quarta-feira, 31 de dezembro de 2003

Último de 03

Bom 2004. Melhor que 2003.

Penúltimo de 03

Se 2003 tivesse de ser condensado apenas numa referência, não hesitaria: Sérgio Vieira de Mello.
Antes de mais, a língua. Essa proximidade, essa afectividade, que tantas vezes desprezamos.
Depois, outra proximidade. Timor. A tragédia que insistimos em transformar numa utopia. E que, afinal, caminha por si.
E o fim. Às mãos da tragédia maior do nosso tempo, o terrorismo. Simbolicamente, em nome de uma ONU vítima também ela do nosso tempo.
Tudo muito sem sentido. Como os dias que vivemos.

Antepenúltimo de 03

370 quilómetros quase em linha recta, paralelos ao mar. O conta-quilómetros a oscilar entre a cóima e a apreensão de carta.
Ainda há uma coisa importante para escrever.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2003

Aprender com as notícias

Já por mais de uma vez aqui escrevi sobre o papel de serviço público (diria, cívico) que os media podem ter, quando é a inteligência que os guia.
Mais um exemplo. Há uns meses tornei-me assinante de uma newsletter que o Le Monde edita às sextas-feiras e que se destina a associar a actualidade ao ensino - que podem os liceus, as universidades, retirar do fluxo contínuo de informação? E, já agora, que pode o simples cidadão aprender com as notícias?
A newsletter chama-se precisamente Examens e a versão desta semana pode ser consultada aqui.
[É claro que os ferozes anti-francófilos que floresceram nos últimos meses devem abster-se...]

Malucos, simplesmente

A SIC passou à hora de jantar, pela 184.ª vez, a anedota dos três alentejanos que discutem como será a vida depois da morte. Foi nos Malucos do Riso. A anedota não tem piada alguma, mas isso não importa. Acontece é que as últimas 15 vezes que a SIC passou aquilo um dos actores (Camacho Costa) já estava morto. Não me importo nada de ver programas com mortos, de ver cinema com mortos, ler livros de mortos, ouvir música de mortos. Mas incomoda-me a forma corriqueira, sempre a aviar, como a SIC repete as piadas com o morto.
Os Malucos do Riso é, de resto, um dos programas que melhor reflecte o estado de aparvalhamento a que chegámos. Um programa de anedotas, umas velhas outras nem tanto, encenadas e repetidas infinitamente. Todas elas já passaram dezenas de vezes, sempre no horário nobre.
O espantoso é que, se virem as audiências que os jornais publicam, facilmente verão que aquilo está quase sempre no topo, mais propriamente no primeiro lugar, das audiências.
O povo já conhece de cor e salteado... mas continua a ver.
Acho mesmo que aquilo tem efeitos secundários. Também eu por vezes lá passo, deve ser da hora. E o estado de aparvalhamento é tal que nem sei se já alguma vez aqui escrevi este texto...

O BMW do vizinho

O Jaquinzinhos acha que a esquerda acha que a posse de um BMW pelo vizinho é um índice relacionado com a riqueza.
Que disparate.
O facto de tantos meus vizinhos terem BMW é apenas um índice da valentíssima fuga fiscal em que este país está mergulhado.
[E pronto. Com este texto quebra-se, não apenas o espírito natalício em que o TdN tinha mergulhado, mas igualmente as juras interiores de contenção e alguma elevação.]

quarta-feira, 24 de dezembro de 2003

(texto sem título)

O blogue entra assim na nossa vida. Assim.
No meu caso, o blogue veio roubar tempo onde ele já não existia. Veio exacerbar discussões, perplexidades, irritações, onde elas já não escasseavam.
No meu caso, insisto, eu que há duas décadas vou deixando o nome impresso aqui e ali, comprometendo-me ora com coisas banais, ora com coisas mais sérias, encontrei aqui um cantinho onde posso, pela primeira vez, ser sincero. É isso que mais me atrai no blogue - a possibilidade de ser sincero. De escrever e assinar por baixo o que penso e (às vezes) sinto.
Escrevi há dias um texto fruto de algum desencanto. Quem nunca teve?
Mas descubro que, com este ou outro ritmo, este ou outro registo, vou continuar. Até um dia, mas isso agora pouco importa. Quem guarda os nossos dias?
Nestes dias, recebi palavras de incentivo. E descubro que todas elas eram sinceras. Isso reconforta-me, não apenas pelo incentivo, mas por perceber que outros há procurando essa sinceridade.
Permitam-me que destaque o que escreveu NMP, do Mar Salgado, precisamente um blogue com quem adoro andar às turras. E que, de entre os meus leitores mais fiéis extra-blogues, destaque Luís Bonifácio e ainda Laura Rubin, que me estraga com mimos.
O TdN faz dia 25 seis meses. Habituei-me a comemorar no dia 24, porque, na realidade, esta aventura começou na noite de 24. As aventuras adoram a noite.
A prenda de aniversário vai ser uma roupa nova. Eu, que nada percebo de html, tenho andado às voltas com strings e códigos. O visual manter-se-á simples, sem fotos (por teimosia, acredito no poder da palavra), sem comentários (este é o meu espaço, desculpem lá) e com uma coluna de links que serão, antes de mais sugestões de leitura, sítios por onde vou passando (a lista é pessoal, não exaustiva, flutuante, e não reflecte qualquer tipo de reciprocidade de linkagem). Manter-se-á o contador de visitas da Netcode, que me permite perceber quantos me lêem, quem me lê. Acho isso importante, embora me pareça irrelevante qualquer campeonato, ranking ou luta de audiências. Só quero saber se ainda há alguém aí desse lado, interessado em ler e, eventualmente, participar de forma mais activa.
Um último parágrafo para desejar os tradicionais votos de boas festas. Como de costume, recebo mais do que dou. Acreditem que todos cabem nesta forma colectiva de vos desejar tudo do melhor. Com sinceridade.

Dois ou três rigores que o Verissimo merece

Nelson de Matos surpreendeu-me por uma momentânea falta de perspicácia acerca dos livros de Luis Fernando Verissimo. Pergunta: «Se ele [eu] diz que já tem a edição brasileira, para que quererá agora a portuguesa?» Oh homem, eu não quero. Eu quero é que o Verissimo seja mais lido em Portugal. Ganhava o Verissimo, ganhava a Língua Portuguesa... e ganhava a Dom Quixote. E, já agora, ganhava eu, que pagaria menos pelas futuras edições...
Já agora, que estamos com a mão na massa: o Sexo na Cabeça que tenho foi comprado no Brasil (Livraria Argumento, Rio de Janeiro) e trazido por mão amiga. Esta traficância também entra na categoria de pirataria?
E já que estamos com rigores: o meu amigo diz que «as edições portuguesas são absolutamente iguais às brasileiras». Ora isso não é verdade: as edições da colecção da D. Quixote têm menos dois centímetros de largura e quase cinco de altura. E o papel é amarelo e não branco (o que não é desvantagem, é certo). Dou-lhe, apesar de tudo, os parabéns por ter mantido aquele efeito brilhante nas caricaturas do Luis na capa.
Mais outro rigor: a D. Quixote não tem todos os direitos do Luis em Portugal. Então e Borges e os Orangotangos Eternos da Asa?
Ainda mais um rigor: as edições da D. Quixote, à semelhança das brasileiras, não permitem esclarecer uma dúvida sobre um importante debate que mantive aqui no blogue há uns meses - o Luis leva acento? e o Verissimo?

segunda-feira, 22 de dezembro de 2003

Eu, o Pedro, o PS, o Saddam e a América (II)

Esclarecida, penso eu, a parte da conversa relativa à inutilidade da revelação partidária, vamos ao centro da questão.
Fui, desde a primeira hora, contra a intervenção no Iraque, mais devido ao que entendo deverem ser as relações internacionais, do que por causa do que estava em jogo. As armas de destruição maciça e eventuais conexões terroristas são, assim, aspectos secundários. Acho é que uma intervenção militar externa não constitui um modo aceitável de derrubar uma ditadura, ou, se quisermos, de democratizar seja o que for. Entendo que a democracia genuína pressupõe uma pré-etapa de autodeterminação - são os povos que decidem viver em democracia. Foi assim em Portugal, como foi assim na Europa de Leste, por exemplo.
No caso do Iraque, há ainda o aspecto religioso. Tratar o Islão à bala é fomentar o radicalismo. Considero preferí­veis outras vias - alguns países do magrebe ou a Turquia, por exemplo, têm lidado bem com este assunto. Nesses paí­ses, em que o Estado consegue alguma autonomia face à religião, desconto até algum autoritarismo, algum sacrifício dos direitos humanos. Encaro isso como uma etapa. Sempre me pareceu que os EUA também apostavam nesse via... até agora.
Já escrevi, e repito, que a via multilateral na questão do Iraque (leia-se, a via da ONU) estava longe de esgotada. As coisas tinham chegado a um ponto que, numa questão de meses, a comunidade internacional haveria de chegar a um consenso. Discordo totalmente da estratégia dos EUA de fragilizarem a ONU - isso é evidente e é anterior ao Iraque, eventualmente anterior a Bush. Uma coisa foi a guerra de palavras com a França em público, outra foram os bastidores, o modo como se conduziu o processo.
Considero, tendo tudo isto em conta, a intervenção americana totalmente ilegítima, pelo que não faria qualquer sentido aplaudir a prisão de Saddam. Se quiserem, aplica-se uma frase feita - em política, os fins nunca justificam os meios. Pormenor sem importância: o regime de Saddam já caíra há mais de sete meses, pelo que pouco haveria a comemorar. Não sei, sequer, se a captura de Saddam terá quaisquer efeitos na estabilização do paí­s.
Como a coisa já vai longa, apenas duas notas sobre o que escreve Pedro Mexia.
a) Os parágrafos que ele dedica à sua relação com a América... Comigo, é mais fácil: crí­tico um aspecto concreto dos EUA, sou anti-americano; sou contra esta guerra, sou pacifista. A sério: tenho um entendimento do mundo no qual a América terá sempre um papel preponderante (por todos os motivos...), mas integrada no chamado «concerto das nações». Não me parece pedir muito.
b) A candura com que aceita o que diz Bush - a Palestina, por exemplo - sem atender a que há uma contradição total com os actos. Candura que se transforma em cinismo quando analisa, por exemplo, as declarações da França na ONU.
Congratulo-me, apesar de tudo, pelo facto de o Pedro não ter enveredado pelo caminho da generalidade dos blogues de direita: a esquerda é acusada de traição por não festejar a captura de Saddam; é acusada de hipocrisia por aplaudir (veja-se os comentários às reacções do PS e de Jorge Sampaio).

Eu, o Pedro, o PS, o Saddam e a América (I)

O Pedro, do Dicionário do Diabo, lançou-me há dias um apelo que - vejam lá como os Correios andam nestes dias de Natal - foi parar ao Pedro, do País Relativo. A verdade é que o primeiro Pedro teve culpas no cartório - nem sequer preencheu o campo do destinatário. Como o primeiro Pedro voltou ao tema - e antes que o apelo caia novamente na caixa de correio errada - aí­ vai a resposta. Como isto dava para um livro, a maioria dos pontos são abordados superficialmente. Desenvolveremos, a pedido.
Abreviando, o Pedro propõe-me um coming out partidário e um consequente alinhamento com a posições do PS em relação à captura de Saddam. Isto porque o Pedro não gostou que eu tenha recusado a taça de champanhe que tantos me estenderam e, pior, ainda me dei ao luxo de desconversar.
Vamos por partes.
Sou de uma esquerda sem complexos em relação ao poder. Por isso, revejo-me com alguma frequência nas posições do PS. Mas não sou militante, pelo que não há qualquer coming out a fazer. Além do mais, essa proximidade é uma faca de dois gumes: tanto me dá para subscrever algumas posições, como me dá para ser mais exigente do que com outros partidos.
Acresce a tudo isto que as opções de política externa dos partidos na oposição - à parte as grandes linhas e os grandes desvios - são relativamente irrelevantes.

sábado, 20 de dezembro de 2003

E agora, João?

Os últimos dias (semanas?) foram política, o Iraque, política, Saddam, o aborto, política, o Iraque...
Não foi para isto que aqui chegaste.
O blogue faz seis meses dia 24. Sabes lá se terás tempo, disponibilidade, vontade, de assinalar a coisa.
O blogue até nem está mal colocado no Top Technorati (embora ainda não faças 69...).
O blogue até tem uma média razoável (o que é razoável?) de leitores diários.
O blogue até te tem dado gozo. Obriga a pensar, ordenar ideias, ou simplesmente mandar a boca e ficar à espera. Traquinas!
O blogue às vezes não dá gozo. Escreves sempre que queres? Só quando queres? Ou já deste contigo a escrever por obrigação? Escrever por encomenda?
E há os outros. Que são o teu Inferno, mas que te salvam. Porque lês todos os dias tipos que no fundo te irritam? Não te basta a vidinha?
Sentes, confessas, uma certa desilusão. Porque esperavas, talvez, mais massa crítica. Esperavas mais. Esperavas.
Sabes lá quando o silêncio te aconchega ou simplesmente te ignora. Te despreza.
Mas agora que os seis meses acenam ali à frente. E que o calendário obriga (obriga mesmo?) a arrumações. Agora.
Agora talvez seja tempo de repensar isto. Subtilmente? Ou talvez não.
Para que tudo fique na mesma, pensas tu, resistindo a escrevê-lo.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2003

O aperto de mão de Rumsfeld a Saddam

E o que foi Donald Rumsfeld fazer ao Iraque em 1984, quando foi fotografado a cumprimentar Saddam Hussein?
«Donald H. Rumsfeld went to Baghdad in March 1984 with instructions to deliver a private message about weapons of mass destruction: that the United States' public criticism of Iraq for using chemical weapons would not derail Washington's attempts to forge a better relationship, according to newly declassified documents.»
No Washington Post de hoje.
Repito, a negro, para quem tenha dificuldades de visão:
...«that the United States' public criticism of Iraq for using chemical weapons would not derail Washington's attempts to forge a better relationship».

O véu em França e o racismo

Edgar Morin, numa curta entrevista ao Le Monde, mostra-se discordante com todo o barulho feito em França à volta do véu, da lei da laicicidade, etc. Porque, no fundo, diz ele, o problema não era tão grave que merecesse tanta preocupação política e legislativa. Utiliza mesmo uma expressão curiosa: «Utilizámos uma marreta para partir um ovo».
Concordo plenamente com ele. Estamos a assistir a um alarme desproporcionado acerca do racismo e da xenofobia, nomeadamente religiosa, na Europa. Estamos a tomar os poucos casos registados como se de uma onda se tratasse. E - o que me parece mais preocupante - estamos a descontextualizar esses poucos casos, muitos deles relacionados com aspectos específicos (políticos, económicos, mesmo pessoais), conferindo-lhes uma dimensão generalizada que não faz qualquer sentido.
É por isso que Morin diz: «Estamos a ressuscitar as querelas religiosas quando queríamos saná-las». Não podia estar mais de acordo.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2003

Afinal...

«Afinal». É assim que começa um dos textos da Visão desta semana.
Parece-me que não é maneira de começar um texto, muito menos um texto jornalístico. Por isso, fui ler.
Era sobre a Lusíada. Os mesmo jornalistas que, há uma semana, trouxeram o caso a público voltam à carga. Basicamente para desmentir os desmentidos do ministro Morais Sarmento. Ou seja, basicamente para reafirmarem, com novos dados, o que haviam escrito.
Achei estranha a maneira apressada como, em 24 horas, se encerrou, politica e mediaticamente, este caso. Mas como era (e é) um caso muito complexo do ponto de vista jurídico, admiti que, para além das coincidências e de um ou outro pormenor legal, tudo estaria nos conformes.
O texto desta semana da Visão repõe todas as dúvidas. Estranho, ainda mais, o silêncio que se fez há uma semana. E o ensurdecedor silêncio à volta deste segundo texto.

Um julgamento justo (III)

Quando um destes dias escrevi sobre a dificuldade de julgar Saddam estava a pensar mais no domínio do simbólico - até que ponto é razoável uma democracia julgar uma ditadura?
Mas também alertava para a dificuldade de fazer aquelas coisas banais de recolher provas, assegurar defesa, etc.
Ontem, as notícias confirmaram os meus receios. Os membros da Iraq Memory Foundation, que há anos se dedicam a recolher provas contra Saddam, dizem que vai ser difícil encontrar provas flagrantes.
Eles já têm milhões de papéis assinados pelo velhote, mas nenhum permite fazer a ligação com qualquer crime específico.
Atenção: estamos a falar de uma organização de iraquianos apoiados pelos EUA, convidados a falar em Washington num centro de reflexão ligado a Bush...

Heidi Klum?

O Bloguitica informa-nos que a Heidi Klum está grávida.
Ora isso só pode ser mentira. Eu tive-a, até há poucas semanas, no desktop do emprego e não lhe fiz nada...

Outras tocas

«Muito estadista engravatado também foi apanhado numa toca, só que mais confortável que a de Saddam.»
in Opiniondesmaker.

O Zé Mário

O Mário (estarei a repetir-me?) insiste em levar-me por bons caminhos. Agora, mandou-me uns lindos postais de Natal e recomenda-me que me afaste um bocadinho da política.
Há dias, aconselhava-me a evocação que está a fazer do José Mário Branco para que me esquecesse por momentos de Saddam.
As boas festas retribuo, sem imagens, mas com a mesma sinceridade.
Já quanto ao José Mário Branco... O fulano não será um bocadito de esquerda? É que eu já tenho tão má reputação... Se eles soubessem que tenho a discografia integral em LP e CD e que estou ansiosamente à espera de um novo disco que o homem prometeu numa entrevista à Visão há umas semanas... O melhor é mudar de assunto, desculpe lá Mário.

Sexo e futebol

O Avatares e o Cafageste puseram-se a falar das comparações entre «sexo e futebol». Como devem compreender, só posso falar pelo que leio. E, se o tema é esse (ou qualquer outro....), o Luis Fernando Verissimo tem algo a dizer:
«No futebol, como no sexo, as pessoas suam ao mesmo tempo, avançam e recuam, quase sempre vão pelo meio mas também caem para um lado ou para o outro e às vezes há um deslocamento. Nos dois é importantíssimo ter jogo de cintura.
No sexo, como no futebol, você amacia no peito, bota no chão, cadencia, e tem que ter uma explicação pronta na saída para o caso de não dar certo.»

Os excertos são do livro Sexo na Cabeça, que tenho na edição brasileira da Objectiva, mas que este homem bem podia trazer para Portugal, como já trouxe outros livros do Verissimo (muito poucos, até agora...).
O livro começa com uma citação fabulosa: «Você tem sexo na cabeça, rapaz. E aí, definitivamente, não é o lugar dele.» Mae West.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2003

Casa Pi(fi)a

Agora foi Jorge Ritto!!!
Insisto na pergunta: ainda há alguma decisão da primeira instância que não tenha sido revogada?
É claro que o processo Casa Pia não é uma cabala.
Então o que é?

Ícone

Saddam era aquele fulano com bigode. No Iraque, todos tinham bigode. Mas Saddam era mesmo aquele.
Entretanto, Saddam foi preso com barbas de Marx versão Pai Natal.
A seguir, fizeram-lhe a barba e ele voltou a ser o fulano do bigode.
Mas, por estes dias, os media só nos mostram Saddam de barbas. O Saddam do bigode esfumou-se.
Que ícone do tirano de Bagdad guardará a História?

Um julgamento justo (II)

Perguntam-me dois leitores o que quero dizer com as dúvidas acerca de um julgamento justo de Saddam. Será que defendo a sua eliminação pura e simples?
Nada disso. E as dúvidas que expresso são genuínas e a pedirem ajuda.
A Humanidade não tem muita experiência no julgamento de ditadores, pelo menos deste calibre.
Como se julga alguém preso numa operação militar e acusado de uma vastíssima panóplia de crimes, que se estendem ao longo de, pelo menos, duas décadas e extravasam fronteiras?
Há as questões processuais: que provas apresentar, que testemunhas, que contraditório poderá ser feito?
E há a questão de fundo: uma democracia pode julgar um ditador?
Quando a democracia julga a ditadura, a sentença é anterior ao próprio julgamento.
São questões que, a meu ver, estão longe de serem pacíficas e que mexem fundo com as concepções que temos da política e, mais importante, da Humanidade.
Apesar disso, não espero respostas. A minha postura, neste caso concreto como no resto, é mais de problematização do que opinião. Neste ambiente, em que toda a gente tem certezas absolutas e irrefutáveis sobre tudo e mais alguma coisa, só espero reacções do tipo: «Lá está ele a defender o Saddam, por vias tortuosas, mas a defender o Saddam». Não é nada disso... mas que se lixe.

terça-feira, 16 de dezembro de 2003

Aborto. Ponto final

Quando, há uns semanas, se começou a falar da questão do aborto, lembrei que me parecia um debate condenado ao fracasso. As bases políticas que conduziram à coligação no poder deixavam muito claro que seria impossível qualquer mudança da lei. Hoje, a coligação pôs ponto final nas especulações dos últimos dias acerca de uma eventual abertura a equacionar o assunto. Este é um daqueles casos em que o CDS/PP faz questão de impôr a sua marca ideológica. E em que, pelos vistos, o PSD não se importa.

Um julgamento justo

Há frases que se repetem, que se repetem, entre a ingenuidade e a hipocrisia, e que, de tão repetidas, já nada significam.
Digam-me: é possível julgar um ditador? Ainda para mais, justamente?

O vento? (2)

Ahhh... reparo agora: o editorial do director também é sobre o «vento que passa» (recordações de juventude...?). Pronto, a jornalista enviada a Bagdad, por esta vez, está desculpada. Que não repita a graça?

O vento

Começo a dar alguma razão à malta pró-Bush no Iraque.
Então não é que o Público tem a oportunidade única de ter uma jornalista em Bagdad no dia seguinte à captura do tirano e a moça não encontra nada de mais interessante para contar do que o regresso do vento?
Sinceramente, isto é lá maneira de falar de um dia histórico. Quando regressar, vai ser chamada ao gabinete do director.

Ferro, a cabala, os comentadores

Na última semana, os opinion makers deram em fazer contraponto entre as atitudes de Carlos César, nos Açores, e as de Ferro Rodrigues, em Lisboa, acerca da pedofilia.
Esse contraponto - que tem subjacente a ideia de que César esteve muito melhor que Ferro - baseia-se em dois aspectos: a não demissão de Paulo Pedroso versus demissão de Ricardo Rodrigues, e a estafada tese da cabala. Resolvi, por isso, ler a entrevista de César ao Público. E o que diz ele?
Sobre a demissão: «Um Clima de Suspeição no Tribunal da Opinião Pública Não É Compatível com a Permanência em Cargos de Decisão». A diferença entre cargo de representação e cargo executivo é fundamental quando se aborda a questão da responsabilidade política. É por isso que não faz sentido comparar as decisões tomadas por Paulo Pedroso com as que Fátima Felgueiras não tomou ou com as que agora foram tomadas nos Açores.
Sobre a cabala: «No país não pode haver concerteza uma cabala à volta destes problemas, embora não deixe de ser curioso que as investigações em geral se tenham dirigido às pessoas a que se dirigiram. Penso e repito que a cabala - a existir - é posterior a todos esses processos de investigação ou a todos esses boatos. A cabala é falar sistematicamente do dr. Paulo Pedroso ou não falar dos inúmeros casos de corrupção que já deram origem à queda de membros do Governo da República. Parece que há pessoas que caíram no anonimato, num manto de silêncio depois de saírem do Governo acusados de actos de corrupção.» Ou seja, Carlos César diz exactamente o que toda a direcção do PS tem andado a dizer desde o início. Que há abordagens duplas na vida político-mediática em Portugal.
O que terá levado os comentadores a dizerem o que disseram? A análise do que foi dito ou simplesmente o desejo de chatear Ferro?

Que lindas fotos (3)

É claro que se o Jaquinzinhos não se ficasse só pelas fotografias poderia relatar-nos o que disseram Mário Soares, Jorge Sampaio e António Guterres (três socialistas... brrr) sobre Cuba e o regime cubano nas várias cimeiras ibero-americanas em que participaram ao lado do ditador. E, já agora, o que fizeram Sampaio e Guterres quando a cimeira se realizou em Havana. (E, a propósito, de que falavam Rumsfeld e Saddam?)

Saddam na blogosfera inteligente

Passadas 36 horas, a que se resume a reacção à captura de Saddam Hussein na blogosfera inteligente?
Praticamente a nada.
Há os que simplesmente estão muito felizes e nem sabem muito bem porquê.
E há os que estão felizes e tentam articular um discursozito coerente e só lhes saem banalidades.
E há os que, e são quase todos os anteriores e mais uma data deles, que estão contentes simplesmente porque acham que a notícia deixou muita gente triste. Isso não é novidade, eles normalmente só conseguem pensar, só conseguem existir, em oposição a qualquer coisa.
Discursos articulados, analíticos, tentando perceber a importância, tentando desvendar pistas para o futuro, nada. Vezes nada.
É isto a blogosfera indigente... desculpem, inteligente.

Que lindas fotos (2)

Nããã... acho que, antes, ele ainda vai publicar uma foto do Pervez Musharraf com o George W. Bush.
Quem é o Pervez Musharaff? Pois o Pervez Musharraf é Presidente do Paquistão, país que, ainda há uma semana, a cimeira da Commonwealth decidiu manter suspenso da organização por não cumprir os necessários critérios democráticos. Sim, o mesmo Paquistão em cuja fronteira com o Afeganistão se passeiam com todo o à-vontade os mais tenebrosos talibãs. Sim, esse Paquistão que os Estados Unidos tanto ajudam, coitadinho que até tem bomba nuclear, simplesmente porque lhe dá jeito para a coisa do Afeganistão.

Que lindas fotos

Aposto que a próxima foto que o Jaquinzinhos vai publicar é a do Durão Barroso no casamento da fillha do José Eduardo dos Santos.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2003

António Brota(s) que se farta

Todos os partidos políticos têm pessoas destas - fazem muito barulho, mas contam pouco quando chega a hora de decidir. No PS há, entre tantos outros, António Brotas. Ele faz manifestos, ele dá conferências de imprensa, ele tem espaço nos jornais quando os jornais precisam de alguém que diga mal do líder e ninguém se chega à frente... Mas, quando chega a hora de contar votos, ou seja lá o que for, nada.
A última do Brotas é interessante.
Como se sabe, Jorge Sampaio foi à Argélia numa visita que durou 48 horas e que envolveu muito pouco folclore. Ora o Brotas não gostou que Sampaio não tenha homenageado Humberto Delgado, que por lá passou. Como também não homenageou Manuel Alegre, ou, mais importante, Manuel Teixeira Gomes, que lá viveu 10 anos e lá morreu.
Então que fez Brotas?
Publicou um texto indignado no Ter Voz, no dia 6. Nada contra. Não satisfeito, enviou o mesmo texto para o Diário de Notícias e o Público, que hoje o publicaram na secção de cartas ao director.
A indignação de António Brotas está a ter uma saída... Ou como, com um pouco de xico-espertalhice, se faz passar qualquer mensagem. Por mais irrelevante que seja, como é o caso.

Anti-semitismo no NouvelObs

A revista Nouvel Observateur desta semana tem um dossier sobre o racismo na Europa, com especial enfoque no anti-semitismo. Na linha das posições defendidas pelo Aviz e pela Rua da Judiaria, numa troca de ideias que tivémos há dias. Quem estiver interessado no tema, tem ali muito que ler.

Serviço público (de amigos)

O canal 1 da RTP está a transmitir em directo um jogo de futebol entre os Amigos de Ronaldo e os Amigos de Zidane.

Boca machista, escabrosa mesmo...

... só para manter a reputação e a pedir para ser seviciado pela Helena Matos e por outros polícias de costumes.

- Colin Powell vai ser operado à próstata.
- Mas quem tem esse problema na Casa Branca não é a Condoleezza Rice?

Não sejas mentiroso, Jaquim

Aos muitos leitores que aqui chegaram enganados pelo Jaquinzinhos, só me resta pedir-lhes desculpa. É carapau de corrida... não sabe o que diz.
Aos muitos blogueiros que nas últimas horas escreveram uns disparates repletos de indirectas a TdN não posso agradecer - estão a dar-me cabo do Top Tecnhorati.

domingo, 14 de dezembro de 2003

Tão simples

A queda de um tirano é sempre motivo de alegria.
Não posso aplaudir mais um episódio de uma guerra de que discordei totalmente desde a primeira hora.

Preciso de explicar mais alguma coisa?

Tourne-toi

Uma das canções de Serge Gainsbourg de que mais gosto, em dueto com Jane Birkin, é La Décadanse.
«Tourne-toi
- Non
- Contre moi
- Non, pas comm'ça
- ...Et danse
La décadanse
Bouge tes reins
Lentement
devant les miens
- Reste là
Derrièr' moi
Balance
La décadanse
Que tes mains
Frôlent mes seins
Et mon cœur
Qui est le tien»

A canção é de 1971 e, como explicou um dia um crítico musical francês, o seu sucesso só não foi maior porque, tratando-se de uma música de dança, exigia... digamos... uma posição um pouco ousada, if you know what I mean...

Eu apanho as canas

Não foi apenas Saddam que os americanos apanharam hoje no Iraque. Fomos todos nós, os que andámos aqui a defender o terrorismo, a ditadura, o fundamentalismo islâmico. Todos nós, que andámos aqui a dizer mal dos americanos (abençoados, sejam!!! Hip, Hip), dos ingleses (idem, idem...) e (hossanas, hossanas...) do nosso Zé Manel.
Sim, há que reconhecê-lo. Também nós fomos derrotados, também nós fomos apanhados.
Nós, cuja fé nos levava a escrever que o terrorismo internacional, o fundamentalismo islâmico, em suma, o MAL, haveria de vencer esse vento de democracia, de liberdade, de pura alegria, que sopra da América.
O Saddam ainda se safa. Está preso, vai ser julgado por imparcialíssimos juízes iraquianos. E, pronto, lá cumprirá uma pena de prisão.
Agora... e nós. Sim, nós que tudo demos por ele? Nós que temos um blogue para alimentar. Sobre o que vamos escrever agora. Como poderemos continuar a defender aquelas coisas do multilateralismo, das Nações Unidas, dos Direitos do Homem, do diálogo internacional, do direito dos povos à auto-determinação? Com que cara encararemos os festejos nacionais? O feriado nacional, o Portas a passar revista às tropas em frente aos Jerónimos, o discurso à Nação do Zé Manel, as colunas do Delgado (oh, meu Deus, as colunas do Delgado...). Sim, como acharemos nós que ainda temos direito ao nosso quinhão de ar puro?
E agora? - insisto. Será melhor ficarmos calados, tentar disfaçar, alinhar mesmo nas comemorações? Ou será melhor pedir humildemente desculpa? Eu, por exemplo, poderia prometer escrever apenas sobre a Joni Mitchell (perdão, talvez seja um bocadito à esquerda, contestatária...). O melhor mesmo é garantir que só escrevo sobre Jacques Brel. Também era contestatário, mas está morto.
Para já, para mostrar a minha boa vontade - encarrego-me de apanhar as vossas canas. É que estão a deitar tantos foguetes, a beber tanto champanhe, que alguém terá de se encarregar desses trabalhos menores. 'Tá bem, pronto - eu apanho as canas.

Gostei, não gostei

Gostei.
Quando Paul Bremer, na conferência de imprensa, anunciou «We got him», a sala explode em aplausos. Já nos tinham avisado que a cobertura da guerra no Iraque não estava a ser independente. Percebi agora o alcance desse alerta.
Não gostei.
Na Skynews, a jornalista perguntou ao comentador: «A exibição das imagens de Saddam não viola as Convenções de Genebra?» Parece impossível: uma hora destas e eles com pormenores.
Não gostei.
Na Euronews, a voz off interrogava-se sobre quem ficaria com a recompensa (25 milhões de dólares?). Os fulanos da CIA e os militares americanos não, que eles estão lá, abnegadamente, a lutar pela democracia, pela liberdade e patati, patata...

Jingle bell, jingle bell

http://news.bbc.co.uk/2/hi/middle_east/3317429.stm
Prenderam o Pai Natal.

Notícias de partir

http://www.sky.com/skynews/article/0,,30000-1115282,00.html
Proponho que o gajo seja levado para Guantanamo e julgado pelo juiz Rui Teixeira.
Para termos a certeza de que o filho da puta não terá a mínima hipótese de defesa.

Breaking News

http://www.foxnews.com/story/0,2933,105706,00.html
Aposto que é de plástico.

Iraque

http://news.bbc.co.uk/2/hi/middle_east/3317429.stm
Agora só faltam as armas de destruição maciça.
Se a CIA as tiver colocado no local certo, elas hão-de aparecer.

A crise de autoridade do Estado

Vejo a palhaçada que reina na Brigada de Trânsito da GNR há várias semanas e pergunto-me onde estarão aquelas pessoas muito preocupadas com a «crise de autoridade do Estado» quando, nos governos do engenheiro Guterres, houve uns problemas na PSP.

Schneidermann - memória

Lambram-se de Daniel Schneidermann, o famoso crítico de media do Le Monde despedido porque publicou um livro em que chamava mafisosos aos administradores do... Le Monde?
Na altura, um grupo de intelectuais portugueses fez um abaixo-assinado contra essa acto de censura. Na altura, escrevi que o Le Monde fez muito bem.
Schneidermann foi, entretanto, escrever para o Libération, onde tem uma crítica semanal idêntica à que tinha no Le Monde. Adivinhem do que fala a crónica de sexta-feira... Dos negócios menos claros do... Le Monde.
A isto chama-se «projecto de vida».

sábado, 13 de dezembro de 2003

A política no seu pior

Resisto a alinhar no coro de críticas sistemáticas aos políticos. Mas quando ouço certas coisas...
Portugal vai ter a sede de uma agência da UE sobre segurança marítima. Foi uma decisão da cimeira de Bruxelas. A atribuição destas sedes respeita um equilíbrio na distribuição de benesses na União - o facto de Portugal ter esta sede quer apenas dizer que não terá outras, e que outros países terão outras benesses. Só isso.
Agora vejam o que ouvi esta tarde na TSF.
João Soares (PS) disse que esta é uma vitória do PS, que tinha tido a ideia há uns anos. Pedro Duarte (PSD) elogio o trabalho de Durão Barroso na obtenção desta vitória. E João Rebelo (CDS), tentando imitar a demagogia do chefe, diz que os recursos marítimos de Portugal vão ficar muito mais seguros (lembrei-me logo de Nossa Senhora que, desde o caso do Prestige, é a nossa padroeira de segurança marítima).
Em momentos destes, alinho em qualquer manifestação anti-políticos.

Ainda o marketing político

O Estrangeirado de Paris manifestava um dia destes uma fé sem limites no marketing político. Vale a pena aclarar algumas ideias.
A acção política comporta sempre uma certa dose de marketing - a própria matéria da política a isso obriga. Outra coisa foi o que aqui escrevi (e acho que o que o JPP escreveu ia no mesmo sentido) - o mal é quando a política se submete ao marketing, quando a política se resume ao marketing.
Ou seja, todos estamos de acordo que o marketing pode muito em política, o problema está nos limites.
Quando os governos começam a dizer que estão a governar bem, mas a mensagem não passa, fico sempre desconfiado. Os governos têm hoje ao seu dispôr gigantescas máquinas de marketing - raro é o ministério que tem apenas um assessor de imprensa, muitas são as empresas de comunicação e imagem que sobrevivem a trabalhar para os sucessivos governos.
Gostava de esclarecer uma frase que escrevi e que os Estrangeirados citam - «o problema é que, muitas vezes, se as medidas fossem bem explicadas o povo ainda ficava mais zangado com o governo». Estava a pensar, por exemplo, na famosa questão do défice. Acho que se o povo soubesse que o problema está a ser resolvido com mera maquilhagem de circunstância e com nenhuma medida de fundo [ainda hoje o DN noticia que a Função Pública admitiu mais uma data de trabalhadores, quando era suposto acontecer o contrário] , o Governo iria ficar em maus lençóis.
Mas acho que, noutros casos, o Governo ganharia em comunicar mais. Por exemplo, no caso da Lusíada, tendo em conta as muitas ligações entre a universidade e o Governo, teria havido toda a vantagem em ter publicitado as acções empreendidas. Por exemplo, levando a questão ao Parlamento ou fazendo uma daquelas cerimónicas públicas que servem precisamente para dar explicações. Aí, o Governo deixaria implícito: «Nós temos estas ligações a esta universidade e acabamos de fazer isto. Alguém tem dúvidas?».

You Jane

Há dias, falei do espanto que me causou o facto de Jane Birkin ter ido actuar a Telavive e à Faixa de Gaza. Espanto pela pose que a moça costuma adoptar e também pelo repertório mais ou menos provocatório que costuma apresentar.
Descobri hoje que Jane cantou principalmente temas do seu último disco, Arabesque, releituras das canções de Serge Gainsbourg com arranjos de música árabe. 'Tá bem, a música passa, mas as letras senhores?
O site oficial tem mais sobre Arabesque [dá para ouvir], uma notícia sobre a passagem pela Faixa de Gaza e mais uma data de informação sobre a Jane. Bienvenue.

Ainda o artigo de JPP (II)

No essencial, concordo com a argumentação do Bloguitica acerca da estratégia de JPP no artigo sobre as presidenciais. Quando escrevi o desafiador Blogues versus media - velocidade não era propriamente o Bloguitica que estava a interpelar, mas mais os blogues que se reclamam directamente da área PSD/CDS/PND e que se encontram estranhamente silenciosos.
Só não concordo totalmente quanto à frieza de Santana. É um sobre-excitado por natureza e, pessoalmente ou por interpostas pessoas, nas últimas semanas assemelhou-se a um pião louco a marcar o terreno. Esse frenesim é, de resto, um dos aspectos criticados por JPP.
Nesta questão presidenciais/PSD tenho ainda duas ou três perplexidades.
Como escrevi a semana passada, não estou completamente seguro de que Santana corra genuinamente para Belém. Admito que possa haver uma mera estratégia de marcação a Durão. Imagino Santana mais como PM do que como PR - e aí entronca o que JPP escreveu sobre as perspectivas de fusão do PSD com o PP.
A outra perplexidade é a que expus ontem e que tem a ver com o grau de controlo que Durão Barroso tem deste jogo. Fez algum acordo com Santana? Qual? Conhece a decisão e o timing de Cavaco? Até onde vai o seu entendimento com Portas?
É neste quadro que o artigo de JPP me parece particularmente estimulante - por abrir o jogo e colocar com extrema clareza uma data de coisas.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2003

As barbas do Morais

Está desvendado o mistério sobre quem é o verdadeiro número dois de Durão Barroso. Com aquela barba à Fernando-Nogueira-quando-jovem, Morais Sarmento arrasou a concorrência.

Democracia e escrutínio

O NMP, do Mar Salgado, pede-nos o impossível. Quer que tratemos com «equididade» os líderes democraticamente eleitos e os «torcionários».
Mas, meu caro, estamos no mundo livre e democrático. Compete-nos, a todos nós, simples cidadãos, jornalistas e políticos, escrutinar os que elegemos. Faz parte das regras do jogo. É uma exigência da democracia. É mesmo uma marca genética da democracia. Digo-lhe mesmo: quanto mais chatas forem as nossas perguntas, quanto mais dúvidas tivermos, melhor será a nossa democracia.
Nós não confiamos, não podemos confiar, nos «torcionários». Por não confiarmos neles é que as Nações Unidas exigiram documentação escrita ao Iraque sobre as tais armas. E por não confiarem nesses relatórios é que enviaram para lá inspectores, especialistas de várias nacionalidades.
Mas disso o NMP não quer saber. Prefere acreditar em dois ou três relatórios da CIA, feitos depois da guerra, quando os EUA já controlavam os centros de decisão em Bagdad.
Afinal, meu caro NMP, quem é aqui a favor da transparência e lisura de processos?

Pedido de ajuda

Preciso da vossa ajuda.
Apanhei umas declarações de Guilherme Silva, madeirense e líder parlamentar do PSD, na RTP 2, a propósito do «caso Lusíada». Rezam assim:
«Começava a haver algumas matérias menos agradáveis para os partidos da oposição... determinados casos que sabemos que vêm ocorrendo, e portanto houve aqui necessidade de criar um fait-divers para desviar as atenções.»
Do que estará ele a falar? Que «matérias menos agradáveis» são essas que envolvem os partidos da oposição? Será a pedofilia? Mas esses casos não são contra pessoas concretas? Envolvem partidos? Querem ver que temos cabala? Ou querem ver que o dr. Guilherme Silva está a criar um fait-divers para desviar atenções daquilo que nós «sabemos»?

A lógica já chegou à Madeira

Vamos lá a ver se percebo.
O FNV, do Mar Salgado, não fala do que não sabe. Não sabe de pedofilia, por isso não fala sobre pedofilia. Mas abre uma excepção quando Mário Soares fala de pedofilia.
O FNV nada sabe sobre pedofilia na Madeira. O Mário Soares fala sobre pedofilia na Madeira e o FNV comenta.
Bom... já fiz as equações possíveis e continuo sem perceber.
O melhor é esquecer... como a pedofilia na Madeira.

Ainda o artigo de JPP

O Bloguitica tem razão, e não tem, quanto ao artigo de JPP sobre as presidenciais.
Tem razão quando diz que o texto não tem nada de especialmente novo. Também ontem aqui o escrevi.
Não tem razão quando desvaloriza o momento e autoria. Ser eu, o Bloguitica ou outro qualquer a dizer aquilo, seria perfeitamente normal. Ser o JPP é outra coisa completamente diferente - ao contrário do que parece, o JPP é muitíssimo ouvido no PSD quando escreve sobre hard politics; todos acham que ele é um intelectual sem grande jeito para a política prática, mas todos lhe reconhecem autoridade acrescida de raciocínio acerca da coisa política.
Quanto ao momento, o Bloguitica parece ignorar o frenesim em que tem andado Santana Lopes, enquanto que, na sombra, mais discretamente, Cavaco começa a dar sinais. Ou muito me engano, ou a imprensa do fim-de-semana vai disso dar sinais (por causa de Santana, mas especialmente por causa de JPP..).
O Bloguitica atribuiu à reacção de Santana o barulho que se fez. Mas, meu caro, não era essa reacção um dos objectivos de JPP? O Bloguitica acha que Santana seria capaz de reagir friamente a um texto daqueles (ou a um texto qualquer)? Com essa ingenuidade, o Bloguitica até parece que nem tem lido o Luis Delgado...
PS: Quanto à velocidade da blogosfera, recordo em abono do que escrevi as exaltações de quando os blogues, estrangeiros e nacionais, desmascararam as alegadas deturpações das palavras de Wolfowitz sobre o Iraque. Os blogues fizeram, então, aquilo que os media deveria ter feito - foram à fonte - e obrigaram os media a desmentirem-se e a citar os blogues.

Blogues versus media - velocidade

Há uns meses, os auto-elogios dos blogues incluiam o facto de estes serem muito mais velozes que os media tradicionais a perceberem a importância de certas matérias.
Ontem, JPP escreveu no Público [link mais abaixo nesta página] um artigo fundamental sobre as presidenciais. Só hoje a maioria dos blogues lhe está a dar importância... depois de a terem percebido através das edições de hoje dos media tradicionais.
Registo esta perda de velocidade dos blogues, já notada ontem pelo Adufe.

O diabo dos pormenores

Ela há com cada maluco. Então não é que o JPH, do Glória Fácil, queria escrutinar o que dizem os políticos, perceber se falam verdade, ou mentem. Há pessoas que se entretêm com cada coisa...
O que vale é que ainda impera algum bom senso por estas bandas. Como muito bem explica NMP, do Mar Salgado, o que interessa é a ideia geral.
Se as resoluções das Nações Unidas que levaram à guerra só falavam em armas de destruição maciça e não em Bin Laden, Coreia do Norte ou outra coisa qualquer, o que é que isso interessa?
Ah, pois... lá está esta malta a discutir o que não interessa, as razões da guerra, quando há é um problema grave para resolver, a reconstrução do Iraque, e aí todos temos de ser dialogantes, colaborantes.
Excepto, é claro, no que toca aos milionários contratos para a tal reconstrução - aí convém voltar uns meses atrás e excluir os países que foram contra a guerra.
Malditos pormenores!!!

Negócios em família

No caso do afastamento das empresas europeias dos negócios do Iraque, há um aspecto que tem sido negligenciado - a reconhecida e superior seriedade das empresas americanas.
Vejam esta notícia do New York Times de hoje:
uma empresa de combustíveis inflacionou os preços em 61 milhões de dólares
uma empresa de cafetaria sacou 67 milhões.
E, é claro, esta história ainda agora começou. Neste conceito tão bushista de «é sacar vilanagem» como é que queriam que coubesse alguma fatia à «velha Europa?».

Ingratos... (2)

Imaginem que um grupo de valentes cubanos decidiu desviar um avião dessa pátria de todos os horrores chamada Cuba para a pátria de todas as liberdades chamada Estados Unidos.
A rapaziada sabe das notícias. E pensou: ora bem, se eles gastam uma pipa de massa e até se deixam matar só para libertar os distantes e malcheirosos iraquianos, até devem agradecer que a malta se sacrifique, desvie um avião, arrisque a vida, só para nos libertarmos. Neste caso, a coisa fica-lhes mais barata.
A rapaziada pensava, pois, que iria ser recebida na Casa Branca e levar com uma medalha.
Nada disso: foram julgados e condenados. Ainda vão parar à prisão. Na pátria da liberdade, claro!
Ele há com cada injustiça...

Moi non plus (4)

Je vais et je viens
entre tes reins
et je me retiens

[Enquanto não tenho fotos...]

quinta-feira, 11 de dezembro de 2003

O PSD, as presidenciais e JPP

O artigo de Pacheco Pereira, hoje no Público, sobre A questão presidencial no PSD, é de uma inteligência e clareza que me parecem raras no comentário político em Portugal. É um daqueles artigos que se baseia apenas no bom senso - o seu conteúdo deveria, pois, ser evidente para todos. Mas não é - no turbilhão político-mediático anda tudo baralhado, o fundamental é apresentado como acesssório, o acessório tem honras de primeira página.
Registo e comento algumas das ideias centrais de JPP:
1. Não existe qualquer diferendo entre Sampaio e o PSD e inventá-lo só pode prejudicar o PSD. Exemplo: o que Sampaio disse na Argélia sobre o Iraque é a sua posição de sempre. Afirmar, como se disse em Portugal, que o disse em Argel para agradar a argelinos é de uma injustiça total. No essencial, Sampaio nunca prejudicou a política pró-EUA de Durão. Eventualmente, desiludiu quem o elegeu.
2. A dupla Santana/Portas está a assumir um peso excessivo na área do poder. Durão Barroso terá abdicado da condução ideológica e mediática da coligação, o que lhe pode valer amargos de boca a prazo.
3. JPP define certeiramente a função presidencial: «carácter estabilizador e regulador». Defendi essa tese num debate com o Mata-mouros, em contraponto a uma postura mais interventiva. Nestes tempos de algum reformismo a todo o custo, haja quem tenha os pés no chão.
4. Clarificação da famosa frase de Sá Carneiro - «um governo, uma maioria, um presidente». A ideia era instrumental, não um fim em si, e está datada historicamente. Brandi-la hoje não tem qualquer significado.
5. A desfocagem da definição presidencial e das relações institucionais, aliada à entrega da condução política à dupla populista Santana/Portas, pode ser a receita para o desastre.
6. Em toda esta história - como já perguntei aqui há umas semanas - só não se percebe qual o papel de Durão Barroso. Ou se Durão está(va) ciente de tudo o que JPP agora escreve.
Uma das questões fundamentais para se compreender o que se passa no centro-direita é tentar perceber as razões profundas e os eventuais acordos que estiveram por detrás das duas capitulações de Durão Barroso - primeiro perante o seu amigo Santana, de quem foi amigo, depois inimigo para depois ficar amigo; depois de Portas, contra quem tomou conta do PSD e contra quem conduziu um PSD que nada tem a ver com este PP, para depois lhe cair nos braços.
Acho que este também é um aspecto que preocupa JPP e que, de alguma forma, está presente nos seus escritos mais recentes. Ele, que até é amigo pessoal de Durão, tem-no alertado insistentemente para o facto de estar a meter a cabeça na boca do lobo. Avisos não têm faltado.

Cegueira (uma resposta ao Bloguítica)

O Bloguitica, na sua imensa paciência, pergunta-me se não tenho mais nada a dizer à Grande Loja. Tenho, é claro, mas temo perder o meu rico tempo. Quem por aqui passou nos últimos meses percebe que não fujo ao debate, antes pelo contrário. Gosto é de alguma razoabilidade, seriedade se quiserem. Ora é isso que não vejo na GL. Aquilo é um simples chorrilho de disparates embrulhado de muita prosápia. A GL está para o debate de ideias como o terrorismo está para a política.
Limitei-me a apoiar as palavras de Soares sobre a pedofilia nos Açores, que no fundo se podem resumir assim: «Açores, então e a Madeira?» É que os rumores sobre a pedofilia na terra do Jardim são antigos e já saltaram várias vezes para as páginas dos jornais e mesmo para os tribunais, mas nunca foram alvo de uma investigação profunda.
Cometi o crime de num dos textos criticar a «ambivalência» da GL quanto a este assunto. Por um motivo claríssimo: não percebo como se pode defender que as investigações vão até ao fim no Continente e nos Açores e se defenda a inacção na Madeira, sob a alegação de que investigar a Madeira iria encobrir o resto.
Ora, tendo eu escrito isto, a GL vai buscar uma polémica (civilizadíssima...) que tive com vários blogues sobre anti-semitismo, para me atacar o carácter e não as ideias. E mete a «cabala» ao barulho, assunto sobre o qual escrevi bastamente (alguns dos textos nem é preciso procurá-los, estão ali na coluna da direita...). Não deixa de ser curioso: um blogue que vê conspirações em todo o lado, acusar os outros de defender teses da cabala.
O delírio interpretativo com que abordara as palavras de Soares, aplica-as depois a GL aos meus escritos. Não percebo como pode inferir que a incitação a que se investigue o que se passa na Madeira tenha a ver com qualquer cabala - a própria GL dissera num texto anterior que a impunidade de Jardim tinha sido acarinhada por todos os Governos. Mas, afinal, em que ficamos? Eu é que sou pela cabala e a GL é que defende a manutenção da impunidade da Madeira?
A uma certa altura, a GL chega a falar na «república de Weimar»!!!
E ainda se sente muito ofendido por eu ter insinuado a sua ambivalência. É o cúmulo da desonestidade: eu não insinuei, eu afirmei.
Esclarecido, meu caro Bloguítica? Sinceramente: é a primeira polémica de que me arrependo desde que criei o blogue. Farto de gente doida estou eu na vida real.

Moi non plus (3)

Sobre o Je t'aime moi non plus, eis como Jane Birkin descreve a gravação, no site de Gainsbourg [Cuidado, tem música - já agora, tentem adivinhar de onde vêm estes acordes]:
L'enregistrement s'est fait dans ce studio à Piccadilly, juste Serge et moi enlacés. On a fait deux prises, pas plus. Je me souviens qu'ensuite il dirigea avec des gestes de chef d'orchestre mes soupirs amoureux.

Apoiado (clap, clap, clap...)

«Deixem a Madeira em paz. Se quiserem ver-se livres de nós, com muito prazer, mas de uma vez por todas. Não me chateiem. Estou farto que se metam com as coisas da Madeira lá no continente, ainda por cima com deturpação dos factos», Alberto João Jardim, in Público (copiado do Cibertúlia).

Ambivalências

Descobri hoje um novo blogue, Classe Média, que tem uma característica interessante. Classifica os seus links em Alta Sociedade, Em Apreciação e Ambivalências. Quando comecei a ler, ainda alimentei esperanças de estar «em apreciação», mas não - estou nas ambivalências. Logo eu, que ainda ontem foi apelidado de nazi por ter dito que certa rapaziada tinha tido um momento de ambivalência.
Mas há uma coisa que não percebo: chamando-se o blogue «Classe Média», os links da «Alta Sociedade» não deveriam estar em baixo?

Saddam pior que Hitler

Contributo para um eventual debate acerca da hierarquização do mal [referi este tema quando, esta semana, escrevi sobre o anti-semitismo]:
Perguntaram a Noureddine Dara, membro do Governo provisório do Iraque que está a organizar um tribunal para julgar os crimes do antigo regime, se gostaria de ver Saddam Hussein atrás das grades. Resposta:
«Claro que sim. Penso que Hitler não cometeu crimes comparáveis aos seus».

Moi non plus (2)

Jane Birkin, de quem falei há dias, esteve esta semana no Médio Oriente. Cantou em Telavive e na Faixa de Gaza. Gostaria de saber que repertório levou àquelas terras em transe, ela que só associamos a outras músicas. Mas gostei que tenha cantado dos dois lados do muro.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2003

Ingratos...

Há pessoas em quem não se pode confiar, como muito bem assinala o Mata-mouros.
Então não é que deram um prémio Nobel a uma iraniana que afrontou os tiranos locais e a moça, ao receber o prémio, atira-se aos tiranos... americanos?
Ora aí mais uma que não merece ser libertada da tirania iraniana. Para ingratos já nos basta os iraquianos.

Concorrência desleal

Será que o Xupacabras já conhece esta loja sugerida pela Charlotte?

Prozac a rodos

Recomendo vivamente a leitura do texto breve ensaio sobre a cegueira na Grande Loja do Queijo Limiano.

Modernices lusíadas

Universidade Moderna?
Esqueçam. Lusíada. Lusíada é que é.

De instância em instância

A Relação decidiu que o juiz Rui Teixeira terá de ouvir novamente Carlos Cruz.
Ainda há alguma decisão de primeira instância do processo Casa Pia que não tenha sido arrasada pela Relação, Supremo ou Constitucional?

Money makes the world...

O Governo dos Estados Unidos excluiu as empresas europeias da reconstrução do Iraque. Isto diz muito sobre:
a) o espírito construtivo, de boa fé, dialogante, com que os Estados Unidos estão desde o início neste processo.
b) a ideia que o actual Governo dos Estados Unidos faz do capitalismo de que é o legítimo representante: se não concordamos com um governo, não castigamos o governo, mas sim as empresas. A economia totalmente dependente da política. Alguém falou em União Soviética?

Rolante objecto de desejo

Levei anos a perceber porque gosto tanto de escadas rolantes. Ou melhor, de subir escadas rolantes. Ali, parados, sem termos de atentar no equilíbrio do andar, com os olhos disponíveis para quem segue à nossa frente. De preferência, dois/três degraus à nossa frente, de forma a que o nosso olhar fique ao nível pretendido. Casos há em que subir umas escadas rolantes é um momento de pura fruição sexual. É claro que nas escadas rolantes, como em tantas coisas na vida, só funciona quando é subir. A descer não tem graça nenhuma.
[Dedicado ao Avatares de um Desejo e ao Xupacabras. Dois grandes frequentadores de escadas rolantes, presumo.]

Soares, a pedofilia, o bloco central...

A Grande Loja solicita-me, por mail, para explicitar o que queria dizer com o texto «Tragédias, ambivalências». Aí vai.
A minha discordância com a GL começa logo na interpretação das palavras de Soares. O homem compara a investigação nos Açores com a falta de investigação na Madeira, não fala no Continente. Por isso, acho que não faz sentido falar em «branqueamento» do que se passa no Continente. Depois, parece-me que Soares diz explicitamente que gostaria de ver tudo investigado e não implicitamente que gostaria de ver tudo abafado. [É curioso, freudiano mesmo, que a GL quando fala em «ilhas» esteja a pensar na Madeira e quando fala em «Continente» baralhe o verdadeiro continente com os Açores - gato escondido... ou a política a baralhar o raciocínio.]
Discordo também da GL quando faz uma referência ao «bloco central» para recusar uma lógica de contrapesos na investigação. Porque não é nada disso que está em causa. O que está em causa é que, há vários anos, que se fala em rumores de pedofilia nos Açores, na Madeira e no Continente. [Ontem, Mota Amaral, diz que no seu tempo, há uma década, já havia rumores, e o que me espanta é que ninguém se espante que só agora estejam a ser feitas investigações]. Pois bem, o que Soares disse, embora de forma atabalhoada, é que se investiguem todos os rumores. Porque a lógica de justiça tipo bloco central, que a GL tanto abomina, parece ter sido substituída por uma lógica de justiça tipo AD, em que só se investigam os rumores se a investigação prejudicar um determinado lado.
Acima de tudo, não vejo como é que eventuais investigações na Madeira poderiam branquear, ou sequer ofuscar, as que decorrem no Continente ou nos Açores.

Tragédias, ambivalências

A Grande Loja tem toda a razão: seria trágico que agora se fosse investigar a pedofilia na Madeira.
Além do mais, a investigação no Continente está a correr tão bem. Ao fim de um ano, a tenebrosa rede resume-se a meia dúzia de desgraçados que vão passar o Natal na cadeia.
Devido a esses desgraçados, passaremos, todos nós, um Natal com a consciência muito mais tranquila. E até podemos ir passar o fim-de-ano à Madeira. Tranquilamente. Sem qualquer problema de consciência.

Comunicação, dizem eles

Segundo o Diário de Notícias, Durão Barroso já reconheceu que o Governo está com problemas de comunicação.
Segundo o Público, o Governo hesita na nomeação de um representante para a Alta Autoridade (contra) a Comunicação Social.
É sempre assim: quando as coisas correm mal, todos os governos atiram as culpas para os problemas de comunicação. A governação até é boa, o povo é que não aplaude. Como não se pode chamar estúpido ao povo, atira-se as culpas para aquela coisa vaga da comunicação. É preciso explicar as medidas, dizem. O problema é que, muitas vezes, se as medidas fossem bem explicadas o povo ainda ficava mais zangado com o governo.
Parece-me, no entanto, que neste caso a solução até está à vista. Basta que o Governo não menospreze as enormes potencialidades de recrutamento que representa a blogosfera nacional.

As crianças dos outros (mais 6)

Quase de certeza que não estão interessados em saber:
os americanos mataram mais seis crianças num raide no Afeganistão.
De certeza que não estão interessados:
os americanos já admitiram que, no ataque anterior, em que mataram nove crianças, talvez não tenha sido atingido o perigoso talibã que era o alvo.
Ah... não vale a pena chorarem. Nenhuma destas crianças era europeia, americana ou israelita.

Que linda família (sniff...)

A Charlotte casou-se. O CAA foi pai.
Quem disse que os blogues andavam por aí a desfazer famílias?

Soares e a pedofilia (II)

A boca do dr. Soares sobre a pedofilia na Madeira tem o ENORME perigo da banalização. Pela desvalorização que tem implícita. O resto, a insinuação, a acusação sem destinatário, não me incomoda. Pelas razões que já expliquei. Porque o escândalo é o silêncio de décadas, não a frase improvisada e atabalhoada de Soares.
Vale a pena ler o que o Cibertulia escreveu sobre isto.

terça-feira, 9 de dezembro de 2003

Soares e a pedofilia na Madeira

No Mar Salgado, pergunta-se do que fala Soares quando fala de pedofilia na Madeira.
Meu caro FNV, Soares fala daquilo de que toda a gente fala. Infelizmente, não lhe posso dizer mais nada, sob o risco de ser acusado de Muito Mentiroso.
Mas olhe... pensando bem, sempre lhe digo qualquer coisa. Citando as notícias sobre a pedofilia em Lisboa e a pedofilia nos Açores, «gente graúda, deputados disto e ex-deputados daquilo, professores, padres e etc.».
É claro que com a Madeira ninguém se importa. O Jardim já é completamente inimputável. Desfila nu, bebe uns copos, diz uns disparates, insulta Lisboa... até a durona Ferreira Leite quando chega à Madeira desiste. É o vale-tudo.
Pergunta, pois, o FNV do que fala Soares. Sinceramente, não sei!

Moi non plus

E, se num dia de Inverno... me virem pelas ruas húmidas de Lisboa a conduzir perfeitamente enlevado... podem ter a certeza de que estou a ouvir o Je t'aime moi non plus, de Serge Gainsbourg, na primeira versão, em duo com Brigitte Bardot. Não conhecia, deve ser da idade. A versão é muito menos sensual do que a mais conhecida, em duo com Jane Birkin.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2003

Indignações

O Público de hoje tem uma notícia sobre o bombardeamento americano que matou nove crianças no Afeganistão. O Miniscente escreve que este é um daqueles casos em que «a alegada objectividade dos jornalistas se converte em clara posição e indução políticas». Já li a notícia três vezes e não consigo perceber onde estão as «posições» e «induções» políticas. Ahh... pois, deve ser pelo simples facto de a notícia ter sido publicada.

Blogando

Percebo o Retórica quando diz que está a atravessar o «primeiro momento de desmotivação». Também sinto esse afrouxamento da blogosfera. Interrogo-me se será cíclica. Ou se não estaremos a exigir demais. Ter um blogue com actividade regular não significa, necessariamente, escrever todos os dias ou meter-se em todas as polémicas. Na última semana, parei durante dois ou três dias simplesmente porque me apeteceu. Estive no estrangeiro, mas com tempo e condições para escrever. Mas não tinha nada a dizer. A blogosfera também é feita destes ritmos muitos pessoais, que se cruzam, alinham e deslinham uns com os outros. Tenho reparado em alguns debates interessantes nos quais não me meti. Não se pode ir a todas. Desde o início que aqui falei do conceito de «vagabundagem», que continua a parecer-me o mais adequado para definir isto em que andamos metidos.

Judeus

Tivesse eu a mania da perseguição ou simplesmente o raciocínio apressado que faz os nossos dias e a esta hora estaria aqui a escrever que a blogosfera portuguesa foi atacada por uma conspiração judaica. Isto a avaliar pelo volume, e por vezes o tom, das reacções que surgem sempre que se fala de judeus, anti-semitismo e temas conexos.
Foi o que aconteceu agora com o Mar Salgado (via FNV) e a Rua da Judiaria.
O tema interessa-me, antes de mais, na medida em que é revelador do empobrecimento do debate a que assistimos por todo o lado. É certo, fala-se muito, por exemplo, nos blogues, mas não devemos confundir a multiplicidade das vozes com a profundidade ou a clareza da conversa.
É claro que não considero que o tema do anti-semitismo deva ser tabu. Mas também não acho que na Europa isso esteja a acontecer. O debate surgiu porque uma organização ligada à UE decidiu suspender um pré-relatório que considerou deficiente e promete fazer um de melhor qualidade. Não tenho razões para duvidar. Na qualidade de jornalista, já assisti várias vezes a recuos e desmentidos de notícias simplesmente porque se baseavam em estudos ou trabalhos preparatórios e não em decisões políticas.
Depois, não nego que continuem a existir actos anti-semitas na Europa. Como se mantêm os actos racistas nos EUA, em África e por aí fora. Como persistem várias formas de intolerância à escala global. O que eu acho é que o anti-semitismo na Europa não tem os níveis preocupantes que vejo assinalados em alguns sítios. É claro que a intolerância é sempre preocupante, mas as coisas têm de ser ponderadas.
Parece-me natural que nas manifestações pró-palestinianas se confundam sistematicamente as críticas a Israel com o anti-semitismo. É errado, eu sei. Mas digam isso às multidões, ou melhor, aos fanáticos. Também acho que a sistemática diabolização que os judeus fazem dos muçulmanos não ajuda muito.
Já me parece que entramos no reino do disparate quando se mete ao barulho a esquerda e os movimentos anti-globalização. Quanto a estes últimos, distingo claramente entre os movimentos tipo «forum social», onde a esquerda imprea, e as manifestações de puro hooliganismo. Nestas últimas, há hippies misturados com skinheads, esquerda com direita, etc etc. Ligar isto à esquerda parece-me simplesmente desonesto.
Também me parece exagerada a ideia de que essas manifs são anti-judaicas porque por lá aparece um ou outro cartaz. Algumas claques de futebol usam símbolos nazis e eu, que nem gosto de futebol, não me ponho a dizer que os adeptos da bola são nazis.
Parece-me que o essencial fica dito. Quero apenas esclarecer o FNV, do Mar Salgado, que considero, de facto, patetas e doentias as posições e os debates que não saem da diabolização da «esquerda» e da «Europa». Há muito que o mundo não é a preto e branco... se alguma vez o foi.

Hiroxima, Hitler, comentários

O que escrevi sobre a exposição pública do Enola Gay mereceu dois comentários que vale a comentar:
O Quase em Português dá a entender, e muito bem, que a comparação do Enola Gay com Hitler é incorrecta. Plenamente de acordo. A invocação desse mal absoluto que Hitler representa é quase uma figura de estilo, pela acentuação do que queremos expressar.
A hierarquização do mal pelos que o sofreram parece-me tarefa impossível - o sofrimento é imensurável, incomparável. Interrogo-me, apesar de tudo, se nós, aqueles que não sofremos na pele esses males, teremos direito de os hirerarquizar. Perguntando doutra forma: o que desvaloriza mais o mal, a sua hierarquização ou a absoluta indiferenciação?
O Liberdade de Expressão escreve que «o sectarismo é universal». Meu caro, na mouche, é isso precisamente o que tenho andado a dizer há meses. E que vou continuar a fazer, por muito que muita gente continue a insistir que o mal, os vários males, vêm sempre e apenas de um dos lados.

There are things we know we know

Reports that say something hasn't happened are always interesting to me, because as we know, there are known knowns; there are things we know we know. We also know there are known unknowns; that is to say we know there are some things we do not know. But there are also unknown unknowns - the ones we don't know we don't know.
Reparem bem na beleza desta frase. É de Donald Rumsfeld e acaba de ganhar um prémio para a melhor utilização da língua inglesa.
A guerra do Iraque e a caça às armas de destruição maciça têm destas coisas - são tão interessantes, tão interessantes, que até dão prémios sobre a utilização da língua. O pior é o resto...
[A CNN, as you know, knows a lot more about this, you know...]

Hiroxima, sem amor

O Enola Gay, o avião que largou a bomba atómica sobre Hiroxima, vai estar em exposição a partir da próxima semana nos Estados Unidos. Assim, sem mais nada. Ou melhor, ao lado de outros avanços da tecnologia aeronáutica, como o Concorde ou o Enterprise.
Os japoneses já protestaram e exigem que a exposição tenha um mínimo de enquadramento, por exemplo, algo sobre os efeitos da bomba, algo sobre Hiroxima, algo sobre a verdade. Desconhece-se a resposta dos americanos.
Mas, digam-me: acham isto normal? Acham que a Europa alguma vez faria um museu sobre Hitler, apenas sobre Hitler, sem mostrar os efeitos de Hitler?

As crianças dos outros

Um ataque militar americano matou nove crianças de uma vez no Afeganistão.
Fossem as crianças europeias, americanas ou israelitas e seriam altos os coros de indignação por mais um ataque terrorista hediondo.
Mas não. As crianças eram afegãs. E os seus assassinos americanos. Tudo dentro da normalidade - tratou-se apenas de um banal e legítimo acto de guerra.
Calemos, pois, a indignação.

Coisas da sensatez

Conheço o Francisco há algum tempo. O conhecimento pessoal é irrelevante para o caso. Conheço-o melhor dos escritos e ditos. Tenho-o por uma das pessoas mais sensatas que escreve sobre o mundo. E quando digo «sensatas» é isso mesmo que quero dizer, numa altura em que as palavras estão gastas, corrompidas mesmo. Hoje, ser sensato vale pouco. No mundo mediático, vale mesmo muito pouco.
O Francisco, quando fala dos judeus, perde um pouco dessa sensatez. O que é normal. Diria ele que todos nós temos direito a sermos menos sensatos. Direi eu que a falta de distanciamento o leva a hiper-valorizar uma data de coisas quando se fala de judeus. Insisto - vejo nisso uma grande normalidade. Indigna-se superlativamente com qualquer ataque aos judeus e eu nem sequer posso, ou devo, desvalorizar seja o que for. Qualquer ataque da ordem da xenofobia nos tem de incomodar. E talvez nos deva incomodar também qualquer tentativa de hierarquizar esse tipo de horror.
Não estou especialmente interessado em discutir o anti-semitismo. Não tenho conhecimentos, nomeadamente históricos, para tal. E, confesso, não tenho um especial interesse no assunto.
Interessa-me, por vezes, a acefalia que percorre certos debates. O Francisco, obviamente, não tem a culpa. Mas ele fala de relatórios sobre anti-semitismo engavetados e há logo uma data de textos apatetados atirando-se ora à Europa, ora à esquerda e, nos casos mais doentios, à esquerda europeia.
É isso que me incomoda. Pensar ainda é das poucas actividades sobre as quais não se paga imposto. E em relação à qual a ciência ainda não descobriu efeitos especialmente nefastos sobre a saúde.
Incomoda-me, repito, a carneirada. Incomoda-me que, especialmente depois do 11 de Setembro, uma data de gente tenha engolido a cassete da «esquerda» e da «Europa» e a use indiscriminadamente. Qualquer tema serve - o chavão a tudo se aplica.
O sorriso alarve que se pressente quando atacam, sem motivações fundas e de forma insistente, a «esquerda» e a «Europa» é altamente revelador da falta de sensatez de que falei de início.
Porque a «esquerda» e a «Europa» cometem tantos erros como a «não esquerda» e a «não Europa». Um debate sustentado no cliché da maldade da Europa e da esquerda parece-me altamente empobrecedor.

A Constituição espanhola (revista)

Ups... A Constituição espanhola faz 25 anos e não 20, obviamente. Dei por isso. Alertaram-me. O caso meteu mesmo comunicação diplomática... Mas só agora rectifico. A culpa foi de mais uma longa paragem do Blogger.

sábado, 6 de dezembro de 2003

Viva a constituição... espanhola

A Constituição espanhola fez hoje 20 anos. A generalidade dos jornais de Madrid dedicou ao assunto suplementos, em que avultavam os textos de especialistas sobre a história, mas igualmente o futuro do documento. O El Pais e o ABC ofereceram aos seus leitores exemplares da Constituição.
Quando, há uns meses, aqui escrevi sobre o papel pedagógico e de dinamização do debate que os media poderiam ter acerca da Constituição europeia era em iniciativas deste género que estava a pensar.

A nova inquisição

A revista francesa Marianne (sem site) tem esta semana um dossier sobre a «nova inquisição». Aquela mania de rotular as pessoas de anti-americanas mal elas criticam a América, de anti-semitas quando criticam Israel, e por aí fora. E, claro, como assinala a revista, a rotulagem surge antes de qualquer argumento, antes de se tentar perceber o outro. No fundo, digo eu, a nova intolerância.

Ainda o anti-semitismo

A União Europeia não «arquivou», como diz o Rua da Judiaria, nem «não quis publicar», como escreve o Aviz, um relatório sobre o anti-semitismo na Europa.
Como já aqui referi, e como o próprio organismo da União Europeia escreve aqui, a publicação do relatório apenas foi adiada por alegada falta de qualidade do draft (rascunho) elaborado pelo Berlin Research Centre on anti-Semitism. Sinceramente, não percebo porque se está a tentar fazer uma tempestade num copo de água.
Pelo que li do tal draft, ainda bem que a publicação foi suspensa. Porque ele, tendo sido elaborado por uma organização anti-semita, cometia precisamente o erro de que se queixa o Francisco: a sistemática confusão entre anti-semitismo e anti-Israel (e, quando falo de anti-Israel, falo de oposição a políticas concretas do estado de Israel e não de oposição ao Estado de Israel). Parece-me, de resto, que essa confusão é mais alimentada pelo campo dos judeus do que por qualquer outro. É desse campo que surgem, sistematicamente, indignações do estilo «são a favor da Palestina, são anti-judeus, anti-semitas, etc». Pela parte que me toca, não enfio a carapuça - nada tenho contra os judeus, mas não deixarei de dizer que os palestinianos têm tanto direito a uma vida em paz como qualquer outro povo e que a actuação do estado de Israel quanto a esse problema não é a mais correcta.
Ainda mais dois apontamentos:
O Rua da Judiaria comete o mesmo erro que o tal draft - a popularidade (que duvido seja «crescente») do Mein Kampf ultrapassa, em muito, a questão do semitismo. Reduzir o Mein Kampf ao anti-semitismo é que me parece muito perigoso.
Ao Aviz só posso dizer que o anti-semitismo está para durar. Como todos os males, por mais que se combatam. Muito sinceramente, acho é que acusar a União Europeia de fazer o jogo do anti-semitismo não leva a lado algum. E acho que entrar no maniqueísmo de comparar as medidas policiais/legais, ou mesmo a cobertura mediática, do anti-islamismo com o anti-semitismo é completamente injusto. O Francisco fala de exposições de cartazes anti-semitas em França, logo o país onde o Estado está a travar uma feroz luta contra as tentativas de uma quase-islamização de escolas e repartições públicas. A Europa não pode servir de bode expiatório para tudo.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2003

Quem?

Sá Carneiro? Não conheci. O político. Nem conheço. A herança.

À atenção de Durão Barroso

Paulo Portas tem direito a fotografia e a um pequeno texto no dossier do Courrier International sobre os populistas e xenófobos que estão à conquista da Europa. [Link só para assinantes.]

Ganda perua

Na guerra do Iraque, até o peru é de plástico.
[Dedicado ao thereisaligththatnevergoesout. O mau gosto do primeiro post - Liberdade política - diz tudo.]

Toc, toc

Alô... ainda está aí alguém?

terça-feira, 2 de dezembro de 2003

Uma volta?

- Jotinha, fofo, vamos dar uma volta?
- E o blogue, amor?
- Parece-me que também gostaria de dar uma volta. Ou de levar uma volta?

segunda-feira, 1 de dezembro de 2003

Há fotografias de direita?

Sou daquelas pessoas que, por vezes, utilizam a expressão «direita inteligente». Mas, confesso - nunca me passaria pela cabeça escrever algo como «esquerda inteligente». A redundância não é um estilismo que me atraia.
Agora tenho, porém, um novo problema - pode a fotografia ser de direita. Melhor, haverá fotografia de direita?
Pergunto isto porque, ao fim de semanas de actividade, nunca o pessoal do Barnabé, tão dado à fotografia, exibiu arte deste calibre.