terça-feira, 31 de agosto de 2004

Os gatos lá estavam, à janela

Poderá ser - é, de certeza - a contratação bloguística do ano. Lobo Antunes, o psiquiatra, perdão, o escritor, está a alinhar pelos Galarzas. Eis um excerto da sua primeira crónica, sobre Zé Maria:
«Os gatos lá estavam, à janela, um deles ainda constipado com o que fizeste, do dia em que me apercebi que o teu telefone não tocava, eu na casa de Benfica a ver as pessoas passar, a dobrar a esquina, e tu vertiginoso pela calçada abaixo, ao gritos, como se em Agosto alguém ligasse a isso, como se procurasses algo mais do que uma vida simples como tinhamos em África.»

69 no elevador

Desorientado, cansado, pasmado... Eduardo Prado Coelho acabou por não reparar na única coisa verdadeiramente interessante do Ikea. Os elevadores têm capacidade para 5200 quilos, o que os suecos decidiram traduzir para «69 pessoas». Sim, 69.

Estamos sempre a ensinar...

O MacGuffin [Contra a Corrente] acha que falo de andorinhas... quando o que está na moda são as pombinhas com intermitências de falcão, ou vice-versa.
Prefere ignorar que os dois actos antisemitas mais mediatizados dos últimos meses, em França, pura e simplesmente não foram actos antisemitas - primeiro, foi a senhora com o carrinho de bebé que fingiu ser atacada numa estação de comboio; agora foi um judeu que incendiou um centro social.
E prefere ignorar a terceira citação que fiz do Le Monde (uma provocação, confesso...): «une série de profanations de cimetières juifs, musulmans et chrétiens».
Entretanto... no Médio Oriente, o resultado da política Bush/Sharon está à vista. Tristemente à vista. Aposto que, neste caso, uma andorinha fará a Primavera - por culpa de um grupelho de idiotas fanáticos, lá virão culpar os palestinianos... E Israel largará umas bombas sobre uns inocentes. E destruirá mais umas casas...

Juízes

Uma simples juiza de turno chegou a semana passada ao tribunal, abriu o processo Casa Pia e... mandou prender uma data de gente.
Eu exigo saber qual a filiação partidária da senhora. Em que clube de futebol está o marido inscrito. E, sobretudo, se alguma vez algum familiar foi excluído na fase de pré-selecção do concurso 1, 2, 3.

Late night blogging

Hiii... Oh Daniela!!! Agora não dá.
[Patrocínio Sagres]

segunda-feira, 30 de agosto de 2004

Entretanto, em Paris...

Se ele não estivesse embarcado a bordo de uma fragata da Marinha portuguesa, a impedir que as holandesas abortadeiras ponham o pé no areal da Figueira, recomendava ao MacGuffin [Contra a Corrente] a leitura desta notícia:

Un suspect a été placé lundi 30 août en garde à vue à Paris dans l'enquête sur l'incendie criminel d'un centre social juif du XIe arrondissement dans la nuit du 21 au 22 août. Cet homme d'une quarantaine d'années est lui-même membre de la communauté juive qui gérait le centre, où il travaillait bénévolement comme "homme à tout faire", selon les source judiciaires.
(...)
A la suite de cette arrestation, le président du consistoire de Paris, Moïse Cohen, a appelé les juifs et les politiques "à un peu plus de raison" dans leurs réactions. Il a également mis en cause la "surmédiatisation" des actes antisémites et "la précipitation" des politiques "qui craignent d'être accusés de ne pas en faire assez".
(...)
L'incendie, survenant après une série de profanations de cimetières juifs, musulmans et chrétiens, avait suscité une vive émotion en France.
[in Le Monde, 30 Agosto 2004]

As fragatas da Nação

Hipocrisia é a palavra que melhor define a situação portuguesa face ao aborto - porque ele continua a ser praticado, mais ou menos às claras, aqui ou em Espanha, apesar de se manter ilegal.
Foi por isso que aplaudi a acostagem do tal Barco do Aborto - para quebrar o teimoso silêncio que sempre se abate sobre o assunto quando não há um julgamento ou outro facto mediático que obrigue os políticos a sairem da letargia.
A vinda do tal barco - entendamo-nos - é um puro gesto político. E, nessa medida, está a cumprir o seu objectivo - deixar a nu, de novo, a hipocrisia.
E ainda tivémos um bónus - a cena patética das fragatas a guardar a perigosa embarcação. Num país triste, tão triste e pobre, ficámos a saber - os mais distraídos, pelos menos - quais são as verdadeiras prioridades dos «donos da Pátria».

Sucesso com i

Uma das coisas que me impressionou na jornada olímpica que já lá vai foram as referências dos media portugueses ao carácter de exemplo do atleta Francis Obikwelu.
Eu bem sei que vivemos numa sociedade hiper-competitiva. Numa sociedade do sucesso a todo o custo.
[Sintomático disso mesmo foi quando o jornalista da TVI, após ouvir o professor Marcelo elogiar o desempenho olímpico dos nossos atletas, passou directamente para o seguinte: «Pois, mas ainda esta semana soubemos que o nosso poder de compra continua a baixar face à Europa...»]
Obikwelu é, obviamente, um exemplo de sucesso, que merece elogio.
Convém é não esquecer que milhares e milhares de imigrantes nunca terão «sucesso». Nessa medida, o «exemplo» de Obikwelu pode até ser perigoso. Porque há muitos imigrantes - a maioria, presumo - para quem a sobrevivência é já um sucesso.
[E, é claro, convém não perder de vista que Obikwelu, mais que «exemplo», tem de ser considerado «excepção».]

Post intelectual

Bom dia.

sábado, 28 de agosto de 2004

Separados à nascença (II)

João Soares, o último dos santanistas.

Medo até de ter medo

Pacheco Pereira, na versão psicanalítica, desmonta esta semana os medos de Santana Lopes. O primeiro, numa carta aos portugueses... perdão, aos militantes, diz que não tem medo praticamente de nada. E Pacheco explica como essa insistência na falta de medo pode esconder, afinal, um enorme medo. Uma espécie de «exorcismo», diz ele. Um exercício de auto-convencimento, dirão outros.
O engraçado de toda esta história é que Pacheco desmonta os medos de Santana na Sábado, uma revista que, meia dúzia de páginas à frente, tem uma secção semanal intitulada OS MEUS MEDOS, onde personalidades públicas confessam medos aos montes - dez de cada vez, para ser mais preciso.
Eu, se estivesse no tal gabinete de imagem de Santana, metia uma cunha à Sábado para ter o patrão na tal coluna na próxima semana.

A bola (às vezes...) é redonda

Afinal... a RTP lá comprou uns jogos de futebol para mostrar aos emigrantes. Salvou-se o serviço público. Ufa.

Olha, leva lá a medalha

Parece que um leitor do Contra a Corrente gostaria que eu publicasse uma foto do primeiro atleta israelita a ganhar ouro nos Jogos Olímpicos.
É claro que eu poderia armar-me em politicamente correcto e dizer que só darei os parabéns ao rapazola israelita quando houver ouro para um palestiniano. Mas a verdade é que TdN é alérgico a fotos... e um pouco parco em elogios.

sexta-feira, 27 de agosto de 2004

O livro de Santana

Ontem, ainda mirei e remirei a Visão, tentando perceber que livro grosso prenderia a atenção do nosso primeiro... Infelizmente, a tarefa exigia mais do que aquilo que estava disposto a conceder-lhe. Rui Tavares [Barnabé] foi mais paciente.

Mais notícias do país mais rico do mundo

Washington, 27 août (AFP) - La croissance du produit intérieur brut (PIB) a été révisée en baisse à 2,8% au 2e trimestre aux Etats-Unis (en rythme annuel) contre 3% annoncée précédemment, le déficit commercial venant aggraver la morosité de la consommation, a indiqué vendredi le département du Commerce.
[Publica-se a notícia em francês apenas com o propósito de fornecer aos bushistas militantes a possibilidade de se defendereem: «Isso são invenções dos franceses».]

Visão, um readers digest

Presumo que a Visão não possa ser lida on-line. O best-of que o Barnabé está a fazer da entrevista é, por isso, autêntico serviço público.

O pastel de nata

Não sei se alguém já disse ao Francisco que a Visão - além de ter na capa o Santana a dizer, como dele se esperaria, que «fala de tudo» - tem lá dentro umas páginas de reportagem sobre a aventura do pastel de nata à volta do mundo. Esqueceram-se foi do Brasil...

quinta-feira, 26 de agosto de 2004

Heee's BAAAACK

Cumpre-me o doloroso dever de informar que o gajo regressou. Agora, é a pagar. Ah... e o gajo grava tudo. Atchim...

Notícias do país mais rico do mundo

The number of Americans living in poverty rose by 1.3 million last year, to 35.9 million, while those without health insurance climbed by 1.4 million, to 45 million, the Census Bureau reported today. It was the third straight annual increase for both categories.
[The New York Times]

Separados à nascença

Só hoje percebi até que ponto Santana Lopes e José Sócrates são almas gémeas.
Depois da entrevista de Sócrates, ao Expresso, cheia de citações, a entrevista de Santana, hoje à Visão, mostra o estadista a ler o Le Monde, na primeira página, um livro grosso, na página 34, e uma resma de papelada, na página 37.
Estamos, pois, perante dois leitores furiosos...
[O facto de Sócrates ter falado ao jornal laranja de Balsemão e Santana à revista rosa do mesmo Balsemão só mostra como o Bloco Central continua muito bem oleado. Muito bem, mesmo.]

O tempo das virgens

Parece que há, nos jornais, notícias sobre a Casa Pia que não citam a fonte, os blogues...
Mas onde andou toda esta gente, nos últimos dois anos, para ainda não ter percebido que, no processo Casa Pia, não há fontes de informação, ou sequer investigação jornalística, mas apenas, e tão só, centrais de informação?
Definitivamente, chegou o tempo das virgens.

quarta-feira, 25 de agosto de 2004

A mentira compensa

Benjamin Ginsberg, da equipa de advogados da campanha eleitoral de George. W. Bush, demitiu-se, após ter admitido que tinha dado aconselhamento jurídico aos veteranos que lançaram um spot pondo em causa os actos de coragem que terão levado John Kerry a receber cinco medalhas pela sua participação na guerra do Vietname.
Fontes independentes - a agência Associated Press, por exemplo - haviam atestado a veracidade dos actos de coragem em que Kerry esteve envolvido.
A campanha de Bush negou desde sempre qualquer ligação ao grupo de veteranos e mostrava-se mesmo ofendida quando o lado de Kerry a acusava do contrário. O W. chegou até a fazer uma declaração, angélica, solidarizando-se com o candidato democrata.
A história teve óbvios efeitos negativos da popularidade de Kerry - 20 por cento do eleitorado americano está, de alguma forma, ligado ao serviço militar.
Que o spot dos veteranos era mentiroso, já se sabia. Agora sabe-se que, afinal, há ligações entre a campanha de Bush e o spot.
Nisto da mentira, o mal está em começar. Porque a mentira rende sempre - neste caso, por exemplo, o mal está feito e não há desmentidos ou revelação de inside stories que façam o relógio andar para trás.
A mentira já tinha compensado no Iraque - tanta gente supostamente esclarecida que embarcou nela... e mais, continua agarrado a ela, mesmo que tudo já está tão claro -, porque é que não haveria de funcionar agora?
Lá, como cá, lançar lama sobre as pessoas resulta.

Virgem procura-se

... de preferência com a profissão de juiz.

Então, sai mais uma repetição

MacGuffin, chamar-me patético e vulgar é um bocadinho de mau gosto... Até cheguei a pensar que era uma forma manhosa e rasteira de pôr fim à conversa.
Dito isto - que, parecendo acessório não o é - passemos ao que interessa. Sim, que eu não pus ponto final nenhum em conversa alguma. Vou é repetir-me pela enésima vez, porque, talvez o MacGuffin não tenha reparado, mas há vários posts que estamos a dizer o mesmo.
Eu digo que muitos dos actos alegadamente antisemitas em França nada têm a ver com o antisemistismo, mas com o conflito do Médio Oriente; o MacGuffin acha que o antisemitismo é o pano de fundo de toda a história. Exemplo: acho que se um francês chamar «porco judeu» a alguém, isso é antisemitismo; se o ofensor for um árabe a viver em França, acho que as razões são outras. E acho que estou farto de repetir isto.

A utilidade disto

Não páro de me surpreender com as coisas que vou aprendendo nos blogues. Por exemplo:
A melhor maneira de limpar uma frigideira com comida agarrada ao fundo é deixá-la de molho em detergente durantes vários dias e, quando ninguém estiver a olhar, deitá-la para o lixo.

Um caso de convicção

AAA, no Blasfémias, publicou uma notícia sobre o famoso barco do aborto, porque, dizia, os media portugueses iriam passar-lhe ao lado. Por causa dos critérios de «esquerda e extrema esquerda» que comandam os nossos media. Como eu o compreendo... estamos a falar, é claro, dos media propriedade desses perigosos esquerdistas que dão pelo nome de Balsemão, Paes do Amaral e aquele senhor da Cofina de que não me lembro o nome. Sim, esses media dirigidos pelos perigosos extremistas de esquerda José Manuel Fernandes, arquitecto Saraiva e Zé Rodrigues dos Santos.
Para o AAA, notícias sobre aborto, só aquelas veículadas pelas agências de informação cristãs - garantem mais independência sobre a matéria.
Mas eis que, poucas horas após AAA ter manifestado tão justas preocupações sobre os perigosos caminhos dos media nacionais, eis que, pelo menos dois deles (e dos mais importantes - o Público e o DN) centravam a abordagem da visita a Portugal do dito barco nas questões legais e um deles, o Público, falava mesmo, oh horror, da tal questão do limite de operação do barco que o AAA jurava que ia ser omitida.
Uma chatice. A puta da realidade não há maneira de se conformar às nossas convicções.

Histórias de blogues

Há uns dias, resolvi comentar um texto do Barnabé sobre a Maria Bethânia que tinha lido durante as férias, apesar de ter reparado que o assunto era vastamente comentado no próprio blogue. Não tenho sistema de comentários e, por uma questão de reciprocidade, não costumo frequentar os dos outros.
Esse texto sobre a Bethânia mereceu um comentário por mail de uma leitora e depois uma resposta do Mário Pires. A primeira leitora mandou-me um mail a seguir e depois percebi que também tinha um blogue [Espelho Mágico]. Digo «tinha» porque já não tem.
Nas caixas de comentários do blogue da Manela, dizem que uso gravata e que gosto de ser alimentado pelos outros (blogues, entenda-se). Gravata, muito de vez em quando; quanto à alimentação, cada qual come do que gosta (desde que haja quem queira ser comido, bem entendido).
Vem tudo isto a propósito dos mal-entendidos que se podem gerar por estas bandas - às tantas, parecia uma daquelas conversas telefónicas com as linhas todas trocadas.
Resta-me lamentar o fim do Espelho Mágico - o registo pessoal era bem interessante e a autora foi afável nos contactos escritos que mantivémos. É pena.

Desculpem se a pergunta vos incomoda

É impressão minha, ou houve muito menos foguetório com a medalha do Rui Silva do que com a do Francis Obikwelu?
Ah... pois. Foi só porque uma era de prata e a outra de bronze. Está tudo explicado.

terça-feira, 24 de agosto de 2004

Eu odeio judeus

Eu odeio judeus, eu odeio judeus, eu odeio judeus, eu odeio judeus...
[Pois é, estou de castigo, a escrever cem vezes no quadro «eu odeio judeus». É para me convencer da teoria do MacGuffin - como discordo das soluções dos EUA/Israel para o Médio Oriente, seguramente que odeio judeus. Até porque sou europeu... arraçado de árabe, como quase todos nós.]

Uma resposta

O MacGuffin pergunta - o que se passará, então, de diferente em França? - e eu, modestamente, respondo: França tem uma das maiores e mais consolidadas comunidades árabes da Europa.

Que números tão curiosos...

Foram ontem conhecidas umas estatísticas da União Europeia sobre a evolução do poder de compra.
Acho especialmente graça às datas e às percentagens deste parágrafo:
Ainda segundo este estudo, o poder de compra dos portugueses em relação à média da actual União Europeia (25 países), aumentou de 1995 (73 por cento) até 1999 (77), tendo em seguido estagnado durante três anos consecutivos e sofrido uma diminuição em 2003 (75).

segunda-feira, 23 de agosto de 2004

O barco

Há por aí um certo ruído à volta de um barco onde se praticam abortos e que vai acostar a terras lusitanas.
Apraz-me esse ruído, que incomoda o longo e teimoso silêncio sobre o assunto.

Antisemistimo (ainda, outra vez)

Eu bem dizia que não me deveria meter, outra vez, nesta coisa do antisemitismo... Dei uma volta pelos blogues do costume e o tema é tratado de uma forma que não me agrada - as convicções resvalam com a maior das facilidades para a pura má-criação e o insulto. Cenas de ódio que dispenso, quando pretendo apenas tentar perceber.
O Contra-Corrente, eventualmente para provar que a vida existe depois das férias, resolveu meter os pés pelas mãos.
Ele, que acha «muito difícil separar o que são actos contestatários da política do Estado de Israel, do que são actos de racismo puramente antisemitas», acaba por concluir que «as investidas contra a comunidade judaica em França [são] causadas por um misto de motivações, onde o papel do racismo antisemita é preponderante.» A isto chama-se pensamento veloz...
E, afinal, é tão simples o que escrevi: qualquer lista dos actos contra judeus em França, nos últimos meses, mostra que grande parte (acho que nem sequer falei em maioria...) foram praticados por árabes. Logo, não vale a pena vir com o chavão do «ancestral» antisemitismo europeu.
E disse ainda - e insisto - que misturar tudo (como fazia um famoso relatório da UE vetado há uns meses...) no caldeirão do antisemitismo não leva a lado nenhum, simplesmente porque não é rigoroso. Eu pensava que isto era claro...

Paixões...

E a Julinha, é amiga da Vanessa?

domingo, 22 de agosto de 2004

Filosofia - escola de Belém

Há quem, apressadamente, veja no nosso Presidente um descarado pré-socrático. Permito-me discordar - estamos perante um platónico. Genuíno.

Gente que (não) me lê

Deve estar a acontecer com todos. É divertido. Agora, cada vez que publico um texto, sou visitado logo a seguir por uma data de gente que não sei quem é. Ele são espanhóis, árabes de várias inclinações, americanos genuínos... A culpa é da nova barra do Blogger e do seu botão NEXT BLOG, que atira o pessoal para o blogue que acaba de ser actualizado. Catita... Alimenta os contadores, mas acho que aquela malta está pouco interessada no que a gente anda a escrever. Enfim, a verdadeira aldeia global, Babel.

Bola - um contributo

Alberto Arons de Carvalho - apesar da intensa acção de vigilância a Morais Sarmento e Manuel Alegre... - ainda vai tendo tempo para ler blogues. E, como especialista na matéria, enviou umas notas sobre futebol e serviço público. Em que o PS, sem surpresa, sai a ganhar. Aí vai o essencial. Quem tiver algo a acrescentar/contradizer, já sabe, o mail está ali em cima:
1. Se considerarmos, como o faz a generalidade da doutrina europeia, que o serviço público tem a obrigação de ter uma programação dirigida todos os públicos e não apenas a minorias, o futebol deve integrar a respectiva programação, desde que com conta peso e medida. Nessa matéria, no último ano, na RTP e na RDP, bateram-se os anteriores máximos de jogos transmitidos por época, o que não deixa de ser irónico se nos lembrarmos que quando o PS estava no Governo os deputados do PSD eliminavam o futebol de uma desejável programação de serviço público e criticavam duramente a RTP por transmitir um jogo por semana do campeonato nacional, mais alguns jogos europeus.
2. Curiosamente, quando foi criado o canal Sport TV, apenas acessível a quem pague uma verba específica para o efeito, caiu o Carmo e a Trindade, porque o futebol deixaria de estar acessível ao povo. Na altura, tal como se prevê na directiva europeia Televisão Sem Fronteiras, foi criada a chamada lista dos acontecimentos que de interesse generalizado do público, obrigatoriamente difundidos em canais nacionais de acesso não condicionado, a partir da qual constaria até hoje um jogo do campeonato nacional em que estivesse uma das três equipas mais importantes. Hoje, meio milhão de casas recebe a Sport TV, pelo que o actual Governo deveria ter a coragem de reduzir essa lista, nomeadamente deixando de impor o tal jogo por fim-de-semana...
3. [AAC junta ainda alguns preceitos legais, através dos quais se percebe que a TVI e a RTP-I ainda poderão entender-se sobre a transmissão dos jogos para o exterior.]

Bola - uma imagem

Que estupidez... não sei onde foram buscar essa ideia de que não gosto de futebol.

Bola - emigrantes não foram esquecidos

No Golpes de Vista, uma informação útil para o Ma-Schamba: não faltará bola na RTP-Internacional e, melhor, na RTP-África. Só não é serviço público na RTP doméstica...

Outra vez o antisemitismo na Europa

O Nuno Guerreiro [Rua da Judiaria] pergunta, retoricamente, «Não há antisemitismo em França?», para depois responder com um vasto elenco de actos violentos contra judeus.
Há uns meses, já me envolvi em algumas trocas de ideias sobre o assunto, a que não me agrada regressar - até porque, à semelhança da generalidade dos intervenientes nestas conversas, vou repetir-me.
Mas basta passar atentamente os olhos pela lista do Nuno para se perceber que muitos daqueles actos violentos nada têm a ver com o antisemitismo, sendo antes a reprodução na Europa da loucura que se vive no Médio Oriente.
E, já agora, repito-me mais um bocadinho - parece-me que esta confusão entre antisemitismo e contestação (árabe ou europeia, violenta ou não violenta) às opções políticas do Estado de Israel não serve aqueles que se preocupam com o verdadeiro antisemitismo e outras xenofobias que ainda por aí andam (vejam o caso dos portugueses na Irlanda).

Futebol de serviço público

Vi pouco comentada aquela que, levada a sério, seria uma das afirmações mais importantes dos últimos tempos. «É preciso eliminar o lugar-comum de que o futebol é serviço público», disse Almerindo Marques, presidente da RTP.
Descontemos o facto de, eventualmente, estarmos perante uma mera afirmação de mau perder - tais palavras foram ditas no dia em que se soube que a TVI tinha ganho a transmissão dos jogos da Superliga (já agora, a RTP também concorreu, o que descredibiliza um pouco as palavras de Almerindo).
A afirmação é espantosa - habituámo-nos, desde sempre, a que o futebol tenha via aberta, prioridade, em toda a programação e informação dos media electrónicos, públicos ou privados. Os senhores que marcam as horas dos jogos são soberanos em questões de programação televisiva.
É altamente questionável se uma actividade fortemente comercial pode ser serviço público - mas, como se trata de bola, até a intelectualidade tem feito vista grossa.
A verdade é que o futebol tem sido o principal, se não o único, motor das audiências do nosso serviço público, ignorando-se o impacto que terá uma mais que certa quebra. Porque muitas das coisas acertadas que têm sido feitas na RTP são sustentáveis, em termos públicos e orçamentais, porque as audiências melhoraram.
O que vai fazer agora a RTP? Vai transmitir jogos de futebol da liga inglesa (haverá sempre uma justificação para que a alta qualidade daquele futebol seja serviço público...)? Ou vai apostar em programação de cariz claramente «serviço público» para combater a futebolização da TVI?
O Ma-Schamba levanta outra questão interessante - e os emigrantes? Questão duplamente interessante. O Ma-Schamba considera que o futebol é factor de «identidade e afectividade» para quem vive longe e eu nem sequer discuto, apesar de ser daqueles raríssimos portugueses que não percebem qual o interesse de ver 22 gajos a correr atrás de uma bola durante duas horas. E propõe ainda que a RTP-I transmita os jogos da TVI. É uma velha discussão - a RTP-I deveria ter programação das estações comerciais. Vamos ver o que acontece agora, nomeadamente ao nível do Estado (governo), que noutras ocasiões sempre tem actuado no pressuposto de que o futebol é serviço público, nomeadamente quando se destina aos emigrantes.

Chegam mails (Bethânia 2)

Diz-me o Mário Pires:
«A música suscita sempre muitas paixões, e as paixões não são razoáveismuitas vezes. Nunca me agradou a carreira de Bethânia, prefiro sempre criadores a intérpretes, por melhores que eles sejam. Um intérprete sem autores fica descalço."Não gostar de Bethânia é não ter vivido" ??? Poderia dizer o mesmo e em relação a autores desconhecidos e mortos há séculos, mas não o farei porque seria uma injustiça para com quem vive uma vida plena sem se preocupar com os gostos deste ou daquele.»
Já agora, vale a pena dar uma espreitadela às fotografias de muitíssimo bom gosto do nosso Retorta.

sábado, 21 de agosto de 2004

Questões de agenda

No Blasfémias, colocaram um cartoon que é bem o símbolo dos equívocos em que este pobre planeta naufraga - as Nações Unidas como impotente espantalho face a um feroz bando de corvos.
Mas basta ver os nomes dos corvos para nos apercebermos do engano. Aquela não é a agenda da ONU, aquela é a agenda dos Estados Unidos.

Os dias que temos

«Le crédit accordé d'emblée aux mensonges de Marie L., qui avait inventé une agression antisémite dans le RER, le 10 juillet, illustre la place centrale qu'occupent désormais les victimes dans nos sociétés. "Le Monde" a interrogé des sociologues, des philosophes et des historiens sur cette sacralisation du statut de la victime. La plupart y voient l'émergence d'une société pessimiste, rongée par l'incertitude, passée de l'espoir d'un bonheur collectif à la crainte d'un malheur individuel.»
[Dossier, hoje, em Le Monde]
Excelente síntese destes dias - à esperança de uma felicidade colectiva, seguiu-se esta crença na infelicidade individual.

Chegam mails

«Não tens comentários...e apeteceu-me, logo ali, dizer o que pensei do teu post.
Penso que só não gosta de bethânea quem, efectivamente, nunca soube o que era emocionar-se ao som de uma sua música. Quem não assistiu, maravilhado, nos anos 80, aos espectáculos no Coliseu, tão próximo do palco que se via ("veja o brilho dos meus olhos..."), o brilho dos olhos, os gestos, a emoção ("o importante são as emoções que eu vivi...") que a sua linguagem coroporar transparecia e nos transmitia...
Concordo contigo, os últimos álbuns não me dizem quase nada. O cansaço, a repetição, esgotam, seja qual fôr o projecto.
Mas não gostar de Bethânea é...não ter vivido.»

[Mar]

sexta-feira, 20 de agosto de 2004

Erros de português que importa assimilar

Aquela história ali em baixo dos assessores de imprensa lembra-me um dos erros de português com que mais tenho deparado - assessores escrito com c, ou seja, acessores.
E, de facto, acessores parece bem mais correcto. Não apenas são eles que têm acesso a coisas a que os comuns dos mortais não têm, como permitem acesso a esssas coisas (nem a toda a gente, nem sempre - o que só lhes dá mais poder... ), como, na verdade, a carreira de assessor é uma das que dá mais acesso. Em termos absolutos.

Livros que ninguém escreveu

«Para uma História Universal do Equívoco». Eis o livro que ainda ninguém escreveu. E era tão fácil...

quinta-feira, 19 de agosto de 2004

Ála... direita

Ministros de Santana Lopes Pedem Mais Assessores de Imprensa .
Ou me engano muito, ou a blogosfera vai sofrer novo rombo.

Mortes estúpidas

Com uma criança entre a vida e a morte devido à queda de mais uma baliza, outra criança é ferida num acidente do mesmo género.
Esta malta que anda por aí a espalhar balizas assassinas não vê televisão ou será simplesmente estúpida?

Bethânia - gostar, ou talvez não

Numa das blogo-espreitadelas das Férias Grandes dei com um texto do Rui Tavares [Barnabé] que me ficou atravessado. Era sobre a Maria Bethânia. E digo atravessado não porque discordasse particularmente do desamor confessado pelo Rui, mas porque estas questões do gosto - é disso que se trata -, particularmente na música, me deixam sempre razoavelmente desorientado.
A Bethânia, por exemplo. Há discos, canções, momentos dela que, seja qual for o ângulo pelos quais os peguemos, são simplemente superiores. E depois há muita coisa banal.
Mas a questão Bethânia levanta um outro aspecto - o da sobreexposição. Vivemos rodeados de música, há gente que já ouvimos cantar há décadas, têm disco novo todos os anos. Perde-se a frescura, a surpresa, eles perdem-se pelos cantos dos seus próprios tiques, traços distintivos, limitações.
Veja-se um caso paradigmático - a Norah Jones. Casa canção, ouvida com serenidade, com disponibilidade, é uma pequena pérola, a voz é excelente, os arranjos óptimos, tudo muito bom. E isto ultrapassa a questão do gosto - aquilo é bom, mesmo passado por qualquer crivo da técnica musical.
Mas a verdade é que, ao segundo disco, já ninguém suporta a Norah Jones, toda a gente acha aquilo banal. Acho que aconteceria o mesmo com qualquer um daqueles discos que temos na nossas estantes mais íntimas - passem-nos 10 vezes por dia, sete dias por semana, em 30 estações de rádio de Lisboa e vão ver que, ao fim de pouco tempo, já não aguentam mais.
O modo, fácil, acessível, barato, como hoje temos acesso a tudo e mais alguma coisa tem essa pequena desvantagem.
Voltando à Bethânia. Gostar, ou não, será sempre uma questão de... gosto. E, talvez, de emoções. Mas, aí, a conversa é outra.

terça-feira, 17 de agosto de 2004

Morto pela porta-voz

Um porta-voz, por definição, não existe. Ele é a voz de outrém.
Ao demitir-se, Sara Pina, não apenas fez o que devia, a única coisa que devia, como matou o procurador Souto Moura.

Melancolia para uma tarde de Agosto

O Jean Ferrat está para ali a cantar Aragon com aquela voz possante e melancólica estilo poeta Alegre. Já nada disto se usa.

Venezuela e Chávez

Entendamo-nos.
Encontro em Hugo Chávez mais defeitos, muitos mais, que qualidades. Por exemplo:
1. A ligação às forças armadas. Desde a tentativa de golpe de estado de 2002, o regime ficou totalmente militarizado (se assim não fosse, há muito que a oposição já teria derrubado Chávez através de outro golpe). É inaceitável que uma democracia encontre na força das armas um dos seus principais sustentáculos.
2. A crescente politização do sistema judicial, nomeadamente ao nível superior (supremo).
3. A ideologia claramente ultrapassada e inaceitável, misto de um marxismo não assumido com um personalismo bacoco.
4. etc, etc.
Apesar de todas estas reticências, noto o seguinte:
1. Em três anos, a oposição não conseguiu chegar a um programa comum. Pelo contrário, a oposição política, pura e simplesmente, desintegrou-se e a condução do processo de contestação a Chávez foi entregue à oposição económica - os empresários (fala-se sempre em sindicatos, mas isso é uma palermice - os sindicatos, tal como os conhecemos, não existem na Venezuela).
2. Durante estes três anos, a oposição não conseguiu fazer passar a sua mensagem, apesar de, através dos empresários, controlar mais de 90 por cento dos media, incluindo as principais estações de tv. E a generalidades dos media privados são autênticas máquinas de propaganda da oposição.
3. A economia da Venezuela (e talvez seja essa a sua maldição...) assenta totalmente no petróleo e, apesar dos gigantescos negócios das últimas décadas, a pobreza não parou de aumentar - as descomunais favelas que rodeiam Caracas são anteriores a Chávez. É, por isso, perfeitamente natural que os venezuelanos virem costas a uma oposição herdeira directa desse tempo pré-Chávez e que nada de novo tem para lhes propôr.
Em síntese: para milhões de venezuelanos, Chávez representa, pelo menos, a esperança de dias melhores. Diz-se agora que a redistribuição de riqueza com base no petróleo é insustentável a prazo. Que seja, pelo menos haverá alguma redistribuição durante algum tempo. No fim, a situação será certamente mais equilibrada e, depois de Chávez, chegará alguém que perceba que um país com as potencialidades da Venezuela pode fazer mais qualquer coisa que viver à custa do dinheiro fácil do petróelo.
Esclarecimento adicional ao nosso estimado Jaquinzinhos: também critico que países, como os EUA, que não se importam de fazer volumosos (e são mesmo muito volumosos...) negócios com Chávez, perante um referendo validado por observadores internacionais insuspeitos, venham contestar os resultados. Esse isolamento a que os EUA votam quem não abana a cauda a cada uma das suas directrizes talvez seja o principal factor de fortalecimento de figuras como Chávez.

Uh ah, Chávez no se va !

É delicioso assistir ao contorcionismo iluminado de quem, por estas bandas, não aceita o resultado do referendo na Venezuela. Há de tudo - da desvalorização do voto em democracia à desvalorização do discernimento dos eleitores.
A maioria dos venezuelanos - pobres, que vivem nas gigantescas favelas de Caracas ou no ainda mais pobre interior - estão com Chávez. Alheios à pequena mercearia da política internacional ou às grandes jogadas geo-estratégicas, preferem este poder que - apesar de todo o folclore e toda a corrupção - ainda vai redistribuindo alguma riqueza, ao contrário da agora chamada oposição, que, durante as muitas décadas em que esteve no poder, apenas contribuiu para tornar a Venezuela naquilo que ela é hoje- um país com muitos milhões de pobres e uns milhares de milionários.

segunda-feira, 16 de agosto de 2004

1,2... 1,2,3... teste... 1,2... 1,2

Click, click, toc, toc... Ainda está aí alguém?

quarta-feira, 11 de agosto de 2004

Um pacto?

Já cá faltava... Sai agora um pacto de regime sobre justiça. Assim, à primeira vista, uma mão cheia de objecções:
1. A circunstância. Legislar sobre factos concretos, para resolver situações concretas, sob a pressão do concreto, é o pior caminho. Acresce que as leis que temos, dizem os especialistas, até nem são más - descontando pequenos acertos -, falta é aplicá-las.
2. A política. Quando se fala em pacto de regime fala-se em acordo entre partidos (fale-se claro, entre PSD e PS), quando o que está em causa (códigos penal e de processo penal) necessita apenas de maioria simples na AR. Ora, quando um partido está no poder deve assumir a responsabilidade que lhe foi atribuída e tentar aplicar o programa com que foi eleito - tentar diluir isso em generalidades e consensos, tantas vezes paralisantes e desculpabilizantes, é a negação da política.
3. O resto. O pacto de regime, se bem percebo, é restrito aos partidos, excluindo os diversos actores do sector da Justiça. Ou seja, destina-se exclusivamente à esfera legislativa, deixando de fora quem lida directamente com os casos. Se acham mesmo necessário fazer um pacto de regime não seria de incluir os juízes, os investigadores, os advogados? É difícil? É demorado? É inconsequente? Custa experimentar?
4. O fundamental. Na justiça, como em tantas outras coisas, o problema não está nos formalismos, nas leis, mas nos comportamentos. Como se faz um pacto de regime para os comportamentos?

Parabéns, malta

Só o meio gás, as férias e este tempo estranho (não confundir com «estes tempos estranhos»...) justificam o quase esquecimento de parabenizar o Glória Fácil pelo primeiro aniversário. Um quarteto curioso [expressão para ser lida por Mota Amaral, naquele açoriano tão querido a, pelo menos, três quartos deles].

terça-feira, 10 de agosto de 2004

A verdade (outro caso)

Vejam o que está a ocorrer com o caso das cassetes, que já levou à demissão do director da PJ.
Onde está a verdade? Quais são os factos?
Eu, simplesmente, não sei. E, novamente, volto a espantar-me com a facilidade com que se tecem comentários à volta do tema.
O processo Casa Pia é o que se sabe - uma feira de enganos, cíclica, eterna.
O processo Apito Dourado, esse, pura e simplesmente não existe.
E, já agora, alguém se lembra qual o caso que (ainda) estava na berra quando a militante do CDS Celeste Cardona chegou a ministra da Justiça e Adelino Salvado a director da PJ?

A verdade (um caso)

O João Miranda [Blasfémias] acha que eu acho que as mentiras do senhor Michael Moore devem ser desculpadas por via das mentiras do senhor George W.
Ora o que eu verdadeiramente acho é isto: «E depois há sempre o problema da bitola - o Moore é mentiroso porque despreza a realidade. Mas qual realidade? A da dupla Bush/Blair? Bullshit...»
De onde se depreende que:
1. Eu não acho, ou pelo menos não o disse, que o senhor Moore seja mentiroso.
2. O que eu acho é que, nos dias que correm, não há verdades absolutas. Simplesmente, não há verdades.
3. Acho, então, que o senhor Moore tem direito à sua verdade, assim como o senhor Bush à sua. Exemplo: o senhor Moore acha que o senhor Bush tem laços promíscuos com a família real saudita; o senhor Bush acha que tem relações perfeitamente normais com a família real saudita. Quem tem razão? Eu não sei. E o ponto que pretendia sublinhar com o primeiro texto essa exactamente esse - duvido que alguém possa estabelecer a verdade sobre uma série de questões levantadas pelo filme do senhor Moore. Espanto-mo, por isso, com as certezas absolutas que por aí andam - certezas que, curiosamente, coincidem com a versão bushista da coisa. E escusam de me vir com os factos - na sociedade hipermediatizada em que estamos mergulhados, os factos são meras construções. Ficcionais. Há-os para todos os gostos.

segunda-feira, 9 de agosto de 2004

Blog de Verão

'Tou-te a ler.

terça-feira, 3 de agosto de 2004

Olhem... 'té já

- Jota, agora sou eu que vou de férias. E tu vens comigo, que já estás a precisar de blogodesintoxicação.
- Férias outra vez? Não será exagero?
- Qual quê? Tu não viste o professor na TVI? O governo ainda não tem um «objectivo nacional». Estás aí a dar o litro para o boneco. É de aproveitar. Vambora...

O que é isto?

Olha, olha... agora mesmo, no canal 1 da RTP, está o Zeca Afonso mais um Coliseu inteiro cheio de comunistas a cantar a Grândola. E ninguém faz nada?

Bom ó-ó

Acabo de ver nas televisões um avião das Nações Unidas a largar comida sobre uma área remota do Darfur.
O clube da indignação já pode dormir com a consciência um bocadinho mais tranquila. Ou talvez não - as Nações Unidas começaram a funcionar. Devagarinho, muito devagarinho, mas já começaram.

segunda-feira, 2 de agosto de 2004

O PS e nós

Zangaram-se as comadres no PS. Alegre e Soares temem falcatrua do aparelho na eleição do líder. Dir-se-ia que é apenas o despeito antecipado dos derrotados. E que essa mercearia interna do PS não nos diz respeito. Não me parece.
O lado mais negro da vida política portuguesa não é aquele que todos os dias vemos nos jornais, da charanga parlamentar às picardias entre partidos. Não. Onde a democracia falha é no interior dos partidos. O que verdadeiramente interessaria discutir era o seu funcionamento, o modo como são geridas as concelhias, as distritais, a circulação de influências, pessoas e dinheiros nessa malha inferior, descentralizada.
Nas eleições nacionais, o jogo é relativamente limpo. Interessaria era discutir como se chega a essas eleições. Como se sobe na estrutura e na hierarquia partidária. Como funcionam essas fábricas de líderes.

A causa foi modificada

Mandam as regras de etiqueta que agradeça ao senhor maradona (com minúscula) as referências certeiras e simpáticas a este cantinho.
O caso dos balcãs levar-nos-ia seguramente muito longe - até porque anda por aí muita gente interessada em demonstrar que os tais genocídios nunca existiram e que, se calhar, os sérvios, coitados, é que foram as grandes vítimas.
A história dos holandeses, contada assim, até tem graça. Mas o ponto não é esse - o ponto é perceber porque não apostam as grandes potências (falo, por exemplo, das que têm assento permanente no Conselho de Segurança, e, obviamente, em primeira linha dos EUA) em transformar a ONU numa organização verdadeiramente poderosa.
Porque, voltando ao Darfur, o que é insuportável é a dupla hipocrisia dos que enchem a boca de indignação. Criticam a desatenção da comunidade internacional (que, no caso concreto, tem anos...) para logo de seguida zurzirem nas Nações Unidas, exactamente no momento em que as Nações Unidas, quebrando esse silenciamento mundial, decidem intervir. E intervêem, obviamente, com os poderes e as limitações que lhe são conferidas pelos seus membros. Incluindo os EUA.
Mas, é claro, isto digo eu, que nada percebo de patos.
[Espero que o senhor maradona (com minúscula) não tenha começado a discordar deste texto logo no título - fiz os possíveis por lhe agradar.]

Mal agradecidos

Uma malta da Inspecção Geral do Trabalho decidiu queixar-se, através do Jornal de Notícias, de uns desmandos na institituição.
Que o dinheiro se acabou, que as inspecções para o resto do ano foram postas em causa, tudo por causa de uns luxos dos manda-chuvas.
Convém, no entanto, averiguar de que desmandos falamos. Destaco dois:
- reuniões em hóteis de luxo;
- troca de mobílias que estavam quase novas.
Esta malta, em suma, não perdoa que o Governo, perdão, o Estado contribua de forma tão generosa para a saúde da economia nacional e o bem-estar geral.
Como pensa essa malta que a indústria hoteleira sobreviveria na época baixa se não houvesse um apoiozinho do Estado?
Acha essa malta que a indústria do mobiliário sobreviveria se todos nós usássemos as mobílias até cairmos das cadeiras?
Não acha essa malta que o pessoal - o dirigente, claro - da IGT tem todo o direito a frequentar um hotelzinho de luxo de vez em quando, uma cadeirinha hi-tech para as dores nas costas?
No fundo, no fundo, essa malta é do contra. E não entende o esforço que o Governo, perdão, o Estado, tem feito pela economia de mercado, pelo liberalismo económico, pelos empresários nacionais. Mal agradecidos, é o que é.

O síndroma de Madrid

Independentemente do que acontecer, ou não, daqui até Novembro, os terroristas já ganharam as próximas eleições americanas.

Tiro ao Michael

O tiro ao Michael [Moore] anima as mais afamadas tasquinhas de feira neste Verão de estalo.
Basicamente, o homem é acusado de mentir. Enfim, acusam-no de outras coisas, inclusivé de cheirar mal da boca, mas as mentiras é que não perdoam. Circulam mesmo por aí artigos de referência e listas numeradas com as mentiras do homem, que a malta não tem paciência nem cabeça para ler, estudar, comparar, tentar perceber.
O gajo é um exagerado. Mas quem, por estes dias, terá a lata de atirar a primeira pedra?
Tendo em conta o nível geral de intoxicação e contra-informação com que somos bombardeados a toda a hora, o menino Michael é de coro.
Os factos, como a guerra do Iraque demonstrou até ao delírio, são hoje pura ficção.
E depois há sempre o problema da bitola - o Moore é mentiroso porque despreza a realidade. Mas qual realidade? A da dupla Bush/Blair? Bullshit...

domingo, 1 de agosto de 2004

'Tá bem, indigno-me

Pronto, a indignação obrigatória da saison é o Darfur. Os milhares de mortos, os milhões de desalojados, a hipocrisia generalizada, mas convenientemente hierarquizada segundo as conveniências da praxe. Sim, que a malta não se indigna gratuitamente, a malta indigna-se só quando percebe que pode lucrar alguma coisa com isso. Que os nossos podem lucrar alguma coisa com isso. Não há indignações gratuitas.
E, por isso, o cortejo das palavras, das acusações, das insinuações é previsível. Demasiado previsível.
No entanto, o Darfur sempre lá esteve. Seja ali, na África mais esquecida porque é deserto verdadeiramente, seja na América Latina, na Ásia ou mesmo às portas da Europa. As condições para que aquilo aconteça sempre estiveram um pouco por todo o lado e sempre convivemos muito bem com tudo isso.
As Nações Unidas, por exemplo. É fácil, alivia a consciência e até dá jeito, zurzir nas Nações Unidas. Construir o edifício teórico da sua inutilidade à sombra de práticas que outra coisa não visavam. E depois gritar: «Vejam... as Nações Unidas não fazem nada». Mas como podem fazer se quem manda, quem verdadeiramente manda, não deixa que as Nações Unidas mexam uma palha sem a sua autorização?

Fónix

Finou-se, num risível Julho, esse autêntico radar da maluqueira nacional e arredores. Há coisas que, é claro, nem um anarca consegue aturar.

Boa noite

... O resto é mar
É tudo que não sei contar...