas escolas de jornalismo (interrompidas?), surgiu uma nova série sobre o mesmo tema, esta do Guerra e Pas. Dá perceber que fala do que sabe, mesmo que não se concorde com tudo (embora se ande lá perto...). Já falou do Expresso, Público (sim, queremos saber mais sobre a Xis...), Visão, Independente. Continuará?
Nota técnica: o Guerra e Pas e o Desejo Casar decidiram colocar um contador num local estranho que bloqueia a leitura das páginas. É irritante. Basta que mudem o contador para o fim da página e já não chateia ninguém. Vá lá.

Equívoco

O Outro, eu informa que morreu Henrique Barrilaro Ruas. Um bom exemplo de como nem sempre os blogues estão na vanguarda da informação. Como se sabe, a notícia da morte de Henrique Barrilaro Ruas foi dada pelo Professor Marcelo há uns meses largos. O seu a seu dono.

Viva a Graça

Continuei a ver o Herman.
A seguir ao Emplastro, veio a Graça Lobo. As saudades que tinha daquela força, daquela convicção, daquela garra, daquela Graça. Fartou-se de apelar à nossa auto-estima.
Depois, veio o Hélder do Ku Duro. Desliguei. Por momentos, este foi o primeiro blogue nacional a fazer um directo.

O Emplastro

O programa do Herman José teve hoje um convidado muito especial - o Emplastro, aquele ser desdentado que surge atrás de gente conhecida onde quer que haja uma câmara.
O fulano apresentou-se com uma foto em que beija Marisa Cruz (!!!!!) e o Herman perguntou-lhe se gostaria de ter a Marisa como mãe para mamar nela (sic). O Nando, é assim que se chama, respondeu-lhe que o seu pai é o Pinto da Costa. Uma informação que o Expresso não se esquecerá de investigar.
O Emplastro já tem um site. Aqui. É lá que José Eduardo Moniz deve procurar o telefone para o contratar para a grelha de Setembro.

O Menezes

Luís Filipe Menezes sempre foi para mim um mistério. Logo a começar pelo nome. É Menezes com z, ou Meneses com s? Depois, é um mar (ia dizer um Rio...) de dúvidas. O homem é mesmo um génio e nós é que não estamos preparados para ele? Ou é apenas um balão cheio de palavras sem qualquer consistência?
A minha dúvida (perdoem-me a imodéstia) não me parece coisa de somenos. Há uns anos (poucos...) Santana Lopes também era visto como um franco-atirador, um jogador da política, e agora querem levá-lo em ombros para Belém.

Neil Young

Este blogue é filho de Peter Pan e Neil Young. O primeiro anda entretido a brincar com a Sininho. O segundo tem disco novo, lá mais para o Verão. Antes disso, vem aí uma mão cheia de CD de obras que ainda não tinham passado para esse formato. E que inclui o soberbo On The Beach (de 1974). Preparem as carteiras.

A direita e os taxis

Vá lá, deixem-se de Wolfowitz, dos argumentos sobre a mais que justa guerra do Iraque, e também Lula, Clinton e outros perigos internacionais.
Gostaríamos era que os blogues de direita se atirassem a temas bem mais terrenos e, já agora, caseiros. Por exemplo, o braço-de-ferro entre a ministra das Finanças e os taxistas.

domingo, 13 de julho de 2003

Ainda Barry White

Na RTP1, Santana Lopes considerou a morte de Barry White um dos acontecimentos da semana. Não posso deixar de me espantar, apesar de já aqui ter falado sobre o efeito onda que por vezes se gera nos media e na opinião pública. E de ter sugerido que na noite (lisboeta e não só) se ouvisse BW.

O jornalismo que temos (VI)

Juntem-se dois ou três jornalistas e logo se começa a falar do jornalismo que cá se faz. Não vejo nisso qualquer mal. Não sou dos que se manifestam contra a auto-martirização. Que se debata.
Quem tiver a pachorra para seguir esta polémica com João Pedro Henriques facilmente perceberá que, no fundo, é pouco o que nos divide. Talvez apenas nuances.
Sou muito crítico quanto ao estado geral do jornalismo, em especial do português. Isso não quer dizer que ache que está tudo mal. Evito a generalização, sei que há comentadores e comentadores, jornalistas e jornalistas. Sobre isso, que fique claro de uma vez por todas, estamos de acordo.
Por mim, podemos tentar encontrar outros motivos de polémica. É apenas uma sugestão, porque uma das vantagens da blogosfera é que aqui há espaço para tudo. E como não há horas de fecho, também se arranja tempo para tudo.

O jornalismo que temos - a continuação

Como era de prever, o João Pedro Henriques mandou outro e-mail. Ei-lo:

Meu caro,
Cais outra vez no erro das generalizações (que tu dizes querer evitar). Afirmas: «Abomino a mania das generalizações que ultimamente se apoderou dos nossos comentaristas, principalmente os da área política. Não acho que isto seja tudo uma choldra, uma cambada de corruptos, ou que todos queiram mamar desonestamente. Pelo contrário, esforço-me por distinguir o trigo do joio.»
O ponto é este: Obviamente que há «comentaristas» que usam e abusam da «mania das generalizações» e afirmam, constantemente, que isto é «tudo uma choldra», «uma cambada de corruptos», onde «todos querem mamar desonestamente». Mas sabes bem que não são todos assim. E, se calhar, nem são maioritários. Ou seja: há para todos os gostos. Os equilibrados,os desequilibrados, os justos, os injustos, os profundos, os superficiais, etc, etc.
Mas lendo-te isso não é claro - pelo contrário. Tomas o todo pela parte e carimbas na testa de todos os comentaristas políticos deste país um selo injusto para grande parte deles. É isso que me chateia, mesmo não sendo eu comentarista político. É tudo enfiado no mesmo saco, pagam os justos pelos pecadores, e quem tenta ter alguma «espessura» na forma como faz jornalismo enfrenta incessantemente avaliações injustas do seu trabalho por parte de quem tem pressa demais para, efectivamente – como tu próprio dizes - «separar o trigo do joio». A «mania das generalizações» lançada pelo metajornalismo pacheco-pereiriano conquista adeptos, e vejo que és um deles.
Quanto ao que dizes sobre as fontes, concordo contigo, como não podia deixar de ser. Mas do teu primeiro texto para o segundo há uma diferença: no primeiro denuncias o jornalismo «orientado pelas fontes», no segundo já só o jornalismo de mono-fonte. Tivesses tido esse cuidado logo no início e eu próprio não te teria dito nada.
Última nota: a «mania das generalizações» conduz ao absurdo de se fazerem «teses» (as aspas têm valor de ironia) sobre o jornalismo do Independente ou do Expresso ou do Público ou do DN ou da Visão, etc, etc, etc. Trabalhas em redacções há muitos anos e sabes tão bem quanto eu que isto não é honesto. Há de tudo nessas redacções, do melhor ao pior. Dificilmente se pode dizer que algumas delas tenha, actualmente, uma identidade única no seu seio (detesto esta expressão mas não me ocorre melhor e estou com pressa). Mesmo n'O Independente” versão-Portas havia um estilo de escrita mas não um estilo de fazer jornalismo.
Enfim: peço para não passar ser constantemente enfiado no mesmo saco de toda a gente. Se calhar isto implica muito mais trabalho (e coragem) da parte de quem gosta (como eu também gosto) de ter uma visão crítica (ou seja: analítica) sobre o jornalismo que se faz em Portugal.

sábado, 12 de julho de 2003

O jornalismo que temos - alarga-se o debate

O Cerco do Porto junta-se ao debate e fala nos «editorialistas de cu sentado», cuja reverência perante as fontes ultrapassa bastas vezes a dos jornalistas. Completamente de acordo.

Ideia genial

No Ourinol, um blogue sobre «liberdade cinema casa de banho publicas e skecthes britanicos» (sic), encontrei uma bem inteligente maneira de ganhar audiências através dos motores de busca. Assim, quem teclar as seguintes palavas em qualquer motor de busca, tem alguma probabilidade de vir ter ao excelente, incomparável, sublime Terras do Nunca. Obrigado.

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O jornalismo que temos - uma resposta

Aí vai, então, o «chuveirinho de humildade».
1. Uso e abuso das expressões «genericamente», «nomeadamente», «raríssimas excepções» e outras equivalentes, não por qualquer falta de coragem de chamar os bois pelos nomes, mas simplesmente porque abomino a mania das generalizações que ultimamente se apoderou dos nossos comentaristas, principalmente os da área política. Não acho que isto seja tudo uma choldra, uma cambada de corruptos, ou que todos queiram mamar desonestamente. Pelo contrário, esforço-me por distinguir o trigo do joio.
2. Daí que, lendo o que escrevi, facilmente se conclui que ainda vai havendo jornalismo aceitável em Portugal. No «caso Preto», lamento, não o encontrei.
3. Dás, em abono das tuas teses, o exemplo do Expresso. Um jornal que, curiosamente, já foi abordado, na blogosfera, pelo menos pelo Abrupto e pelo A Esquina do Rio. O Expresso é o exemplo mais perfeito da forma como as fontes ocupam, distribuem, espaço nos media. Só não só muito radical quanto a isso porque fui descobrindo, com experiência vivida, que certos jornais só funcionam com certas fontes, como certas fontes só funcionam com certos jornais. O Expresso talvez só seja mais transparente (não vi a publicação de um Código de Conduta, na edição de ontem, como um gesto de cinismo, mas como um gesto real para um relacionamento mais transparente com a sociedade). Sei, por isso, que soube do «caso Preto» pelo Expresso porque alguém quis que eu soubesse pelo Expresso.
4. As fontes. Meu caro, não há jornalismo sem fontes. Outra coisa é o jornalismo que se fica pela fonte. E uso deliberadamente o singular, porque, neste caso, imagina!, até estou de acordo com o teu director. Também acho que, aqui e lá fora, se anda a fazer muito jornalismo de uma só fonte, o que, em muitos casos, transforma os jornalistas em porta-vozes.
5. Cada vez sou mais crítico dos media e do jornalismo que se vai fazendo. Mas cada vez estou mais convicto da necessidade absoluta dos media, com todos os defeitos do mundo. Tão imperfeitos quanto o mundo. O como paradigma: ficou mais fragilizado desde que reconheceu que errou, mas o reconhecimento do erro New York Times permite-lhe enfrentar o futuro com outra força.

Abraços retribuídos (será que isto de enviar abraços pela blogosfera viola algum código de conduta)

O jornalismo que temos - uma polémica

De João Pedro Henriques, jornalista do Público, recebi um e-mail a propósito do comentário que fiz a um artigo de Emídio Rangel. O texto segue na íntegra. Os comentários virão depois.

Meu caro J,

Hoje irritaste-me com aquela das «redacções [que] genericamente falando, são já casos perdidos». Irrita-me o «genericamente». Porque o «genericamente» é só uma muletazinha medrosa para não te dares ao trabalho de especificar, com toda a tua liberdade, as que são, e as que não são, «casos perdidos».

Porque (sabes tão bem quanto eu) que embora nenhuma redacção portuguesa esteja perto da perfeição (quer dizer: daqueles modelos internacionais que admiramos), na verdade há diferenças entre umas e outras. Umas são melhores do que outras; numas não se investiga; noutras investiga-se alguma coisa; umas estão assentes nos pés de microfones; outras não.

O «genericamente» é, aliás, um tique muito pacheco-pereiriano! Dou-lhe razão em inúmeras coisas que escreve sobre o jornalismo. Mas pecam sempre por um defeito: mete tudo no mesmo saco. Simpático seria eu dizer que é por facilitismo. Não é: trata-se de cobardia pura e simples.

O extraordinário, quando te referes ao «caso Preto», é que esqueces o essencial: foi por uma notícia que soubeste da história; por um jornal; porque alguém (no caso, o Expresso, honra lhe seja feita) que soube da história e a contou. Quer dizer: comentas insuficiências do jornalismo depois de actos jornalísticos te darem pretextos para isso.

Nunca criticarias os «pés de microfone» do «caso Preto» se, antes disso, não tivesse havido um jornal e jornalistas que te contaram a história. E há outra coisa: felizmente estamos impedidos de usar métodos de tortura para extrair confissões aos visados das notícias. Portanto só podemos transcrever do sr. Preto o que ele diz: recebeu honorários de advogado em malas de dinheiro. É estranho? É claro que é! E podemos dizê-lo, sob a forma de comentário, o que até já aconteceu.

Último ponto: as «fontes». Escreves: «O jornalismo de investigação em Portugal, excepto raríssimas excepções, é jornalismo orientado pelas fontes. Divulga-se, consciente ou inconscientemente, apenas o que elas querem.»

Eu respondo: haja quem tem fontes! Haja quem faz por isso! Quem se dê a esse trabalho! Porque quem tem essas fontes que tu tanto abominas é
quem te conta as histórias que tu depois comentas e criticas. O jornalismo de quem tem fontes alimenta o teu metajornalismo do Terras do Nunca. Um chuveirinho de humildade não calhava nada mal.

Um abraço do teu amigo de sempre,
João Pedro Henriques

O Jornalismo que temos

Emídio Rangel assina no Jornal de Negócios (não tem site) de sexta-feira um artigo que valeria a pena ser lido em todas as escolas de jornalismo (penso que as redacções, genericamente falando, são já casos perdidos). Chama-se «Jornalismo de reverência», mas também se poderia chamar «Jornalismo pé de microfone» ou «Jornalismo cu sentado».
Fala do caso António Preto. Rangel espanta-se com o tratamento jornalístico dado ao assunto. No fundo, os media limitaram-se a reproduzir o que o homem disse. Nada questionaram. Por exemplo, não perguntaram porque andava ele por esse país fora com malas cheias de dinheiro. Bolas, isto isto não é normal, logo cabe na categoria de notícia...
O caso levanta outros problemas, por exemplo a divulgação de escutas telefónicas pelos media. Mas isso, como se sabe, não é específico deste caso. Específico deste caso é o desleixo, a falta de profissionalismo, o total incumprimento da missão atribuída aos media. O homem até poderia ter uma explicação razoável para o que fez, mas nunca o saberemos porque os jornalistas não perguntaram.
A esta hora do campeonato, já alguns vociferam: «Claro, queriam crucificar o homem só porque ele é do partido do poder, do PSD.»
Não é isso que está em causa. E temos, como contraponto, o caso Fátima Felgueiras, em que os media não se pouparam a pormenores. Infelizmente, também neste caso o mérito não é dos jornalistas. Os media limitaram-se a escrever o que os ex-amigos e inimigos da dra. Fátima quiseram pôr cá fora. Não há qualquer mérito jornalístico.
O jornalismo de investigação em Portugal, excepto raríssimas excepções, é jornalismo orientado pelas fontes. Divulga-se, consciente ou inconscientemente, apenas o que elas querem.

sexta-feira, 11 de julho de 2003

68º Fahrenheit

Hoje fui a Coimbra no carro da empresa. Alguém mexeu nos botões e fui todo o caminho com o indicador a mostrar 68º graus Fahrenheit. Não me atrevi a tentar repor a legalidade em Celsius. O carro é alemão e podia carregar na tecla de ejecção de emergência.
Ao longo de cento e tal quilómetros da A8, por entre pinhais e neblinas, lá fui a 68º Fahrenheit.
Veio-me à memória a Laura Palmer. Aqueles pinheiros, aquela neblina... Só depois reparei que ali, por alturas de Leiria, aquele pinhal me deveria trazer à memória outras referências. Enfim, devem ter sido os 68º Fahrenheit.

Escrever

Há coisas assim:
«Para que percorres inutilmente o céu inteiro à procura da tua estrela? Põe-na lá»

E assim:
«Se realizaste uma obra, criaste uma reforma política ou inventaste um novo aguça-lápis, terás logo quem te odeie de morte. Não penses que te odeiam pelo aguça-lápis, a reforma ou a obra. Odeiam-te é por existires. E essa é uma razão decisiva, porque não podes refutá-la».

Um Pouco Mais de Sul imagina Torga num blogue. O Abrupto tira da estante os Cadernos de Camus. Como penso que não estamos a eleger um santo para a blogosfera, atrevo-me a sugerir Vergílio Ferreira. Por exemplo, estes textos de Escrever, obra póstuma (2001), edição da Bertrand. Onde se pode ler:
«O futuro. Um bando de criminosos assaltou um comboio e matou com um gás letal dezenas de pessoas. Um suicida terrorista matou-se com todos os pasageiros de um autocarro. Aviões de passageiros são abatidos. Bandos guerreiros trucidam-se uns aos outros. O crime é o poder».
A quem interessar, os textos são da primeira metade da década de 90.

Amores de Verão

Querido diário...
Música, literatura, jornalismo, a vida, a vidinha, o Pipi, o Wolfowitz e (meu Deus...) até futebol. As coisas de que uma pessoa fala quando fala no blogue. O diário que nunca tive.
Espanto-me (pois, e às vezes m'avergonho) com o que por aí anda. De bom, de estimulante, de fascinante. Mas também de alguma preguiça, o doce ronronar, o ritmo mediterrânico (ainda bem). E depois esta confusão (sociedade em rede?) de procurar, linkar, saltar, de um poema aqui, uma foto ali, uma reflexão política mais além, um disparate passado a limpo por aqui... Irritamo-nos agora para depois rejubilarmos. Raramente nos aborrecemos.
Já adivinharam que estou a blogar em metabloguismo e até em umbiguismo, o que, bem vistas as coisas, vai dar ao mesmo.
Será este um amor de Verão? Falo de mim e de vós todos que por aí andais. Vêm aí as férias, com muitos de nós a fugirmos para longe dos computadores de todos os dias.
Será que os mais sortudos vão conseguir deixar o portátil em casa? E os outros, será que, passado o Verão, regressam ao conforto da família? Ou à tirania do patrão?
Há nisto do blogue qualquer coisa de vagabundagem que o aroma a Verão incentiva. Um laivo de quase clandestinidade, de paixão paralela, que não sei se resistirá aos formalismos do Outono.
Como quando todos eramos adolescentes, tinhamos férias grandes, os primeiros amores, os outros amores, e depois tinhamos de regressar às aulas. Qualquer coisa ficava para trás, perdida, irrecuperável.
Lá para Setembro, veremos se continuará a haver espaço nos nossos teclados para tanto blogue.

quinta-feira, 10 de julho de 2003

Erros meus

Elogiei a preserverança do autor da Ânimo . O Colaço tem qualidades para dar e vender, mas a preserverança não é seguramente uma delas. O que ele tem é perseverança. Fica aqui reposta a verdade, antes que o Dicionário da Academia troque o Expresso pelos blogues na sua próxima edição. Obrigado António. E um grande abraço.

O Jaguar descapotável

Avenida Fontes Pereira de Melo. Quase meio dia, o sol a pique. O jaguar verde azeitona, descapotável, segue à minha frente. Ela loira. Muito. Ele calvo, apenas um pouco.O sinal cai para vermelho e ele afrouxa. Fica à sombra de uma palmeira, espaço para dois carros à frente. Eu fico ao sol, resguardado dentro do Twingo.
Duas ideias passam velozes:
os descapotáveis, afinal, têm desvantagens, e nem só no Inverno
quem tem um Jaguar pensa que tem tudo e até quer roubar (neste caso, dar...) o Sol aos outros.
O sinal muda para verde e um terceiro pensamento esboça-se, mas não se fixa.
Acabo por ultrapassar o Jaguar na Rotunda do Marquês.

Brel

O Cerco do Porto comove-se com Brel. Faz bem. O Grand Jacques morreu faz em Outubro 25 anos. Em Bruxelas há uma exposição que vale a pena ver. E a seguir ao Verão esperemos que os media lhe dediquem todos os mimos. Um dia, imagine-se!, cheguei a defender que o Brel fizesse parte dos currículos escolares... Delírios de juventude, não tivesse eu na altura idade para ter juízo.
O Cerco do Porto é um local de passagem obrigatória. A partir do Porto, fala inteligentemente das relações entre o Porto e Lisboa. Não é que do Porto não se possa falar inteligentemente, mas raramente se fala inteligentemente da matéria em apreço

quarta-feira, 9 de julho de 2003

O Meu Pipi (revelações)

Fonte que reputo de fidedigna fez-me chegar às mãos a notícia por que todos esperavam: a verdadeira identidade de O Meu Pipi. Como fiquei obrigado a honrar o compromisso de nada revelar, exponho a seguir três hipóteses, sendo apenas uma delas a verdadeira. Para saber qual, é fácil. Basta fazer o teste.
1. O Meu Pipi é a Paula Bobone. Até os menos versados em etiqueta poderão constatar que estamos perante um verdadeiro Manual das Boas Maneiras Durante o Acto. De resto, o blogue estava para se chamar O Meu Bobó, mas a autora teve receio que fosse demasiado explícito. Quem quiser tirar a prova dos nove é fácil: basta clicar atl+ctrl+f7, duas vezes, com um intervalo de 6,9 segundos e surgirá no ecrã o nome da autora.
2. O Meu Pipi não existe. Trata-se de um algoritmo matemático, criado pelo Google (proprietário do Blogger) destinado a incentivar o uso dos blogues. Assim se explica a repetição, por vezes aleatória, de certas e determinadas palavras. Além disso, a maioria das actividades descritas no blogue resultam de fórmulas matemáticas, geométricas e algébricas que remontam à Antiguidade. Existem blogues deste tipo em todos os países onde está implantado o Blogger. Para tirar a prova dos nove, basta fazer uma busca no Google. No entanto, por questões de segurança, todas as referências estão escritas no aramaico utilizado pelos sefarditas no séc. II, pelo que é necessário ser versado nesse dialecto.
3. O Meu Pipi é o Vasco Graça Moura. Não acharam estranho a rapidez com que ele desmentiu o rumor? É que a fama estava a arruinar-lhe o proveito, não sei se me entendem. Aliás, quem senão VGM, utilizaria tantas vezes a palavra Cavaco como as que surgiram na resposta de O Meu Pipi a VGM. Esta pista tem um problema: não há qualquer prova. É um dos traços do cavaquismo, nunca deixa rasto. Por exemplo, alguém consegue apontar qualquer benefício para o País de dez anos de cavaquismo?

La Chanson des Vieux Amants

Bien sûr nous eûmes des orages
Vingt ans d'amour c'est l'amour fol
Mille fois tu pris ton bagage
Mille fois je pris mon envol
Et chaque meuble se souvient
Dans cette chambre sans berceau
Des éclats des vieilles tempêtes
Plus rien ne ressemblait à rien
Tu avais perdu le goût de l'eau
Et moi celui de la conquête

Mais mon amour
Mon doux mon tendre mon merveilleux amour
De l'aube claire jusqu'à la fin du jour
Je t'aime encore tu sais je t'aime

Moi je sais tous les sortilèges
Tu sais tous mes envoûtements
Tu m'as gardé de piège en piège
Je t'ai perdue de temps en temps
Bien sûr tu pris quelques amants
Il fallait bien passer le temps
Il faut bien que le corps exulte
Finalement finalement
Il nous fallut bien du talent
Pour être vieux sans être adultes

Oh mon amour
Mon doux mon tendre mon merveilleux amour
De l'aube claire jusqu'à la fin du jour
Je t'aime encore tu sais je t'aime

Et plus le temps nous fait cortège
Et plus le temps nous fait tourment
Mais n'est-ce pas le pire piège
Que vivre en paix pour des amants
Bien sûr tu pleures un peux moins tôt
Je me déchire un peu plus tard
Nous protégeons moins nos mystères
On laisse moins faire le hasard
On se méfie du fil de l'eau
Mais c'est toujours la tendre guerre


Oh mon amour
Mon doux mon tendre mon merveilleux amour
De l'aube claire jusqu'à la fin du jour
Je t'aime encore tu sais je t'aime

Jacques Brel