terça-feira, 30 de setembro de 2003

A América, 30 anos depois

Andava eu à procura da frase do JFK que toda a gente cita e decidi ir à fonte. Então não é que a frase original é bem mais interessante? E que, apesar de ter sido proferida em 1961, é actualíssima?

And so, my fellow americans: ask not what your country can do for you - ask what you can do for your country.
My fellow citizens of the world: ask not what America will do for you, but what together we can do for the freedom of man.


Pela parte que me toca voltei a ser americano. Fiquei foi 30 anos mais velho.

Noite, o que é?

E a noite, o que é?
«Quem me diz que a noite foi feita para dormir, se é nesse instante que tudo desperta?
De dia, o céu é de um azul vazio e insípido; de noite, enriquece-se de constelações.
A luz do dia conduz o nosso olhar para o exterior; a noite para dentro de nós próprios.
Para melhor pensarmos temos de fechar os olhos.
À noite, os corações estão mais abertos, as palavras livres.
A noite é uma inspiração, quase uma conspiração. Ela ilumina o espelho onde nos sabemos sós.»
Jacques Brel

Setembro. Ponto.

Nos arquivos do Blogger deve andar perdido um texto sobre Setembro. Sobre a magia de Setembro. Muito provavelmente, anda na companhia de um outro texto que fala das pequenas magias de Setembro que o tempo me foi roubando. É ainda provável que sejam acompanhados por um texto mais pequeno, uma promessa de escritos sobre Setembro.
Chegamos ao fim. De Setembro. E quase tudo ficou por dizer. A vida guia-nos por caminhos que só ela conhece. O que aqui se vai publicando resulta mais da vagabundagem que da disciplina.
Teremos mais Setembros?

segunda-feira, 29 de setembro de 2003

O Terras errou

Algures, num Apagão lá para baixo, apostei que o Vaticano ficara imune ao apagão em Itália. Soube hoje que não. Peço desculpa por esta falta de rigor - até há pouco tempo pratiquei, em full time, a profissão de jornalista.

Gémeos

O Valete Fratres meteu folga. O Blog de Esquerda meteu folga. Eu já andava desconfiado: as ligeiríssimas diferenças no template eram só para despistar.

E agora... um pouco de sexo e religião

Imaginem como começa a crónica de sexologia do último The Independent on Sunday, assinada pela mui bela e distinta Annie Blinkhorn:
«As you would expect of a sex columnist, I was brought up a catholic».

Ainda os Stones?

Quando hoje peguei no Público nem queria acreditar. O Destaque (pág. 2 e 3) era preenchido com a passagem dos Rolling Stones por Coimbra. Uma notícia com quase 48 horas, ou um atestado da nossa parolice cultural. Mas depois reparei que, apesar de na página 3 a data ser «Segunda-feira, 29», na página 2 a data era «Domingo, 29»...
Da próxima que forem a um concerto de rock, abstenham-se de fumos esquisitos, pós não identificados e seringas malucas...

O governo está de parabéns

A verdade tem de ser dita. O governo da Nação tem de ser saudado por não claudicar na limpeza do aparelho do Estado, dessa forma pondo termo ao compadrio e incompetência que foram a marca dos socialistas.
Desta vez, foi o chefe dos bombeiros.
Ah... o fulano só estava lá há cinco meses? E o que é que isso interessa...?

domingo, 28 de setembro de 2003

Mouro agradecido

Poucas horas depois de um internauta aqui ter chegado teclando «blogues de direita» no Google, o Mata-mouros distinguiu o TdN com mais um prémio. Só para baralhar, topam?

69/69

Quase meia noite, ainda a tempo.
O Lérias lembra-nos que Brigitte Bardot faz 69. Será com o Leonard Cohen?

Depois do Muito Mentiroso, Paulo Portas

Afinal, Pacheco Pereira preencheu o espaço nobre na SIC com uma análise ao congresso do PP. O que me vai obrigar a rever os meus métodos de previsão, ou os meus (ou os dele?) conceitos de diferença.
Depois, Pacheco Pereira falou sobre o Muito Mentiroso. E lembrou que o blogue desapareceu quando acabou de falar dele na televisão.
Quase o ouvimos murmurar para os seus botões: «Pena que isso não aconteça sempre...»

Apagão III

Parece que a Itália culpou a França pelo apagão.
Brinquem, brinquem... mas a geoestratégia, a falência da ONU e a guerra do Iraque andam por aí. Olá se andam!

Outros apagões

O blackout é o tipo de tema que Pacheco Pereira poderá perfeitamente abordar na sua prestação televisiva de logo à noite.
Mas hoje termina o congresso do CDS. É pena que a missa dominical de JPP seja diferente das outras e, por isso, não possa falar de todos os apagões.

Apagão II

Nem de propósito. O quintal do Berlusconi está (hoje, domingo) com um valente apagão.
Ora vejam lá se a França e a Alemanha têm apagões. E quase que aposto que o Vaticano também tem luz. E não estou a falar da Divina.

Justiça para todos?

Tonou-se um lugar-comum, a propósito do processo Caso Pia, dizer que a justiça tem de ser igual para todos. Como se a educação fosse igual para todos, como se a saúde fosse igual para todos...
Acontece que, com a passagem do tempo, cada vez fica mais claro que a justiça não é, de facto, igual para todos.
Os recentes acórdãos do Tribunal Constitucional vieram confirmar um facto que muita gente já havia denunciado. O excesso de zelo com que certos agentes da justiça têm gerido este caso não se vê noutros processos. O atropelo sistemático das regras básicas da justiça, a que assistimos neste caso, não é a regra.
Mas não é só dentro do sistema de justiça que este caso está a ter tratamento de excepção (E não colhe o argumento de que se trata de um crime horrendo, que justifica um regime de excepção. A justiça, sendo igual para todos, tem a dever de a todos tratar de forma igualitária, de acordo com as molduras penais aplicáveis, obviamente).
Também, cá fora, o regime de excepção é preocupante.
Será normal que se façam sondagens de opinião pública sobre o desempenho do juiz? Será normal que se façam sondagens questionando a culpabilidade dos arguidos? Em democracia tudo pode ser questionado, argumentar-se-á. Mas não será de uma total irresponsabilidade, a roçar o crime, perguntar a um vulgar cidadão, que não teve acesso ao processo, que nada percebe dos trâmites da justiça, se acha que o juiz agiu bem, se acha que os réus são culpados?
Terceira excepção: a manifestação de ontem. É claro que os abusos sobre crianças nos indignam a todos. É claro que o silêncio sobre esses abusos ainda nos deve indignar mais. Mas, neste caso, os crimes foram denunciados, está a decorrer uma investigação, a justiça, com eventuais erros, está a funcionar.
Não terá sido a manifestação de ontem uma inconcebível pressão sobre a justiça? Não visa ela criar um clima de pré-condenação de quem ainda nem sequer foi acusado?
E é claro que nem vale a pena falar dos agentes supostamente responsáveis que têm o dever de estar calados e que não cessam de opinar, de forma parcelar, induzindo opiniões, fazendo pré-julgamento. Isto começa no PGR e vai por aí fora.
Não. Neste caso, a justiça não está a ser igual para todos.
O facto de a maior parte dos envolvidos detidos serem figuras públicas (há arguidos que não são figuras públicas e até estão em liberdade...) não justifica que se quebrem as normais regras de serenidade e discrição que a justiça exige. Uma figura pública, ainda para mais se for da área da política, tem especiais responsabilidades. Mas não pode haver uma justiça para o zé da esquina e uma justiça para os notáveis.

A arte de Brel

Quando os Stones começaram a debitar em Coimbra, estava eu a ver no Arte (atenção, lê-se Arrtê - oh lala, wunderbar) um documentário de quase duas horas, preto e branco, sobre Jacques Brel.
A força daquela poesia torna-se perfeitamente arrebatadora quando interpretada ao vivo pelo próprio Brel. Teatralidade, dramatização, tudo isso é pouco para descrever aqueles momentos. Cada canção, seja o mais belo poema de amor, como Ne Me Quittes Pas, ou a mais radical abordagem político-social, caso de Les Flamandes, é revivida, sílaba a sílaba, nota a nota.
A interpretação das duas versões de Bonbons é de antologia. A desfaçatez como canta «Les bourgeois c'est como les cochons» num salão cheio deles, a forma como interpreta a labiríntica Valse a Mille Temps, o desespero de Quand On n'a Que l'Amour... Brel é único. Gravei, é claro.

Apagão

Como o Liberdade de Expressão até está com sentido de humor, sempre lhe digo que os blackouts nos Estados Unidos e no «paraíso escandinavo da social-democracia» são apenas um prenúncio da falência do sistema capitalista. Ou seja, alguém levou demasiado à letra a expressão «o último a sair que apague a luz».
PS: nem preciso de explicar porque também houve apagão na pátria do Tony Blair? Ou preciso?

sexta-feira, 26 de setembro de 2003

Diálogo com «copyright»

- Jotinha, amor, tá aqui um Arnaldo. Pra ti.
- Sim... Pô.... pois. Ma-ma-mas eu só.... não, não é isso.. disse o quê? Direitos de autor? Mas, ma-mas...Ó Arnaldo... tá bem. Pronto. Nã-nã... não... eu só... filho do quê? Oh Arnaldo!

Oh raimundos e vagabundos

Quando, um destes dias, aqui escrevi que «há muito mais mundo que esquerda e direita» sabia que estava a citar alguém. Só não sabia quem. Acabo de encontrar um texto que li há três semanas e que sintetiza de uma forma cortante o que ando a tentar dizer há muito tempo.
É de Arnaldo Jabor e foi publicado n'O Globo a 2 de Setembro. Não faço link porque já não deve estar activo. Publico-o na íntegra para que o leiam e releiam, copiem e imprimem, decorem e colem na parede. E também para que fique aqui para sempre. Para memória futura.
Durante uma horas, largas, nada escreverei. Para que o Jabor respire.

«ESQUERDA» E «DIREITA» NÃO DEFINEM NOSSA POLÍTICA
Arnaldo Jabor

Outro dia, o Lula disse que nunca foi comunista. Nem esquerdista. Contou que o interrogaram na ditadura: “O senhor é comunista?”. “Não, senhor; sou torneiro-mecânico”.
O que os idiotas de plantão não entendem é que esta resposta era a verdadeira novidade da posição política de Lula. O que nos define é o que somos socialmente e não uma ideologia que nos absolva e justifique. Lula nasceu da realidade do ABC e não dos sonhos teóricos dos pequenos-burgueses.
O Brasil está muito complexo e nem direita nem esquerda esgotam a análise política. A vida social é movida por categorias muito além dessa dualidade. Temos de tudo. Há paranóicos, esquizofrênicos, melancólicos, narcisistas e, descendo mais de nível, temos os burros e uma categoria muito esquecida: os caretas. A caretice, por exemplo, é uma visão de mundo que passa despercebida, mas é raiz de terríveis males.
O careta é antes de tudo um forte. Está sempre atrás de certezas, ou melhor, já chega com elas. Olha o mundo com um olho só e só vê o que já sabia. A diversidade da vida é recusada como um desvio; a dúvida, como fraqueza. O careta tem sempre um sorriso pronto, ou uma cara fechada, dependendo se é do tipo “careta legal” ou “careta severo”. Sua cara é uma careta — daí, creio, o nome — uma máscara fixa que denota uma idéia só, uma mente unívoca.
O careta acha que existe uma conjunção entre si e a natureza. A caretice não é uma posição política; é uma forma de percepção, é um sistema operacional. Ele finge aceitar as diferenças mas não vê o “outro”. O chamado “outro” é para o careta um detalhe da paisagem, um mal inevitável que ele tem de suportar para poder controlá-lo, para o outro não inquietá-lo com surpresas, ou mudanças, seja na politica, no amor ou no sexo. O careta tem princípio, meio e fim, e vive como se não fosse morrer. O careta não sabe da morte, acha que está tão certo que não acaba nunca. Há caretas de direita e caretas de esquerda. O careta tende mais para o que se chama de “direita”: incapacidade de compaixão pelos fracos, ausência de tolerância. Por outro lado, há muito careta de “esquerda”; esses, no duro, só querem uma sociedade arrumadinha, sem injustiça por uma questão de simetria, para que não sejam assaltados por fatos inesperados e também para se sentirem “bons”, “corretos”, para que não tenham que contemplar seu próprio lado torto ou inexplicável. Existe até o careta drogado, o chamado “muito louco”. De qualquer modo, o careta de direita e o careta de esquerda acabam se encontrando no infinito.
Mas, além da caretice, há outras modalidades de empatar a vida nacional. Por exemplo: a burrice, que, como dizia Nelson Rodrigues, é uma força da natureza. Nelson viu o óbvio: antigamente, os cretinos se escondiam pelos cantos, roídos de vergonha; hoje, eles andam de fronte alta e peito estufado. Nunca a burrice fez tanto sucesso. Surge na política a restauração alegre da parvoíce, da imbecilidade, sempre com a sombra da “direita” ou da “esquerda” por trás. Lá fora, Forrest Gump, o herói-babaca, foi o precursor; Bush é seu efeito. Ele se orgulha de sua burrice. Outro dia, em Yale, ele disse: “Eu sou a prova de que os maus estudantes podem ser presidente dos USA”. É a vitória da testa curta, o triunfo das toupeiras.
Inteligência é chata; traz angústia, com seus labirintos. Inteligência nos desampara; burrice consola, explica. O burro atrapalha a vida nacional, retardando processos, escolhendo caminhos tortos. E pior: existe no Brasil a fascinação pela burrice. Está na raiz de nosso populismo de “esquerda”. Muita gente acha que a burrice é a moradia da verdade, como se houvesse algo de “sagrado” na ignorância dos pobres, uma sabedoria que pode desmascarar a mentira “inteligente” do mundo. “Só os pobres de espírito verão Deus”, reza nossa tradição.O bom asno é bem-vindo, enquanto o inteligente é olhado de esguelha. A burrice é “sim” ou “não”.
Na burrice, não há dúvidas. A burrice não tem fraturas. A burrice alivia — o erro é sempre do outro. A burrice dá mais ibope, é mais fácil de entender. A burrice até dá mais dinheiro; é mais “comercial”.
Neste complicado Brasil de hoje, dentro de um mundo louco, há uma grande fome de regressismo , de voltar para a “taba”, ou para o casebre com farinha, paçoca e violinha. Muitos acham que do simplismo, da santa ignorância, viriam a solidariedade, a paz, que deteriam a marcha do mercado voraz, da violência do poder. É a utopia de cabeça para baixo, o culto populista da marcha a ré.
Outro dia, vi na TV um daqueles “bispos” de Jesus de terno-e-gravata clamando para uma multidão de fiéis: “Não tenham pensamentos livres; o Diabo é que os inventa!”. A burrice é a ignorância ativa, a burrice é a ignorância com fome de sentido. O problema é que a burrice no poder chama-se “fascismo”.
Como subcategorias dos burros, temos também as imensas multidões dos babacas de um lado, comandados pelos boçais, cafajestes e oportunistas.
Temos tantas categorias... temos os egoístas, os complexados, os românticos, os zes-manés, os ladrões compulsivos, os fracassomaníacos , os religiosos de esquerda e direita, os preguiçosos, os chutadores... tantos...
De modo que não podemos nos contentar com a velha dualidade (direita/esquerda); o mundo é muito mais vasto, oh, raimundos e vagabundos... E mais: principalmente no Brasil, não podemos esquecer as fortíssimas divisões, os batalhões que crescem a cada dia, os terríveis exércitos invencíveis, a brilhante plêiade dos FDPs.
[Sublinhados TdN]

Mortos por votar

No cemitério de Benfica está um daqueles editais a anunciar o licenciamento de obras.
Daqui a uns meses, lá estará um cartaz: «Espero que tenha reparado: isto ficou um brinquinho».
O cartaz estará virado para dentro, obviamente.

quinta-feira, 25 de setembro de 2003

Vate 69

Reparo agora, pelo Dicionário do Diabo, que Leonard Cohen fez esta semana 69 anos. Uma idade que, como o Pedro assinala, lhe fica a matar. E como o Dicionário já citou o poema mais apropriado para a ocasião, deixo aqui o início de «First We Take Manhattan», os dois versos mais apropriados para a situação:
They sentenced me to twenty years of boredom
For trying to change the system from within
.

Um pouco de moderação, please

Noto uma certa crispação no CAA do Mata-mouros. Logo num dos mais ponderados blogueiros no activo. Acaba por desancar Adriano Moreira de uma forma que não me passaria pela cabeça fazer com a Helena Matos. E eu até compreendo algumas das críticas que faz ao velho professor...
Pela parte que me toca, estou interessado em fazer exactamente o contrário do se tornou um dos traços distintivos da blogosfera nacional - esbater as diferenças entre esquerda e direita. É claro que elas existem e que sem elas a política seria uma chatice. É claro que essa fractura se revela, por vezes, até nas coisas que pensamos serem mais insignificantes. Mas também é verdade que há muito mais mundo que esquerda e direita. E nem sequer me refiro ao disgusting centro. Não, o que quero dizer é que nem tudo tem de passar pelo crivo dessa fractura. Que há pessoas de esquerda que, em certos momentos, concordam com as de direita, e vice-versa.
Acho piada quando a direita argumenta que Freitas do Amaral é de esquerda. Acho piada, apenas. Não acho que tenham razão. Como achava o mesmo quando certa esquerda dizia que o engenheio Guterres era de direita. São blagues, nada mais. As pessoas podem sentir-se estruturalmente mais à direira ou mais à esquerda, sem que se sintam obrigadas a encarneirar com as respectivas maiorias em todos os assuntos da vida.
Depois, há outro aspecto que gostava de clarificar. Qual o mal em questionar as posições dos EUA? Isso faz de nós anti-americanos? Se eu disser que não concordo com o Durão, estou a ser anti-patriota? Acho que um bocadinho de mais tento na língua não nos fazia nada mal.

O sistema eleitoral

Alguns blogues estão a discutir, com intensidade e seriedade, propostas para a revisão do sistema político. Ideias que circulam: a substituição do método de Hondt, nova configuração dos cí­rculos eleitorais, a redução do número de deputados.
Devo dizer que encaro com muita reserva este tipo de debates. É óbvio que o nosso sistema polí­tico está enfermo, o que tem conduzido a um afastamento progressivo das pessoas. A polí­tica é uma das actividades mais descredibilizadas, e não é um mal exclusivamente nosso.
Da sucessão de debates que ocorreram nos últimos anos, cheguei à conclusão de que é impossí­vel uma reforma radical do sistema. Isso pressuporia um vasto entendimento ao ní­vel do próprio sistema, além de uma certa dose de risco, que as democracias, por definição, não gostam de correr.
Fui consolidando, por outro lado, a ideia de que é preferí­vel ir actuando, de forma mais ponderada, mais faseada, sobre a base do sistema, ou seja sobre o funcionamento dos partidos. Considero que a quase totalidade dos males que vemos espelhados, por exemplo, no parlamento, têm origem nos partidos.
Nunca se fez em Portugal um trabalho sério, exaustivo, sobre o funcionamento dos partidos. Mas todos percebemos que essas organizações assentam no caciquismo, no amiguismo e outros ismos de péssima conotação. A democracia intrapartidária é uma farsa.
Como não acredito em rupturas, só vejo uma forma de mudar as coisas - passo a passo, com mudanças mais ou menos vastas na legislação, com a entrada de gente nova. Isto não se resolve numa geração. As leis precisam de ser testadas e muita da gente nova que vai entrando tem mais ví­cios que aquela que já lá está (as juventudes partidárias são autênticos ninhos de tudo o que não deve ser a política...). Mas o caminho faz-se caminhando...
Apesar destas minhas reservas, acompanho com interesse o debate, por exemplo, na Janela para o Rio, Mata-mouros, Catalaxia e Blog sem Nome.

Huuummm!!!

Este cheirinho a compotas logo pela manhã... Ainda um dia alguém há-de fazer blues sobre this early morning smell of jam (faço link só para o animar - como não tem dito nada, presumo que as audiências andem um bocadito por baixo...)
Nesta altura do ano, para mim é mais marmelos. Marmelada, geleia de marmelo, marmelo cozido e (sublime!) marmelo assado com calda por cima.
É claro que, apesar de gostar do cheirinho das compotas logo pela manhã, também gosto de marmelos um pouco mais tarde.

Verissimo, enorme Verissimo

Pego na Veja desta semana e que vejo eu no top dos livros?
Bom... o Luis Fernando Verissimo está no 4.º lugar, com o Banquete com os Deuses. Ah... e também está no 5.º lugar, com As Mentiras que os Homens Contam.
O primeiro é um livro sobre prazeres (cinema, literatura, música...) e ainda cá não chegou. O segundo está por aí à venda (ed. D. Quixote). Depois não digam que não foram avisados. Só para fazerem uma ideia, está no top da Veja há 141 semanas. Três anos, portanto.

quarta-feira, 24 de setembro de 2003

Oh Ana!

O Aviz avisou. Agora, a Ana nada. Nem um post, nem um postalinho. Não lhe disseram que é má educação desaparecer assim?

Aviso às pessoas de bem

O Cerco do Porto voltou ao trabalho. Não faz mais que a sua obrigação. Inexplicavelmente (e injustificadamente...), o Aviz continua de férias.

Adriano, os EUA e o multilateralismo

Foi o Portugal e Arredores que me chamou a atenção para o texto que Adriano Moreira escreve esta semana no DN.
No tom sereno que se lhe conhece, o professor escreve sobre a «perplexidade altamente preocupante» que lhe causa a actuação dos Estados Unidos nos últimos tempos e acerca da necessidade do regresso ao multilateralismo na cena internacional. Um artigo completamente sintonizado com o corajoso discurso do secretário-geral das Nações Unidas, proferido, também ontem, em Nova Iorque.
Adriano Moreira não é de esquerda, nem andou em manifestações anti-americanas. Kofi Annan foi eleito na ONU com o apoio dos EUA. A sensatez não tem campo político.

Perversidades

Eu não queria ser chato...
Mas não acham que isto é um inaceitável atentado ao estado de direito vindo de quem deveria ter especiais responsabilidades na sua defesa?
Não acham que isto é um bom exemplo da perversidade de que falou Manuel Alegre?
E não acham que a tendência para conduzir todas as discussões para o binómio esquerda/direita nos afasta do essencial?

A paixão da rádio

Cresci ao som da rádio. Das vozes de ouro do Rádio Clube, dos Emissores Associados, da Emissora. Das canções do Tony de Matos, António Mourão, Juan Manuel Serrat. A televisão tinha dois canais, umas horitas por dia, a preto e branco. E só chegou lá a casa no fim da infância.
Foi pela rádio que tivémos notícia dos tempos conturbados na capital. O 25 de Abril, os comunicados do MFA, e depois as escaramuças sem fim. A rádio era, então, o nosso elo de ligação com o mundo. Nunca mais se fizeram noticiários de rádio como os dos anos 70.
Foi pela rádio que, depois, comecei a gostar de música. Havia lá gira-discos numa casa rural de uma família remediada… A primeira colecção de música que tive foi uma caixa de sapatos com cassetes gravados na rádio. Dos tempos inesquecíveis do Programa 4, FM Estéreo (!!). De programas como o Dois Pontos, nas suas várias versões, um imenso gira-discos, numa altura em que, na província ainda nem discos havia.
E depois vieram os programas que marcaram. Rádio a sério. O Café Concerto, o Homem no Tempo, os programas do Paulo Coelho.
Foi ainda a rádio que me deu o primeiro salário regular. Não tinha grande jeito para aquilo. Não tinha voz, pensava eu na altura. Percebi, depois, que a principal dificuldade nem era essa. Era não ser parente de gente conhecida, não ter cartão de partido. Enfim, coisas que o tempo não resolveu.
Hoje não há rádio. Há ilhas de rádio, aqui e ali. As playlists, a televisão e a desorientação geral do país mataram a rádio. Hoje, quando compro um carro, um dos principais factores de escolha é a qualidade do leitor de CD.
Por isso, a rádio é, para mim, mais nostalgia que outra coisa. Tenho saudades do sinal horário da Antena 1, como tenho dos spots da TSF com as vozes da Flor Pedroso e do Fernando Alves.
Por isso, mas não só, passo frequentemente pelo Retorta. E comovo-me com as imagens dos alinhamentos de programas passados. Com a paixão pela Íntima Fracção, que partilha com a Janela Indiscreta.

Template

Decidi deslocar os meus textos um pouco mais para a esquerda. Espero que não se importem.

terça-feira, 23 de setembro de 2003

Muito mentiroso

Shiiiuuu... Não contem a ninguém, mas agora já se pode linkar: muitomentiroso.blogspot.com. Experimentem.

Ora linquem lá

E por falar em Brasil. E por falar em links.
Ora linquem lá o Arnaldo. Imperdível. A última crónica é sobre amor e sexo, com a Rita Lee pelo meio.
O amor quer superar a morte. No sexo, a morte está ali, nas bocas.
O amor fala muito. O sexo grita, geme, ruge, mas não se explica.

Verissimo, sem acento

Quem se der ao trabalho de ler o primeiro texto que publiquei em Terras do Nunca [basta clicar aqui ao lado, em Primeiro, e terá como brinde um link para a página do LFV, com música e tudo...], compreenderá a alegria que tive ao reparar que o Cidadão Livre tem na coluna dos links um clique especial para o Luis Fernando. Pode é tirar o acento. Verissimo só há mesmo um.

Constipado?

Constipado, este gajo? Pela frequência com que espirra, está mas é com uma carrada de febre dos fenos. Só espero que não meta baixa...

Problemas técnicos

Umas vezes é a Netcabo que falha e impede a escrita. Outras, é o Blogger. Outras, o Blogspot. Agora, a coluna dos links foi vítima de um vírus chamado Blogger. Isto está a ficar estranho. Tentemos manter a serenidade. Ou mudo de conteúdo editorial ou mudo de alojamento...

Lisboa, 2003, Terceiro Mundo

O pequeno parque de estacionamento em Belém, entre a loja dos pastéis e o Mosteiro dos Jerónimos, está transformado num stand clandestino de carros em segunda mão. Very typical.

Helena Matos

O que escrevi sobre Helena Matos mereceu comentários no Mata-mouros e não-comentários (pelas razões que ele próprio explica) no Dicionário do Diabo.
Vamos, então, a alguns esclarecimentos.
Manuel Alegre, que deu origem ao artigo de Helena Matos, afirmou que «vivemos [hoje] num clima mais perverso do que aquele que vivemos em ditadura». Repare-se, ele não compara, em absoluto, a democracia com a ditadura. Ele refere-se à perversidade do momento actual. Uma constatação que tem sido feita por gente muito variada, dos mais variados sectores ideológicos. Manuel Monteiro (e não vale a pena os apoiantes fervorosos do actual regime virem com as piadas que aplicam ao Freitas: «Ah, ah... o Monteiro de direita...»), por exemplo, afirmou esta semana que vivemos em «pré-golpe de Estado», referindo-se, exactamente, ao mesmo mal-estar a que aludia Manuel Alegre. Só que, presume-se, Manuel Monteiro não é passível de crítica, porque não tem traumas de esquerda.
Em traços gerais, concordo com Alegre e Monteiro, apesar de também subscrever as reservas que José Manuel Fernandes levantou ao deputado.
O que contesto em Helena Matos é o que escrevi: a canelada, a distorção da realidade, a extrapolação abusiva.
Exemplos? Dizer que João Soares concorreu à Câmara de Lisboa com o slogan «Fascismo Nunca Mais» é uma frase com graça, mas desonesta. A candidatura da esquerda nas últimas autárquicas teve vários aspectos anedóticos, mas não corresponde à realidade que aquele tenha sido o solgan de campanha. Helena Matos é, por isso, muito mentirosa.
Depois Helena Matos entra pela demagogia fácil. Diz que a malta de esquerda acha que só eles é que têm razão. Acontece que a malta de esquerda, nisso, é completamente igual ao pessoal da direita. A isso chama-se «convicções» e sem elas não haveria política. Nem percebo como é que há gente que ainda discute este tipo de coisas.
Não satisfeita, Helena Matos ainda vai buscar um estafadérrimo lugar-comum sobre o fascínio da malta da esquerda pelo censor. A direita inteligente há muito que percebeu que essa afirmação é um disparate. Saramago foi Nobel em democracia. O próprio Alegre tem, em democracia, prosa que rivaliza em qualidade com a poesia dos tempos da ditadura.
Concordo com o Mata-mouros quando diz que Helena Matos é «directa, acutilante e corajosa». De facto, necessita dessas três qualidades para escrever os disparates que escreve. Só não percebo onde está a lucidez....
É por isso que acho os textos de Helena Matos muito pobres para início de conversa. Como acho os textos do Pacheco Pereira sempre estimulantes (e raramente discordo deles..), ou acho a generalidade dos textos políticos do Manuel Alegre perfeitamente dispensáveis. Apesar das convicções que penso ter, nunca considerei que os textos de uns são clarividentes só porque são de um lado da barricada e os de outros constituem perfeitos disparates só porque estão do outro lado.

segunda-feira, 22 de setembro de 2003

Expositor Madonna

A loja onde folheava, e às vezes comprava, jornais e revistas estrangeiras mudou o layout.
Agora tem um curioso expositor, com revistas pornográficas em cima e os almanaques Disney e Mônica em baixo. Decidi chamar-lhe Expositor Madonna. Não é que espere encontrar por ali a diva. Em carne e osso, quero dizer. Gostava, isso sim, de folhear a Playboy Madonna na prateleira de cima, enquanto um dos miúdos ficaria entretido com as novas obras infantis da Ciccone em baixo.

[Digo «folheava» e «comprava» jornais e revistas estrangeiros porque cada vez o faço menos. E uma das razões é a falta de oferta. Impressiona como em zonas cosmopolitas de Lisboa é tão escassa a comercialização de imprensa estrangeira. Quem passa por este blogue já deve imaginar que a loja de que falo é no Colombo. Centenas de lojas e, actualmente, só uma decente com revistas estrangeiras e nenhuma com jornais. Sintomático da maneira como vemos o mundo.]

Adufe estéreo

O Adufe inventou a estereofonia na blogosfera. Ouve-se aqui e aqui.
Há umas semanas que andava a pensar no mesmo, maioritariamente por questões estéticas - os blogues da Weblog são bem mais bonitos.
Agora, preguiçosamente, vou esperar que o Adufe conte. Como foi? É muito difícil? Há vantagens técnicas?
Piada lateral só para irritar os do costume: e se, num gesto de anti-americanismo primário, abandonássemos todos (enfim, os do costume, topam?) o Blogger?
Segunda piada para irritar os mesmos: 28 anos depois, regressam as nacionalizações. Abaixo o capitalismo internacional, o imperalismo, o Blogspot e quem o apoiar.

Tiques

Na paragem do autocarro, um cartaz da ONI: «Zona libertada da assinatura PT».
Há uns anos, cada munícipio CDU tinha à entrada: «Zona Livre de Armas Nucleares».
Esta malta da esquerda não tem emenda. Mudaram-se da propaganda para a publicidade, mas continuam com os mesmos tiques.

Segredo

«Mudam-se canhões e segredos», dizia a montra da loja.
Entrei. «Mude-me rapidamente este segredo. Se não o conto, rebento.»
O homem sorriu. «Se quiser, posso fazer-lhe uma chave».
Paguei. Agora tenho o segredo fechado à chave.

domingo, 21 de setembro de 2003

Sunday Papers

António Barreto considera essencial a remodelação do PS, da sua direcção e sobretudo do seu secretário-geral. Diz mesmo que essa remodelação é bem mais importante que a do Governo.
António Barreto e outros disseram exactamente o mesmo, durante anos, acerca do líder da oposição Durão Barroso.
Não são apenas os políticos que nada aprendem com os seus erros. Os comentadores políticos também.
Maria Elisa justifica-se no DN. Diz que suspendeu o mandato no Parlamento para intervir antes que o meu estado de saúde seja afectado. E queixa-se de estar a ser atacada por ser mulher e ter alguma notoriedade.
Maria Elisa quer fazer de nós parvos. O que está em causa não é a legitissíma suspensão de mandato, para a qual nem necessitava de justificacação pública. O que está em causa é a trapalhada de justificações que deu para sacar um tacho em Londres ou Paris (ainda deve estar a fazer as contas para saber qual dá mais...).
Quanto à baixa preventiva que meteu no Parlamento, seria curioso saber qual a opinião da doutora Ferreira Leite sobre o assunto. Poderá cada um dos portugueses alegar o mesmo? «Ó sô Antunes, hoje não vou trabalhar. Estou com a sensação de que para a semana vou estar constipado. É melhor prevenir...»
Quanto à alegação sexista, apetece responder com a manchete do Tal & Qual: Coitadinha da Elisa...
Não tarda muito, está a utilizar o argumento de que usam a sua alegada doença para fins políticos.
Ruben de Carvalho escreve uma acertada crónica sobre a duplicidade de critérios com que se analisa a vida política portuguesa.
E, já que estamos com a mão na massa, leiam a Helena Matos no Público de sábado para perceberem como o ódio e a demagogia turvam o pensamento. E a crítica a Manuel Alegre até seria justa. Basta ler JMF na página ao lado. Mas Helena Matos prefere enveredar pela canelada, pela frase de lindo efeito mas alheia à realidade, pela extrapolação abusiva de factos. Ela é, de facto, muito mentirosa. Talvez por isso se tenha tornado na musa de tantos blogues.

Sunday papers don't ask no questions
Sunday papers don't get no lies
Sunday papers don't raise objection
Sunday papers don't got no eyes.

Joe Jackson, Sunday Papers (Look Sharp, 1979).

Zeca na Feira

Estive a ouvir o Zeca ontem à tarde. Praça de Londres a arder era a música, não o local. Entendamo-nos.
E alguém disse: «E se fôssemos à feira da Luz».
Fomos.
E foi aí que aconteceu uma daquelas coisas...
Um banda de quatro jovens sobe ao palco e começa a cantar Venham mais cinco. Gostei particularmente do som da rabeca.
O que querem que vos diga? Receava eu ouvir o Zeca, já andava a ouvi-lo às escondidas, e, afinal, jovens, muito jovens, cantam-no ali, entre plásticos, barros e muito fartura, churros e porras.
Mais espantoso: perto do palco, três agentes da PSP falavam animadamente e nem repararam que havia Zeca no ar. Diga-se a verdade: também não repararam que, ali mais à frente, uma cigana vendia camisas Lacoste e Gant a 15 euros.
Pelo sim pelo não, voltámos para casa a ouvir o CD Reis do Ritmo no Twingo. O vento mudou e ela não voltou... Ouçam...

sábado, 20 de setembro de 2003

Praça de Londres a arder

Esta tarde, estive a ouvir José Afonso. Após ter espreitado a rua, corrido as cortinas e baixado o volume. Eu sei lá se algum dos meus vizinhos tem um blogue...

Diálogo sobre promessas por cumprir

- Jotinha, dizem aqui que acabaste por não escrever sobre a decadência do termalismo.
- Pois não. É uma atitude política.
- Atitude política, amor?
- Sim, atitude política, fofa.Também tenho as minhas promessas por cumprir.

sexta-feira, 19 de setembro de 2003

Tu também

A Uncut de Outubro (à venda esta semana em Portugal) dedica a capa aos U2 e ao disco The Joshua Tree, editado em 1987. A revista lembra que foi com aquele disco que a banda conquistou o mundo, leia-se a América. E a generalidade das referências da música pop/rock assinalam-no como a obra-prima do grupo irlandês.
Como bónus, a revista oferece um CD de música americana In God's Country, The Music That Inspired The Joshua Tree. A América terra sagrada, terra de todas as utopias. Nas vozes de Woodie Guthrie, Hank Williams, Elvis, Robert Johnson, Staple Singers, John Lee Hooker... Enfim uma recolha séria, muito séria, das raízes, não apenas do Joshua, mas de toda a música pop/rock.
Se tivesse de eleger uma música símbolo das décadas que vivemos, não teria dúvidas em optar pelos U2, apesar de nem estar no topo das minhas preferências.
Os U2 não inventaram nada, não influenciaram especialmente os seus contemporâneos, não sintetizam na sua música as tendências marcantes destes anos.
O que os torna únicos e paradoxalmente emblemáticos é a maneira como fazem convergir na sua música (ainda não falo das letras...) coisas tão próprias, se bem que por vezes contraditórias, dos tempos que vivemos: uma certa tensão, o desespero, a falta de horizontes, a claustrofobia num mundo a que já demos a volta e no qual não sabemos que mais fazer, mas também a desejo de tentar romper fronteiras, uma violência lírica, um inconformismo sem cedências.
A batida, o baixo poderoso, as guitarras agrestes, a electrónica planante. Tudo colocado ao serviço de um conceito estético muito peculiar.
Nas letras, nos temas, nas causas que abraçam, os U2 representam, igualmente, esta época de desesperos e esperança. Ilusões e desilusões. Uma época sem referenciais, uma época em que sobreviver pode ser a causa derradeira. Sobreviver por entre alguma beleza, a verdadeira utopia.

Formas, volumes

Uma das constatações deste Verão é que a indústria dos soutiens evoluiu muitíssimo nos últimos anos.

Os jornalistas e o Iraque. Fantasias

E agora um post à Valete Fratres. Com a devida vénia ao Ponto Media. Selecção e sublinhados meus. Texto integral no USA Today. Dedicado, por exemplo, ao Abrupto.

Amanpour: CNN practiced self-censorship

CNN's top war correspondent, Christiane Amanpour, says that the press muzzled itself during the Iraq war. And, she says CNN "was intimidated" by the Bush administration and Fox News, which "put a climate of fear and self-censorship.""
As criticism of the war and its aftermath intensifies, Amanpour joins a chorus of journalists and pundits who charge that the media largely toed the Bush administrationline in covering the war and, by doing so, failed to aggressively question the motives behind the invasion.
On last week's Topic A With Tina Brown on CNBC, Brown, the former Talk magazine editor, asked comedian Al Franken, former Pentagon spokeswoman Torie Clarke and Amanpour if "we in the media, as much as in the administration, drank the Kool-Aid when it came to the war."
Said Amanpour: "I think the press was muzzled, and I think the press self-muzzled. I'm sorry to say, but certainly television and, perhaps, to a certain extent, my station was intimidated by the administration and its foot soldiers at Fox News. And it did, in fact, put a climate of fear and self-censorship, in my view, in terms of the kind of broadcast work we did."
Brown then asked Amanpour if there was any story during the war that she couldn't report.
"It's not a question of couldn't do it, it's a question of tone," Amanpour said. "It's a question of being rigorous. It's really a question of really asking the questions. All of the entire body politic in my view, whether it's the administration, the intelligence, the journalists, whoever, did not ask enough questions, for instance, about weapons of mass destruction. I mean, it looks like this was disinformation at the highest levels."
Clarke called the disinformation charge "categorically untrue" and added, "In my experience, a little over two years at the Pentagon, I never saw them (the media) holding back. I saw them reporting the good, the bad and the in between."
Fox News spokeswoman Irena Briganti said of Amanpour's comments: "Given the choice, it's better to be viewed as a foot soldier for Bush than a spokeswoman for al-Qaeda."
CNN had no comment.

Casamentos

Por momentos, receei que o Mexia falasse a sério quando ameaçou não escrever mais sobre política no Dicionário. Vejo agora que era só uma (in)disposição transitória.
Pois não resistiu e lá sobrevalorizou a política no casamento da filha do Dias Loureiro com o filho do Ferro Rodrigues. Num texto muito de direita, aliás. Só um fulano muito de direita acha que, em política, os filhos saem aos pais.

quinta-feira, 18 de setembro de 2003

Fantasias, quais fantasias?

JPP diz que não é de direita.
Daqui a pouco, está a tentar fazer-nos crer que Manuel Maria Carrilho é do PS, deste PS. Que vai para a SIC fazer passar a mensagem deste PS.
Daqui a pouco, vai tentar fazer-nos crer que Pedro Santana Lopes e Marcelo Rebelo de Sousa, no essencial, no que importa, não são porta-vozes exímios deste PSD.
Daqui a pouco, está a tentar fazer-nos crer que as picardias destes dois senhores a Durão Barroso não são apenas entendíveis nos corredores da política lisboeta. Que nas abordagens mais abrangentes não reproduzem a cassete laranja.
Daqui a pouco, está a tentar demonstrar-nos que o seu comentário na SIC, apesar das diferenças, não terá uma agenda escondida. Uma agenda em que, por exemplo, as críticas a Paulo Portas nunca colocarão em xeque o governo, de forma explícita, apesar de ele saber que o que tem escrito e dito atinge o coração deste governo.
Daqui a pouco, está a tentar convencer-nos de que, todos juntos, estes comentadores não vão atingir milhões de pessoas, muitos mais milhões do que todos os outros media nacionais (mesmo incluindo o Abrupto...).
Mas há mais.
Daqui a pouco, Pacheco Pereira está a dizer-nos que o silêncio total dos media sobre os casos António Preto ou Cruz Silva faz parte de uma estratégia de esquerda. De investigações encomendadas.
Daqui a pouco, está a tentar fazer-nos crer que há qualquer paralelismo entre o silêncio acerca daqueles casos e o alarido sobre o caso Felgueiras. E que não há uma curiosa coincidência de todo esse alarido com um processo patético contra Edite Estrela, uma investigação à câmara de Guimarães. E de tudo isto ter coincidido com a detenção de Paulo Pedroso.
Daqui a pouco, está a tentar convencer-nos de que a esquerda controla a agenda de uma comunicação social que trata com toda a benevolência os truques de malabarismo da doutora Ferreira Leite para esconder o défice, que deixam a léguas as tentativas semelhantes dos socialistas.
Daqui a pouco, está a tentar mostrar-nos que é estratégia de esquerda o facto de os media deixarem passar em claro que uma comissão alegadamente especializada diga ter havido mais de um milhar de mortos devido à vaga de calor de Agosto, que o ministro diga que foram 5 ou 9 e que tudo fique na mesma.
Daqui a pouco, está a dizer-nos que é estratégia de esquerda que as televisões mostrem quilos e quilos de imagens de incêndios e ainda ninguém tenha incomodado ministros, chefes disto e daquilo a perguntar a que se deve tanta falta de previsão, tanta incompetência.
Daqui a pouco, está a tentar convencer-nos de que os editoriais ultra-neo-conservadores dos media portugueses sobre o 11 de Setembro eram, afinal, de esquerda.
Daqui a pouco, está a tentar convencer-nos que as secretárias do PSD e um certo sindicalista/professor/eu sei lá o quê Zé Beto de Coimbra que todos os dias ligam para o forum da TSF são infiltrados de esquerda.
Daqui a pouco, está a chamar-me muito mentiroso.

Portugal 2003, versão blogue informado

Leiam no Notas Verbais [O «peso» de Portugal em Bruxelas] a importância que Portugal tem lá fora. Sim, naquele sítio onde fomos bons alunos, com Cavaco, e estivémos na linha da frente, com Guterres.

Indignação, outra vez?

Acho estranho. Há umas três semanas, a blogosfera discutiu o blogue que ninguém linka. Na altura, manifestei a minha surpresa com tanta indignação.
Não percebo que, passado todo este tempo e sem que algum dado novo tenha surgido, volte a mesma indignação. Esta nova dose é redundante do ponto de vista do debate e resulta em mera publicidade gratuita para o tal blogue.

Portugal 2003, versão blogue de esquerda

Três semanas após o lançamento mundial do novo Fiat Panda em Lisboa, os Rolling Stones actuam em Coimbra.
Notem bem: a mais rasca marca de carros seleccionou Lisboa para lançar o seu modelo mais rasca. Imaginam onde são lançados os BMW, os Mercedes, mesmo os Renaults topo de gama? Isso mesmo, em Espanha. Assim se vê onde estão os políticos e os empresários com iniciativa.
Acham que as fotos do Panda com Lisboa ao fundo vão trazer um único turista a Portugal? Vocês acham que quem compra um Panda tem dinheiro para fazer turismo?
Para que a nossa vergonha seja maior, os Stones vêm a Coimbra. Não sei se sabem, mas esta é a terceira vez que aqueles velhos a cair da tripeça vêm a Portugal. Por uma única razão: já ninguém os quer ouvir, já não têm onde cair vivos, quanto mais mortos.

Portugal 2003, versão blogue de direita

Três semanas após o lançamento mundial do novo Fiat Panda em Lisboa, os Rolling Stones actuam em Coimbra.
Portugal volta a estar na moda. Estão de parabéns os nosso políticos e empresários que não se poupam a esforços para pôr Portugal no mapa, dar novo ânimo à economia.
Já imaginaram as centenas de fotos com Lisboa ao fundo que as revistas, páginas e programas de televisão sobre automóveis vão publicar nas próximas semanas? Imaginam o impacto disso sobre a nossa economia, principalmente no turismo?
E não é só Lisboa. Coimbra também está no roteiro dos nossos sucessos. Com um pouco de sorte, ainda vamos ouvir gritinhos e assobios portugueses no próximo disco ao vivo da maior banda de rock’n’roll do mundo.

quarta-feira, 17 de setembro de 2003

A diplopia, um exemplo

Uma das televisões (RTP? SIC?) deu a notícia da detenção do suspeito do assassínio da ministra sueca dizendo que se trata de um conhecido adepto da extrema-direita e das claques de futebol mais violentas. Em suma, um psicopata, dizia o jornalista.
É claro que se se tratasse de um cavalheiro da extrema-esquerda a mesma televisão teria emitido longa reportagem sobre a coerência do percurso, a coragem da acção. E talvez até arranjasse umas ligações estranhas à ministra sueca, do tipo «estava mesmo a pedi-las».
Uma cambada, esta gente dos media.

Causas perdidas

Não me bastava estar em minoria quanto à questão do blogue que ninguém linka.
Agora, estou a ficar em minoria na defesa do sinal horário da Antena 1. O Alfacinha também não gosta. Diz que prefere o Fernando Alves. E não se pode ter os dois?
O que me vale é que o Retorta, sempre atento, pegou na máquina e fotografou a igreja de Benfica, com sinos a sério, e diz-me que ainda há ribeiros por baixo das calçadas. Em Paris, no Maio de 68, andaram à procura de praias Tivessem vindo a Benfica molhar os pés...

Jornalistas, pois então

Volto a escrever sobre jornalistas numa altura em que o tema incendeia paixões. Mais precisamente sobre um aspecto que já me levou a trocar umas ideias com o Abrupto e, agora, com o Mar Salgado - a alegada diplopia (aprendi uma palavra nova: «visão dupla», segundo o Houaiss) com que a esquerda e a direita são tratadas nos media.
1. O que me irrita particularmente é a ideia que circula com alguma insistência, nomeadamente nos blogues mais à direita, de que os jornalistas pendem sistematicamente para a esquerda e que, em conformidade, distorcem a realidade à sombra desse preconceito. Esta ideia revela, além de alguma desatenção face ao que é publicado, um desconhecimento razoável do que se passa no interior dos media. Na verdade, nas últimas duas décadas, as redacções foram invadidas por hordas de jovens jornalistas maioritariamente desinteressados da política. Muitas deles têm uma atitude de total indiferença perante o fenómeno, outros olham-no com desconfiança. Mas quase todos detestam os políticos e estão dispostos a levar aos limites essse criticismo. Há, é certo, os que se interessam por política, mas, ao contrário de um passado recente, as opções de esquerda já não serão maioritárias.
2. Quem escreve sobre estas matérias revela, igualmente, algum desprezo sobre o verdadeiro papel dos media. As expressões contra-poder ou quarto poder parecerão anacrónicas, mas, sob outras designações, são elas que ainda devem caracterizar decisivamente a actividade jornalística. Numa altura em que as correntes de direita estão no poder (em Portugal, na Europa, nos EUA) é natural que os media sejam vistos como estando alinhados com a esquerda. Dou um exemplo: na guerra do Iraque, o papel dos media é questionar, questionar sempre, as várias opções. Outro exemplo: no acidente do IC-19, o papel dos media é tentar ir mais longe que a própria investigação ao acidente. Porque aos media compete-lhes, não só investigar o acidente, mas também investigar quem investiga o acidente. Por muito que isso incomode os políticos. Terceiro exemplo: Durão Barroso diz que há mão criminosa nos incêndios. O papel dos media não é reproduzir acriticamente essas palavras, mas tentar perceber se têm correspondência com a realidade.
3. A fractura esquerda/direita é outro aspecto sobre o qual penso que existem alguns equívocos. Parece-me, de todo, absurdo colocar nos pratos da balança toda a esquerda contra toda a direita. Há blogues claramente fascistas (até a direita os denuncia, vide os escritos de Pedro Mexia), com apelos claros à violência, mas não conheço equivalência à esquerda. O que muitas vezes certos críticos dos media pedem é que se utilize a mesma bitola para a extrema-direita de valores nazis e para a esquerda que até já foi extremista mas se reciclou (facto que mereceria elogio e não a postura cínica que por aí se vê).
4. Última crítica, que isto vai longo. Por facilidade de argumentação, ou por mero efeito de estilo, nos últimos tempos, todas as opiniões têm de ser extremadas. Já ninguém crítica, toda a gente insulta. Por isso me indigno que se escreve que «os jornalistas apoiam a barbárie defendida pela esquerda». Barbárie? Não estaremos a depreciar a palavra? Os jornalistas, a esquerda? Não estaremos a generalizar em excesso?

Prémio, oferece-se

Acharei altamente suspeito e passível de investigação sobre tráfico de influências se o Mata-mouros não der o prémio «posta de semana» ao seu próprio texto sobre o desaparecimento do cão da Rita.

Mioleira, entrega-se

Mais importante para a Nação que os neurónios de Pacheco Pereira, só a mioleira do Zé Manel.
Serve este texto para dar as boas vindas a estes irmãos mais novos do irmão do meio.

Um copo de leite manhã cedo (Early Morning Milk Cup)

O leitor Luís Bonifácio (incansável, este homem...) informa-me, na sequência de uma partilha de desafectos acerca do leite UHT, que no centro de Lisboa ainda há vaquinhas que dão leite autêntico. Fica em frente ao Museu Militar e a Santa Apolónia, chama-se Associação Protectora da 1ª Infância, é visitável das 16 às 18 horas, e fornece o fabuloso líquido a crianças carenciadas (se me virem por aqueles bandas de bibe rasgado, não se admirem...). Luís Bonifácio até me enviou fotos, mas não tenho modo de as mostrar.
Lisboa tem destas coisas. Aqui, pelas bandas de Benfica, ainda há resquícios dos tempos em que tudo era quintas. E não são apenas as muitas nascentes que por vezes inundam garagens e caves... Há mesmo hortas. Em cada torrãozinho disponível, plantam-se couves, colhem-se tomates, há salsa ao reguinho.
Não posso deixar de sentir um certo carinho por esta ruralidade deslocada no espaço e no tempo.

terça-feira, 16 de setembro de 2003

Os neurónios e as audiências

É público (até deu na televisão...) que, pelo menos durante umas horas, JPP esteve a funcionar apenas com metade dos neurónios.
Acontece que, durante esse período, o Abrupto quebrou um novo recorde de audiência.
Eis o sistema mediático no seu melhor.
Como acham que funcionam os editores dos telejornais? Como acham que quem manda nos jornais conquista audiências? Pois, muito simplesmente, desligando conjuntos mais ou menos vastos de neurónios. O sucesso depende apenas da mestria com que se selecciona a quantidade e a localização de massa encefálica a hibernar.

Este não é o Pipi do Outro

Ora bolas, o Outro, eu, homem da palavra, não gosta dos silêncios, da respiração, do sinal horário da Antena 1. E ainda me chama saudosista, insinuando que, das termas, me deveria trasladar para um museu. Mais uma destas e mando-o entrevistar o Machado de Assis.

História cor de rosa - o Gastão voltou

O Gastão voltou. Fugiu por causa do casamento. Pelos convidados que vi nos jornais, até eu fugia.
Agora, vejam a moral da história: lá em casa, até o cão é inteligente. Roam-se de inveja, blogues liberais, neo-conservadores e aparentados.

Um Deus (demasiado) madrugador

Mesmo com todos os neurónios em pleno funcionamento, o ministro Portas está longe de ter a influência no governo que muitos clamam.
Comprovei isso mesmo hoje de manhã, quando fui levar a minha filha à escola primária.
Além de continuarem facultativas, as aulas de Educação Moral e Religiosa Católica (sic) são dadas às 8 e 20, quase uma hora antes do início das outras aulas.
Bom, se calhar, a escola da minha filha está fora da influência do ministro Portas. Por causa da cor da pele de uma grande percentagem dos alunos.

Piiiii. piiiii, piiiii, pii

Se este blogue tivesse som, colocava aqui o sinal horário que a Antena 1 assassinou para que o Adelino Gomes o pudesse ouvir sempre que quisesse. Será que o Outro, eu não poderá dar uma ajuda?
Já aqui escrevi sobre as rádios que dão noticiários cinco minutos antes da hora. Nunca tinha escrito sobre as que transformaram cada momento da sua emissão numa selva de sons, em que nem as notícias se salvam. Nem tinha escrito sobre a total falta de respeito que é dar relatos de futebol horas seguidas num domingo à tarde, sem encontrar 30 segundos para nos dizerem como vai o mundo, 40 segundos para nos informarem como está o trânsito.
A questão do sinal horário poderá parecer bizantina. Na verdade, tratando-se da estação pública de rádio, é uma questão de património cultural.
Nunca percebi como cada governo, cada administração, da rádio e da televisão do Estado são tentados a mudar símbolos gráficos, identificadores sonoros... Pensarão que estão a ser modernos, criativos? Modernidade é perceber o que deve ser perene, eterno, e o que pode e deve ser renovado.
Um país, mais, uma Pátria, faz-se deste tipo de símbolos. De rituais.

Early Morning Blog

Hoje acordei com febre. Então não que é que concordo com um texto do Liberdade de Expressão [Não aprenderam nada]?
Nota: apesar de ser quase meio dia em Estrasburgo, este é ainda um Early Morning Blog.
Já agora, completamente a despropósito, não era bonito se todos ajudássemos a procurar o Gastão?
Ainda mais a despropósito (é mesmo da febre...), sai um abraço, solidário e fraterno, claro, para o soprador de vidro da Marinha Grande. Sofre-se muito nesta vidinha...

segunda-feira, 15 de setembro de 2003

Diálogo para ser lido em voz alta

- Jotinha, fôfo, tens aqui um eight male.
- Eight male, bebé? Não será hate mail?
- Ou isso...

All the words

All the words you say to me
Have music in them

Elvis Costello, When It Sings (North). Aqui, clicando em Music, ouvem-se excertos.

O que acham disto?

Já nem me lembro como lá cheguei. A blogosfera causa em mim um efeito que a medicina ainda não catalogou - volta que não volta, perco o tino. Onde estou? Quem és? Quem sou? Enfim, todo um lençol filosófico a desenvolver noutra altura.
Dizia eu... Melhor. Olhem para isto. Gostava que me dissessem o que acham.

Serviço Público

O Mata-mouros é de leitura obrigatória. Leio-o para concordar com o que escreve sobre o processo Casa Pia. E para discordar do que escreve sobre o Médio Oriente. E leio-o sempre entre domingo e segunda para conhecer o estado da blogosfera. Os prémios que o CAA entrega são um ponto de vista obviamente pessoal, e logo, parcelar. Mas são um óptimo ponto de partida para desobrir o que de melhor se vai escrevendo. Com o humor e o fair play indispensáveis nestas coisas. Alongo-me em elogios, já perceberam, porque o Mata-mouros me voltou a distinguir, o que exige um certo reforço graxa da minha parte...
Agora, gostava que me explicassem quem deu autorização ao Aviz e ao Cerco do Porto para se ausentarem? Então e os serviços mí­nimos?
Noto ainda que o CVM já vai no terceiro blogue. Depois dos contos chega a rádio. Pena é que não se possa fazer um três-em-um. O CVM a entrevistar o Mark Twain no Pessoal e...Transmissível.
E noto que a inauguração de novos blogues vai obrigar-me a mexer no template. Por este andar, vou ter de começar a deitar links fora. Nem quero pensar nesse dia.

Mentiras

O discurso que mais influenciou a opinião pública mundial a favor da guerra do Iraque (Colin Powell, ONU, 5 de Fevereiro) é um chorilho de mentiras.
Isto pode ser comprovado aqui. É claro que se trata de trabalho de investigação e análise de americanos. Os americanos, como se sabe, são um grupo de nativos fortemente influenciados pelas correntes de pensamento da esquerda europeia, pelos jornalistas portugueses (principalmente da RTP e da TSF...), Boaventura Sousa Santos, Freitas do Amaral e uns repórteres manhosos da BBC. Ah, é claro, e pelo doutor Soares pai.

Notas musicais

A provocação é muitas vezes um gesto de amor, mas as pessoas só tardiamente o compreendem.
A frase é de Jacques Brel. Nas próximas semanas, é provável que Brel passe por aqui com alguma frequência.

Gostei de ler Elvis Costello no Y do Público: Joni Mitchell mudou a maneira de fazer canções de amor. Tirou-lhes a ingenuidade. Quando se gosta de Joni Mitchell, o mundo é melhor.
O novo disco de Elvis está a chegar (dia 23). Chama-se North e é editado pela Deutsche Grammophon. Já ouvi. É lindo.

O Retorta delicia-me com tanta arqueologia. Neil Young dos bons tempos e uma cassete Basf igualzinha a umas em que gravei Neil há muitos anos. Ultimamente, ando um bocadinho zangado com ele. Depois explico.

Alô Mar Salgado, está aí alguém?

O FNV, do Mar Salgado, insiste no lugar-comum: a evidente cumplicidade dos jornalistas para com o ódio, a violência, a barbárie, quando são sentimentos e práticas expelidas pela esquerda ilustrada.
Não percebo o que quer dizer. Provavelmente, trata-se de uma simples divergência de conceitos. De quem fala quando fala de jornalistas? O que entende por cumplicidade? A que ódio, violência ou barbárie se refere? E, já agora, esquerda ilustrada, o que é?
Escrevo sem qualquer preconceito. O lugar-comum que FNV sintetiza alimenta uma imensidão de blogues, colunistas de jornal e similares. Só que, sinceramente, não entendo como chegaram a tal conclusão. Se alguém tiver a caridade de me explicar, agradeço.

domingo, 14 de setembro de 2003

Não leiam, estou codificado

Provavelmente, está a ler este texto porque há três dias o Jaquinzinhos foi de férias (para Tavira e a prometer fotos...) e sugeriu que procurasse aqui o Canal 18. Lamento, mas trata-se de um equívoco. Aqui, somos herdeiros de La Palice: o que é explícito nunca é codificado.

Reflexão (outra...) metabloguística

Uma pessoa ausenta-se uma semana e encontra tudo desarrumado. Uns foram de férias, outros de fim-de-semana, uns andam um bocadinho exaltados, outros desistem ou ameaçam desistir, outros ainda mudam de estilo.
Há polémicas que se perderam, outras que deixámos a meio. Há até, imagine-se, gente sem paciência para a polémica. E, claro, gente com uma medida estranha das coisas. Uma polémica não é um duelo, ou sequer uma competição. Cada qual diz ao que vem, cada qual concorda ou discorda, cada qual nem por isso. E siga a dança. Com a certeza de que, sempre que nos apetecer, podemos ignorar olimpicamente. Mesmo aqueles de que gostamos. Mesmo aqueles que odiamos.
Segue a dança. Um dos problemas das ausências, por curtas que sejam, é que se perde a geografia. Como quem perde o(s) sentido(s). Discutíamos com um que já não quer conversa. Há outro que pisca o olho à cata de atenções. Há encantamentos que esmorecem. Amores que não se evaporam. Há montanhas de textos perdidos para ler. Na diagonal, é claro. E há uma imensidão de nomes novos, que importa vasculhar.
É isso que vou fazer nas próximas horas. Ou me engano muito, ou o Mata-mouros vai dar-me uma ajuda, com a habitual revista de blogues.

Reflexão sobre termalismo interrompida por tentativa de diálogo

As causas da decadência do termalismo em Portugal - uma tentativa de aproximação. Será esse o tema dos próximos textos. E, claro, sendo uma questão fracturante, preparem-se para a polémica.
- Ó jotinha, deixa-te de disparates...

domingo, 7 de setembro de 2003

Diálogo com pausa

- Jota, fofo, vamos para as termas?
- Logo agora, quiducha. E quem rega as flores? Quem trata dos links? Quem...
- Vá lá, é só uma semana.
- 'Tá bem.

Vária

O Viva Espanha dá um contributo valioso para as razões da decadência da poligamia. Pois é, o dinheiro. Tantas vezes chegamos a essa conclusão - o extraordinário peso do dinheiro nos destinos do mundo.
O Abrupto aprofunda a questão dos extremismos. A minha discordância fundamental, já se percebeu, tem a ver com a crítica que faz à leitura mediática da realidade. Agora, por motivos que se verão no texto a seguir, não poderei acompanhar o desenvolvimento da polémica. Pressinto que a muita esquerda bloquista que por aí anda se encarregará de responder a JPP. Não lhes invejo a situação.

Cymerman (desculpem a insistência)

Se eu quisesse usar do cinismo muito em voga, diria que não há nada melhor do que um bom profissional e reportagens isentas para fazer passar a mensagem mais subliminar. Não entro por aí, porque, insisto, não é o que penso do Cymerman.
Por isso, não o ponho na mesma balança do Goulão, nem faço comparações com o outro lado da barricada.

Cymerman

É claro que fui injusto. O Aviz diz-me que Cymerman é um homem bom e justo, sensato e corajoso. Não o conhecendo pessoalmente, subscrevo, às cegas. Conheço-lhe o trabalho e, pelos vistos, o trabalho e o homem coincidem.
Mas não é o Cymerman (Henrique? Carlos?) que está em causa. São as circunstâncias. Que se fazem de aparências. O Cymerman será sempre o ponto de vista de Israel, nunca o do Médio Oriente.
Nestes tempos agrestes, em que a desconfiança impera e todas as nossas palavras e não-palavras são dissecadas em busca do preconceito escondido, isso não é pouco.

O pesadelo

Durante 24 horas cumpriu-se o meu pesadelo secreto. Alguém nos sequestrou o blogue. Agora só falta que se cumpra o meu sonho secreto. Tão secreto que é, nem link tem.

Nós, os democratas

Incomoda-me a suspeição que nos últimos tempos se levanta contra quem, na praça pública, ousa opinar ou seja mero porta-voz de pontos de vista dos quais se discorda.
Acho que isso passou a ser mais patente com a guerra do Iraque. É impossível, repito, impossível discutir seja o que for sem que, de imediato, nos colem etiquetas baseadas em meros preconceitos.
Sei, de há muito, de que lado estou. Do lado da democracia. E até digo mais: estou do lado dos valores do Ocidente, por xenófobo que isto possa parecer.
Precisamente por estar deste lado, quero dar-me ao luxo de exercer plenamente os meus direitos cívicos, sabendo que, nesta matéria, um direito é, simultaneamente, um dever. O dever de contribuir para uma sociedade melhor.
A discordância é o cerne da democracia.
É por isso que quero discutir a intervenção americana no Iraque sem ser acusado, sem apelo nem agravo, de anti-americanismo. Porque não sou anti-americano. Toda a minha cultura é mais americana que outra coisa e não me queixo.
Sou contra o terrorismo (vejam o ponto a que chegámos, já temos que reafirmar evidências...), acho que ele deve ser combatido sem tréguas, mas tenho o direito de discutir, aqui, deste lado da barricada, a melhor forma de o fazer. Sem que me digam que estou a fazer o jogo do adversário.
Acho, por exemplo, que a política de «olho por olho, dente por dente» que Israel aplica não faz sentido. Só alimenta a besta. Mas não sou contra o Estado de Israel. Acho até, imaginem, que do lado palestiniano já não é só a Palestina que está em jogo. Concentram-se na Palestina todas as forças e todos os ódios de uma certa radicalidade islâmica contra o Ocidente. É também por isso que nos devemos preocupar.
Considero, por isso, pura patetice o que se tem escrito sobre o comportamento da esquerda europeia perante a guerra ao terrorismo. E não vale a pena falarem-me de Estaline, Mao ou outros palermas. Não é dessa esquerda que falo, é da esquerda do ano de 2003, que já digeriu isso, como a direita teve de digerir outras coisas.
A esquerda europeia, mas também Chirac, o Papa, parte do Partido Democrata americano, têm reticências sobre a estratégia que tem sido seguida para combater o terrorismo. Querem discutir isso internamente, aqui. Mas, digam-me lá!, porque carga de água é que isso é apoio, conivência, benevolência, compreensão, seja o que for, face aos terroristas?

sábado, 6 de setembro de 2003

Disto ninguém se queixa

Noticiário da uma na SIC. Notícia do pedido de demisão do primeiro-ministro palestiniano, Abu Mazen. O pivot passa a palavra ao «correspondente no Médio Oriente» e surge no ecrã Henrique Cymerman, a falar de... Israel.
Há décadas que isto é assim. Primeiro foram os Steinhardt, agora são os Cymerman. Há décadas que os portugueses, os que ouvem rádio e vêem televisão, ou seja, a maioria, sabem do conflito no Médio Oriente pelos olhos, pela voz, pela interpretação de pessoas que vivem em Israel, que nos dão a visão de Israel, que são Israel.
Com isto ninguém se preocupa. Isto toda a gente acha normal.

sexta-feira, 5 de setembro de 2003

Promessas e abusos

Às 21:41:25 de hoje (reparem na precisão...), alguém procurou aqui «leis fundamentais estupidez humana cipolla». Eu sei, algures num texto que deve estar perdido algures no baú aí em baixo, prometi falar mais detalhadamente do livro do Cipolla sobre a estupidez. Ainda não tive tempo. Nem para isso, nem para outros textos mais estruturados. O patrão tem andado particularmente exigente, devem ser ordens do Bagão. Fica para daqui a uns dias.
Já agora, a quem pesquisou «fodas no algarve», queria só avisar que me parece de um certo mau gosto trazerem a minha vida íntima para um sítio público. Obrigado.

Um orgasmo de orgasmos feito

Agora que me vi a ler a excitante troca de olhares íntimos entre o Prado Coelho e Bénard da Costa, pergunto: E o orgasmo oblíquo?
Qualquer jactância precoce sobre esta matéria pode ser penetrada no sítio do costume. Dispensam-se preliminares.

Pronto... volto a linkar

Gostei. Volto a linkar. Boa onda.
[Alerta a quem possa (não) interessar: devido a circunstâncias que não vêm para o caso, este texto e o anterior só são compreensíveis para quem navegou por estas bandas na passagem de quinta para sexta-feira. A todos os outros, peço desculpa pela interrupção. Voltemos ao normal.]

quinta-feira, 4 de setembro de 2003

Este blogue não linkarei

Confesso. Houve um dia em que li, gostei e linkei. Apercebi-me agora do gesto criminoso, da sensação de Pandilha.
Prometo. Não voltarei a linkar. É pena, porque estava a gostar.

Portugal, 2003

Muitos inocentes e culpados estão, neste momento, a tremer de medo, porque, em verdade, quem não deve também teme.
in Cerco do Porto.

Alguém quer debater isto?

Sabiam que o homem, sim o homem com h pequeno, tem o harém no ADN?
Pois é, meus amigos, a poligamia está-nos no sangue. Diz um cientista. Ainda para mais uma cientista. Ainda para mais italiana... Leiam tudo aqui.
Se alguém estiver interessado em discutir a coisa, dou uma de avanço. Isto, minhas amigas, só prova a superioridade da mulher. Que, ao longo de milhões de anos, conseguiu dominar culturalmente o que a Natureza tinha determinado.

1316 ou 4 ?

No dia 21 de Agosto, expressei aqui a minha perplexidade pelo número de mortos que a vaga de calor causou em Portugal: 1316. O que me espantava não era o número, mas sim a sua exactidão. Cheguei a consultar um especialista.
O ministro da Saúde foi ontem ao Parlamento e fez uma ligeiríssima correcção: não morreram 1316, mas sim 4. Sim, quatro.
Se eu já estava perplexo com a exactidão, imaginem com a discrepância.
O que vale é que o ministro anunciou que, em 2004, o sistema funcionará ainda melhor. Ou seja, em vez de morrer gente, talvez nasça, ou talvez se salve de morte certa. Já estou a ver o ministro: «Devido à anormal vaga de calor, conseguimos salvar 1316 pessoas que estavam condenadas...»
E imagino também os estrangeiros, a começar pelos franceses, a acorrerem a Portugal para estudar tal sucesso.

Soares, finalmente Papa (II)

Afinal, a primeira missa da nova religião foi presenciada apenas por 57 pessoas. Se excluirmos os que eram das outras religiões anunciadas, é caso para dizer que foi mais um Sermão aos Peixes...

Jornais e polí­tica

Não gosto de deixar nada a meio, mas também sei que não se pode discutir tudo de uma vez. Deixemos, pois, fluir a conversa, sem pressas. O texto que se segue é mais um contributo para a troca de ideias com o Abrupto. Há contributos em Mar Salgado, Alfacinha, Almocreve das Petas.

1. A linha editorial dos jornais portugueses é uma daquelas questões sobre as quais toda a gente acha que já tudo foi dito. Mas não foi, sinal disso é que o marasmo continua.
Subscrevo quase tudo o que diz JPP sobre esta matéria. Lembro apenas que Portugal tem uma experiência peculiar. A nossa democracia começou por ter jornais muito alinhados partidariamente, os estatizados e os outros. O modelo faliu. Evoluímos, então, para um outro, em que se cultiva uma independência formal. Tenta-se um jogo de equilíbrios, com direcções/redacções imitando parlamentos: se o director é de esquerda, nomeia-se um chefe de redacção ou editor de política de direita, e assim sucessivamente. A luta político-partidária acaba, dessa forma, por saltar para dentro das redacções e por se reflectir nos conteúdos.
2. A situação atrás descrita agrada particularmente aos jornalistas. Porque lhes dá uma extraordinária sensação de poder. São «independentes» e, por isso, podem mudar de opinião, aprovar ou desaprovar. E que ninguém lhes diga que é por serem afectos a esta ou aquela corrente. Os jornalistas acham que podem derrubar ministros pelas notícias independentes que fazem, quando na realidade isso resulta mais de alinhamentos políticos momentâneos.
3. Dito isto, interrogo-me se Portugal tem condições para possuir uma imprensa com linhas editoriais assumidas. E questiono-me se, quando se fala de «linhas editoriais», isso implica alinhamentos partidários. Pelo que conheço das redacções, temo que esse caminho descambasse em jornais de barricada. Pela falta de profissionalismo e pela sede de influência de muito gente que por lá anda.
4. Muitas vezes, nestas discussões, damos exemplos que nos traem. Foi o que fez JPP. Os editoriais do DN não eram «às vezes» pró-coligação. Eram sempre. E o noticiário não era baseado no Robert Fisk, que assinava uma peça por dia (por vezes, nem isso...), a qual era sistematicamente mal editada - deveria surgir como artigo de opinião e não como reportagem. O resto do noticiário (além dos enviados especiais próprios) era elaborado na redacção, com base maioritariamente em fontes de informação americanas e alinhada com a política editorial do jornal. Um Fisk, por mais irritante que seja, não faz a Primavera.
5. Volta a ficar de fora o tema que originou o debate - os extremos políticos. Fica para um próximo texto.

Avisos à navegação

1. Nas últimas semanas, talvez devido à expansão vertiginosa da blogosfera, já me perdi por atalhos. Temo, por isso, perder debates que me interessam, não responder a quem me interpela, passar ao lado do muito bom ou do muito mau. Meus amigos, se tenho o endereço logo à cabeça, não é por acaso. Usem e abusem. Além do mais, o Yahoo! tem-se mostrado muito competente na caça do spam, vírus, vermes e etc.
2. Neste blogue raramente falo de cinema. Tenho pouco tempo para ver. Não sou entendido na matéria. Cinema francês, então, ainda menos. Parem, por isso, de pesquisar aqui textos acerca de uma certa actriz de cinema francesa.

O telecomando do planeta

Há umas horas que me baila na cabeça um anúncio que vi numa revista de economia.
Em letras pequeninas: Confissões dos presidentes das empresas mais exigentes do mundo.
Em letras grandes: Dêem-me simplesmente o telecomando do planeta.
É da HP, gigante da informática. Mas poderia ser de George W. em campanha para a reeleição.

Diálogo sobre notáveis

- Jotinha, amor, acreditas no Joel?
- Qual Joel, o da Casa Pia?
- Não. O do Big Brother.

quarta-feira, 3 de setembro de 2003

O almoço da (con)fusão

Hoje fui almoçar a casa da tia Clotilde. Vocês não a conhecem, claro. Mora em Odivelas, numa casinha pequenina que não se vê da auto-estrada.
Todos os meses almoço com a tia Clotilde, desde que o meu tio fugiu para o Brasil. Os almoços com a tia Clotilde, ao contrário do que possam pensar, são bastante divertidos. Um dos nossos passatempos preferidos é a troca de ideis sobre música. Costumo levar-lhe sempre umas coisas do Neil Young (é doida pela fase Crazy Horse...) e ela tem sempre umas raridades da Joni Mitchell para a troca.
O único inconveniente, calculam, é que acabo por perder a noção do tempo. Hoje, cheguei ainda não era meio dia e saí de lá agora.
A tia Clotilde tinha preparado o meu prato favorito: chicharros com arroz de feijão. Ainda a ajudei a albardar os chicharros. E cortei um par de tomates aos cubos que temperei com poejos. O vinho, de há uns anos para cá, é sempre Duas Quintas.
Corria bem a conversa, e a música ainda melhor, quando a minha tia atira: «Então e Israel?»
Vocês não a conhecem, mas a minha tia é uma provocadora nata.
O Duas Quintas tinha causado os seus efeitos. Imaginem quando é cruzado com Neil Young.
Desatei numa data de impropérios. A tia não se ficou. É sempre assim, tinha-me esquecido de avisar. Os almoços com a tia Clotilde, a danada da velha, acabam sempre numa enorme (con)fusão.

[Dedicado à Ana e ao João Pedro. O Simas e a Maria José estão de férias. E, já agora, a todos os que, de alguma forma, se preocupam com os meus almoços. Para o mês que vem, levo-os a casa da tia Clotilde.]

Soares, finalmente Papa

Os advogados de todo o mundo estiveram reunidos em Lisboa. Para ontem, dia de encerramento, estava prevista uma sessão, designada por Momento de Meditação Ecuménico pela Paz, para a qual foram convidados representantes de diversas religiões. Essas personalidades lerão, durante 2 minutos, «um texto retirado dos respectivos livros sagrados, tendo a seu lado um advogado devidamente togado oriundo de um país onde a respectiva religião é maioritária». Isto, de acordo com o programa. Que elenca as religiões e respectivos representantes. Em último lugar fala Mário Soares, em nome de uma religião designada por «Agnosticismo». Resta saber que «livro sagrado» citará o Papa desta nova religião. E quem será o seu «advogado devidamente togado»?

Setembro 2

A idade (ou a cidade?) foram-me roubando Setembro.
Primeiro foi a praia da Nazaré, sempre na primeira quinzena. Aquele ondas do tamanho de casas. Aquele mar, que uns dias lambia a estrada, noutros nos deixava caminhar a pé firme até avistarmos Nova Iorque. A bola Nívea. O odor ao creme Nívea. As bolas com creme. A bolacha americana torrada. A falésia que assusta de um lado, o areal sem fim à vista do outro.
Depois foi o regresso às aulas, que os calores da revolução atiraram para Novembro, Dezembro, quando calhasse. E Setembro deixou de ser o mês último das férias. Passou quase a compasso de espera. Quiseram transformá-lo num mês igual aos outros. Quase mataram Setembro.
Depois, ainda, as vindimas. As mãos pegajosas de uvas. O doce que se misturava com a areia. O rancho de homens e mulheres, negro dominante, que se abrigava à sombra das ameixieiras. As pernas frágeis tintadas na pisa. O cheiro a mosto.
Setembro foi sujeito a todas as tropelias, mas sobreviveu.
[à suivre]

Rentrée, uma proposta

O Almocreve das Petas publicou um delicioso Manual da Rentrée, do qual retirei um excerto, mas que vale a pena ler na íntegra:

quando (es)tiver a cair a noite, chamai o César das Neves, o Bagão e o Theias: colocai-vos em círculo com uma vara de cipreste; virai em seguida a face para o Portas, ajoelhai-vos e dizei a oração segundo Sarmento: Barroso noster, qui es in Lajes, sanctificetur Bush nomen, fiat voluntas tua sicut in Belém et in S. Bento.

O Masson comentou os textos do Terras e de JPP sobre o tratamento mediático dos extremos políticos. A conversa resvalou, de momento, quase exclusivamente para o funcionamento dos media. Porém, se houver interesse, poderemos poderemos continuar a trocar umas ideias sobre os dois assuntos.

À atenção do Exm. Sr. Prof. Dr. David Justino

Uma das últimas entradas em Terras do Nunca deu-se através de um servidor do Ministério da Educação.
Se lá pela 5 de Outubro alguém está a pensar incluir o Terras do Nunca como leitura obrigatória num grau de ensino, declaro desde já a minha preferência pelo Básico. É de pequenino...

Vamos lá a ver...

Valerá a pena um dia voltar à questão do tratamento desigual que os media dão à extrema-esquerda e à extrema-direita. Na resposta que JPP deu às reticências que levantei a um seu apontamento, há, porém, duas ou três coisas sobre o funcionamento dos media que penso ser de algum interesse esclarecer.
1. Comecemos por José Manuel Fernandes. Como nota JPP, tornou-se no alvo predilecto durante a guerra do Iraque. Esse foi um debate que se centrou, especialmente, nas páginas do Público, o que revela um espírito de abertura assinalável. Mas que ilude um dado estatístico que muita gente teima em ignorar. Tomem-se os editoriais (ou os directores, para o caso tanto faz) dos chamados jornais de referência. Que disseram eles durante a guerra do Iraque? Menos assertivamente (em alguns casos, nem isso...) exactamente o mesmo que José Manuel Fernandes. Simplificando, defenderam os pontos de vista dos EUA. Para que não restem dúvidas do que falo, falo do Público, do Diário de Notícias e do Expresso. Para a balança de JPP até dou uma borla: a Visão, que se destacou pela posição contrária. Não percebo, por isso, que diabo de consenso quebrou o director do Público.
2. Isto leva a outra questão levantada por JPP, a do «clima de esquerda» que alegadamente se vive nos media. Peço um favor a JPP - que releia todos, repito, todos os editorais dos jornais que referi escritos no último ano. E que releia os editoriais, todos, dos mesmos jornais no último ano do guterrismo. E gostava que JPP me dissesse onde encontra esquerda, quanto mais esquerdismo, nesses textos.
3. Como JPP sabe, outra das formas de verificar a orientação ideológica dos jornais é através do seu elenco de colunistas permanentes. Aqueles que dão alguma espessura aos locais em que escrevem. Quais são os colunistas de luxo do Público? E os três diários do DN, qual a sua filiação ideológica? E JPP já se deu ao trabalho de ver quem são os colunistas fixos do Correio da Manhã, um jornal que mudou o seu perfil nos últimos meses?
4. Lamento, por isso, informar JPP, mas os principais media nacionais não são, actualmente, do Bloco Central. Estão alinhados com a coligação governamental. Nem que, em casos específicos, seja através da despolitização agressiva dos seus conteúdos. Ou JPP não concorda que nada agrada mais ao poder que a despolitização dos media? E nem vale a pena chamar aqui a questão da propriedade levantada por JPP a propósito da TSF...
5. JPP fala das background assumptions. Percebo onde quer chegar. Recordo-lhe só que quem faz as primeiras páginas são os directores. Sim, eu sei. JPP refere-se, principalmente, aos textos das secções de política, talvez das de internacional. Esse é um dos pontos em que, grosso modo, concordo com JPP.
6. JPP deixa entender que os media sentem um grande fascínio com o Bloco de Esquerda e questões conexas, como a anti-globalização. Os media, como JPP sabe, têm uma tendência congénita para correr atrás dos foguetes. E, como sabe, o BE é especialista em foguetório. Há uns anos, os media corriam atrás da dupla Manuel Monteiro / Jorge Ferreira, inchando desmesuradamente o CDS/PP.
7. Há uma questão que, de facto, chamei ao debate de forma supérflua - Paulo Portas. Utilizei o tema como mero ponto geográfico de comparação, mas as posições de JPP nessa matéria já eram do domínio público.

terça-feira, 2 de setembro de 2003

Eu e o meu mauricinho

Margarida Rebelo Pinto acaba de ver a sua obra traduzida para brasileiro. A notícia vem na Veja desta semana. Segundo a revista, o Não Há Coincidências é acompanhado por um glossário «que traduz para os brasileiros expressões lusitanas como pipi - que quer dizer mauricinho».

Já vi, sim senhor

JPP tem sobre as relações entre os media e a política uma postura cínica que frequentemente subscrevo. O cinismo, porém, é encantatório. Tanto se pratica que se perde o pé.
Depois de «pousar», provavelmente ainda sob os efeitos do jet-lag, JPP decidiu escrever sobre a alegada dualidade de tratamento mediático entre a extrema-esquerda e a extrema-direita. E pergunta se já alguma vimos editoriais sobre «o perigo do crescimento da violência anti-globalizadora».
Acontece que já todos vimos. Por exemplo, no jornal em que JPP escreve (quase) todas as semanas, o respectivo director, José Manuel Fernandes, comparou as manifestações anti-globalização aos hooligans do futebol.
Na imprensa portuguesa, de resto, ao contrário do que se progagandeia, as teses da direita prevalecem actualmente sobre as da esquerda. Basta ler os editoriais. Eu sei que quanto aos extremos é um pouco diferente. Mas se JPP quisesse usar da perspicácia com que tantas vezes nos brinda, perceberia que os elogios à extrema-esquerda chique (leia-se Bloco) que surgem nesses jornais se destinam mais a achincalar a outra esquerda (leia-se PS) e a fazer o jogo da direita actualmente no poder.
Além de tudo o mais, os media limitam-se a reproduzir uma realidade criada pelos políticos. Foram os media que excluiram constitucionalmente a possibilidade de criação de partidos neo-nazis?
E depois há ainda a questão da geografia política. Não se podem fazer equivaler, por exemplo, as posições neo-nazis às de partidos parlamentares como o BE.
Aliás, quanto a esta questão, convinha que JPP nos desse alguns esclarecimentos. Por exemplo, sobre se considera algumas posições do actual PP de direita ou de extrema-direita. Isto em contraposição, por exemplo, com o BE. E até lhe dou uma dica: tudo o que se tem escrito sobre as relações entre Paulo Portas e a religião é mais do domínio da direita ou da extrema-direita?

segunda-feira, 1 de setembro de 2003

Desliguem os computadores

Os alertas não param. Por todo o mundo, a Microsoft e empresas conexas repetem para nos precavermos contra a onda de vírus (e vermes, sim vermes!!!) que atacam os nossos computadores. Infelizmente, ninguém leva isso a sério.
Acabo, por isso, de ser infectado com um novo verme. Eu e quase toda a blogosfera. O pior é que nenhuma das empresas que contactei tem o antídoto. Todas me dizem o mesmo: devia ter tomado a vacina.
Tarde, porventura, aí vai ela.
Declaro, por minha honra, que defendo a implantação de uma loja do El Corte Inglés em todas as capitais de distrito como forma de revitalizar o comércio rançoso que se instalou em todo o país.
Declaro ainda que defendo, se preciso com recursos aos tribunais europeus, a concessão da Barragem de Alqueva a uma qualquer firma espanhola como única forma de algum dia vermos aquilo a funcionar.
Declaro, ainda, que, apesar do bigode, prefiro o Aznar.
Será que, assim, o GAO, também conhecido por Grupo de Amigos de Olivença, me vai deixar o computador em paz?

A Terra dos outros

O Outro, eu diz que aqui se faz ironia, sem cinismo. Ora bolas, tento que me tenho esforçado. Bom, lá estou a ser irónico...
O Jaquinzinhos trata-me por Choco com Tinta. Fosse simplesmente choco e zangava-me. A tinta, confesso, faz toda a diferença.
O Fumaças diz que o Terras é um blogue a seguir. Será isto uma indicação para a blogopolícia? Ou apenas uma questão de ordenação?
Para o Mata-mouros, somos estimulantes. Vindo que onde vem, não poderia haver melhor estímulo.
O Mar Salgado coloca-nos no Mar Cultural. Assim como o CCB. 'Tá bem.
O Socioblogue, que tem disto uma visão mais científica, agrega-nos no Campo dos Colunistas, Cronistas, Comentadores e Articulistas.
Uma data deles colocam-nos apenas na ordem alfabética das coisas. Outros, na ordem caótica das coisas.
E depois há aqueles que fazem questão de ignorar, embora o computador me diga que espreitam, alguns regularmente. Como desconheço as razões, passo à frente. Mas lá que me diverte...
E há, ainda, imagine-se!, os que linkaram e depois deslinkaram. Senti o castigo como uma humilhação. Buá.
Pela parte que me toca, a coluna da esquerda tem o que vou visitando mais ou menos quotidianamente. Nessa medida, é de uma transparência total.
Acho que, um dia, vou ter de arrumar aquela lista. Por isso andei a espiar e constatei o que atrás fica escrito. Enquanto não encontrar melhor forma, faço como o outro, «sigamos o alfabeto...»

(E, já agora,) a maçã bravo de esmolfe

No Diário de Notícias de hoje dou de caras com uma notícia sobre a certificação das maçãs da Beira Alta. Pena é que, falando a notícia da Bravo de Esmolfe, tenham escolhido uma vulgar Golden para ilustração. Quem tiver saudades ou curiosidade, pode sempre clicar aqui.
A Bravo de Esmolfe, mais que certificada, deveria ser declarada Património Mundial. E, daí, talvez não. A última vez que a vi no Continente estava a 2 euros e 35 e, com um selo qualquer, corríamos o risco de agarrar o feijão verde.

O feijão verde

Queixa-se o Glória Fácil do preço do feijão verde. Oito euros. Um conto e seiscentos...
No Continente do Colombo, hoje, não havia feijão verde. Informou-me um funcionário que a sua aquisição poderia ser efectuada na agência da Caixa Geral de Depósitos, piso 0, mediante a apresentação do comprovativo de pagamento do IRS relativo a 2002.

Ainda o livro que começa com Marx e acaba com MEC

O Almocreve das Petas, com aquela erudição que encanta e não esmaga, deu à estampa a capa da famosa segunda edição de um livro sobre a história da pop em que, além de uma citação de Karl Marx a abrir, há um longo apêndice de Miguel Esteves Cardoso.
Aquela capa é-me familiar e dou comigo a pensar que já tive aquele livro. Até dou comigo a lembrar-me de ter lido o texto do MEC. Receio, porém, que a memória me atraiçoe. De qualquer forma, se algum amigo a quem o possa ter emprestado estiver a ler este blogue, agradecia, se não a devolução, pelo menos umas fotocópias. Pior - receio que tenha sido subtraído por algum jovem mais dado à cultura daqueles que me fizeram uma mudança de casa.
O texto do Almocreve refere outro aspecto que faltava no pingue-pongue que mantive com outros blogues (ver texto lá para trás). Refiro-me à leitura política, no caso, marxista, do fenómeno rock. Coisas que já não interessam a ninguém. Apesar de tudo, uma leitura recomendável nestes tempos em que parece prevalecer uma certa inocência face a economia de mercado.

Setembro

Setembro, mês de decisões, de recomeços. De regressos. Este é o mês.

magnólias no tempo das uvas

Se acreditasse no meu nome
teria ao pé de mim uma escada
de madeira como as das vindimas
para colher magnólias no tempo
das uvas e assim poder mostrar-te
Setembro quando quisesse.


Poema roubado ao Tempo Dual.