domingo, 30 de novembro de 2003

Send in the clowns

A democracia, a liberdade de expressão, tudo isso me parece irrelevante, dispensável e mesmo contraprudecente perante certas figuras.
Hoje, o Alberto João Jardim falou: «O presidente do Governo Regional da Madeira, Alberto João Jardim, desafiou hoje o Presidente da República a referendar a Constituição, que qualificou de "ilegítima" por ter nascido da Assembleia Constituinte de 1975», diz o Público on-line.
O AJJ é a coisa humana mais parecida com um blogue que conheço.

O Iraque (um instantâneo)

Sete espanhóis foram mortos no Iraque. Eis um excerto do relato do El Mundo:

El reportero de Sky News, David Bowden, narró la escena que grabó su compañero y lo que le contaron los testigos: "Conducíamos desde Hilla, justo al sur de Bagdad, y vimos a esos hombres tirados muertos en el suelo a un lado de la carretera después de la emboscada".
"La gente de allí nos dijo que 30 minutos antes había sido atacado un convoy de tres vehículos. Sacaron a la gente de los coches y nos dijeron que, de hecho, habían matado a ocho personas y capturado a otras dos. Sólo vi con mis propios ojos cuatro cuerpos muertos en el suelo. Tomamos imágenes durante un par de minutos y nos convertimos en el centro de atención. La multitud daba gritos en favor de Sadam y desaparecimos rápidamente", añadió el periodista.


Este é o Iraque George W. Bush visitou por duas horas esta semana.
O terrorismo islâmico fez do país o seu principal palco de confronto com o Ocidente. Mas isso não explica tudo. E um dos aspectos que o chamado campo do «não à guerra» mais salientou foi, precisamente, o facto de uma invasão militar estrangeira ir potenciar o terrorismo, mas também os sentimentos anti-ocidentais do homem da rua, dos iraquianos simples.
É possível que o ataque de ontem tenha sido feito por terroristas estrangeiros. Mas também é muito provável que os gritos de júbilo fossem de verdadeiros iraquianos.
É por isso que fico sem resposta quando, no campo dos que apoiaram entusiasticamente a guerra, me dizem agora que o problema é de todos nós e que todos temos de contribuir para a solução. Eu, sinceramente, não tenho resposta para esta situação. O que eu não aceito é que quem a criou também não tenha.

Cantigas aos montes (II)

No capítulo das coisas relativamente inúteis mas que adoramos coleccionar, a Rolling Stone lançou um número especial sobre os 500 melhores discos de sempre.
Listas destas há muitas, algumas delas feitas pela RS. O interesse é perceber se, com a história ou as modas, as escolhas vão evoluindo.
Pois parece que não. A lista da RS é de uma evidência cristalina. Aqueles discos já fazem parte destas listas desde que há listas destas.
Vejam só os dez primeiros lugares:
1. Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band, The Beatles
2. Pet Sounds, The Beach Boys
3. Revolver, The Beatles
4. Highway 61 Revisited, Bob Dylan
5. Rubber Soul, The Beatles
6. What's Going On, Marvin Gaye
7. Exile on Main Street, The Rolling Stones
8. London Calling, The Clash
9. Blonde on Blonde, Bob Dylan
10. The Beatles ("The White Album"), The Beatles

Há quem diga que estes são os valores seguros, perenes, ainda bem que uma revista autoridade na matéria os fixa. Outros dirão que a RS parou no tempo e que nada arrisca.
Como muitos outras coisas que tendemos a levar muito a sério, não vale a pena fazer juízos muitos divertidos. Tudo isto é just for fun.

Cantigas aos montes

A revista Q editou um daqueles números especiais que não servem rigorosamente para nada a não ser para nos divertirmos. Chama-se 1001 Best Songs Ever e faz uma listagem um tanto ou quanto apatetada das 1001 canções da história pop. Apatetada porque, de uma forma ostensiva, escolheram aquelas como poderiam ter escolhido muitas outras.
Se não quiserem gastar os 10 euros que aquilo custa (ou tiverem preguiça para folhear a dita no quiosque) sempre vos digo que a melhor canção pop de sempre é One, dos U2. Altamente discutível...
A revista acaba por valer pelo sentido de humor - cada canção é acompanhada de um comentário, digamos, bem disposto. Exemplos:
Best for mourning the passing of the years: Penny Lane, dos Beatles
Best when you can't forget your ex: Nothing compares to 2 U, pela Sinead o'Connor
Best for that early midlife crisis: Once in a lifetime, dos Talking Heads
Best for desperate time: Loosing my religion, dos REM
Best excuse for being bad in bed: Too drunk to fuck, dos Dead Kennedys.
And so on, and so on...

sábado, 29 de novembro de 2003

O Público e o Inimigo

O Guerra e Pas, com quem tive um pequeno desaguisado há uns meses, voltou e voltou a escrever sobre media com uma perspicácia pouco comum. Concordo com algumas coisas, com outras nem por isso. Um dia volto ao assunto.
Hoje, escrevo só para discordar. Diz o Guerra e Pas que há um «pacto de silêncio blogosférico sobre o Inimigo Público». Não me parece. Parece-me até que o Inimigo Público é assim como um filho dos blogues - há uma data de colaboradores que também por aqui andam; a festa de lançamento teve uma vasta cobertura bloguistica; conheço alguns autores de blogues que se divertem à brava com aquilo. Não me perece que haja qualquer estratégia de silenciamento. Apenas não se falou porque não calhou. Só isso.
Sobre o Inimigo Público gostava ainda de dizer que aquilo é muito bem feito e tem muita graça. E que poucos jornais tolerariam aquele tipo de humor. Veja-se o que o número desta semana faz com o José Manuel Fernandes. Aquilo não é glosar, aquilo é gozar.

(Con)fusos

O Quaseemportuguês nem põe a hora, por causa mulher.
A Ponte escreve em Nova Iorque, mas publica com o fuso de Portugal.
Os Estrangeirados devem ter inventado um fuso do tipo Tempo Médio do Canal da Mancha.
O Abrupto, errante, tem hora, mas o fuso deve ter vertigens.
A malta do Porto (Mata-mouros) não consegue ver-se livre do fuso de Lisboa.
Independentemente dos fusos, dá-me ideia que a maior parte escreve fora de horas.

sexta-feira, 28 de novembro de 2003

Intervalo?

Pegou no jornal e andou pela redacção a mostrá-lo. «Já viram? Já viram? Isto dava um texto do caraças... uma coisa com metáforas sobre o buraco. Portugal no buraco, estão a ver?»
Sim, estávamos a ver. Era a foto que correu mundo do autocarro engolido por uma rua de Lisboa.
Com a mania de rejeitar as primeiras impressões, o que eu mais via era o autocarro intacto, nem tanto o buraco. A perfeição do engolimento, sem um arranhão no mastodonte, era isso que me espantava.
«A metáfora», dizia ele.
E dei comigo a pensar que há alturas na vida dos países em que as metáforas não pegam. Em que, na realidade, nada pega. Alturas de uma agreste e funda secura. Falo dos comentários.
Vejam bem. Em 48 horas, Portugal transformou a obsessão do défice na capitulação perante a facilidade, viu o chão abrir-se-lhe literalmente debaixo dos pés, perdeu para os espanhóis (meu Deus, para os espanhóis...) o eldorado que nos ia salvar, outra vez ali aos pés da Torre de Belém. Tudo isto perante o olhar distanciado, mas certamente aturdido, do primeiro-ministro, acabadinho de abençoar pelo Papa e a anunciar ao mundo que lhe tinha pedido para rezar por nós.
E nada disto mereceu comentários inflamados, metáforas a granel, gestos desvairados.
Lembram-se? Foi a Expo e éramos os melhores do mundo desde tempos imemoriais. Caiu um autocarro ao Douro e éramos uma merda desde os idos da Fundação. Qual Fundação... de muito antes.
Afinal, para quê tanta exaltação? Foi-se a Expo e onde pára a modernidade? Foi-se Entre-os-Rios e eis que cai um viaduto no IC-19. Não aprendemos nada.
Agora é tudo assim-assim. Apenas.
Vivemos tempos de grande moleza. De governos que prometem reformas em barda e quase parecem governos de gestão. De oposições que parecem tudo menos alternativas. De jornais que perderam causas e se limitam a relatar a vidinha. Sem entusiasmos, para não afastar os poucos leitores que ainda se preocupam.
Não sei se a culpa é do terror global, se da crise geral. Sei é que este intervalo está a prolongar-se para lá do tolerável.

Futebóis

Sniff, Sniff, Sniff...
Por mim, junto-me ao Liberdade de Expressão, na sua Análise desportiva tipo... Pipi: «Quem são estes rotos que levam lenços brancos rendados para um estádio de futebol?»

A esquerda e os judeus (II)

Afinal, parece que a história do tal relatório que denuncia umas enormidades muito enormes cometidas na Europa contra os judeus está um bocadinho mal contada.
Basta ver aqui. O estudo parece que ainda nem sequer está completo. Parece que o observatório europeu só considerou de má qualidade uns trabalhos preparatórios efectuados por um centro anti-semita. Uma ideia fantástica - só espero que qualquer estudo sobre a marginalização da esquerda seja encomendado ao Bloco de Esquerda. E um outro sobre a distorção do mercado da publicidade nas televisões portuguesas poderia ser feito pela RTP.
Parece ainda que a definição de «anti-semitismo» que estará no centro da polémica foi rejeitada pelas próprias organizações judaicas.
Parece que o Observatório que (não) congelou o relatório é composto por gente nomeada por cada um dos estados membros da UE. Parece que na UE, a maioria dos estados membros é governada pelo pessoal da direita. Onde raio é que estes senhores (Mar Salgado, Homem-a-Dias) foram buscar a esquerda para meter nesta história?
Já agora, que falamos de rigor, o European Moniroting Centre on Racism and Xenophobia não se traduz para Observatório da União Europeia para os Fenómenos Racistas e Anti-semitas (EUMC).
Tanta INDIGNAÇÃO à volta de uma sucessão de mentiras, esquecimentos, encobrimentos, falsificações, desonestidades...

Terei cura?

Sou incapaz da mínima emoção face ao futebol.

Jornalismo de guerra (!)

Quando os jornalistas portugueses foram assaltados numa estrada do sul do Iraque, escrevi que a ida de repórteres portugueses para aquelas bandas era, quase totalmente, um puro desperdício de dinheiro. As suas reportagens quase nada adiantam, quase nada informam. E há tanto onde os media portugueses podem investir...
Há excepções à regra, como seria o acompanhamento dos soldados da GNR, já agora em condições mais claras.
O Cidadão Livre queixa-se hoje do que tem visto nas reportagens das têvês: os GNR estão fartos de massa, querem ganhar mais «massa» e gostam muito de telefonar para casa.
Pois...

quinta-feira, 27 de novembro de 2003

Bush goes to Baghdad

George W. Bush esteve hoje duas horas em Bagdad.
Visita feita de surpresa e só anunciada após o cowboy ter voado de regresso ao rancho do Texas. Altamente revelador. Da ideia que a Casa Branca tem das relações internacionais. Da segurança que a Casa Branca tem quanto ao estado em que o Iraque se encontra.

A esquerda e os judeus

Por vezes, parece-me que a insanidade toma conta de tudo.
Agora, é a teoria de que a esquerda tem pulsões anti-semíticas.
A esquerda está, portanto, proibida de criticar o modo como Israel lida com o problema palestiniano. Porque há umas pessoas que confundem tudo. Confundem política com religião, opiniões com ataques, debate com guerra. Já aconteceu o mesmo com o Iraque e o chamado anti-americanismo.
Pavlov explicou tudo - estas pessoas ouvem a palavra esquerda e começam a salivar.

Novidades da vida sindical

A Estrada de Benfica está novamente repleta de autocarros de todas as cores.
Parece-me que os sindicatos andam infiltrados por radicais liberais. Não encontro melhor forma de roubar ao Estado e dar à iniciativa privada que estas greves da Carris.

Será do frio?

O Yahoo mail tão depressa está lentíssimo, como me descarrega em cima toneladas de spam. O Technorati que uso para saber quem me dá troco não funciona vai para seis dias. O Blogger/Blogspot faz que anda, não anda, desanda, o diabo a quatro. A Netcabo, apesar de tudo, vai-se aguentando.
Habituamo-nos tanto à simplicidade desta blogagem que até nos esquecemos que tanta simplicidade é apenas o lado visível, ínfimo e humano de complexíssimas camadas de tecnologia.

quarta-feira, 26 de novembro de 2003

Análise política tipo blogue

O deputado Paulo Pedroso foi fazer uns exames ao Instituto de Medicina Legal no âmbito do processo da Casa Pia. No fim, mostrou-se muito tranquilo e disponível para responder a perguntas dos jornalistas.
Tanta tranquilidade? Tanta disponibilidade? Mas o que estará ele a tentar esconder?

Fora dos fusos

Gosto de pormenores. De alguns. Não de todos.
Por exemplo, gosto de saber a que horas se escreve nos blogues. Infelizmente, nem todos levam isso muito a sério. Por exemplo, nos Estrangeirados aquela hora é de Paris ou Londres? E A Ponte, que coloquei esta semana nos links, que fuso horário frequenta? Dou apenas estes exemplos. Muitos mais haveria. Acho até que, em alguns casos, o problema nem é de indefinição de fuso horário, mas sim de fuso secular.

terça-feira, 25 de novembro de 2003

Os diogos

Um amigo insistiu: «Tens que ler. O gajo escreve bem. E tem umas ideias interessantes. É aquilo a que agora se chama a direita inteligente».
Consumidor mais ou menos regular da Veja, nunca tinha parado muito no tal Mainardi. Diogo Mainardi. Aconteceu esta semana, num artigo chamado «A tunga do Estado» (para ler na Net é preciso ser cadastrado e pagar assinatura).
O Diogo dedica duas colunas a desmentir o ministro das Finanças do Brasil, o qual tinha afirmado que o Estado gasta mais com os ricos do que com os pobres. Isto porque o tal Palocci quer aumentar os impostos pagos pelos ricos.
E ele, Diogo, rico que é, só usa serviços privados. Ele refere a educação, a saúde, os transportes. Mas, pelo tom que utiliza, presumo que também utiliza estradas privadas, praias privadas, que tem um sistema de recolha de lixo só dele, que, no caso de ser assaltado, será ele a prender o ladrão, julgá-lo e depois mantê-lo na prisão. Serviços do Estado ele não utiliza, não senhor.
Em abono das suas teses, o Diogo atira depois com duas ou três verdades, daquelas que doem a valer. Por exemplo, que «as universidades públicas europeias oferecem vagas a todos os alunos, não só a uma minoria» como acontece no Brasil. A que Europa se estará a referir o Diogo?
Ao rol das verdades incontestáveis, o Diogo junta outra. Ele é contra a «cobrança de mensalidades nas universidades federais» e alega mesmo que «se eu pago mensalidade é porque a universidade é privada». A malta de Coimbra e o resto da estudantalhada que anda aos gritos contra as propinas têm de trazer este Diogo a Portugal.
E, enfim, o Diogo vai por aí fora. Imparável na prosápia e no disparate. «O Estado não dá nada aos pobres. E não dá nada aos ricos.»
O nosso Diogo não escreve mal. Mas acho que já vi melhor. De igual, nem se fala. Mas o Diogo tem o problema de muita gente que conheço e que escreve bem - escrevem tão bem que se dispensam de pensar. Ao correr do teclado, ditam verdades absolutas a cada parágrafo. Imparáveis, declaram todos os que com eles não concordam de mentirosos, pouco inteligentes, ou mal-formados.
Na aversão ao Estado, no desprezo com que tratam todos os que com eles não concordam, estes diogos vivem em estado de barbárie latente.

O défice que o parta (II)

Uma ideia para Portugal? Mas claro que Durão tem. A Taça América!

O défice que o parta

Sobre esta palhaçada do défice para o qual a Alemanha e a França se estão nas tintas, mas que é uma obsessão para Manuela Ferreira Leite, pouco há a dizer.
Só que Durão Barroso, que ganhou as eleições e manteve o povo atordoado com tal embuste, vai ter de governar. Vai ter de mostrar que tem uma ideia, uma ideiazita, para Portugal.

Pura provocação

Eu vim de longe
eu vou pra longe
o que eu andei práqui chegar!

Causa

Soube pelo Bloguitica que soube pelo Avatares que o famoso antes de o ser Causa Nossa está activo. A ser verdade é uma notícia que terá um impacto considerável em TdN. A partir de agora deixo de ser o único a defender Ana Gomes. Ela que se defenda ora essa.
[Nota: escusam de me enviar regras sobre o uso da vírgula. Sei. Mas não me apeteceu.]

Amuo (sem acento, pois claro)

Podem parar de telefonar. Já temos o vencedor - LAC, d'O Projecto, garante que amuo não tem acento. 'Tá linkado.

Amuo

Não me apetece escrever. 'Tá um frio do caraças!
[Não me apetece puxar o dicionário - alguém me pode dizer se amuo tem acento no u? Obrigado.]

segunda-feira, 24 de novembro de 2003

O Iraque e o terrorismo - moda Outono/Inverno

No dossier Iraque/terrorismo - isto é, no Iraque/terrorismo mediático - há duas novidades.
1. Desde que, há duas semanas, o senhor Bremer foi a Washington e se começou a falar em reorientação da política bushista, as televisões de todo o mundo estão cheias de imagens de soldados americanos que, no escurinho da noite, disparam que nem doidos sobre alvos imaginários. Ou então, assaltam, aos gritos, casebres perdidos na noite.
Diz-nos a voz off que combatem os fiéis a Saddam, terroristas e potenciais terroristas.
Indiferentes a essas imagens, os ataques contra os soldados americanos prosseguem.
É claro que aquelas imagens foram feitas para serem vistas aqui. Para termos a ideia de que os states redobram o empenho no combate ao inimigo. Só se esqueceram de avisar o inimigo...
2. Em papel de jornal, bloge ou debate televisivo, a Europa tornou-se a má da fita. Assim, vagamente. A Europa.
Basicamente, é à complacência da Europa que devem ser assacadas as culpas do terrorismo que por aí anda. Porque a Europa foi complacente com os árabes e com a religião islâmica. Assim, mete-se tudo no mesmo saco - os árabes, os muçulmanos, os terroristas.
A América, como se sabe, não foi nada complacente. Nem sequer foi na América que os terroristas do 11 de Setembro fizeram cursos de pilotagem de avião...

Motores de busca avariados

Vejam só o que o Google, o Sapo, o MSN, o Yahoo trazem até às TdD.
Tornei-me, nos últimos tempos, um Google-adicted - aquilo funciona mesmo. Mas parece-me que os blogues, a prazo e se não forem tomadas medidas, poderão distorcer por completo os motores de busca.
Não escrevi nada de jeito sobre o que se segue, mas uma data de leitores ficou a saber o que (não) penso.
Publico a lista como contributo para um eventual estudo da internet em Portugal.

comparacao das regras de conduta entre o iraque e portugal
o meu visto de estudo foi negado em angola onde me informar em portugal
poemas sobre acidentes de viação
google carlos fino
case eurodisney
colecção pequeno mundo disney
revisao constitucional
frases de cannabis engraçadas
todas as cancoes de tony de matos
preço das malas louis vuitton portugal
fotos de jordana jardel
comparacao das regras de conduta entre o iraque e portugal.

Objectividade (III)

Esta noite, estive a ver um documentário sobre Katherine Graham, a mítica proprietária do Washington Post à data do caso Watergate (passou entre as 20 e as 21, no Canal História).
Acho que faz falta, a quem trabalha nos jornais, tomar contacto cíclico com estas histórias exemplares. De jornais que derrubam presidentes, mas em cujos procedimentos a palavra «responsabilidade» é das mais repetidas.

Objectividade (II)

O texto do Retórica é quase um Ovo de Colombo. Tudo aquilo me parece de uma evidência cristalina. E, no entanto... no entanto, tudo aquilo parece andar muito esquecido por estes dias, em se exige aos jornalistas uma esterilidade de abordagem que raia o patético. Por isso, ainda bem que o Retórica se deu ao trabalho de explicar tudo bem explicadinho (o texto é longo, mas vale a pena).
Não há, portanto, jornalismo inócuo, esterilizado. Nem, em minha opinião, nos famosos directos. Embora nesses actos me pareça que os jornalistas abdicam em grande parte de o serem, o próprio gesto de transmissão é em si uma opção jornalística, isto para além de uma série de pormenores de transmissão que são, afinal, jornalismo.
Laura Rubin, embora subscreva este ponto de vista, exige, apesar de tudo, que o jornalista tente, na medida do humanamente possível, uma certa neutralidade.
Esta, parece-me, é a perspectiva de uma consumidora de informação um tanto saturada da confusão entre notícias e opinião, em que alguma imprensa cai com frequência.
A verdade é que o jornalismo português, principalmente na área da política, passou, nas últimas décadas, da notícia pura e dura, estilo agência, para um estilo de notícia em que a interpretação dos factos se sobrepõe ao seu relato. Como LR assinala, por vezes parece que o jornalista está a agir como advogado e a tentar convencer alguém das suas teses.
A imprensa portuguesa ganharia se fizesse um esforço para regressar a uma certa inocência - a palavra soa-me inadequada, mas não encontro outra - e confiasse mais na capacidade de discernimento dos seus leitores. Não estou a pensar num regresso ao passado. Acho que alguma dose de interpretação é útil. Mas também acho que, a partir de certo ponto, a interpretação passa para o campo da análise e daí para a opinião.
Por isso, a par desse regresso a uma certa inocência - narratividade, se quiserem - gostaria que a imprensa portuguesa tivesse mais espaços como o que Jorge Almeida Fernandes mantém semanalmente no Público. Análise, interpretação, contextualização. Tudo devidamente assinalado e não disfarçado de notícia.

Objectividade (I)

De Laura Rubin, uma das leitores mais assíduas e atentas deste TdN, recebi um e-mail a propósito de uma breve alusão que fiz ao texto «Factos, Opinião & Jornalismo» do Retórica. Eis um excerto que me parece de interesse geral:
«Passe a trivialidade, não posso deixar de concordar que um jornalista não é uma ilha e que, consequentemente, a objectividade que se lhe exige não pode deixar de ser caldeada pelos seus conhecimentos, pela sua ideologia, pela sua educação, enfim, pelo seu eu. Mas creio que lhe é exigível o máximo de imparcialidade na narração (em sentido estrito ou lato) dos factos que compõem a notícia. Um editorial, uma coluna ou artigo de opinião são uma coisa; a notícia, aquilo que o leitor do jornal pretende saber para formar a sua própria opinião, não pode deixar de ser outra.
Parece-me existir uma aparente similiritude na advocacia de barra e o jornalismo. Na fase dos articulados, um advogado limita-se (quase em absoluto e em boa técnica) a narrar factos, o que me parece também caber a um jornalista, no exrercício da função de informar. Contudo, há nessa narração uma nuance vital: enquanto o advogado narra com o fito querido de convencer o Tribunal da bondade da sua versão sobre a realidade de determinado(s) facto(s), já o jornalista não pode deixar de narrar com o fim último de informar imparcialmente, transmitindo ao leitor os dados que lhe permitam formar a sua própria opinião. Óbvio, ao fazê-lo perpassará, em última instância, a sua subjectividade, o seu conhecimento ou a sua ignorância. Contudo, creio que o jornalista investido da função de informar, não pode deixar de ser aquele que narra os factos despidos de toda a carga ideológica e subjectiva que humanamente seja possível.
Não confundo esta narração com a do tipo agência noticiosa, pobre e quase sempre descontextualizada. Compete ao jornalista, parece-me, contextualizar, relembrar ocorrências relacionadas, contradições, etc, isto é todos os factos ainda que instrumentais do núcleo da noticia. E embora creia que possa ser nesse campo que a fronteira entre a informação e a opinião se torne mais ténua, estou em crer que esse exercício não só é possível, como é exigível ao jornalismo de informação, mantendo-se dentro das tais balizas da isenção, objectividade e imparcialidade. Estarei errada?»

domingo, 23 de novembro de 2003

Indy blog

A propósito de Independente...
Tendo em conta os colaboradores, em doses duplas, que aquilo apresenta, será ainda correcto chamar-lhe jornal? Não será já blogue?

Aborto?

O Bloguitica, na senda do Gloria Fácil, entusiasmou-se com um texto de Vasco Rato, no Independente, sobre o aborto.
Meus caros, deixemo-nos de jogos florais. O aborto é um dos poucos temas específicos que constam do acordo assinado entre o PSD e o PP para a formação do Governo.

Já?

O Pedro Mexia informa-nos: «Eu vou tolerar em breve um governo PS/BE.»
Ó Pedro, importas-te de especificar o que queres dizer por «em breve»? É só para saber se digo à empregada para pôr o champanhe no frigorífico.
[Post subtilmente roubado ao Barnabé.]

Sunday papers (com música)

1. As movimentações e o sub-texto das últimas semanas já não deixam espaço para dúvidas. Cavaco Silva vai ser o candidato do PSD às presidenciais e Santana Lopes apenas procura espaço de afirmação para tomar conta do PSD. Só não se percebe qual o papel de Durão Barroso neste filme.
2. O Partido da Nova Democracia parece jogar ao tiro ao alvo. Num dia, quer o presidencialismo, noutro a extinção do Tribunal Constitucional. Isto, só para falar das propostas dos últimos dias. Algumas dessas ideias até me parecem uma boa base de conversa (presidencialismo, por exemplo). Se juntarmos este hiper-reformismo ao da dupla hiper-revisionista Santana/Portas, temos pano para mangas. Temo, porém, que a verdadeira reforma de que o país necessita é de comportamentos, mais do que de leis. Sinto, apesar de tudo, o dever quase cívico de conceder o benefício da dúvida a tanta boa vontade. Aguardemos.
3. Provavelmente só para chatear os bushistas portugueses, a esquerda turca manifestou-se contra o terrorismo. Estragaram a pintura quando gritaram slogans contra Bush. Desmancha-prazeres.
4. Um grupo de maduros, cinco segundo a imprensa, fez uma manifestação de apoio a Michael Jackson na baixa de Lisboa. Alguém dirá - mas por que carga de água há-de a imprensa fazer reportagem de manifestações com cinco manifestantes. Discordo. Gostei de saber que há apenas cinco idiotas em Portugal disponíveis para sair à rua na defesa daquela coisa.
5. «Larga os TPC e vem brincar na Terra do Nunca» desafia o suplemento infantil do DN/JN.
6. Brinquemos, então. Maria Rita, nome de disco e de cantora, é das melhores coisas dos últimos tempos. A menina tem um problema - é filha de Elis Regina, o que pôs meio mundo embasbacado com os semelhanças vocais. Isso desvia as atenções do essencial - por mim, resolvi o problema revendo todas as minhas concepções acerca da reincarnação. E o essencial é isto - a menina canta extraordinariamente bem, os músicos são excelentes e o disco resultante é um clássico. Tem um inédito de Milton, tem «Dos Gardenias» cantadas com uma simplicidade tocante. Tem uma canção de Rita Lee/Zelia Duncan hiper-divertida e hiper-bem-interpretada. Tem várias canções fabulosas de um tal Marcelo Camelo, que não sei quem é. Tudo muito, mas mesmo muito, BOM.

sábado, 22 de novembro de 2003

Jornalistas e opiniões

A quem se interesse por questões relacionados com o jornalismo, a objectividade e o seu cruzamento com a opinião, aconselho o texto «Factos, Opinião & Jornalismo», publicado pelo Retórica e Persuasão. Por mim, talvez volte ao tema.

Kennedy hoje

Em 30 de Setembro, lembrei aqui uma frase de que toda a gente conhece a primeira parte, mas cuja segunda ideia penso ser de uma actualidade evidente:
«And so, my fellow americans: ask not what your country can do for you - ask what you can do for your country.
My fellow citizens of the world: ask not what America will do for you, but what together we can do for the freedom of man.»

A frase é, obviamente, de John Fitzgerald Kennedy e foi proferida em 1961.
Hoje, no dia em se completam 40 anos sobre a morte de JFK, o Janela para o Rio interroga-se: «Estaria o mundo menos perigoso se Kennedy tivesse sobrevivido ao atentado?»
Estes exercícios probabilísticos demasiado deslocados no tempo de no contexto têm os seus perigos (embora fosse muito interessante alguém com conhecimentos na matéria fazer uma comparação com o que está a ocorrer e com a maneira como JFK lidou com a crise dos mísseis soviéticos em Cuba).
Mesmo assim, arrisco uma resposta, socorrendo-me de uma das pessoas que melhor conheceu o ex-Presidente americano e mais estudou o seu trabalho e legado. Trata-se do historiador Arthur Schlesinger, numa entrevista interessantíssima ao L'Express [É pena que não tenha link, a edição Net é só para assinantes. O DN publicou esta semana um excerto, mas penso que seria muito interessante a sua publicação na íntegra].
Diz Schlesinger sobre JFK: «Ele sabia escutar os diferentes argumentos e mostrava uma qualidade excepcional para ir direito ao coração dos problemas. Contrariamente ao nosso actual Presidente, ele tinha o sentido da História».«Para ele, a influência dos Estados Unidos no mundo deveria passar mais pelas ideias do que pelas armas. Penso que, se ele fosse presidente hoje, não teria intervido no Iraque. Repito: Kennedy não acreditava nas virtudes da guerra muito menos na guerra preventiva defendida actualmente pela Administração Bush. Na época, essa doutrina da guerra preventiva era verdadeiramente considerada coisa de loucos».
Estas palavras valem o que valem. Para mim, valem muito.

Sai-te do Carrilho

Dei uma espreitadela ao sítio do Prof. Dr. Manuel Maria Carrilho. É lindo. É como o autor - canta bem mas não me alegra.

Post de sábado à tarde

Em registo de sábado à tarde, aí vai uma proposta para o Mata-mouros, ao cuidado de CAA (agora tenho sempre muito cuidado com os blogues colectivos...):
'Tá vem! Eu aceito o regime presidencialista, à francesa, à americana ou ao estilo que o meu amigo muito bem entender. Desde que o Presidente seja Jorge Sampaio, claro!

Zappa

O Frank Zappa é daqueles tipos de quem não é fácil gostar. É preciso entrar-lhe no universo.
Fascina-me o conceito que está subjacente a toda a sua obra, que parecendo imediatista é de uma profundidade pouco comum.
O ABsurdo(.) está a lembrá-lo:
Interviewer: Is it possible to say where you get your musical influences from?
Frank Zappa: Sometimes you get it from chicken. Sometimes from coffee.

Talvez

Estou um bocado farto de ouvir dizer que a guerra do Iraque é uma guerra contra o terrorismo.
Imaginem que os Estados Unidos ganham a guerra e que o Iraque se torna um país democrático. Os ataques terroristas à volta do mundo terminarão ou aumentarão nesse dia? Talvez valha a pena pensar um bocadinho.

sexta-feira, 21 de novembro de 2003

Estaremos mesmo?

Estou um bocado farto de ouvir dizer que se os Estados Unidos perderem a guerra do Iraque estamos todos perdidos.
E se não estivermos? Talvez valha a pena esquecer o estafadíssimo lugar-comum e parar um pouco para pensar? Estaremos mesmo?

Abençoada Internet

Escrevo «pénis» no blogue, vou ao Correio Yahoo! e lá está: «Liquid-Viagra Online! No Office Visits!».
Paulatinamente, Deus vai sendo substituído por gigantescos, ou talvez nem isso, computadores.

Pedido urgente

Alguém tem «fotografias de pénis»? É só para indicar o caminho a um(a) desgraçado(a) que há uma semana aqui chega diariamente através do Google. Gostava de ser útil, mas fotografias não tenho.

Terrorismos III

Por mail, alguém que diz chamar-se Shyz Nogud (!!!) responde à minha «pergunta chata» com outra pergunta: «O mundo está mais ou menos perigoso do que na altura da Guerra Fria?»
Aí, deslocamos o centro da conversa. Mas, mesmo assim, sempre lhe digo que não consigo imaginar mundo mais perigoso do que aquele que esteja dominado pelo terrorismo. Porque faz parte da natureza do terrorismo uma imprevisibilidade, diria estupidez intrínseca, que não encontramos num mundo normalizado, em que os oposições se fazem entre os estados.
É claro que, à luz do que é hoje politicamente correcto dizer, o nosso conforto na Guerra Fria era sustentado por muito sangue e sofrimento de gente a viver em regimes tirânicos. Está a ver para onde a conversa nos levaria?
O Dreamscape levanta outra dúvida - «e se em vez de Istambul tivesse sido Lisboa durante o Euro 2004?»
O Euro 2004 não me parece o tipo de acontecimento alvo preferencial do terrorismo. Os atentados jogam com o factor surpresa -geralmente, ocorrem onde menos se espera, onde não há operações de segurança. Na calma Nassiria, na calma Istambul, na paraíso de Bali, na improvável Casablanca.
Por estes dias, o alvo óbvio era Londres e isso, paradoxalmente, tornou-se o melhor seguro de vida para a cidade.
Por isso, acho que Lisboa (e Portugal inteiro) é, de facto, um alvo fácil para os terroristas (nem preciso de explicar porquê), mas não durante o Euro 2004.
E agora, seguindo os conselhos do nosso ministro da Defesa, vou pôr uma velinha a Nossa Senhora de Fátima.

Terrorismos II

O Bloguitica responde à minha «pergunta chata» com outra «pergunta chata»: «O mundo estaria mais ou menos perigoso se George W. Bush nao tivesse iniciado nenhuma guerra contra o terrorismo?»
A minha primeira tentação é responder que estaria mais seguro.
Mas essa era uma opção que nenhum de nós, penso eu, subscreveria. O terrorismo tem de ter uma resposta. Tenho dúvidas de que tivesse de passar pela guerra, ou prioritariamente pela guerra, nomeadamente com países cuja conexão directa com o terrorismo nem era a mais evidente. Se o critério tivesse sido esse, a Arábia Saudita estaria na primeira linha de prioridades e não o Iraque.
A luta contra o terrorismo terá de passar, em primeira instância, pelos serviços secretos. Mas, acima de tudo, tem de passar por uma atitude mais dialogante intramuros e extramuros. O mundo globalizado, em que tudo e todos são interdependentes, exige um esforço permanente de diálogo e concertação.
Eu, por exemplo, não percebo a atitude má vontade dos EUA contra a ONU, a não ser no contexto de uma postura agressivamente imperalista. Como também não percebo a atitude cínicamente inoperante face ao Médio Oriente. Não percebo que, sendo os EUA os principais aliados de Israel, ainda não os tenham obrigado a perceber que têm de conviver com um estado palestiniano. E que conviver implica concertar regras e não impô-las. Israel comporta-se permanentemente como dono espiritual de tudo aquilo - a Palestina depende de um gesto de boa vontade de Israel e não do direito dos povos a terem uma pátria. Isto é intolerável. E toda a gente sabe o peso que o problema da Palestina tem na génese do terrorismo.
O que eu não aceito é dizerem-se que tentar resolver este e muitos outros problemas (quase todos com fortíssimas componentes de desequilíbrio económico) seja ceder aos terroristas. Pelo contrário, isso seria a melhor demonstração da nossa alegada superioridade civilizacional.

Terrorismos I

O NMP, do Mar Salgado (reparem como aprendi rapidamente - estou a dirigir-me a um dos marinheiros e não ao barco todo...), chama-me «pacifisto-capitulacionista» porque escrevo umas coisas em que questiono o modo como está a ser conduzida a guerra contra o terrorismo.
Ora a chave de toda esta conversa é precisamente «o modo». Eu também acho que os terroristas teriam derrubado as Torres Gémeas se Al Gore fosse Presidente (é sempre um risco fazermos estes futurismos rectroactivos, mas enfim..). Tenho é muitas dúvidas de que Gore tivesse respondido assim.
Porque eu concordo com o NMP quando diz que o alvo central do terrorismo é, encurtando argumentos, a nossa civilização. Mas, aqui, entramos no terreno da discordância - a nossa civilização é Bush, mas também é Chirac (até são da mesma linha política...), é Estados Unidos, mas também é Europa, América Latina, and so on. Ora o senhor Bush, a seguir ao 11 de Setembro, fez questão de deixar claro, mais por actos que palavras, que era a América (e não todos nós) que estava em guerra. Parece-me que não custava nada termos começado tudo de outra forma, à nossa maneira civilizada, civilizacional, de ver as coisas, acertando agulhas, coordenando acções.
Quanto a Istambul (citando outro marinheiro, o PC), se calhar fui eu que não me soube explicar.
Com os atentados desta semana - e estou a pensar nos efeitos psicológicos e económicos, por exemplo - os terroristas quiseram dizer que aquela forma de viver o islamismo, aberta ao mundo, está errada. Que o Islão se deve isolar, se deve radicalizar. Os terroristas poderiam ter escolhido uma embaixada ou empresa britânica em muitos outros países, eventualmente alvos mais fáceis. Ao terem escolhido Istambul estão a dar um sinal muito forte para dentro, para o lado deles.
Acho que agora já me expliquei um bocadinho melhor. Ou será lirismo meu?
Quanto ao PC, podemos eventualmente agendar uma conversa sobre o tal tema da «liberdade de escolha da informação». Dou o pontapé de saída, se quiser - porque deixou de ler o DN e não o JN ou o Público?.

E agora a pergunta chata

O mundo está mais ou menos perigoso do que antes de George W. Bush ter iniciado a sua guerra contra o terrorismo?

Ainda Istambul

O Cidadão Livre diz que discorda de mim, mas eu acho que não. Que me desculpe a presunção.
Os atentados desta semana em Istambul chocaram-se particularmente. Porque, de certa forma, se aproximam muito dos de Nova Iorque num ponto - quiseram atingir a convivência religiosa, civilizacional, cultural, em dois dos seus palcos mais óbvios. Istambul e Nova Iorque são pontos de encontro de quase tudo. E é isso que o terrorismo quer dinamitar. Uma imagem que me marcou esta semana foi a dos funerais dos judeus em caixões cobertos com a bandeira turca, ou seja com os símbolos do Islão.
O Cidadão Livre diz que os atentados de Istambul foram contra a «influência ocidental». Eu diria, num ponto de visto menos etnocêntrico, que foram contra uma forma mais arejada de viver o islamismo.
E quando escrevi que eles se dirigiam, em primeira instância a Bush-Blair, estava a pensar no facto de terem sido atingidos alvos britânicos no exacto momento em que Blair recebia Bush em Londres. Se quiserem, foi a maneira de a Al-Qaeda assinalar esse encontro.
Quanto ao essencial, penso eu, estamos de acordo.
No Cruzes Canhoto escreve-se que a organização de Ben Laden «pretende alargar a destabilização iraquiana a todo o Médio Oriente, no sentido de originar maior repressão, maior envolvimento dos EUA e consequente maior mobilização contra as suas hostes.» Absolutamente de acordo. E esse é o lado mais perverso do terrorismo - cada atentado ganha adeptos para a causa do radicalismo.

quinta-feira, 20 de novembro de 2003

Bush, as sondagens e os Estrangeirados

Sou míope. Por isso não posso participar no animado despique que por aí anda acerca do número de manifestantes anti-Bush. Daqui para Londres, só vejo manchas.
Assim por alto, diria que o homem não é propriamente bem vindo. Ele dirá o contrário - quando regressar ao rancho do Texas, contará ao papá que foi recebido com «vivas» e ramos de flores iguaizinhos aqueles que os soldados americanos receberam às portas de Bagdad.
Esta semana, citei aqui uma sondagem do Sunday Times, onde ficava claro que os ingleses não topam o George. Mas depois veio uma sondagem do Guardian (que o Público simpaticamente reproduziu) que dizia o contrário. Basicamente, ficava-se a saber que «mais de 60 por cento dos ingleses apoiam os Estados Unidos incondicionalmente».
As sondagens têm muito que se lhe diga. E, às vezes, as perguntas são mais importantes que as respostas. No caso em análise, querem saber quais eram as perguntas?
A) «De uma forma geral, os Estados Unidos são uma força do bem e não do mal no mundo»
B) «Os Estados Unidos são o Império do Mal no mundo».
Percebem agora o tal apoio?
Eu poderia ter sabido esta história se tivesse lido o Guardian. Mas não. Soube-a através de um novo blogue que recomendo vivamente. Chama-se Estrangeirados e é feito por dois amigos portugueses temporariamente (espera-se...) imigrados. Um está em Londres, o outro em Paris. Vale a pena ficarmos atentos.

...são lágrimas de Portugal

Continuo sem perceber. Mas acho que também não tem importância.
O PC, do Mar Salgado, diz-me que escreve num blogue colectivo, mas pouco «solidário». Nada contra.
Depois informa-me que não costumam meter-se nas conversas dos outros.
Não percebo, então, porque se meteu PC numa conversa que era, salvo erro, com o NMP (na mesma altura, estava a ter outra conversa com o FNV). Ainda para mais para atirar com uma «lateralidade».
Quanto ao «essencial» de que fala, ou seja a «crescente irrelevância do DN», eu até concordo. E escrevi. Não me apetece é aprofundar. Cada um deixa para trás os essenciais que quer. É o que diz PC. E o que faz NMP. Eu só apanho boleia.

Um esclarecimento do «miúdo»

Escrevi sobre o Bloguebuster e recebi este mail do «miúdo»:
Olá. Olhe, eu também tenho nome e não sou puto que já tenho mais que 10 anos tenho 11 e por isso sou pré adolescente.
Mas muito obrigado por escrever aquela coisa tão bonita no seu blogue.
Chamo-me João Miguel (jmr) e o Senhor (jmf) por isso temos os nomes quase iguais. Engraçado.
Acabou o intervalo grande e está a tocar e tenho que ir para a aula de matemática que gosto muito. Logo tenho Conservatório mas acho que vou ter tempo para escrever o meu Diário que já não escrevo há muito tempo. Continuo a não perceber porque é que os adultos chamam diário a uma coisa que não se faz todos os dias. Logo à noite entrego os rascunhos ao Quiz e falo do Senhor (como é que se chama?), está bem? Até logo.
Um beijinho (jmr)

'Tá bem. Só não aceito o beijinho. Nunca aceito beijinhos de pré-adolescentes. Não tens visto a televisão, rapaz?

Istambul

Conheci Istambul há poucos meses. Superficialmente, como acontece em viagens de turismo. Senti-me em casa, porque a luz é quase a de Lisboa, há o mar por todo o lado, como em Lisboa há o mar e esse outro mar que é o Tejo. Mas também porque nas ruas se respira um cosmopolitismo sereno. Mas também porque essa cidade de cruzamento de culturas, civilizações, religiões e continentes, que já foi de cá e agora é de lá, é um exemplo vivo de tolerância. Não apenas no principal monumento da cidade, onde Jesus ao colo da mãe convive com aqueles frases gritantes do Corão, mas também nas ruas, onde a memória de Agatha Christie se cruza calmamente com mulheres muçulmanas orgulhosamente ocidentalizadas.
Eu sei que aquelas ruas escondem violências antigas, talvez latentes. Mas também percebo que a cidade poderia ser um começo, um entre tantos outros, para um mundo um pouco melhor.
Os atentados desta semana são contra essa possibilidade. Esse esboço. Querem atingir Bush, Blair e companhia, mas o que realmente põem em causa é o outro lado. A parte do outro lado que Istambul representa.

Parábola juvenil com protagonista infantilóide

Reparo que Jorge Buche se passeia por Londres numa versão modificada e convenientemente blindada de um Cadillac DeVille.
Agora que a Cruela desceu à cidade, não sei se já perceberam quem são os 101 Dálmatas prontos a serem sacrificados.
Confiemos, porém, em que a realidade imite a ficção e que a unidade de todos os Dálmatas deste mundo permite a vitória da liberdade e o fim de todos os DeVille.

E vão mais três

Todos os dias há coisas novas. Por exemplo...
O Bloguebuster, muito bem escrito pelo «Pedro», um puto de 10 anos e um que «tem bem mais de 60»
O Jóias da Coroa, atentíssimo. Garante que não é de esquerda nem de direita, muito menos do centro. Hum...
O Dreamscape Weblog, onde um miúdo americano diz ao pai: «Então, basicamente, estás a dizer que atacámos o Iraque porque George W. Bush ouve vozes na cabeça?»

Quantas lágrimas do teu sal...

O pessoal do Mar Salgado é do mais bem disposto que há. Adoram brincar às escondidas.
Espantei-me com uma análise em que criticavam a esquerda por não fazer manifs contra os acidentes rodoviários e eis o que me respondem: «A sinistralidade rodoviária causa um incómodo a uma bandeira de uma esquerda, a jurássico-festiva: o optimismo antropológico». Perfeitamente esclarecido...
Meto-me com eles por causa de um relatório da CIA que liga Saddam a Bin Laden e respondem-me com o Afeganistão e a «crescente irrelevância do DN».
'Tá bem. Até concordo. Mas o essencial ficou para trás: as tenebrosas actividades de Bin Laden no Iraque não diferem muito das actividades que mantém em tantos outros países, muitos deles cultores de laços de grande amizade com os states, e não há memória de isso ter incomodado mr. Wolfowitz e o patrão.
Por falar em Afeganistão? Como irá por estes dias o em tempos tão badalado cultivo da papoila?

quarta-feira, 19 de novembro de 2003

Cabala, é tudo uma cabala

Sim, é verdade que fui um dos Jackson Five. Não sei se estão a ver - eu era o único que não era irmão. Foi mesmo em mim que o Michael se inspirou para mudar de cor. Considero, no entanto, a tentativa de me envolverem nesta história da pedofilia uma tenebrosa cabala. Mas a mim niguém me cala. Ouviram? A mim ninguém me cala.

Táxis e notícias

Os taxistas, desta vez os de Lisboa, voltam a estar na origem de várias notícias na imprensa de hoje.
Como se sabe, os taxistas estão fadados para estarem na origem de notícias.
[Pivate joke, só entendível por jornalistas muito viajados. Ou talvez não.]

És tão bom pá. Que seria da Pátria sem ti?

O Almocreve glosa, de maneira fabulosa (rima involuntária, juro...), as constantes e superlativas trocas de elogios entre alguns blogues da direita chique intelectualmente superior (texto: Epistolário).
Obrigatório este Almocreve. O que estão aqui a fazer, em vez de irem beber aquelas pérolas de sabedoria. Definitivo. E arrasador. Hoje, nem queria acreditar, o Independente trazia mais um artigo teu. Rendo-me a tanta inteligência, tanta cultura, eu sei lá (Ups, esta é Rebelo Pinto..). Somos todos amigos, que mal têm estes elogios? O que interessa é que são justos. Sinceramente, estou fascinado contigo. Porque andas aqui a largar essas pérolas? Tu és superior a isto tudo. Escreve livros. Derrama a tua superioridade sobre a maralha ignorante.

Durão no espelho de Guterres

É um distraído, este Bloguitica. Insiste e volta a insistir que o actual Governo tomou posse em Abril de 2002.
Ora, como se sabe, a ciência política divide-se. O próprio Durão Barroso está inseguro. Ele é primeiro-ministro, só não sabe desde quando.

Neverland?

A investigação sobre a pedofilia começa, finalmente, a ganhar novo fôlego. Hoje, foram ao rancho do Michael Jackson. A propósito, vou processar o gajo - que raio de ideia foi aquela de chamar Neverland ao rancho?

Os debates e o totalitarismo

Quando me meti nesta coisa dos blogues, fiz um juramento íntimo em que me proibia de escrever sobre política e muito menos sobre ideologia. Já nem tenho dedos para contar as vezes em que me traí...
O juramento tinha origem na apreciação muito negativa que faço acerca deste tipo de debates, especialmente nos blogues. Na maioria dos casos, a conversa é excessivamente azeda para o meu gosto, eu que acho que nada é definitivo, nem nada é para levar muito a sério neste mundo. Detesto, por isso, as frases excessivamente pomposas que surgem em todos os debates que metam política e ideologia.
Vem esta longa conversa a propósito do que Pedro Lomba escreveu acerca da minha apreciação do debate que manteve com os Barnabés.
Vou dar-lhe um exemplo para que perceba o que quero dizer. No Mar Salgado, escreveram isto acerca desse debate: «ESSA GENTE, MEU CARO PEDRO, é assim porque pratica o pior dos defeitos intelectuais: a irresponsabilidade tendenciosa e sectária. Tornaram-se, como bem lhes chama o nosso FNV, nos Coco Chanel da indignação».
Percebe o Pedro o que quero dizer? «Essa gente»? «O pior dos defeitos intelectuais»? «A irresponsabilidade tendenciosa e sectária»?
Ou seja, quem não pensa como nós não passa de um bando de idiotas. Não é isto a imposição totalitária de uma visão do mundo? Se o Pedro ler bem os textos que escreveu e os que recebeu dos Barnabés verá que apenas o vocabulário muda. E olhe que, de uma forma totalitária, asseguro-lhe que sei do que falo - é um pecado que cometo amiúde.

Avatares do Diabo

Esclareçamos mais um equívoco. Quando me insurgi contra os textos de (meta)engate do Pedro Mexia, estava a ser irónico. De uma ponta à outra. Nos últimos tempos, tenho-me dado assim-assim com a ironia - às vezes funciona, outras nem por isso.
Sobre o assunto em causa, concordo com o Avatares. Aliás, os textos do Mexia de que mais gosto até são esses. Dizem-me que ele também escreve umas coisas interessantes sobre política, mas disso eu não sei nada.

terça-feira, 18 de novembro de 2003

A Constituição e os ódios

Santana, hoje na SIC, mostrou-se muito zangado com o que Marcelo disse domingo na TVI.
Marcelo criticou Santana por causa do projecto de revisão constitucional PSD/PP de que Santana é um dos autores.
Santana atira-se a Marcelo insinuando que Marcelo só está contra a revisão porque ele próprio foi um dos autores da última grande revisão, em 97.
Santana e Marcelo odeiam-se, tão só. Que o pingue-ponge deste ódio se alimente na principal lei da pátria só surpreende quem tem andado emigrado.

Descobertas

O Icosaedro mudou-se para o Sapo.
E o Socioblogue já está a funcionar no Weblog. E levou com ele o Metablogue.
O Extravaganza foi mais radical. Mudou de nome e de morada. Agora é Universos Desfeitos.
E depois há uma data de blogues que descobri e que gostava de dar a conhecer.
É engraçado - alguém cria um blogue e nós dizemos que o «descobrimos», uma quase-apropriação.

We love Bush, we love Bush

Noto por aí alguma irritação com as manifestações contra Bush em Londres.
Querem ver que o Saddam tem seguidores onde menos se esperava?

Pior que em 2001?

Banco de Portugal prevê défice de cinco por cento do PIB sem medidas extraordinárias.
Alguém falou em Guterres?

A mana do rato

O Rato Mickey faz 75 anos?
O que pensará disto a dr.ª Maria José Nogueira Pinto?

Largo do Rato Mickey

Contributo para um estudo acerca da agenda da blogosfera portuguesa:
O Ter Voz dá os parabéns ao Rato Mickey pelo seu 75.º aniversário.
O Ter Voz é «um projecto a dois anos» (!!!) da Secção de Benfica e São Domingos de Benfica (Lisboa) do Partido Socialista.

Tropa israelita ao lado dos terroristas palestinianos

ÚLTIMA HORA II ÚLTIMA HORA II
Afinal, não é só o Governo português que tem muitas dúvidas sobre a política israelita face aos palestinianos e ao terrorismo (não, não é a mesma coisa...).

Vejam o que o Washington Post escreve hoje:
With the Israel Defense Forces in the fourth year of battle with the Palestinians, the most dominant institution in Israeli society is also embroiled in a struggle over its own character, according to dozens of interviews with soldiers, officers, reservists and some of the nation's preeminent military analysts.
Officers and soldiers have begun publicly criticizing specific tactics that they consider dehumanizing to both their own troops and Palestinians. And while they do not question the need to prevent terrorist acts against Israelis, military officials and soldiers are speaking out with increasing frequency against a strategy that they say has forsaken negotiation and relied almost exclusively on military force to address the conflict.

E agora... um pouco de (pouco) sexo

O Desfazedor de Rebanhos acha que «a castidade também pode ser hardcore.»
Saberá ele que o sexo oral deve ser feito com preservativo?

Governo português ao lado dos terroristas palestinianos

ÚLTIMA HORA, ÚLTIMA HORA
«Exprimi a enorme preocupação [ao MNE de Israel] sobre o chamado muro de segurança porque, não respeitando a linha verde estabelecida em 1967, pode, juntamente com os colonatos judeus, constituir um entrave irreversível para aquilo que é o objectivo de dois Estados conviverem lado a lado», referiu Teresa Gouveia em conferência de imprensa.
Por intermédio da ministra dos Negócios Estrangeiros, Portugal acaba de aderir à onda de anti-semitismo que ataca a esquerda europeia em geral e os blogues de esquerda em particular.
AH... é claro, e põe-se ao lado dos terroristas. Ou será uma mera manobra táctica para proteger os soldados da GNR no Iraque?

CIA + água salgada = azia

Ena, tanta água. A rapaziada do Mar Salgado (hoje, encalhei aqui...) rejubila com um relatório da CIA que desvenda as boas relações entre o Saddam e Bin Laden.
Estamos a falar da mesma CIA que assegurava que o Iraque estava pejado de armas de destruição maciça, não estamos? [O link de uma notícia em inglês está no Mar Salgado, mas bastava ter lido o DN de segunda-feira.]
Esta gente, meus caros, é assim porque pratica o pior dos defeitos intelectuais: a irresponsabilidade tendenciosa e sectária.

Quem quer ser Lobo, veste-lhe a pele

«O drama para as pessoas verdadeiramente de esquerda é que são apátridas, a gente vai votar em quem?»
António Lobo Antunes, hoje no Diário de Notícias. Em grande forma.

segunda-feira, 17 de novembro de 2003

Cantigas aos pedaços

Há dias, tentei adivinhar o que cantarolava a Charlotte. Errei. Mas ela continua a cantarolar. Por isso, fui à Net e encontrei um programa que decifra cantorias.
É fácil - basta entrar neste site e escrever uma data de palavras (tem de ser em inglês), mesmo que a frase não faça sentido.
Se estiverem com falta de inspiração, experimentem, por exemplo, isto:
Come on baby
I love you so much
Let's go to the park
and have some fun.

América

I had a brother at Khe Sahn fighting off the Viet Cong
They're still there, he's all gone

He had a woman he loved in Saigon
I got a picture of him in her arms now


Born In The USA, Bruce Springsteen, 1984.

A obsessão dos Barnabés

Uma das minhas diversões dos últimos dias tem sido o pingue-pongue entre o Lomba e os Barnabés. Gabo-lhes a paciência (olha quem fala...). Como de costume, a conversa resvalou (acho mesmo que começou logo aí...) do confronto de argumentos para aquela tendência totalitária de mostrar ao outro que o seu modo de ver o mundo está errado. Enfim, com alguma coisa temos de passar o tempo!

Meta (o seu) bloguismo, sff

Já tinha este problema com os livros, os discos, as revistas, as paisagens. Agora, tenho-o com os blogues. Andarei a ler os blogues certos, estarei a perder alguma coisa de interessante naqueles que desdenho ou simplesmente não conheço?
Esta é uma dúvida sem dignidade de angústia. Apenas uma leve incomodidade.
Excelentes reflexões sobre o tema no Retórica e no Vento.

VPV versus MST

Há equívocos que convém esclarecer. Ontem, saudei o regresso de Vasco Pulido Valente aos jornais. Não disse que concordava com ele.

Os acidentes de viação são de esquerda

Estamos sempre a aprender. Hoje, por exemplo, fiquei a saber, através destes marinheiros de água doce (texto: ESQUECIMENTOS), que os acidentes de viação são coisa que só preocupa a direita.
Bom, se calhar, estou a ver mal a coisa. Afinal de contas o que é aquilo de «10 anos de estrada em Portugal com 30.000 mortos»?

Uma pouca vergonha

Acho engraçado que se critiquem os blogues anónimos, principalmente os que atacam pessoas, e ninguém diga nada sobre o que este senhor escreve. Um constante arrastar de asa a públicas e recatadas meninas e senhoras, casadas ou casadoiras, num estilo algo marxista, linhagem Groucho, claro. Uma coisa simplesmente aviltante. Ainda por cima, nem sequer é anónimo. E ninguém se indigna!

domingo, 16 de novembro de 2003

Um país em delírio pré-comatoso

Metade do país está a inaugurar o estádio do dragão. A outra está a acompanhar o regresso da Maria João.

Respostas

The answer, my friend, is blowin' in the wind.
Mas as ruas estão desertas, apesar do sol.
Sempre preferimos soluções sopradas pelo nevoeiro.

O regresso de VPV

O acontecimento mediático da estação é o regresso de Vasco Pulido Valente... ao Público.

Boing boing

Bola saltitona.

Ninguém gosta do Buche

Há uns dias, levei tau-tau do Esmaltes e Jóias porque ele pensava que eu tinha dito que o Jorge Buche era mil vezes mais perigoso para a segurança mundial que o Bine Ladéne. Eu não disse, mas se vocês não contarem nada ao Esmaltes, sempre vos digo que pensei.
Vem esta conversa a propósito da sondagem publicada hoje no Sunday Times. Esta parte agora é para ler baixinho, não vá o Esmaltes, o Mar Salgado, o Mata-mouros, enfim, tantos outros, estarem a ouvir:
60 por cento dos britânicos acham que o Jorge Buche é uma ameaça à paz. Vocês sabem quem são os britânicos, não sabem? São aqueles civilizados europeus (bom, europeus...) liderados pelo maior amigo à face da terra do Jorge Buche, um tal Toni Blére.
A sondagem tem ainda outras coisas engraçadas, mas se eu vos dissesse vocês iram logo contar. Por exemplo: 6 por cento dizem que o Buche se exprime bem. E 10 por cento dizem que o fulano é inteligente. Agora, por amor de Deus, não contem isto a ninguém.

Tu tu tutu, tu tu tutu, tu tu tutuuu...

É claro que só pode ser Walk On The Wild Side. Ou... ou não...?

sábado, 15 de novembro de 2003

Quase em português

Lutz Brückelmann é imigrante e arquitecto. Teve a ideia de fazer um blogue e teve a ideia muito engraçada de lhe chamar Quase em Português.
Há dias escreveu isto:
Ouviu o meu filho (3 anos) que morreu a avó do Francisco, um amigo do infantário. Pergunta ele:
– Quem a atacou?
– Ela já estava velhinha.
– Ah. Mas quem a atacou?

Ora seja rebem-vindo

É um amador este Pedro. Levanta o Cerco do Porto e depois não cuida da manutenção. Desaparece, não diz nada, deixa o Cerco desguarnecido... É que nós, aqui na capital, contávamos com ele para conter os Mata-mouros.

Os jornalistas portugueses e as guerras

Agora que o Carlos Raleiras foi libertado, três notas sobre o envio de jornalistas portugueses para teatros de guerra. Sei que a última é, no mínimo, pouco consensual. Paciência.
1. São quase criminosas as condições em que as empresas de media portuguesas enviam jornalistas para teatros de guerra. Como notaram nos últimos dias o repórter Mário de Carvalho, da CBS, Carlos Fino e um português que trabalha na BBC, ouvido pela SIC, a generalidade dos media estrangeiros faz acompanhar os seus jornalistas de segurança própria, pelo menos nos casos em que a situação é mais volátil. A hiper-elogiada capacidade de desenrascanço dos portugueses será um factor com que os patrões contam. Há casos em que isso entra em zonas de puro crime - por exemplo, quando dezenas de jornalitas portugueses foram enviados para o Paquistão/Afeganistão sem terem sequer um seguro de vida.
2. É óbvio que, mesmo em condições de aparente total segurança, tudo pode acontecer. O jornalismo de guerra será sempre uma profissão de risco. As notícias menos agradáveis têm, pois, de ser encaradas com alguma naturalidade.
3. Considero uma disparatada feira de vaidades o envio de hordas de jornalistas portugueses para palcos de guerra. Parece-me que isso seria natural em casos de proximidade, por exemplo, afectiva, como aconteceu com Timor, Angola ou Guiné-Bissau. Já acho dificilemente compreensível o que se passa com o Iraque. É preciso lembrar que a generalidade dos media nacionais nem sequer têm uma rede nacional decente de correspondentes. Alega-se que o envio de jornalistas se destina a dar uma visão portuguesa dos acontecimentos. Um disparate: a quase totalidade das reportagens televisivas e grande parte das escritas são meros apontamentos sem qualquer interesse ou qualidade, meros fait-divers. A maior das vezes, trata-se mesmo de ruído que só dificulta a compreensão dos acontecimentos. Os jornalistas portugueses não têm experiência nem habilitações para competirem com os media de grande porte. Prefiro, de longe, os relatos sólidos, bem informados, bem enquadrados, dos jornais e televisões inglesas, americanas, francesas (e mesmo espanholas - a dimensão do mercado permite que no país vizinho se faça um jornalismo de muito melhor qualidade). Ou mesmo das grandes agências, que os medias portugueses podem utilizar.

Tan tan?

O que acham? Tan tan tantan, tan tan tantan, tan tan tantaaaan... será lounge?

Subornos: venham eles

Como o TdN é um espaço de livre iniciativa, com estatuto editorial flutuante, estamos abertos a qual contacto dos representantes dos srs. Murdoch ou Soros.

O fantástico mundo da democracia

Rupert Murdoch deu uma entrevista à BBC na qual se mostra indeciso quanto ao lado que o seu grupo de media nas próximas eleições no Reino Unido. A BCC ouviu, então, vários comentadores que recordavam o carácter deciviso que o Sun, do sr. Murdoch, na primeira vitória de Blair.
O sr. George Soros, um dos maiores especuladores mundiais, o senhor globalização himself, diz que está disposto a gastar uma fortuna para que o sr. George W. Bush não seja reeleito. Diz que não dará dinheiro ao partido democrata, mas financiará outro tipo de organizações que prossigam actividades de contestação à actual política americana.
Bem vindos, pois, ao fantástico mundo da democracia.

sexta-feira, 14 de novembro de 2003

O segredo de Victoria

Há suplícios a que nenhum ser humano deveria ser submetido.
Por exemplo, trabalhar num jornal, ter de procurar nas agências fotos para a edição do dia e tropeçar, a cada momento, com a apresentação da nova colecção da Victoria's Secret.

Vamos ao fim a rua...

...vamos ao fim do mundo.

Lai lai lailai, lai lai lailai, lai lai lailaaaai...

Juro que ouvi The Boxer da última vez que visitei a Charlotte. Ou terá sido no DVD do Central Park acabadinho de sair? Esta cabeça...

O blogue do Pacheco

E se o Pacheco, o Luiz Pacheco, tivesse um blogue? Como se chamaria?

Cão Como Nós

Morreu o Leão do Jaquinzinhos. Já passei pelo mesmo. Gostava, por isso, de lhe recomendar o livro mais emocionante que li sobre o assunto, Cão Como Nós, do Manuel Alegre. Mas, como é de um fulano de esquerda (pior, socialista...)...

Devaneios - uma discordância

Eu bem vos disse... Isto de me armar em Grande Organizador de Lusoblogues (GOL) só poderia dar para o torto.
O Retorta discorda de mim (e, se calhar, o Bloguitica só não discorda porque ainda não leu...). Imaginem se tivesse dado mais exemplos...
Escreve-me o Retorta:
Se é verdade que prefiro lançar pistas através de links, textos curtos e imagens (que na minha concepção têm de falar por si, sem qualquer texto a condicionar a interpretação de quem a vê) e por esse motivo posso "parecer" contemplativo, também é verdade que tenho procurado intervir em iniciativas que se traduzam em resultados concretos. Fotografar o Encontro Informal de Blogues e disponibilizar as fotografias on-line, colaborar com uma selecção
de poemas e fotografias no e-book de poesia da Janela Indiscreta, e criar o weblog de apoio à Intima Fracção, foram apenas algumas das acções em que estive envolvido. Como atesta a citação que enviei no mail anterior, eu privilegio as acções de criação, e nesse sentido sempre procurei "intervir" activamente, mesmo se nunca no campo da política corrente, e portanto não posso concordar com o "contemplativo".

Se calhar, o termo «contemplativo» não será o mais correcto. Mas quis com ele definir aquilo que me parece ser a pulsão central de certos blogues. Contemplativo, concordo, dá um tom demasiado passivo, o que comporta uma certa injustiça - afinal de contas, o próprio acto de criar um blogue é já acção. Escrever um poema pode ser um gesto de profunda intervenção. Apesar de tudo, parece-me que em alguns blogues a principal motivação é uma certa fruição, ver e dar a ver, ouvir e dar a ouvir, as coisas boas ou más da vida.
Este tipo de conversa sobre clasificações é, confesso, um pouco pateta. Por isso lhe chamei devaneio. É, no fundo, uma velha (e penso que eterna...) tendência da Humanidade para arrumar tudo em prateleiras. Na política é a batida divisão esquerda/direita, que tão depressa é actual como deixa de o ser.
Quanto à blogosfera, pela sua própria natureza inacabada, trata-se de uma classificação permanentemente em aberto. Como o debate acerca dela. Se alguém quiser continuar a conversa, vamos a ela. Se não, prossigamos para outros portos.

Devaneio metabloguístico

Por mail, o Retorta lamenta o estado «pouco estimulante» da pátria. E, tem razão, do resto do mundo.
Alguém, com mais preparação e paciência - e, já agora, distanciação -, há-de um dia escrever sobre estes tempos em que o super-produção de informação está, aparentemente, relacionada com uma certa inacção. Constato apenas a coincidência temporal, pressinto a relação, mas não estou seguro dela.
A mensagem do Retorta - e a sua confessa resistência ao texto, ou pelo menos ao excesso de texto - leva-me a pensar até que ponto não começa já a ser visível pelas bandas da luso-blogosfera uma certa arrumação. Há dias, escrevi que o Bloguitica é um blogue construtivo, no sentido em que tende sempre a propôr algo, a agir, quase como se fizesse política. Falava em oposição ao que escrevo, que penso enquadrar-se melhor numa categoria de problematização, mas que outros julgarão melhor que eu. O Retorta e tantos outros enquadram-se mais num grupo que apelidaria de contemplativo. As imagens, os sons, noutros casos, a magia da palavra. Sem grande preocupação de acção, por vezes nem de reflexão, quase sempre apenas pela fruição.
Enfim, devaneios. Longe de mim armar-me em Grande Organizador dos Lusoblogues, vulgo GOL.

A Xunta, o Fraga e os galegos

Há um texto ali mais abaixo que se chamava «Galegos» e agora é «FRAGAnices». Tudo isto porque uma das leitores mais fiéis do TdN (às vezes, chego a pensar que é mais fiel que o próprio autor...) recebeu um recado do Pepe Carvalho muito zangado com a generalização que fiz relativamente aos galegos. Como a intenção não era essa, mudei o título e estou aqui a avisar.
E, como as conversas são como as cerejas, lembrei-me, a propósito destas histórias de galegos, que o JL de que falei, o tal que tem uma entrevista com o Mário de Carvalho, traz uns poemas inéditos do Fernando Assis Pacheco. E lembrei-me que talvez ele e o Pepe conversem muito por estes dias. Que novela poético-policial daria esta história do velho Fraga sentado num penedo da Corunha a ver o Prestige afundar-se...

Leonardo

Um blogue chamado DaVinci. Gosto da ideia. Para já, tem só textos sobre o génio. Esperemos que sejam inspiradores.
(É o primeiro que registo no Sapo. Outra experiência a acompanhar.)

Lai lai lailai...

A Bomba Inteligente foi um dos primeiros blogues com que deparei quando aqui cheguei. Talvez por essa afectividade do acaso, às vezes clico no link que está ali à esquerda. Hoje, estava a ouvir Simon and Garfunkel.

quinta-feira, 13 de novembro de 2003

O Iraque - algumas conclusões

Quanto à questão do Iraque, o Bloguitica acaba de escrever um conjunto de textos que resolvem a polémica, se alguma houve, com este cantinho. Não serão dois ou três pormenores que nos vão distrair das concordâncias quanto ao essencial.
Alinho quatro ideias às quais dou especial ênfase:
1. O enfoque na big picture. Se há coisa que me irrita é a insistência, pia e hipócrita, de que estamos a lutar pelo povo iraquiano, a livrá-lo da ditadura, and so on... O que está ali em causa é geoestratégia no seu máximo, os contornos internos deste globo que habitamos.
2. Outra coisa que me encanita neste tipo de debate é, de cada vez que critico a opção americana de ir para a guerra, chamarem-me anti-americano ou pró-terrorista. Nem sequer acho que as duas coisas se equivalam, mas a verdade é que não sou uma nem outra.
3. Quanto ao presente e ao futuro, não tenho certezas, nem sequer palpites. Apenas noto que a situação está em constante evolução e basta ver a imprensa americana de hoje para se perceber que o pior pode estar ainda para vir e a luz ao fundo do túnel é ainda uma longa miragem no deserto iraquiano.
4. Quanto aos soldados da GNR, faço coro com os muitos «Boa Sorte» que vi nos últimos dias. Consciente da carga paradoxalmente pessimista que a expressão encerra.

FRAGAnices

A Euronews passou hoje um longo (dois ou três minutos) anúncio da Xunta da Galiza, na qual aquela região espanhola exibe a sua pujança económica e tecnológica, a ponto de se auto-colocar na vanguarda da Europa.
Uma maneira curiosa de comemorar o afundamento do Prestige.
Ficamos, pois, a saber que a Galiza tem tecnologia de ponta na indústria automóvel, nas madeiras e nas pescas, mas é completamente incompetente no que respeita à protecção dos mares, ao meio ambiente e, já agora, ao turismo.

País aturdido

Mário de Carvalho, um dos melhores escritores portugueses, acaba de lançar um novo livro, Fantasia para Dois Coronéis e uma Piscina, a propósito da qual deu uma entrevista ao Jornal de Letras.
«Para usar um vocábulo muito em desuso: o país está alienado. Está completamente dependente dum vocabulário rasca, do futebol e do lixo televisivo, fenómenos que minaram todas as nossas reservas de crítica e bom gosto. É uma situação que me preocupa muito, embora, neste livro, o aborde pelo lado do riso. Portugal, tal como está, é desgostante. Dá vontade de emigrar! O mau gosto tomou conta do ensino, da política, do autêntico espectáculo circense em que se transformou o futebol, e das universidades.»
O Jornal de Letras publica um excerto do livro:
«Assola o país uma pulsão coloquial que põe toda a gente em estado frenético de tagarelice, numa multiplicação ansiosa de duos, trios, ensembles, coros. Desde os píncaros de Castro Laboreiro ao Ilhéu de Monchique fervem rumorejos, conversas, vozeios, brados que abafam e escamoteiam a paciência de alguns, os vagares de muitos e o bom senso de todos. O falatório é causa de inúmeros despautérios, frouxas produtividades e más-criações. Fala-se, fala-se, fala-se em todo os sotaques, em todos os tons e décibeis, em todos os azimutes. O país fala, fala, desunha-se a falar, e pouco do que diz tem o menor interesse. O país quer aturdir-se».
Não sei o que acham, mas parece-me que o Mário de Carvalho escreveu isto após uma noite inteira a ler blogues.

Iraque - agradecimentos

Agradeço publicamente ao Avatares, Almocreve e Murmúrios por, de uma forma que eu não fui capaz, terem tão claramente dito o que está em causa, neste momento, no Iraque.
Agradeço, ainda, ao Abrupto, por nos ter recordado o essencial:
Eu tenho um lado, mas ninguém me ouvirá dizer que este é o lado de Deus, como na canção de Bob Dylan. Mas ouvir-me-ão dizer que este é um lado dos homens, do modo de vida que escolhi (escolhemos), de uma precária mas identificada civilização (a palavra é adequada) que já mostrou o que vale e que não vive do terror, nem da violência, mas da procura da conciliação de interesses e modos de vida. Nenhuma outra civilização me dá as liberdades e a possibilidade de felicidade que esta me dá, a mim e, potencialmente, a todos os homens.
Palavras sábias.Também esse é o meu lado. É por isso que estou, desde a primeira hora e de uma forma radical, contra a intervenção americana no Iraque.

Nossa Senhora nos acuda

Há exactamente um ano, Nossa Senhora de Fátima livrou-nos do Prestige.
Passado este tempo, temos direito a saber como vão as relações do ministro Paulo Portas com a dita Senhora. Porque, se não for ela, qualquer novo Prestige nos afundará. Em crude, ou pior.

Quero lá saber...

É claro que bem posso eu andar por aqui a pregar sermões ao peixes sobre o Iraque, que o Google só me traz gente à procura de «jordana jardel fotos».
Pior que isto só as várias caixas de correio inundadas com ofertas de cremes, pílulas e sei lá que mais para «enlarge your penis».
Gente que, pelos vistos, tem mais que fazer do que preocupar-se com a implantação da democracia no Iraque ou a luta contra o terrorismo internacional. Continuem assim, que acabam acusados de conivência com o sanguinário regime de Saddam Hussein.

Iraque (III)

O Bloguitica, acho que já o registei um dia, é um blogue construtivo. Gosta de ajudar a encontrar soluções. Eu - por deformação profissional, presumo - gosto mais de criar problemas.
Por isso, muito sinceramente, não sei o que Portugal deveria fazer nesta altura quanto ao envio de tropas para o Iraque (esta discussão é absurda - as tropas já foram, mas enfim...).
Convém recordar, apenas, que a decisão de enviar a GNR tem meses - foi tomada numa altura em que a situação no terreno era, apesar de tudo, bem mais serena.
O que está a acontecer agora extravasa muito, muito mesmo, a questão iraquiana. O Iraque tornou-se apenas o palco de um conflito directo entre os terroristas (todos os terroristas...) e os Estados Unidos. Digo Estados Unidos, porque ninguém me pode obrigar a sentir solidário com uma decisão da qual discordei desde a primeira hora. Ninguém é obrigado a comprar esta aventura.
Quem percorrer a blogosfera por estes dias, poderá constatar a onda de hipocrisia e demagogia que por aí anda. Há quem se arvore em porta-voz do povo iraquiano (!), quem diga que não conseguiria dormir se o ditador iraquiano continuasse no poder (curioso - conseguem dormir com os ditadores chineses, por exemplo, no poder; curioso - conseguem dormir depois de verem milhões a morrerem de Sida em África por falta de medicamentos...)
O que se está a passar no Iraque, insisto, é uma guerra aberta entre os EUA e os terroristas. Uma guerra que os EUA compraram e da qual não sei como vão sair (começa-se a perceber, de resto, que nem eles sabem). E não me venham dizer que o terrorismo só se pode combater com a guerra - onde estão os serviços secretos? para que serve a diplomacia? para que servem as instituições internacionais? onde pára a ajuda ao desenvolvimento?
Não me venham dizer, por isso, que Portugal vai para o Iraque ajudar os iraquianos. Ninguém passou mandato a ninguém para defender os iraquianos.
Entende agora o Bloguitica porque os antecedentes de toda esta situação não podem ser postos de parte em qualquer debate sobre o presente do Iraque?

quarta-feira, 12 de novembro de 2003

A GNR e o Iraque (II)

O Bloguitica interpela-me para uma troca de ideias sobre a actualidade da crise iraquiana. Vamos a isso, temos tempo.
Contesto desde a primeira hora a forma como os EUA estão a lidar com o problema do terrorismo. Eu sei que esse é um aspecto do passado, que não vale a pena bater mais no ceguinho. Mas insisto nessa ideia - tudo o que hoje se está a passar era previsível e resulta da acção irreflectida dos EUA, em desrespeito pela regras da convivência internacional. Há uma importância suplementar em recordar este aspecto - acho que ainda hoje os EUA continuam a agir com total sobranceria face aos seus parceiros internacionais. Isso foi claramente visível na discussão da última resolução do Conselho de Segurança. É verdade que as diversas posições estão completamente acontanodas e que, nessas condições, é difícil alcançar consensos. Convenhamos, porém, que é aos EUA que compete fazer o maior esforço de convergência.
Quanto ao momento actual, deixou apenas algumas pistas para reflexão:
1. A nova resolução da ONU abre portas para uma intervenção mais vasta da comunidade internacional. A boa vontade, como se tem visto, é reduzidíssima. Portugal não é excepção.
2. Portugal envia a GNR numa solução de compromisso entre o PR e o Governo. A nova resolução permitiria outras soluções. Não sei se não valeria a pena estudá-las.
3. O envio da GNR para o sul do Iraque pressupunha um cenário local que está em constante evolução negativa. Qualquer análise terá de ter isso em conta.
4. Paul Bremer, administrador no Iraque, viajou repentinamente para Washington. Sinal claro de que mesmo os EUA estão em constante análise de cenários e mudança de decisões.
Para já, fico por aqui. O diálogo fica em aberto.

Diz-me espelho meu: há alguém pior que o Bush?

Descobri hoje que eu disse que «George W. Bush é pior do que a Al-Qaeda». Como não foi aqui, nas TdN, será que o Esmaltes e Jóias se importa de me dizer onde terá sido? Se, depois de me ler, eu concordar comigo próprio, prometo fundamentar a ideia.

A GNR e o Iraque

No dia em que os portugueses da GNR partem para o Iraque, um ataque mata mais de uma dezena de italianos no exacto local para onde vão os nossos conterrâneos.
Sempre fui contra toda esta história do Iraque. E, agora, como antes, continuo sem respostas para tudo o que se está a passar.
Dói-me que quem criou o problema tenha, agora como sempre, a mesma resposta: «Vamos, porque sim.»

A entrevista (II)

Não vi a entrevista de Ferro Rodrigues, ontem na RTP. Mas, como o Jaquinzinhos adormeceu, é porque a conversa não lhe interessava. Presumo, pois, que a entrevista deve ter sido bem interessante e que Ferro deve ter passado com distinção ao interrogatório da Judite.

Anónimos, ou nem tanto

O Bloguitica relança o tema (cíclico) do anonimato. É um dos meus «assuntos pendentes» imaginários. Fica a promessa.

Autocarros de todas as cores

A estrada de Benfica está cheia de autocarros de todas as cores.
Por onde andam eles quando não há greve da Carris?

A entrevista

Ufff... O Liberdade de Expressão esteve 48 horas sem escrever, à espera da entrevista do Ferro Rodrigues, o seu ídolo, na RTP.
Esperávamos era mais, muito mais. Então, nem uma palavrinha sobre a Casa Pia? E, sinceramente, não se arranjava nada de mais punchy sobre o Orçamento? Estamos a perder qualidades, meu caro...

terça-feira, 11 de novembro de 2003

Consumidor tipo

Nove em cada dez chamadas que atendo no telefone fixo são de telemarketing.
Acham que a PT aceita um acordo? Eu continuo com o telefone, mas eles vão pagar-me cada minuto dedicado ao marketing. Investi anos e anos de estudo, meses e meses de salário para atingir este patamar de «consumidor tipo».

A Al-Qaeda numa tarde de Lisboa

Passei boa parte da tarde a ouvir um especialista escocês em terrorismo a explicar que a Al-Qaeda constitui a principal ameaça à segurança mundial.
Não é coisa que não me tivesse passado já pela cabeça.
- Ó sô doutor - disse-me há dias a minha mulher-a-dias (a minha mulher-a-dias é assim, tem dias...) - o sô doutor também acha que a Al-Qaeda é a principal ameaça à segurança mundial?
- Pode crer, dona Gertrudes, pode crer.
- Mas o meu Jaquim diz que Bush é mil vezes pior.
- Ó dona Gertrudes, veja lá onde se mete. Ó dona Gertrudes, veja lá onde me mete...

Disparem sobre os jornalistas

Os jornalistas saltaram para a primeira página. O DN faz uma sondagem, o Público faz listas de assessores.
O mal-estar é evidente e não é apenas nosso. Aqui e lá fora, o tema é trazido à discussão pelos políticos, geralmente quando o sistema mediático os incomoda. Ou melhor, o tema é trazido a debate por uma parte dos políticos quando os media incomodam essa parte de políticos. Não por acaso, as principais queixas surgem dos políticos que melhor se movem no espaço mediático. É natural.
Uma das correntes mais fortes - e basta ler os blogues - é exigir aos jornalistas um atestado de santidade (de virgindade, se quiserem...) que não se pede a mais ninguém.
Nos dias que correm, é perigoso para qualquer jornalista ser visto a tomar um café com quem quer que seja. Tudo isto me parece um exagero.
Há casos e casos, eu sei. Mas isso é como no resto. Também me chateia que um político tome decisões porque é amigo de alguém, porque nasceu em determinado local. Também me chateia que alguns juízes tomem outras decisões só porque advogam determinadas filosofias. Aborrece-me que os professores dos meus filhos lhes transmitam preconceitos de classe, religiosos.
Quero com isto dizer que vivemos num mundo em que a contaminação é a regra. Vivemos em rede, todos nos influenciamos, todos devemos algo a alguém, todos servimos causas (quantas vezes sem cheque ao fim do mês...). Não aceito por isso que se exija aos jornalistas a reclusão asséptica.
Eu, que até nem acredito por aí além nas leis do mercado, acho que o mercado (num sentido muito lato, não meramente mercantilista ...) terá de funcionar, também aqui.
Eu sei, insisto, que há casos e casos. Mas, volto a insistir, todos temos casos, não apenas os jornalistas.

Desgoverno

O Adufe meteu-me num governo sombra. Como é que dizia o outro? «Safa...»

Brel - agora com imagens

Pronto, não aguento mais. Deus sabe que resisti, que tentei evitar em vós os pecados da cobiça, da inveja.
Mas é verdade, confesso. Tenho andado muito entretido a ver o triplo DVD de Jacques Brel. Chama-se «Comme Quand On Était Beau.» e reune actuações ao vivo, entrevistas e programas para televisão, de 1958 a 1977. A última data (deixou de actuar ao vivo em 66...) justifica-se pelo facto de terem sido incluídas as canções inéditas, à laia de telediscos. Tudo com som e imagem muito bem restaurados.
Algumas das actuações já eram conhecidas, outras nem por isso. São todas boas, sem exagero. Mas uma das coisas que mais impressiona é que o que mais perdurou foi mesmo a música. Alguns programas de televisão são puramente kitsch e mesmo algum overacting de Brel não sobrevive em boas condições ao passar dos anos. Mas as canções não. Essas são claramente eternas, muitas delas de uma modernidade que espanta - podiam ter sido escritas ontem.

segunda-feira, 10 de novembro de 2003

Ferro e os abutres (um modesto contributo)

O procurador desmentiu a notícia do Correio da Manhã sobre Ferro Rodrigues. Os abutres não devem, porém, desanimar:
1. Como foi dito num telejornal, o PGR só desmente que Ferro tenha sido confrontado, não desmente que as testemunhas existam.
2. Como o Correio da Manhã escreve, mesmo que a notícia de hoje seja mentira, há sempre a possibilidade de, durante os julgamentos que aí vêm, o nome de Ferro ser proferido.
3. A provedora Catalina enredou-se em explicações e contra-explicações. Talvez um pouco mais espremida diga alguma coisa de comprometedor.
4. Bagão Félix (como diria Francisco Louçã) tem estado muito calado nos últimos dias - pode ser sinal de que está a preparar algo. Mais uma inspecçãozita... Pena que o seu colega das Obras Públicas não colabore - é que Ferro também foi ministro desta pasta.
5. Foi descoberta uma planta de cannabis no pátio do ISCTE, o mesmo ISCTE em que Ferro foi apanhado atrás de uma fotocopiadora (a história não é bem assim, mas por esta altura qualquer coisa serve...)
6. Ferro mandou Vera Jardim falar em nome dele. É sinal de que não tem coragem ou está com medo.
7. Vera Jardim falou em «patifaria». Não é linguagem que se possa tolerar a um dirigente da oposição.
8. Vera Jardim é do mesmo escritório de advogados de Jorge Sampaio. Será que almoçaram juntos antes da conferência de imprensa?
9. Ferro vai processar o Correio da Manhã. Então, só confia na justiça quando lhe apetece, anh?
10. Em desespero de causa, é sempre possível recorrer a um qualquer socialista dirigente anónimo que se encarregará de arranjar ainda mais 34 argumentos. Se não houver nenhum socialista disponível, os jornalistas poderão sempre falar com um colega do lado e depois citar um «um destacado dirigente socialista».

Espiões e contra-espiões

A isto chamo eu profissionalismo. Ontem, alguém teclou isto para saber o que tinha escrito sobre o Muito Mentiroso:
cache:UmSu6i40JdQJ:terrasdonunca.blogspot.com/2003_08_01_
terrasdonunca_archive.html muito mentiroso

A opinião que emiti até está bem visível, logo na página de abertura. Não percebo porquê tanta curiosidade...
Se alguém um dia fizer a tal «agenda da luso-blogosfera» espero que inclua um gráfico com a frequência das buscas acerca do Muito Mentiroso. Seria bem curioso...
Ainda no domínio da contra-espionagem, seria bem interessante perceber o que está a acontecer com o Notas Verbais. Tão depressa desaparecem textos, como o acesso fica pura e simplesmente bloqueado. O autor, persistente que é, resolverá o assunto. Mas não deixa de ser inquietante que alguém ande por aí armado em sabotador.
Estou mesmo a ver que, quando alguém falar da Pide, virão os sacristas do costume dizer que estamos a exagerar, que isso é uma ofensa a quem sofreu na pela as consequências da Pide original.

Ferro e os abutres

Quando, em Julho, aqui escrevi sobre a «cabala» de que Ferro Rodrigues se queixava, estava longe de imaginar que as coisas chegariam ao ponto a que chegaram.
Afirmei então: «Apenas me parece que a liderança do PS caiu nas garras de um tenebroso triângulo - política, justiça, media - que, há largos anos, tem agido em Portugal de forma absolutamente descontrolada.»
Independentemente de existir, ou não, um comando central nesta história toda, ou de existirem pequenos comandos descentralizados, agindo organizadamente ou de forma voluntariosa, cada vez estou mais convencido de que nada do que está acontecer é por acaso.
A manchete do Correio da Manhã de hoje - «Três jovens envolvem Ferro» - é um excelente exemplo. Dois dias após o líder do PS ter reafirmado que pretende continuar no seu posto, alguém no sistema de justiça põe na mão de um jornal uma história velha, que o jornal leva a manchete. Note-se bem - esta história já tinha sido manchete do Expresso há meses, esta história não levou o juiz de instrução a tornar Ferro arguido, esta história, na realidade, não existe. E só uma «mão invisível» pode vir agora repô-la na primeira linha.
Mas, se atentarmos bem, foi sempre assim - sempre que a liderança do PS fazia qualquer coisa, lá vinha a justiça e os media com uma historieta qualquer. E nada me garante que não haja aqui, igualmente, uma mão da política.
Quem gere esta história sabe que há, no sistema de justiça, mas principalmente no sistema mediático, muita gente que, por incompetência ou puro terrorismo, está sempre disponível para sujar as mãos de sangue.
O que verdadeiramente me espanta neste caso é que pessoas habitualmente muito críticas face aos media e sempre prontas a defender os políticos de ataques ilegítimos, primem agora pelo silêncio ou que, pior, alinhem no coro dos que acham que o problema está em Ferro e na liderança do PS.

sábado, 8 de novembro de 2003

Diálogo inesperado

- Fofa, gostava de fazer as pazes, mas estou bloqueado.
- Deixa lá as pazes...
- Não sei se me apetece continuar.

Viciado...

Agora que já desabafou, o Adufe vai voltar ao normal. Dou-lhe o fim-de-semana para abrandar... Na segunda, volta em força. Viciado...

sexta-feira, 7 de novembro de 2003

Grau zero

O título principal da reportagem do Público sobre o debate do Orçamento do Estado é: «Portas exclui negociação do OE com socialistas».
Por vezes, a linguagem político-mediática cai no vazio absoluto.
O que poderia Portas negociar com o PS? O que quereria o PS negociar com Portas? Não têm Portas e o PSD votos suficientes para aprovar o OE? Estar lá aquele título ou não estar lá nada não seria a mesma coisa?
[Nota MUITO IMPORTANTE: não é o Público que está em causa. Dou este exemplo, como poderia dar muitos outros. Só me parece que este é flagrante, paradigmático. O título do Diário de Notícias - «Paulo Portas avisa PS que radicalismo vai limitar o diálogo» -, sendo mais sumarento, é ainda mais absurdo: ficamos com a ideia de que o PS tem algo a perder...]

Cunhal e a direita

Parece que Álvaro Cunhal vai fazer 80 anos um dia destes. Parece que Álvaro Cunhal escreveu (!?) um artigo para o Avante.
O Independente rejubila, certos blogues exultam.
Sempre me pareceu muito natural esta fascinação recíproca entre Cunhal e a direita. E muito significativa. Para ambos os lados.
[Actualização A MJO, do Glória Fácil, rectifica atenciosamente: o Cunhal tem 90 anos e não 80. Eu bem dizia: nem a idade do homem sei...]

Diálogo (ainda mais) à beira da estalada

- Olha, Jota...
- Jota? Mas já não é Jotinha?
- Jotinha, uma ova. Primeiro trocaste-me pelo George W, depois veio a Britney, sei lá o que se segue. Tens 24 horas para te redimires...

Diálogo à beira da estalada

- Jotinha, amor, há semanas que não falas de mim...
- Oh fofa, ainda não percebeste que não passas de uma personagem instrumental?
- E tu? Não serás um reles escritor falhado, que se esquece das personagens a meio da história?

As lições de Clinton

Por sugestão do Bloguitica fui ter a esta conferência de Bill Clinton. O texto corresponde, quase palavra por palavra, ao que o ex-Presidente dos EUA disse na sua recente passagem por Lisboa. Na altura, assinalei aqui que aquela conferência era, no fundo, um sério contraponto ao que tem sido a política externa de George W. Bush, nomeadamente no que respeita ao modo como deve/pode ser combatido o terrorismo e à guerra contra Saddam. Acontece que, no fim-de-semana a seguir à conferência o evangelista Marcelo resolveu apontar, na TVI, o fabuloso exemplo de Clinton que, seguindo uma tradição americana, nunca critica em público as políticas do seu sucessor. Isto, pura e simplesmente não é verdade, conforme se pode comprovar neste texto da Yale. A mim, essa falta de correspondência entre os comentários de domingo e a realidade não me surpreende, mas como parece que há muita gente que ainda acredita, aqui fica a rectificação possível.
Através da mesma sugestão do Bloguitica, acabei por encontrar outro texto com Clinton. Desta vez, uma entrevista. E o tema não poderia ser mais interessante - dicas para bater Bush em 2004. Garanto que vale a pena ler. E que algumas daquelas tácticas são válidas na América e em todo lado.
E, não se esqueçam, diz Bill: «We've got to fight. And we gotta look like we're havin' a good time doing it.»

quinta-feira, 6 de novembro de 2003

Britney... não dês ouvidos ao papá

Leio, na sempre excelente secção de bocas da revista Veja, uma citação de Britney Spears:
«Na minha família, costumávamos andar nus pela casa. Isso era normal. Quando eu tinha perto de 13 anos, meu pai me deu um toque: 'Ei, Britney, já é hora de você começar a usar alguma coisa'. Eu sempre fui assim, muito livre.»
Britney... não dês ouvidos ao papá.
[Actualização: o Bloguitica apreciou a Aguilera nos prémios MTV. Vi hoje um resumo nos noticiários da manhã. E, pelo que vi, continuo a apostar na Britney...]

Elisa e os jornalistas

Maria Elisa renunciou ao mandato de deputada.
Agora, só falta alguém vir escrever que a culpa foi dos jornalistas, com o objectivo populista de atacarem a instituição parlamentar.
Isso até é verdade. Mas, neste caso, parece-me óbvio, a culpa só pode ser assacada a uma jornalista. Chama-se Maria Elisa.

O carteiro traz sempre duas cartas

Hoje chegou a National Geographic. Se tivesse tempo, lia-a de fio a pavio, todos os meses.
Hoje chegou também uma carta da National Geographic americana a propôr-me uma assinatura.
Isto é uma coisa que me acontece com frequência. O Círculo de Leitores a propôr-me que me faça sócio outro vez. A DECO a sugerir-me uma nova assinatura da Proteste.
Num primeiro momento, sou levado a pensar - que disparate... isto só prova como funciona mal a sociedade de consumo, o capitalismo despersonalizado.
Mas, depois, reflicto - afinal de contas, isto é marketing a funcionar no seu melhor. A National Geographic propõe uma assinatura a alguém que eles acham ser o destinatário ideal. Prova disso é que até já tem uma assinatura.

quarta-feira, 5 de novembro de 2003

Infantilidades

O Tareq Aziz disse aos americanos que o Saddam Hussein estava convencido de que não iria haver guerra porque os franceses e os russos lhe tinham garantido que tudo fariam para que não houvesse guerra.
Não sei que infantilidade me espanta mais.
Se a de Tareq Aziz, por estar a contar uma história da carochinha.
Se a dos americanos, por terem acreditado na história.
Se a de Saddam Hussein, por ter acreditado nos russos e franceses.
Se a dos russos e franceses, por terem prometido que poderiam evitar a guerra.
Se a dos especialistas, jornalistas e outros analistas (blogueiros incluídos), por estarem a fazer análises (ia escrever, deitar foguetes...) baseadas numa tal sucessão de infantilidades.

Stars & stripes (2)

De hoje a um ano, a esta hora, os americanos já saberão o nome do sucessor de George W. Bush.
[Actualização: tem razão o Adufe - se for como da última vez (é preciso não esquecer que o W. é candidato de novo...), pode demorar umas semanas...]

Pessimista, eu?

A propósito do repto lançado pelo Bloguitica acerca do pessimismo nacional, lembrei-me de uma curta entrevista a Leonard Cohen que encontrei esta semana num DVD (Later, de Jools Holland).
Quando perguntam a Cohen se ele é pessimista ou optimista, eis a resposta:
«Essa descrição está um tanto obsoleta estes dias. Estamos todos a tentar sobreviver num dilúvio e, quando alguém passa, declaramo-nos pessimistas ou optimistas, conservadores ou liberais. Essas descrições são obsoletas perante a catástrofe em que todos estamos metidos».

Esclarecimento (bis)

Falemos claro. [repetição a pedido das famílias e para evitar equívocos numa época em que até os silêncios, ou principalmente eles, são significativos.]
Sou jornalista, sem qualquer responsabilidade editorial, do Diário de Notícias. Em 4 meses de TdN, escrevi sobre o DN uma única vez (se excluirmos as raras citações, em nada diferentes das que fiz de outros media), de uma forma que em nada fere a relação contratual e ética que mantenho com a empresa que o edita.
A forma como entendo essa relação impede-me de aqui expressar sentimentos e pensamentos sobre a vida interna do jornal, mesmo no que ela tem de interesse público.
Compreendo, também, que isso me limita (dentro de certos limites, perdoe-se a expressão..) nas apreciações que possa fazer sobre o universo mediático português. É uma restrição que me imponho. A primeira nestes quatro meses, mas quero que quem me lê tenha dela pleno conhecimento.
[texto publicado a 26 de Outubro]

terça-feira, 4 de novembro de 2003

O nosso atraso (II)

Concordo com o Ser Portugues (Ter que) (basta, aliás, escrever o nome do blogue para se ficar convencido...), a propósito do repto lançado pelo Bloguitica - em pessimismo ninguém o bate.
Até porque (confesso...) nisto, como noutras coisas, tenho dias.
Tenho, por exemplo, dias em acho que o nosso sistema de saúde até nem funciona assim tão mal. Sou utente do sistema público e não tenho razões de queixa. Garanto. E, por exemplo, as famosas listas de espera para operações, além de serem parcialmente um falso problema, existem em todo o lado.
Mas tenho, por exemplo, dias em que acho que o sistema de justiça português é uma boa merda. E que o problema não está nos meios, mas exclusivamente nas pessoas. Que, para se mostrarem importantes, fazem questão de manter no século XXI procedimentos que nem no século XIX teriam justificação.
Tenho dias, é assim.
É como na política. Uma das coisas que mais me irrita é a permanente generalização do anti-político, tão em voga nos media (e, sim, nos blogues...). Acho que os há bons e os há maus. E que, quer uns quer outros, também têm dias.