segunda-feira, 30 de junho de 2003

Domingo de chuva

Os automobilistas de Lisboa dividem-se em três classes. Os de fim-de-semana, perigosos porque conduzem muito devagar e erraticamente. Os nocturnos, perigosos porque conduzem muito depressa e são muitos seguros de si (pensam eles...) E os que conduzem às horas de ponta (ou seja, tudo o que não é noite ou fim-de-semana). Esses são perigosos, porque estão exasperados com a bicha da ponte ou do IC-19, antecipam o terrível momento da manhã em que terão de encarar o chefe, ou hesitam, fingindo que se apressam, no regresso a uma vida familiar que detestam.
Há, ainda, uma quarta classe de condutores. São os que atacam em domingos de chuva que era suposto serem de Verão. Esses caracterizam-se por atacarem aos magotes, em zonas próximas de centros comerciais. Têm pressa para ir a lado nenhum, ou vagueiam lentamente por paisagens tão fascinantes como a Segunda Circular. São os mais perigosos. São perigosos sem causa.

Baldas à sevilhana (II)

O Aviz indigna-se com os deputados-super-dragões. Não tem de quê. Como já notei no texto (a expressão post soa tão mal...) Baldas à Sevilhanas, aquilo era verdadeiro trabalho parlamentar.

Notas técnicas

Ups... ainda agora comecei e já tenho textos em arquivo. Apesar de, para minha surpresa, a blogosfera ser tão preguiçosa ao fim-de-semana como a generalidade dos media (acho que vai sendo altura de tratar a blogosfera como mais um media - um tema a que voltarei).
Segunda nota técnica: este blogue, por opção própria, não tem caixas de comentários. Isso não quer dizer que abomine o diálogo. O Marco do Correio está ao vosso dispor. Prometo que publicarei. A selecção será totalitária, como diz o outro.
Terceira nota técnica: como vou cinco dias para um país que usa a cedilha, mas talvez não o til (nunca reparei...) não sei se poderei blogar nos próximos dias. Que teclado usarão na Turquia?

sábado, 28 de junho de 2003

Paradas e bandeiradas

A Avenida (a da Liberdade, que em Lisboa não há outra) anda uma animação neste mês Junho. Depois das Marchas, vieram os taxistas, na sexta-feira, e os gays, no sábado. Eu, que vi as duas a partir do mesmo ponto de observação, posso garantiu que ainda há mais taxistas que gays na capital. Cuidado: isto é uma mera constatação e não um juízo de valor.

Ana (menos) Atrevida

Não desanimem. A Ana + Atrevida acabou, mas continua... Ou melhor, vai chamar-se Ego e sai já em Julho. O conteúdo parece que é o mesmo. Mas, convenhamos, muita da graça estava mesmo no título.

Pedro + Atrevido

Entre as qualidades que aprecio em Pedro Mexia, a de ser um verdadeiro conservador está no topo da lista. Por isso, não me espantei quando ele manifestou o secreto desejo de ser entrevistado pela Ana + Atrevida. Uma revista que já acabou. É do passado. Por questões de idade, que não de ideologia, compreendo igualmente que não apreciasse com o mesmo fervor ser entrevistado pelo Século Ilustrado.

O Pipi

Como o Expresso agora é a pagar na Net (nem vale a pena fazer link...), terei que esperar por amanhã para ler a famosa entrevista com O Meu Pipi. É assunto a que gostaria de voltar muito em breve. Para já, vou colocar o link aqui à esquerda. A propósito, só lá estarão os blogues que valem mesmo a pena, na opinião deste mesmo blogue, é claro (a lista é ainda muito incipiente, mas vai crescer...). E, já agora, informação suplementar: não está nos planos da gerência introduzir uma caixa de comentários. Mas, como calculam, eles são bem vindos. O endereço estão a ver qual é. Os originais não publicados não serão devolvidos.

Isso não debato eu

Meia blogosfera anda às turras com o DNa e o Pedro Rolo Duarte. Nesse debate não caio eu. Pelo que tenho lido, 95 por cento daquilo são ajustes de contas, coisas mal resolvidas, invejas, brigas pessoais. Tem pouco a ver com os Blogs, embora ache que tem a ver com o DNa.

Sairam do armário

Os bloguistas portugueses sairam do armário. Andavam anónimos na blogosfera, dão a cara todos os dias nos jornais. Alguns já têm os 15 segundos de celebridade, agora só lhes falta plantar uma árvore (embora, pelo que tenho lido, a maioria precisa mesmo é de fazer um filho...). Anda tudo numa esquizofrenia meio pessoana. Inventamos nicknames, siglas, o diabo a sete, para no fim... darmos a cara.
É claro que isto vai acabar com alguns deles a saltarem para suportes menos perecíveis. Milhares de Produções Fictícias florescerão, haverá sitcoms e talk-shows. As páginas dos jornais acolhererão outros tantos. E ainda há-de sobrar para a rádio.
Isto nada tem de mal. Antes pelo contrário. Todos teremos a ganhar com a rotatividade entre os vários media, diferentes meios de expressão.
Penso, aliás, que, por mais loas que se teçam à blogosfera (a pluralidade, a facilidade de ter uma voz própria, a massificação do debate...) também ela só ganhará com o trânsito, a permeabilidade, aos outros media.

Inferno e perdão

Na SIC terminou hoje a novela O Quinto dos Infernos, coisa bem disposta, animação à brava, sexo tórrido. E em que os palhaços eram... adivinharam... os portugueses. D. João VI em versão completamente alucinada; D. Miguel encharcado em taras sexuais; D. Pedro, o único mentalmente razoável, a renegar isto tudo e a fundar o Brasil. A xenofobia do costume, em versão light, que assim a malta sorri e não se ofende.
Noutros tempos, os dilectos herdeiros daquela cambada de dementes tinham feito um barulho que haveria de se ouvir no outro lado do Atlântico. Sim, nós sabemos que quando D. João VI chegou ao poder já os primos e irmãos da nossa monarquia se tinham casado tantas vezes uns com os outros que foi o que deu...
Isso é uma coisa, a outra é vir alguém de fora gozar connosco. Isso não. Gozamo-nos em família, que, além de fazer rir, nos martiriza ainda mais.
Estranho, por isso, o silêncio sobre O Quinto dos Infernos . Não se pedia que descessem a Avenida, ou que se manifestassem em frente à embaixada do Brasil (ou mesmo em frente à SIC, que sempre garantia maior exposição...). Mas nem um artiguinho de jornal? Os conservadores portugueses fazem jus à tradição: já não são o que eram.

Baldas à sevilhana

Os deputados acham que é trabalho parlamentar ir a Sevilha ver a bola. E acham muito bem. A Sevilha foram também os dirigentes desportivos, os empreiteiros, os autarcas, o jet set com quem os políticos-de-mala-aviada-em-Lisboa fazem as negociatas que desgraçam este país. Trabalho parlamentar, portanto. Os deputados da Nação ali, em são convívio, com aqueles que pagam a sua eleição.

sexta-feira, 27 de junho de 2003

Segundo

«Abria-se então a porta da caixa e saía uma coisa assim. Não lhe sei dizer. Era uma coisa em forma de... Assim.»
(in Uma Coisa em Forma de Assim, ed. Presença, 1985, esgotadíssimo. Parece que vem aí edição melhorada.)

O'Neill, pois claro. Já que falamos de declarações de princípio.

«Eu acho que é muito difícil discernir nesta matéria e decidir o que é de direita e o que é de esquerda. E o que é de direita é sempre mau? E o que é de esquerda, sempre bom?» (in Passo Tudo Pela Refinadora, ed. Notícias, 2003.)

Ok. Respondo eu. Sempre, sempre, também me parece exagero.

quarta-feira, 25 de junho de 2003

Primeiro

«E as coisas? Como vão as coisas? As coisas estão malparadas. O que quer dizer, exatamente, a Coisa? Não é a vida em geral. A Vida é tudo o que tu tocas e que te toca. Já a Coisa é outra coisa.»

O Luis Fernando Verissimo (assim, sem acentos), nem que seja em versão amputada, como é o caso, vai ser um dos visitantes involuntários mais frequentes destas Terras. Porque sim, mas também porque não. O Nelson Rodrigues tem quase tanto espaço como ele na estante. Mas, no que às Coisas diz respeito, este blogue tem tudo a ver com o Luis e nada a ver com o Nelson. Se quiserem, tomem isto como uma declaração de princípios.