Ainda o anti-semitismo
A União Europeia não «arquivou», como diz o Rua da Judiaria, nem «não quis publicar», como escreve o Aviz, um relatório sobre o anti-semitismo na Europa.
Como já aqui referi, e como o próprio organismo da União Europeia escreve aqui, a publicação do relatório apenas foi adiada por alegada falta de qualidade do draft (rascunho) elaborado pelo Berlin Research Centre on anti-Semitism. Sinceramente, não percebo porque se está a tentar fazer uma tempestade num copo de água.
Pelo que li do tal draft, ainda bem que a publicação foi suspensa. Porque ele, tendo sido elaborado por uma organização anti-semita, cometia precisamente o erro de que se queixa o Francisco: a sistemática confusão entre anti-semitismo e anti-Israel (e, quando falo de anti-Israel, falo de oposição a políticas concretas do estado de Israel e não de oposição ao Estado de Israel). Parece-me, de resto, que essa confusão é mais alimentada pelo campo dos judeus do que por qualquer outro. É desse campo que surgem, sistematicamente, indignações do estilo «são a favor da Palestina, são anti-judeus, anti-semitas, etc». Pela parte que me toca, não enfio a carapuça - nada tenho contra os judeus, mas não deixarei de dizer que os palestinianos têm tanto direito a uma vida em paz como qualquer outro povo e que a actuação do estado de Israel quanto a esse problema não é a mais correcta.
Ainda mais dois apontamentos:
O Rua da Judiaria comete o mesmo erro que o tal draft - a popularidade (que duvido seja «crescente») do Mein Kampf ultrapassa, em muito, a questão do semitismo. Reduzir o Mein Kampf ao anti-semitismo é que me parece muito perigoso.
Ao Aviz só posso dizer que o anti-semitismo está para durar. Como todos os males, por mais que se combatam. Muito sinceramente, acho é que acusar a União Europeia de fazer o jogo do anti-semitismo não leva a lado algum. E acho que entrar no maniqueísmo de comparar as medidas policiais/legais, ou mesmo a cobertura mediática, do anti-islamismo com o anti-semitismo é completamente injusto. O Francisco fala de exposições de cartazes anti-semitas em França, logo o país onde o Estado está a travar uma feroz luta contra as tentativas de uma quase-islamização de escolas e repartições públicas. A Europa não pode servir de bode expiatório para tudo.
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