domingo, 31 de outubro de 2004

Uma questão de coerência

«With a heavy heart, we think american readers should vote for John Kerry on November 2nd.»
The Economist, Novembro de 2004

«This magazine will take part in a severe contest between intelligence, which presses forward, and an unworthy, timid ignorance obstructing our progress.»
The Economist, Setembro de 1843.

Buttiglione e a democracia

O caso Buttiglione - para lá de desmascarar a intolerância de muitos que nos governam - trouxe para a primeira linha a complexidade da governação europeia.
Durão Barroso saiu como derrotado, quando a escolha dos comissários nem seja sua. Teoricamente, aquela é a sua equipa, mas, na verdade, quem escolhe os comissários (e negoceia os pelouros...) são os vários governos.
Há aqui um evidente conflito entre duas legitimidades com raiz eleitoral - os governos e o Parlamento Europeu -, sendo que a articulação entre ambos está regulada pelos instrumentos internos da União. Nada de dramas.
Estranha-se é que tanta gente - que geralmente bate no peito em defesa da democracia - tenha agora ficado escandalizada quando deputados eleitos exercem os poderes que lhes são conferidos. A democracia é, de facto, coisa difícil de entranhar.

sábado, 30 de outubro de 2004

Os nossos erros no espelho dos outros

Os jornalistas levam porrada - às vezes merecida - pela leviandade com que tratam muitos assuntos. A maior parte das vezes, essas críticas vêm da classe política.
Mas os políticos, de vem em quando, vingam-se.
Só assim se compreende que o PS (pela voz, pelo menos, de Augusto Santos Silva) tenha tomado uma posição sobre o que se passa no Diário de Notícias sem sequer ter tido a preocupação de ouvir os intervenientes.
[Quem passa por este blogue sabe que o DN é assunto raro por estas bandas. Questões de princípio, que, de resto, têm afectado profundamente a produtividade recente de TdN. Este post, apesar de parecer ser sobre o DN, não é.]

sexta-feira, 29 de outubro de 2004

A ler

1. Vitamedias de 29.10 [ContraFactos & Argumentos]
2. A Armadilha para a Esquerda [A Natureza do Mal]
3. A Camorra do Humor [The Galarzas].

Extra, extra

A SIC Notícias mostrou hoje a primeira página do 24 Horas, que fala da TVI.
Ah... mas era sobre a crise da TVI.

Parabéns

Atrasado (é a vida...), endereço os parabéns ao Nuno Guerreiro, que tem um dos blogues mais bonitos e informados cá do burgo (apesar de ser escrito lá fora). Aprende-se muito por lá... mesmo quando se discorda de uma ou outra coisa.

No time

No blogue.

quinta-feira, 28 de outubro de 2004

A crise dos media (II)

Lucros da Cofina crescem 34,4% com media a impulsionar.

Arafat

Arafat está a morrer.
Morre o argumento dourado dos hipócritas.

Circense

Pais do Amaral tossia a cada pergunta da SIC.
Gomes da Silva não conseguia encontrar o puxador da porta.
Seriam sinais, não tivessem as máscaras caído há muito.

quarta-feira, 27 de outubro de 2004

Aviso à navegação

Blogue em regime de intensa auto-censura selectiva.

Lições de Estrasburgo (esboço)

Le président de la future Commission européenne José Manuel Durao Barroso va retirer son équipe et consulter les dirigeants de l'UE pour présenter une nouvelle Commission dans quelques semaines.
1. A democracia funciona.
2. O diálogo prevalece sobre a arrogância.
3. O bom senso nunca é a derrota de ninguém.
4. Tudo isto é bom para a Europa.

Bom dia!

Sobrevive-se, meu caro. Sobrevive-se...

terça-feira, 26 de outubro de 2004

Da intolerância

Primeiro eles vieram atrás dos comunistas
e eu não disse nada porque não era comunista.
Depois vieram atrás dos judeus
e eu não disse nada porque não era judeu.
Depois vieram atrás dos católicos
e eu não disse nada: sou protestante.
Aí vieram atrás de mim
e já não havia ninguém para falar em minha defesa.
[Martin Niemöller]

Vieram, levaram os ciganos e os negros e os judeus, e não protestei. Era o habitual. Mais tarde maltrataram, assassinaram imigrantes, e também não fiz nada. Porque não eram dos meus. Perseguiram, torturaram e mataram outros. Continuei imóvel, talvez o merecessem. Aniquilaram raças, massacraram povos inteiros de tantas civilizações, e não me movi. Por acaso era comigo? E no fim vieram-me buscar a mim e ninguém protestou. Era demasiado tarde.
[Bertold Brecht]

Dúvida

Interrogo-me sobre o que escreveria se, de facto, escrevesse.

segunda-feira, 25 de outubro de 2004

Chegam mails

O procurador tem um grande defeito. Na vida política portuguesa é um defeito fatal: Não faz parte dos lobbies. É um outsider. Um homem conhecido por ser competente na sua avaliação estritamente jurídica e legalista. Não é um comunicador, é frouxo, é fraco na expressão das suas opiniões, escolhe mal os timings... é um fracasso!
Mas não acredito que seja incompetente tout court. Curiosamente, todos sabemos que Cunha Rodrigues foi o procurador mais manipulador que jamais Portugal verá. Processos escondidos na gaveta foram «n». Souto não tem esse dom. Não dormiria se o fizesse... Mesmo assim, já há jornalistas a dizerem que têm saudades de Cunha Rodrigues.
Ou seja, os portugueses sabem que vivemos num pântano... mas gostam de se chafurdar nele... O processo da Casa Pia está repleto de erros, estratégicos essencialmente. Falhas na investigação. Não é por acaso que se faz a comparação com o processo Farfalha. No dos Açores a Judiciária trabalhou sozinha... Passou o processo ao MP quando a papinha estava toda feita. Na Casa Pia... O MP avocou e foi a correr prender! Errou! E a história da justiça vai prová-lo!
Mas a mim, cidadão, o que me preocupa é saber se alguns daqueles senhores abusaram mesmo das crianças ou se não passa tudo de uma invenção. De «n» peças jurídicas que li... das duas uma: Ou há gente louca no MP... ou então estamos todos loucos.

[JPF]

O procurador (II)

O José [da Grande Loja], numa caixa de comentários do Blasfémias, responde ao que escrevi sobre Souto Moura [O procurador], censurando as posições do PS no processo Casa Pia.
É sempre sintomático quando se tenta cobrir os erros de alguém argumentando que outros erraram ainda mais. É ainda mais sintomático que se queira penalizar todo o PS por erros concretos de pessoas concretas. No fundo, trata-se do mesmo raciocínio que leva alguns a anteciparem o enterro do Ministério Público devido aos erros do processo Casa Pia.
O José, à falta de argumentos sobre o que está em causa, recorre depois ao expediente mais comum, mais irritante e mais disparatado da Justiça portuguesa - o elogio ao carácter de Souto Moura.
Mas, mais uma vez, não é nada disso que está em causa. Souto Moura pode ser a pessoa mais honrada e mais competente à face da terra - mas, em contexto, em acção, neste caso concreto, errou em excesso e deu cobertura a erros em excesso. O caso das cassetes e da assessora Pina será o mais anedótico, mas talvez o menos relevante. Os comunicados, entrevistas e declarações de circunstância de Souto Moura, esses sim, são um autêntico catálogo do que não deve ser um PGR.
Já quanto ao processo em si - nem tanto sobre o que (e quem) lá está, mas sim sobre quem não está lá - não comento o que não conheço. Mas convenhamos que, meses após ter sido repetidamente anunciada a existência de uma rede, a detenção de notáveis e mais notáveis e a abertura de investigações paralelas, tudo isto parece pouco. Muito pouco.

Tolerâncias

O MacGuffin não percebe que estamos a falar EXACTAMENTE da mesma intolerância quando falamos da perseguição aos judeus e dos ataques aos homossexuais ou às mães solteiras pelo fanático Buttiglione.
É compreensível, vindo de quem manda o outro à merda com tanta facilidade.

domingo, 24 de outubro de 2004

Hoje, quem paga o almoço é Cavaco

Cavaco Silva defende a introdução de portagens nas SCUT. Mas, como está na fase de lançamento da campanha presidencial, abre excepções. Por exemplo, na Via do Infante (I wonder why...), onde «uma auto-estrada pode ser uma alternativa permanente às ruas de vilas e cidades».
Dou uma achega à campanha de Cavaco. A alternativa à A1, sim a célebre e velhinha auto-estrada Lisboa-Porto que Cavaco ajudou a concluir, é uma estrada que atravessa dezenas de «ruas de vilas e cidades». A A1, pela lógica de Cavaco, também não deveria ter portagens.
Almoços grátis? Hoje, quem paga é Cavaco.

?

Where in the hell is JPP?

sábado, 23 de outubro de 2004

O procurador

Num país saudável, Souto de Moura teria dado hoje a sua última entrevista na qualidade de procurador-geral da República.
O que diz sobre o PS, ou sobre a sua «dependência» do PS, transforma a justiça em coisa sem nome.

Correcto vs incorrecto

Imaginemos, então, caro MacGuffin, que Buttiglione, em vez de se atirar aos respeitáveis homossexuais, ou às não menos respeitáveis mães solteiras, se atirava aos igualmente respeitáveis judeus. Do estilo, «Hitler não fez bem o seu trabalho». Quão nefasto se revelaria, então, o «politicamente correcto».

A crise dos media

O grupo Prisa, editor do El País, aumentou os lucros em 60% (!!!) nos primeiros nove meses do ano. Está na primeira página do jornal de hoje, sábado.

sexta-feira, 22 de outubro de 2004

Movimento diplomático

Parece que anda por aí um assessor diplomático a averiguar se há mais alguma capital europeia atascada em três túneis.

Meteorologia - faça você mesmo

a) 'Tá de chuva!
b) Vai aquecer...

quinta-feira, 21 de outubro de 2004

Os dispensáveis

O João Miranda [Blasfémias] é mais um dos liberais que escreve nos blogues. Um dos muitos liberais. Dizem todos mais ou menos a mesma coisa - o estado é mau, o estado é mau, o estado é muito mau.
Considero dispensáveis tantos liberais e, por isso, de uma forma perfeitamente aleatória, decidi convocar o João Miranda para meu assessor de templates. Espero que isso não fira a sua dignidade.

Extra, extra - uma inovação

Os leitores mais atentos, embora cépticos, terão pensado que a repetição, em triplicado, de um mesmo post, há umas horas, resultou de uma azelhice. Nada de mais errado. Trata-se de uma experiência invovadora: a edição de posts em trifonia - uma espécie de estereofonia trifásica. O processo, embora possa parecer complexo à primeira vista, é da maior das simplicidades - o post é editado simultaneamente em três computadores, podendo ser lido, igualmente em simultâneo, em múltiplos de três ecrãs. Adverte-se, por isso, que o referido post não deve ser lido em cinco, ou mesmo sete, computadores em simultâneo, sob risco de perda de conteúdo simbólico.
Hoje, se tiver tempo, ainda vou tentar editar um post em 5:1, em que o 1 assume o papel desconstrucionista do contraditório. Vou registar a patente sob a designação de Derrida Gomes da Silva, DGS abreviadamente. Salvo seja.

A cabala, derivação política

Passados tantos anos, e o MRPP continua a ser o melhor aliado do PSD.

A cabala

O Mário Crespo telefonou para uma rádio a dizer que foi despedido da RTP pelo PS.
O ministro Morais Sarmento citou Mário Crespo na Assembleia da República.
Quatro horas depois, Morais Sarmento era convidado de Mário Crespo na SIC.

A cabala

O Mário Crespo telefonou para uma rádio a dizer que foi despedido da RTP pelo PS.
O ministro Morais Sarmento citou Mário Crespo na Assembleia da República.
Quatro horas depois, Morais Sarmento era convidado de Mário Crespo na SIC.

A cabala

O Mário Crespo telefonou para uma rádio a dizer que foi despedido da RTP pelo PS.
O ministro Morais Sarmento citou Mário Crespo na Assembleia da República.
Quatro horas depois, Morais Sarmento era convidado de Mário Crespo na SIC.

Da previsibilidade - caso prático

O primeiro-ministro acha que os professores que não cabem nas escolas podem ir para os tribunais ajudar os juízos.
Ideia bizarra. Previsível.

terça-feira, 19 de outubro de 2004

Surpreendidos pelo previsível

Uma das características mais marcantes do actual primeiro-ministro é a previsibilidade. Tudo o que tem feito - e a forma como o tem feito - «estava escrito nas estrelas», como ele gostava de dizer nos congressos do PSD.
E é espantoso lermos os comentadores políticos que, semana após semana, vão registando o cumprimento dessa previsibilidade. Como que surpreendidos.
É esse o paradoxo - sendo tudo tão previsível, não deixa de ser surpreendente que aconteça.

Critérios

Todas as manhãs as câmaras da SIC procuram na primeira página do 24 Horas a mais insignificante das notícias. Piruetas telegénicas para evitar a invariável manchete sobre a Quinta das Celebridades.
Isto passa-se num programa de informação. Farão o mesmo com o resto das notícias? Exemplifico - quando a Bolsa castigar a Impresa, a câmara vai desviar o olhar? Exemplifico ainda - farão notícias de política condicionadas pelos negócios (como, de resto, a TVI está a fazer neste momento)?
Quando se afrouxam os critérios nunca se sabe onde se vai parar. E todas as dúvidas são legítimas.

segunda-feira, 18 de outubro de 2004

Teique a népe

Digamos que está tudo a discutir futebol. Digamos que é de futebol que todos falam.
Boa... aproveito. De futebol nada percebo, nada me entusiasma. Nem esse futebol que agora discutem.
Aproveito, por isso, e retiro-me. O descanso do guerreiro.
Vou, mas já volto, acho. Digamos que é uma sesta. Sim, podem chamar-lhe sesta. Mesmo a esta hora. Uma merecida sesta civilizacionalmente evoluída. Uma sesta cosmopolita, que nada respeita, nem os relógios, nem as convenções.
[PS em voz muito baixinha: eu acho que foi golo, mas que percebo eu de futebol?]

Auto-policiamento

Nada a declarar.

Notificação

Fica expressamente divulgado que, apesar de muito me apetecer, não poderei cumprir, hoje à tarde, um curto período de sesta.

domingo, 17 de outubro de 2004

Porno-post

Estou convencido de que a TVI meteu o tal actor porno super-musculado na Quinta das Celebridades para que ele um dia feche todas as portas e grite:
- E agora ninguém sai daqui.

A liberdade do erro

Há uns dias, o Professor intervalou o seu silêncio para comentar (!!!) a campanha eleitoral nos Açores. Como em todos os seus comentários, primou pela independência, pela equidistância - salientou a grande dinâmica do PSD e só lhe faltou predizer a derrota do PS.
Hoje, com os resultados à vista, confirma-se, mais uma vez, que a grande liberdade, a liberdade derradeira, é sempre a liberdade do erro.
[Este post é intrinsecamente contraditório - porque conclui pelo erro onde houve intenção, fala da análise quando verdadeiramente trata da propaganda. Mas este é também um post com capacidade de auto-crítica...]

Silêncio

O Professor lá falou, mas não engrossou o ruído de que se queixa Santana.
É curioso Santana ter-se queixado do ruído, numa altura em que é precisamente o silêncio o que mais o incomoda.
Nada de mais natural - o silêncio usado como arma contra o silenciador.
Por isso, o Professor falou, mas teve o cuidado de preservar o silêncio. De preservar a força do silêncio.
O Américo [Retórica e Persusão] explica como, num jogo de silêncios e não-ditos, o Professor acabou por dizer, por falar. Principalmente, aquilo que nunca dirá.

Excessos

Causa Real suspende congresso por excesso de moções.
E ainda dizem que em Portugal não há debate, não há ideias, não há política.

sábado, 16 de outubro de 2004

Personagens sem opinião

«Os personagens e as situações desta obra são reais apenas no universo da ficção; não se referem a pessoas e fatos concretos, e sobre eles não emitem opinião.»
in O centauro no Jardim, Moacyr Scliar.

Buttiglione

«I bambini senza padre sono figli di mamme non molto buone. L’Europa pensi alle famiglie regolari.»
Eis o comissário europeu da normalização.
Depois dos homossexuais, as mães solteiras.

Objectividades

Não falo chinês nem português esquisito e por isso fico sempre espantado quando fazem grandes confusões acerca das pequenas coisas que digo. Aconteceu agora com o Super Flumina.
Limitei-me a notar que o Jaquinzinhos tinha sido injusto ao avaliar a cobertura do último debate parlamentar apenas por uma notícia do Público on-line, quando o jornal tinha feito quatro textos sobre a matéria - aquele que o Jaquinzinhos assinalava tentava sintetizar APENAS a primeira intervenção de Sócrates. Considerar aquela notícia «ridícula» não faz ponta de sentido.
Ver nisso «grande susceptibilidade» é um óbvio exagero. Presumir, a partir daí, que me armei em defensor da objectividade jornalística, exagero maior. Nunca o poderia ter feito, simplesmente porque não é isso que penso.
Não vou discutir aqui as coberturas das sessões parlamentares nos diversos media. Seria trabalho para horas. Acho é curioso que o autor de Super Flumina se arvore em detentor da verdade, quando tudo o que escreveu é de uma enorme subjectividade.
Os relatos dos media são sempre subjectivos - mas, como há liberdade e concorrência, cada um pode comprar a subjectividade que melhor se acomodar à sua.
[O perfil mentecapto de alguns comentários que surgem nos dois blogues citados é uma das razões que me leva não ter comentários no TdN.]

Torquemada

Cometo a inconfidência - FNV, do Mar Salgado, escrevia-me há dias um mail desafiando-me a encontrar um motivo para nos desencontramos. Saudades, presumo.
A verdade é que tenho tentado. Mas, lendo textos como BUTTIGLIONE, só posso concordar. E, assim, não há polémica.
Faltará, talvez, acrescentar que falar de Torquemada naquele contexto é completamente absurdo. Vivemos em democracia e é disso que se trata - alguns deputados do Parlamento Europeu querem votar contra o comissário italiano. Só isso - uma evidente normalidade democrática. Se há incendiários nesta história, eles não são seguramente os eurodeputados.

sexta-feira, 15 de outubro de 2004

Um dia normal de aulas

O D. lá foi às aulas. Hoje, tinha 90 minutos de português, 90 minutos de matemática e 90 minutos de uma coisa chamada Estudo Acompanhado (!?), a cargo do professor de português. Mas o D. foi e veio. Porque os professores de português e matemática ainda não foram colocados. Uma sexta-feira sem aulas...
Lembrei-me de vos contar isto porque acabei de ver na televisão um grupo de professores, em frente ao ministério da Educação, a gritar: palhaços, palhaços, PALHAÇOS, PALHAÇOS.

Viva a liberdade de expressão

O Professor fez um interregno no silêncio para se pronunciar, aos microfones de uma rádio açoriana, sobre a campanha eleitoral nos Açores.
Para dizer aquilo que sempre disse: que nota desânimo e aflição na campanha do PS e grande dinâmica na do PSD. Uma análise lúcida, desapaixonada, como sempre.
Uff... está salva a liberdade de expressão.

quinta-feira, 14 de outubro de 2004

Objectividade

De quatro notícias do Público on-line sobre o debate parlamentar, centradas ora em Santana ora em Sócrates, o Jaquinzinhos escolheu uma para zombar sobre a objectividade jornalística.
Os blogues, às vezes, têm coisas boas. Às vezes, não.
[Act: Jcd, seu distraído, afinal (já) havia outra.]

Curioso título

Mota Amaral publica hoje um artigo de opinião no Jornal de Notícias. Chama-se As Novas Fronteiras.

David Justino ponderou demitir-se em Maio

Pois...

Os pagadores pagadores

O princípio do utilizador-pagador entrou na moda. E agora toda a gente acha que todas as auto-estradas devem ter portagens. Até a malta da Linha de Sintra, que tem um IC-19 de borla , em situação de claro privilégio face ao pessoal da Linha de Cascais, que tem de desembolsar portagem na A5... para ficar engarrafada em Monsanto, quando não é no Estádio Nacional.
Não é disso que vos quero falar, mas sim da A23.
Acontece que aquela auto-estrada (Torres Novas-Guarda) foi parcialmente construída em cima de estradas que existiam antes e que, obviamente, deixaram de existir. Ou seja, a auto-estrada apagou as alternativas. Mas isso nem é o mais importante - na realidade, isso só acontece em algumas zonas. O mais importante é que aquela auto-estrada é um factor de reequilíbrio regional (e, logo, social, que nós sabemos como as coisas são - até o ranking das escolas reflecte as assimetrias regionais). E pergunta-se se não deve o estado ser um factor determinante para esse reequilíbrio regional.
Quanto ao princípio do utilizador-pagador, pergunta-se: não pagaram os habitantes da Guarda, ou de Castelo Branco, através dos seus impostos, os aeroportos de Lisboa ou do Funchal? A modernização do porto de Sines? A CREL? A Expo'98?
Não estaria na altura do todo nacional contribuir com umas migalhas para o desenvolvimento do interior?
Fale-se verdade - a introdução de portagens em algumas auto-estradas é apenas um expediente para cobrir o défice. E, no caso concreto da auto-estrada da Beira, um gesto profundamente ideológico.

A circulação da informação (II)

As conversas sobre o Médio Oriente resvalam sempre para o radicalismo. Tendem a imitar a realidade. É o que acontece com a réplica de Nuno Guerreiro [Rua da Judiaria] ao que aqui escrevi sobre a utilização de ambulâncias da ONU pelo Hamas. Habitualmente sensato, o Nuno embarca numa catadupa de alegações que, no fundo, acabam por dar razão ao que escrevi inicialmente.
1. Apresenta-nos um vídeo da Reuters, sem qualquer contexto ou explicação. A ambulância terá sido roubada? As pessoas que entram nela são, de facto, do Hamas? Na verdade, aquele vídeo faz-me lembrar Colin Powell a apresentar na ONU as provas de que Saddam tinha laboratórios de armas químicas...
2. Depois, refere declarações do chefe da UNRWA que, alegadamente, reconhece a utilização de ambulâncias da ONU pelo Hamas. Bastaria ler com atenção e de forma não enviesada a totalidade das declarações para se perceber que, de facto, não é nada disso que ele diz. O que ele diz é que o Hamas é uma organização política (tem actividades terroristas, mas está implantada no terreno) e que, como tal, tem apoiantes (a distinção entre «members» e «militants» é aqui fundamental, sendo que «militants» não tem correspondência com o nosso «militantes») e que a ONU, obviamente, poderá ter ao ser serviço apoiantes do Hamas. Se se lerem as declarações sem má-fé, fica-se a saber que ele insiste na necessidade de «neutralidade» e «respeito pelas normas da ONU» por parte das pessoas que emprega. Numa entrevista concedida ao Jerusalem Post, Peter Hansen torna ainda mais clara essa sua posição.
3. O Nuno não resiste, depois, à habitual teoria da conspiração - que envolve sempre os europeus, os media, a ONU e a esquerda (a qual o Nuno deixa de fora...), conluiados para destruir o Estado de Israel e, em última instância, os judeus - e recorda Jenin. Eu dir-lhe-ia que os media europeus não investigaram Jenin como agora não estão a fazer o que deviam revelando o que, de facto, está acontecer com a operação em curso na Faixa de Gaza, em que todos os dias morrem crianças e civis. Por este andar, Israel há-de fazer com que todos os palestinianos adiram às teses do Hamas e, então, já não haverá gente para conduzir as ambulâncias da ONU.
4. O Nuno diz ainda que a realidade no Médio Oriente não é a preto e branco. Pois não, digo eu. Por isso, repito pela enésima vez - sei bem de que lado estou, gostava era que esse lado fosse mais sensato e deixasse de utilizar os mesmo métodos do outro lado, métodos terroristas, no fundo, sejam eles militares ou mediáticos.
[Já agora, o post seguinte do Nuno é igualmente curioso - a ideia de que com Arafat não há paz possível. É curioso como Israel acha que pode eleger os seus representantes (Sharon), mas também os seus interlocutores. A verdade é que o estafado tema Arafat não faz muito sentido - um dia que ele despareça vamos ver que tudo ficará na mesma, ou pior, visto que sem aquele referencial haverá uma óbvia tendência para que os grupos radicais se radicalizem ainda mais. Veremos...]

quarta-feira, 13 de outubro de 2004

O erro em política (II)

A política só pode ser má ciência experimental, insiste João Miranda [Blasfémias].
[Há a utopia, a ideologia, e há a realidade, o pragramatismo. Eu costumava estar na primeira categoria e o JM na segunda. Agora, ele decidiu mudar de campo, o que me deixa completamente desorientado.]
E o século XX esse esplendor do experimentalismo político, cobaias a dar com um pau, teorias sem pés nem cabeça, os mesmos erros repetidos à exaustão?

Silêncios e microfones

Duas vezes na mesma semana, uma horda de jornalistas assaltou o Professor à esquina de uns colóquios para lhe roubar o silêncio. E o Professor falou, nada disse e chegou a ter de explicar que o seu silêncio falava, era ruidoso. Acho que, aí, ele exagerou... Mas, enfim, as televisões há uma semana que nos andam a reportar exaustivamente os silêncios do Professor.
As elites gostam, embora não aplaudam. Porque as elites acham que é justa a luta do Professor, que aquele silêncio, não sendo ouro, é valioso. E, por isso, as elites perdoam as hordas de jornalistas que fazem perguntas imbecis e enchem o eter de coisa nenhuma.
As mesmas elites que ficaram à beira do vótimo quando os mesmos jornalistas bombardearam uma pequena aldeia do Algarve com perguntas.
É essa a matéria do jornalismo - a pergunta. Todas as perguntas. E quem não percebe isso não percebe nada.
A elite não percebe. Porque a elite acha que a luta do professor é legítima, mas o espanto das gentes sobressaltadas das pequenas aldeias é pobreza de espírito. E, claro, os jornalistas só não são idiotas quando alinham com as elites, as pequenas e grandes preocupações das elites, as lutas das elites.

Nada de pessoal

O deputado falava, falava, justificava isto e aquilo, desfazia-se em elogios, piruetas atrás de piruetas, a televsião rejubilava, ele suava. Só queria esclarecer que quando me saiu aquele «putaqueopariu» não era nada de pessoal.

Regressos às aulas

O miúdo lá foi para a escola. E hoje é um dia importante. Não porque faça uma semana que recomeçaram as aulas, mas porque, hoje, ele tem o horário quase completo. Tem hora e meia de ginástica, mais hora e meia de música, mais metade disso de artes e ofícios... Na verdade, as aulas correm bem. Só ainda não tem professor de português, nem de matemática, nem de inglês, nem de história... Pronto, não se pode ter tudo.

A circulação da informação

Há umas semanas, no âmbito da mais recente operação na Faixa de Gaza, o governo de Israel inventou que as ambulâncias da ONU nos territórios ocupados andavam a transportar lança-rockets do Hamas. E fez circular imagens disso mesmo por todo o mundo.
Agora, o mesmo governo de Israel reconhece que, afinal, as ambulâncias transportam... macas.
Aposto, singelo contra dobrado, que, daqui a um tempo, num qualquer debate sobre o Médio Oriente, alguém vai atirar com o argumento: «Pois, as ambulâncias da ONU até transportam mísseis do Hamas...». Singelo contra dobrado, aposto.

terça-feira, 12 de outubro de 2004

O erro em política

A política é a mais experimental das ciências. Um terreno fértil para a tentativa e o erro. Por isso é que há eleições e toda uma panóplia de pesos e contrapesos, sistemas de vigilância e rectificação.
O João Miranda [Blasfémias] pensa o contrário. Por isso é que apresenta duas premissas completamente erradas - só assim conseguiria chegar a uma conclusão errada. Porque, em ambas as decisões, os decisores políticos tinham na sua posse determinados dados e o seu contrário. Como sempre. A todo o momento, os decisores políticos têm sempre dados susceptíveis de suportar uma decisão, ou a decisão completamente inversa. Os dois casos que o JM apresenta são disso exemplares.
Que o comentário político seja uma arte profundamente errática é aceitável. O João Miranda escusa é de exagerar.

O défice cultural

Não desgostei do novo espaço de comentário político da TVI (ou seria da SIC, ou da RTP...?). No fundo, e isso terá sido o que mais me agradou, nota-se ali uma clara tendência para a continuidade. À semelhança dos antecessores Marcelo e Pacheco, o novo comentador vai a todas - comunicação social, educação, impostos, código da estrada... Nos três, a mesma fé cega no ministro das Finanças vigente, a mesma abertura a trocarem ideias com outras pessoas, a mesma inspiração evidente em Sá Carneiro.
Há, no entanto, ligeiras diferenças. Por exemplo, face a Marcelo ficamos a perder no comentário desportivo - afinal, o Marítimo safa-se ou não? Já quanto a Pacheco, ficamos sem aquelas informações científicas de grande valia - afinal, há ou não vulcões em Marte? Porém, a maior desvantagem surge no sector cultural. Pacheco e Marcelo, embora em doses desequilibradas, nunca se esqueciam de nos recomendar uns livros. Agora, ficamos sem guia de leitura para semana - que iremos fazer com os nossos tempos livres?

Janela de esperança

E dizem que o Super-homem morreu...

segunda-feira, 11 de outubro de 2004

A comunicação

Não percebi... Então, há uma cassete que as televisões recebem e metem no ar, no meio do telejornal, sem qualquer intervenção jornalística?

Fora de serviço

É favor dirigir-se à máquina mais próxima.

domingo, 10 de outubro de 2004

Eu hoje gostava...

... de ver no Jornal Nacional da TVI um best of do Professor, mesmo sem contraditório, mesmo cheio de esquecimentos, das análises sobre Ferro, Louçã, Carvalhas, Guterres, Sampaio.

Contraditório... mas fora de horas

O programa "Contra-Informação" que era emitido habitualmente logo a seguir ao Telejornal, tem sido passado para horas mais tardias. Na semana finda, teve, segundo o JN, o seguinte horário: na segunda-feira, foi exibido às 21.10 horas; na terça às 22.59; na quarta às 00.37 e, na quinta-feira, às 23.23. Ontem estava previsto começar às 22.15 horas.
Melhor que fora de horas, só mesmo fora de horas e sem horário.

Confirma-se...

Você tornou-se um gajo perigoso, igual àqueles restaurantes que aproveita tudo para croquetes. Vou começar a ter cuidado com o que te digo, carago.
[mail recebido hoje]

sábado, 9 de outubro de 2004

Miranda

É claro que o post da semana só poderia ser Miranda ao telefone, no Bloguítica. Não acham?

Orgasmo - pergunta aos mais velhos

Um amigo meu, carioca de passagem por Lisboa - vamos chamá-lo Guilherme, embora este seja o seu nome verdadeiro -, arranjou uma namorada portuguesa. Depois de um revigorante bacalhau com grelos numa tasca sobre o Tejo, foi para o berço com a cachopa. No melhor da festa, quando as apaixonadas piruetas encaminharam para o inexorável e delirante clímax, a garota começou a exclamar:
«Ai, que me vem! Ai, que me vem!»

O excerto é de Amestrando Orgasmos (Objectiva, 2004), de Ruy Castro, e, nota-se à distância, revela aquela desfasamento temporal tão típico dos brasileiros em relação à nossa terrinha. Ele é o bacalhau mais os grelos (como se fosse possível qualquer pirueta com o resultante odor a alho...), ele é a tasca sobre o Tejo (será a Bica do Sapato?), ele é a cachopa... Enfim, tudo isto tresanda a Aldeia da Roupa Branca. Por isso, a minha dúvida - aquela forma verbal do verbo vir já se usou, ou simplesmente foi o tal Guilherme, toldado pelo tintol ou pelo clímax, que percebeu mal a cachopa?

Autocensura

Por motivos que expliquei desde o início de TdN, sinto-me eticamente limitado em debates sobre os media. Ou, pelo menos, em alguns desses debates. Comentei o caso Marcelo dentro desses limites. A evolução que o caso tomou leva-me a reduzir os comentários sobre a matéria. O que não quer dizer que não tenha opinião, muito menos que assobie para o ar.

O rapaz faz-se

O MacGuffin, embora não pareça, está no bom caminho. Para já, perdeu a paciência para a Bjork, sinal óbvio de lucidez. Agora, só lhe falta deixar de ler o Expresso. Nem imagina o bem que lhe fazia.
Em sua homenagem, o próximo post charmar-se-á «Autocensura».

Freud existe

Há coisas assim. Senti-me psicanalisado, ripostei como qualquer bom maluco e logo alguém, invocando o argumento da autoridade, repõe o diagnóstico analítico no ponto inicial. E eu agora estou arrependido.
Não estão a perceber quase nada, mas também não importa.
Isto era só para registar que, após ter dito ontem que o FNV [Mar Salgado, link na coluna do lado] tinha regressado com a sua lendária falta de pontaria, e zás!, eis que FNV, lui même [sim, pesco qualquer coisa francês...] PUM, dá um tiro certeiro. Falo do que escreve sobre Carvalho da Silva, obviamente.

sexta-feira, 8 de outubro de 2004

Tragédia

Mais trágico do que ser tudo verdade, só se for tudo mentira.

FNV

Pura distracção. Esqueci-me de assinalar o regresso de FNV, do Mar Salgado [link na coluna do lado]. Regressou. É verdade que com a sua já mítica falta de pontaria. Mas voltou. Ficamos todos a ganhar.

É isto

«É uma responsabilidade de todos, não é uma responsabilidade, de vez em quando, para alguns. A questão da liberdade de imprensa e da liberdade de expressão é para os jornalistas, para os políticos, para os cidadãos em geral e para as empresas jornalísticas.»
(...)
Por isso, referiu, «é preciso entidades reguladoras fortes» para que a vigilância necessária se possa «dotar dos mecanismos normais e permanentes» para poder fazer o balanço do «estado da arte em matéria de liberdade de expressão», defendeu.
(...)
Sampaio deixou também entender que não é o caso isolado da saída de Marcelo Rebelo de Sousa da TVI que pode gerar uma crise política no país, mas sim «a opacidade» reinante no relacionamento dos proprietários dos órgãos de comunicação social com o poder político.

Os reis das conveniências

MacGuffin, MacGuffin, mais uma vez em desacordo... A mim, o segundo dos Kings of Convenience faz-me lembrar alguns (dos melhores) momentos dos Simon and Garfunkel. Por exemplo, Homesick, logo a abrir. Deve ser a minha costela anos 60, esquerdalha, ou coisa parecida. O mais curioso - e ainda há quem não acredite em coincidências - é que estive a ouvir os Young Marble Giants, porque o suplemento de música do DN tem hoje o Colossal Youth em destaque.
Quanto ao resto, meu caro, espanta-me que um fulano que percorre amiúde a auto-estrada Évora-Lisboa e que usa e abusa da net em banda larga esteja tão pessimista sobre este cantinho e as novas fronteiras que cantam (ou serão os amanhãs?). Vá lá, deixe-se de passadismos... velho sou eu, que ainda me lembro dos Simon an Garfunkel.

Contra a corrente

Um tal de MS (Mário Soares, Marcelo de Sousa, Martim Silva?), autor de um blogue de nome catita a dar para o pingarelho, do alto da sua preguiça - 15 posts num mês, se não é recorde anda lá perto -, resolveu psicanalisar-me. Vai daí chega à conclusão de que, quando escrevi que «Rui Gomes da Silva tem razão», estava a só a tentar ir contra a corrente ['tás a ver, MacGuffin, isto deve ser é contigo...].
Lamento desmenti-lo, mas continuo convencido de que as questões que levantei inicialmente são as pertinentes.
Preocupa-me bastante mais o funcionamento global do sistema mediático, a liberdade de expressão tomada como um todo, do que a liberdade individual de alguém como o Professor Marcelo [já repararam no absurdo em que andamos todos metidos - a tentarmos fazer cara séria quando dizemos que calaram o Professor?, mas alguém acredita verdadeiramente que calaram o professor], em relação a cujos comentários tenho as mais fundas reticências (e não estou a falar do conteúdo).
É claro que a questão do «rolo compressor» muda totalmente as coisas. Pelo menos, a prioridade do debate. Apesar disso, e disto, insisto na necessidade de contenção. Ainda não vimos as cartas todas e, ao contrário do que muito boa gente tem dito, nem sempre o que parece é.

Oiçam como eles assobiam

O prémio anual do Assobio para o Ar estava prestes a ser entregue a Jaquinzinhos, pela perspicácia do seu post Mudam-se os Tempos, quando NMP, no Mar Salgado, a propósito da proibição de entrada nos EUA do ex-Cat Stevens motivada pela infelicidade de se ter convertido aos islamismo, resolve falar de... música. O carácter assumidamente revisionista de linha estalinista de tal texto exclui, obviamente, da liça pelo Assobio para o Ar de Ouro o fabuloso post de MacGuffin, no Contra a Corrente, em que, a propósito da bandalheira que assola o país, resolve dizer que isto não tem salvação por causa --- TA NAN NAN NAN - das «Novas Fronteiras».

A memória prega-nos cada partida

Hoje, lembrei-me daquele dia em que Jorge Sampaio chamou a Belém António Guterres e lhe disse para demitir o ministro Armando Vara.

Chegam mails

É verdade que no conjunto da comunicação social, a direita domina em matéria de comentadores, mas não se pode acusar a TVI. Aliás, o estilo de informação da TVI, que é absolutamente sinistro, contribui como ninguém para o rotativismo político, devido à constante exploração das desgraças, da violência urbana ou familiar, etc, que criam uma atmosfera de intranquilidade social que favorece as oposições.
AAC

Chegam mails

Rui Gomes da Silva, isto é Pedro Santana Lopes, não têm razão !
PSL sempre usou a Comunicação Social para defender as suas teses e atacar os seus rivais.
Fê-lo no futebol, como dirigente partidário e como autarca.
Agora que é alvo directo das criticas - é somente agora -parece estar preocupado com o contraditório...
É pena que não tenha levantado a voz quando o Prof. Marcelo "desancava" na TSF no Prof. Cavaco ou "massacrava" semanalmente o Eng. Guterres.
PSL e MRS não são muito diferentes. Quando têm a Comunicação Social do seu lado, usam e abusam dela. São uns herois!
Quando têm responsabilidades politicas - partidárias ou governamentais - "descobrem" que também eles podem ser vitimas e então o "contraditório" - à falta da censura - até seria útil...
É tudo boa gente!

HN

Chegam mails

Quem com ferro mata com ferro morre.
Gostei de ver o Dr. Marques Mendes a choramingar a falta de democracia das pressões sobre a TVI. Ele sabe do que fala. Ele já foi Min. dos Assuntos Parlamentares e, pelos vistos, nunca usou o tefefone para sugerir a um órgão de informação que acabasse com um espaço de comentário político digamos indesejável.
Diz-se que os crocodilos choram as suas vítimas depois de as comerem. A diferença em relação aos nossos políticos da Maioria é que estes demoram vários anos a encher os sacos lacrimais com o o precioso líquido! Sniff.

Pedro Guerra Maio
(ex-comentador do Correio da Manhã)

Todos a Roma

Canonização directa para o MacGuffin:
Ninguém está a imaginar o Dr. Paes do Amaral, presidente de um grupo privado, a ceder a eventuais pressões de membros do governo no sentido de despedir o Prof. Marcelo Rebelo de Sousa da cadeira de comentador.

Liberdade, estado, ética

[Resposta a Gabriel Silva, Blasfémias]
1. A liberdade de expressão, vista a partir dos blogues, é, de facto, absoluta. Em teoria, e mesmo assim só em teoria, qualquer um pode ter o seu blogue e, pelo menos até agora, dizer o que lhe passa pela cabeça. Lá fora, não é bem assim. Porque lá fora, poucos têm acesso à propriedade dos meios de comunicação e, por isso, a generalidade dos países estabelecem regras específicas, quer sobre o acesso quer sobre o equilíbrio dos seus conteúdos. Isto não é escandaloso - por isso é que, num texto anterior, falei em peixarias. A informação também é um produto, um bem, cujo comercialização obedece a regras.
2. O Estado tem aqui um papel regulador (o problema em Portugal é que, além de regulador, é vastamente proprietário...). E não é apenas a justiça que deve velar pelo bom cumprimento das regras - existem também as entidades reguladoras, como a AACS, que tem mais defeitos que qualidades, mas é a que temos.
3. Mas, quando digo que a liberdade de expressão não é um valor absoluto, refiro-me a outra factor que prezo acima de tudo - a diversidade. Para mim, de pouco vale a liberdade de expressão de alguns. A liberdade de expressão do professor Marcelo pouco me importa, importa-me que outras correntes de expressão não tenham acesso aos mesmos meios. Repare-se bem: que interesse tem, por exemplo, o PCP na liberdade de expressão do professor Marcelo, se o PCP está praticamente arredado do espaço mediático? Ou repare-se igualmente nisto: há um/dois anos, tinhamos Marcelo na TVI, Santana na RTP e depois na SIC, canal onde Pacheco Pereira detinha dois espaços semanais. Não vi nem 1 por cento da indignação que por aí vai - e, no entanto, a liberdade de expressão estava, então, verdadeiramente em perigo, com a ocupação quase em regime de exclusividade do espaço televisivo por militantes do PSD.
4. Se falei no caso Joana é porque acho que estamos exactamente perante o mesmo tipo de preocupações. Porque há uma ética que se exige para o trabalho jornalístico, mas há igualmente uma ética que exijo a quem faz comentário político. É normal, por exemplo, que os comentadores do PSD comparem as pontes de Santana aos piores momentos de Guterres, quando Durão também deu pontes? Por que carga de água vão buscar Guterres? É normal que o façam, semana após semana, a propósito de tudo e de nada?
5. Percebo que os consumidores queiram influenciar o modo como se faz jornalismo em Portugal. Mas incluo o governo no grupo dos consumidores. E acho normal que o governo critique e até apele aos tribunais ou entidades reguladoras. Mas também não sou parvo - e acho que neste episódio se foi muito mais longe que isso. E admito que isso prejudica a bondade com que tentei encarar este episódio.

quinta-feira, 7 de outubro de 2004

A mentira, ainda

U.S. Report Finds Iraqis Eliminated Illicit Arms in 90's.
O tema que domina o noticiário internacional há quase dois anos - a invasão do Iraque - tem na sua raiz uma mentira.
Isto já foi dito, redito e dito vezes sem conta. O contrário também, de tal forma que muita gente cumpriu o ditado e transformou em verdade a mentira tanta vezes repetida.
E, agora que a mentira tem o carimbo de oficial, convém recordar que as Nações Unidas, a França, o dr. Mário Soares, o Bloco de Esquerda, a Liga Árabe, Freitas do Amaral e tanta, mas tanta gente, insultada e aviltada com base numa mentira esteve certa desde a primeira hora. E que essa gente também estava certa quanto às consequências dessa guerra ilegítima.
E convém também registar que aqueles que defenderam essa guerra com base numa mentira estão agora calados. Cobardemente, como afinal sempre estiveram desde o início. Porque não querer ver a realidade é a mais cobarde das cobardias, mesmo que travestida de valentia e determinação, como foi o caso.

Duplicidades

Gabriel Silva [Blasfémias] levanta algumas questões a propósito do caso Marcelo que vale a pena discutir. No fundo, está em causa o papel do Estado.
Ora, quando abro um peixaria tenho de me submeter a um determinado número de regras. Algumas delas escritas, em forma de lei, outras derivadas do mais banal consenso não escrito. É a vida em sociedade. Quando, em vez de uma peixaria, abro uma estação de televisão, tenho de observar um conjunto de regras adaptado às circunstâncias. A ideia de que a uma empresa privada tudo é permitido não corresponde à realidade. Assim como a ideia de que a liberdade de expressão é um valor absoluto tem muito que se lhe diga.
Uma outra questão que o GS levanta e que se prende com esta é a da «formação» ou «educação» do povo. Que não compete ao Estado, ou seja a quem for, velar por esse tipo de valores. Mas é não disso que falam as elites quando se indignam contra a cobertura mediática do caso Joana? Ou seja, quando se trata dos comentários do Professor, não deve haver qualquer regulação, quando se trata da vidinha, ai Jesus que estão a exagerar, a manipular, o diabo a sete. Há aqui uma evidente duplicidade de critérios que conviria evitar.

A estrela de Belém

E o senhor Presidente da República? Não será este um caso de irregular funcionamento das instituições a merecer a sua atenção? Não vai, pelo menos, chamar a Belém os protagonistas?

Contraditório?

Pacheco Pereira acaba de afirmar na Sic Notícias que a ponte de segunda-feira foi uma decisão «à Guterres».
Porque não disse «à Durão».
Sim, o governo de Durão também deu pontes e tolerâncias. Pior, muito pior. Fê-lo após repetidamente ter prometido que não o faria.

quarta-feira, 6 de outubro de 2004

O comentador na pele do contraditório

Chegámos, então, àquele momento em que se recomenda alguma contenção.
Porque o jogo está TODO com o professor. Só ele o conhece.
O Professor - sabê-mo-lo- não é homem para desistir assim.
E hoje foi o dia em ele passou, definitivamente, à condição de contraditório. A tempo inteiro.
Eu não queria estar na pele de um governo que tem no Professor o seu contraditório.

Marcelo

Marcelo Rebelo de Sousa abandona TVI.
Isto é uma péssima notícia. Nem tanto pelo facto em si, mas pelo que pode significar em relação ao que por aí anda e por aí vem.
Isto, o silêncio, é exactamente o contrário da pluralidade que se exige.

Tal é o ponto

Afinal, o famoso teleponto do escravo mediático Sócrates tinha sido comprado pelo desajeitado Ferro.
Oh, meu Deus, tanta análise política deitada ao lixo.

Burlesco, pois

O Almocreve das Petas recorda a benevolência com que o Professor tratava o Governo de Barroso. Eu acrescento: tivesse Santana mantido Marques Mendes no Governo e a esta hora não estaria a Casa PSD desavinda.

terça-feira, 5 de outubro de 2004

Rui Gomes da Silva tem razão - três notas e uma memória

Nota 1 - É interessante que alguns daqueles que clamam a toda a hora contra o poder mediático alegadamente sem controlo venham agora pedir a demissão do ministro e pôr-se ao lado do mais efectivo poder mediático, sem controlo, cá do burgo.
Nota 2 - A questão da liberdade de expressão. Mas a liberdade, todas as liberdades, só fazem sentido no colectivo. O professor Marcelo tem (e continuará a ter...) toda a liberdade do mundo. O mesmo não se pode dizer daqueles que são o seu alvo semanal, permanente. E Santana até é o que menos me importa. Essa liberdade colectiva, em rede, só se alcança num ambiente mediaticamente saudável, de expressão permanente e generalizada de opiniões. A liberdade de expressão do prof. Marcelo em nada me alegra, se eu considerar que nem todos podem exercer essa liberdade nas mesmas condições.
Nota 3 - É óbvio que este episódio - somado a todos os outros - revela uma enorme fragilidade política do governo.
Memória - Quando a SIC Notícias começou os seus frente-a-frentes, há pouco mais de três anos, Durão Barroso era líder do PSD. E a SIC convidou dois anti-barrosistas para os debates (Marques Mendes e, se a memória não me atraiçoa, Menezes). Caiu o Carmo e a Trindade na sede do PSD. E Durão lá conseguiu que a SIC metesse um barrosista no alinhamento (cujo nome me escapa). Tudo em nome da diversidade de opiniões.

Carvalhas

Gosto do PCP assim.
Pouco me importa que não se tenha actualizado. Que ainda não tenha percebido que o Muro caiu e essas coisas todas.
No terreno, na politicazinha caseira, o PCP é uma voz incómoda e necessária. No parlamento, nos sindicatos ou nas inúmeras organizações que controla, o PCP está sempre do lado dos mais fracos, dos mais pobres. É uma pequenina palha na engrenagem. Isso eu aplaudo.
E depois ainda tem a vantagem de, completamente fossilizado, se apresentar incapacitado para o exercício do poder. E isso deixa margem para que a outra esquerda governe, a esquerda que nunca acreditou no Muro ou que simplesmente se actualizou. E isso também é bom.
Vi há pouca na SIC Luís Osório - director de A Capital, que noticiou em primeira mão a saída de Carvalhas - dizer que Jerónimo de Sousa está na calha para a liderança. Ora aí está outra boa notícia - o meu PCP não vai mudar. Nem um bocadinho.

No Bush (II)

Philip Roth, em entrevista publicada na revista de domingo do El Pais (tradução do Le Monde):
«É incrível o que acontece no meu país. Vamos necessitar de várias décadas para recuperar. Se Bush for reeleito, será o desastre».
O último livro de Roth - The Plot Against America - saiu hoje nos EUA. Segundo a último Sunday Times, é o seu melhor livro.
[Act: o Manuel, da Grande Loja, diz-me que o livro já está à venda há uns dias e que até já o leu. Vá lá uma pessoa confiar nos media estrangeiros...]

Lula sim

Lula saiu largamente vencedor da primeira volta das autárquicas. Os brasileiros não lêem Diogo Mainardi. Bom, se calhar, lêem. Por isso é que votam Lula.

No Bush

Donald Rumsfeld também acha que o principal argumento para a guerra no Iraque - as ligações de Saddam ao terrorismo - não tinha fundamento. Ainda está a tempo de votar Kerry.

Rui Gomes da Silva tem razão

A primeira tentação é, obviamente, condenar Rui Gomes da Silva. Estamos perante o porta-voz de um governo que tem na imagem e na comunicação um dos seus principais sustentáculos e que, paradoxalmente, tem sido repetidamente desastrado na sua gestão. E, claro, toda a gente se escandaliza quando o poder tenta controlar os media.
No entanto...
Ainda não há muito tempo, escrevi aqui [quem tiver paciência que consulte os arquivos] sobre o domínio da área PSD nos comentários de televisão. Com a saída de Santana da RTP e do solo de Pacheco Pereira da SIC, a situação modificou-se (não digo que tenha melhorado - isso ficará para outra altura). E também sou daqueles que considero completamente anormal a missa dominical de Marcelo - ele idealiza as perguntas, ele dá as respostas, ele exerce o contraditório. Quantas vezes dou comigo a exclamar «Mas isto não é verdade...»? E falo, obviamente, de factos, não de opiniões.
Portugal tem mecanismos legais - até em excesso... - para resolver essas situações. Quem se sinta atingido, pode sempre invocar o direito de resposta e levar a sua exigência às últimas consequências.
Mas o problema de fundo mantém-se - há uma evidente distorção da opinião político-mediática em Portugal, principalmente na tv, que é o que conta pelo impacto que exerce na opinião pública.
E não colhe a ideia que, tratando-se a TVI de um canal privado de televisão, pode fazer o que quiser, convidar quem quiser. A televisão privada é exercida em regime de concessão, ao abrigo de uma lei muito clara, que diz no seu artigo 8.º: «Constituem fins dos canais generalistas (...) Favorecer a criação de hábitos de convivência cívica própria de um Estado democrático e contribuir para o pluralismo político, social e cultural». E a AACS tem o dever de fazer cumprir essa lei.
Ou seja, os media - é esse o entendimento da nossa lei e da generalidade da legislação europeia - embora tenham todo o direito a fazer alinhamentos políticos, têm igualmente o dever de garantir o equilíbrio da expressão de opiniões.
Que seja um Governo PSD a pôr em causa Marcelo é a suprema das ironias - ele, dizem, não gosta de Santana. Mas, o que dizer de Guterres, por exemplo, que rara é a semana que não é achincalhado?
Obviamente que a corrente de indignação vai vingar e Rui Gomes da Silva sairá ridicularizado de toda esta história. Mas o problema de fundo está lá e é mais sério que este simples arrufo de malta da mesma cor.

Dylan

A hora da verdade aproxima-se...

segunda-feira, 4 de outubro de 2004

Salva-se a Scarlett

O Manuel, da Grande Loja, insiste em dois ou três equívocos e junta-lhes outros tantos.
Comecemos pelo fim. Percebo que me queira colar a Luís Delgado - um traquinas, este Manuel... -, pena é que eu tenha dito exactamente o inverso do que escreveu Delgado. Este acha que a manchete do Expresso veio de alguém que quer tramar Santana, eu digo que veio de Santana. Ou seja, onde um diz branco, o outro escreve preto. Caso arrumado.
Mas sigamos o lençol de equívocos...
Eu nunca disse que a questão PSD-PP não é importante, ou sequer que não será uma ferida aberta na coligação. Eu disse que uma notícia concreta tinha sido colocada para produzir um determinado efeito. E isso continua a parecer-me óbvio. Quanto à coligação - basta recordar a sua génese e, mais, os seus antecedentes - para se perceber como ela é meramente instrumental e será reeditada enquanto for útil, nas condições em que melhor servir os dois partidos. Por isso, pelo seu carácter meramente instrumental (para segurar o poder), será discutida mais perto das eleições - agora são só fogachos.
Quanto às questões do PS, o Manuel acha que o que dividiu Alegre (oh homem, esqueça o Soares, que até ele já se esqueceu dele próprio...) de Sócrates foram só questões de linguagem (e eu que pensava que a política é isso mesmo - linguagem) e umas tretas irrelevantes, como o Iraque e o aborto. Eu juntaria a essas minudências a questão das alianças, ou do papel do Estado... Abro a boca de espanto!
E mais duas questões concretas. Estados Gerais - sim, chamem-me ingénuo, mas acho mesmo que é possível a sociedade civil (entendida enquanto nichos de saber, por exemplo) colaborar com os partidos, numa base de partilha de interesses e objectivos. Chamem-me ainda mais tonto - acho que foi isso que aconteceu na primeira fase de Guterres. E, agora, chamem-me idiota chapado, acho que até funcionou bem.
A questão dos rostos (sejam das Finanças, ou de outra coisa qualquer) está intimamente ligada à anterior. E de novo remeto para Guterres e para todos os considerandos anexos.
Bem vistas as coisas, do post do Manuel aproveitam-se as fotos da Scarlett Johansson. Mas até nisso ele falha - sou mesmo doidinho é pelo Lost in Translation.

Constituição europeia - enfim uma boa ideia

Parece que anda no ar a ideia de rever a Constituição caseira para permitir um referendo à Constituição europeia. Ora aí está uma excelente ideia - duvido é que haja coragem para ir até ao fim.
Porque isto de o povo estar arredado de opinar acerca dos tratados internacionais é coisa que não faz qualquer sentido. Íamos, então, responder a duas ou três perguntinhas obtusas para que depois os senhores deputados - mais informados e inteligentes que nós - aprovassem a coisa? Gigantesco atestado de menoridade...
Além do mais, passando a Constituição europeia a prevalecer sobre o ordenamento jurídico nacional numa série de matérias, estaremos ainda perante um «tratado internacional».

Vi e gostei

Bom... antes que a habitual procissão de indignados ponha o pé fora do adro, esclareço já que não contam comigo.
Vi e gostei. Falo, obviamente, d'A Quinta das Celebridades, na TVI.
O programa tem uma componente de auto-ironia que acho simplesmente deliciosa. Principalmente devido à escolha dos participantes - a maioria são actores na vida real, que vão ali representar esse mesmo papel.
Por exemplo, o Castelo Branco. Poucos países têm a sorte de ter um Castelo Branco. No seu ar afectado, na dúvida que imediatamente instala acerca das suas origens e do seu presente estatuto, na sexualidade incerta, no pedantismo estudado... aquilo é o jet-set. Como nós gostamos e imaginamos - um jet-set obviamente ridículo.
E os outros apenas serão menos conhecidos ou menos actores. Mas também eles representam na vida real. Que outra coisa são os porno stars? Que outra coisa é Ferreira Torres? Um actor.
Face aos Big Brothers anteriores, este apresenta a vantagem de ter, pois, actores. O argumento de que estão a ser exploradas as fraquezas ou as vaidades humanas já não cola. Aquilo é puramente lúdico, puro entretenimento. É por isso que tem graça.
Dito isto, a TVI que não me contabilize no share diário garantido. Tenho mais que fazer.

De Peniche

No fim-de-semana, recebi um mail semi-anónimo, semi-hate-mail, semi-várias-coisas, enviado por alguém que se auto-intitula Amigo de Peniche. O que me deixa baralhado: qual deles?

E Dylan, em quem vota?

Contributo enviesado para o martírio de Tiago:
Michael Moore (brrr....) lança hoje um disco chamado Songs and Artists That Inspired Fahrenheit 9/11. Tem três canções de Dylan.

Eu hoje vou

Ler blogues que comentem esta notícia.

Laranja(da)

Voltando ao Manuel... Enternece-me o latim que gasta com a última manchete do Expresso (putativa não-aliança PSD/PP nas legislativas).
Trata-se de um dos truques mais velhos da política portuguesa. E que, obviamente, só poderia ter sido comprado pelo Expresso.
No fim-de-semana do congresso do PS, havia que tirar o foco mediático de Guimarães. Noutros tempos, houve governos que descentralizaram durante o fim-de-semana para ofuscar o adversário, mas desta vez a categoria deslocalização já estava ocupada.
Trata-se de uma daquelas notícias sem custos. Dá-se, desmente-se, volta-se a dar, a desmentir, sem que daí advenham prejuízos políticos. Tão óbvio.

domingo, 3 de outubro de 2004

Rosa, sem choque (II)

O debate do PS foi, portanto, substantivo.
Porque havia duas concepções de Estado, duas visões sobre a economia, duas políticas de alianças, duas visões sobre a questão do Iraque, duas saídas para o aborto... E as diferenças eram substanciais. Como ganhou claramemte um dos lados, parece-me que se passou algo de importante, decisivo.
Dir-se-á que Sócrates é mais do mesmo, sem nada que o distinga de Guterres, ou, pior, de Santana. Mas isso também me parece importante - o PS assumiu-se, novamente, quase três anos após a saída do Governo, como uma máquina de poder. Não estou a fazer juízos de moral, ou sequer de adesão. Constato.
Não tenho ilusões sobre os limites à capacidade de governação num ambiente francamente globalizado, desde logo à escala europeia. Por isso, não espero dos partidos com capacidade para liderar governos propostas fracturantes, ou mesmo reformistas em estado avançado. Tudo se joga nos pormenores, nas opções de tom. Por exemplo - deslocando a questão de quadrante político, para que se perceba melhor -, um governo PSD/PP não é igual a um governo PSD. Não apenas na questão do pessoal político, mas de alguns tiques, de certas tonalidades mais carregadas (nacionalismo, aborto..).
Quanto às propostas concretas que ainda não saltaram - sou daqueles que consideram os famosos Estados Gerais do eng.º Guterres uma das coisas mais interessantes dos últimos anos na política portuguesa. Pela abertura à sociedade e pela possibilidade de circulação de ideias e propostas. Não terá sido por acaso que o PSD e (é verdade!!!) até o PCP tentaram imitar a ideia. Daí que me parece excelente que Sócrates siga o mesmo caminho. Pelos calendários normais, estamos a dois anos de eleições legislativas (a um ano, pelo calendário das antecipadas...), pelo que acho normal que Guterres - perdão, Sócrates - queira gerir esse calendário. E que as propostas venham a seu tempo.
Pretendia-se, ainda, um nome para as Finanças. Essa é hilariante.
Lembram-se dos nomes que Durão queria para as Finanças? Presumo, mesmo, que muitos tenham votado nele a pensar num ministro das Finanças específico (e, já agora, no choque fiscal...). Acabou por ter que se amanhar com que havia. E que veio a sair melhor que a encomenda...

Rosa, sem choque (I)

O Manel, na Grande Loja, pensa discordar de mim sobre o PS, mas talvez esteja errado.
É que eu, ao dizer que a campanha eleitoral do PS tinha sido esclarecedora, estava a referir-me, exclusivamente, ao problema interno do PS.
Ou seja, há muitos anos que tinha uma dúvida acerca do que os militantes do PS querem do partido - gostam do guterrismo de centro, sem alianças; preferem um PS mais à esquerda, disposto a levar o PC ao colo para o poder? Outra coisa?
[Tenho o mesmo problema com o PSD? Às vezes, parece-me genuinamente social-democrata, outras parece-me resvalar para a direita.]
A minha dúvida não era tanto sobre a orientação maioritária - desde que Soares pai meteu o socialismo na gaveta... - mas quanto ao peso de cada uma das eventuais tendências. Nessa medida, a vitória de Sócrates parecia-me óbvia.
Confesso, apesar de tudo, alguma surpresa (não muita...) quanto ao peso específico de cada uma das tendências. Presumia que a ala mais esquerdista fosse ligeiramente mais forte. Admito, porém, que muitos socialistas tenham optado por votar no vencedor.
Na linha de tudo isto, também considero que o próprio congresso foi bastante clarificador. O discurso de Jaime Gama, especialmente. Salvaguarde-se que não estou a tomar partido - apenas a fazer constatações.

Os tempos de Fialho

É difícil falar aos mais novos de Fialho Gouveia. Talvez melhor que outros, ele representa um outro tempo da televisão. Um tempo de imaginação, criação, mérito. Um tempo em que havia tempo. O Zip-zip e a Cornélia são programas inimagináveis nos tempos que correm. Porque, sendo populares, apelavam à inteligência, à criatividade, e não aos sentimentos mais superficiais com que se molda a televisão de hoje. E, sobretudo - insisto -, naquele tempo havia tempo - havia serão e não prime-time. Às vezes, gostava que a realidade me fizesse menos nostálgico.

A dupla legitimidade

Vital Moreira volta à questão do referendo europeu.
E eu continuo sem perceber uma questão muito simples. Diz Vital: «Se houver um "sim" [no referendo], a AR não pode deixar de a [a Constituição europeia] aprovar».
Mas como é que se obriga a AR a aprovar uma coisa? Selando contratos individuais com todos e cada um dos deputados? Violando-lhe a consciência?

sábado, 2 de outubro de 2004

Eu hoje vou

De uma ruína fazer uma casa.

Dá-me música III

au bout de téléphone il y a votre voix
et il y a les mots que je ne dirai pas
tous ces mots qui font peur quand ils ne font pas rire
qui sont dans trop de films, de chansons et de livres
je voudrais vous les dire et je voudrais les vivre
je ne le ferai pas: je veux, je ne peux pas
[Messages Personnel, Françoise Hardy]

sexta-feira, 1 de outubro de 2004

Terrorismo II

Lutz, meu caro, o facto de teres um blogue chamado Quase em Português não te obriga, necessariamente, a fazeres-te desentendido.
Quando escrevi que é «excessivamente simplista» culpar os terroristas de Bagdad, era só isso que queria dizer.
Repara que eu não justifico os seus actos. Apenas considero que, como tudo na vida, aquilo aconteceu num contexto específico - um país ocupado à margem da lei internacional por uns idiotas que nem plano tinham para controlar o caos que todos (menos eles...) previram.
Isso, insisto, não retira um pingo de culpa ao terroristas. Apenas não considero sério qualquer debate acerca do que se passa no Iraque sem atendermos à «origem do mal».
Se quiseres, Lutz, senti-me atingido com o ataque às Torres Gémeas - aquilo também era comigo, eram os meus valores que estavam a ser postos em causa.
No Iraque não penso o mesmo - os ataques terrotistas (condenáveis, embora...) não atingem os meus valores. Porque os meus valores não passam pela mais selvática das democratizações de que me lembro.
Tu, Lutz, acho que percebes...

Também para vocês

Nas últimas horas, espreitaram este cantinho dois blogues dignos de nota:
Quero roubar carteiras, que simplesmente me diz obrigado. E eu que nem dei pela falta dela.
Xupacabras, que ao fim de um ano ainda não aprendeu a escrever. E ainda bem.

Case closed

Ministra da Educação afasta dois directores-gerais, como o Expresso já tinha anunciado há três semanas, ainda nem sequer se sabia muito bem o que se passava com a colocação de professores. São, afinal, os tais dirigentes do Ministério «do tempo de Guterres». Lembram-se» de Guterres? Era primeiro-ministro no tempo em que as escolas abriam na data anunciada.
Encontrados os bodes expiatórios, para que serviria agora um inquérito ao que se passou?

Auch!!!

Santana dá murro na mesa.
A mesa nunca mais foi a mesma.