domingo, 29 de fevereiro de 2004

Do Norte

A primeira megafusão da blogosfera portuguesa está a caminho. Talvez ainda esta noite haja notícias.

Até já, MacGuffin

Eu agora ia responder ao MacGuffin, principalmente àquela coisa de «não confundir o plano das convicções ideológicas com o plano da competência profissional e do relacionamento humano».
Não sei se se lembram que a conversa começou com o défice da nação. A fábrica de frigoríficos serviu apenas de figura de estilo. E, é claro, quando se fala do Estado a questão das convicções ideológicas ou mesmo das simpatias pessoais não pode ser menosprezada.
Eu ia escrever sobre isso. Mas, cada vez que abro o Contra-a-corrente, veja que o MacGuffin colocou sobre o meu nome a bela Scarlett. E fico em estado de contemplação, sem força para continuar.
[Agora a sério: parece-me que ambos dissémos o essencial do que pensamos sobre o tema. E que nos divertimos.]

Time en español

A revista Time - sim, essa que gosta tanto dos portugueses -, na sua edição europeia, dedica esta semana 18 páginas a Espanha (edição à venda amanhã). O título diz tudo: «Spain takes on the world». Na versão que circulará em Espanha, as tais 18 páginas de reportagem serão publicadas em castelhano. E, em vez dos habituais 6 mil exemplares, serão postos à venda 30 mil. Sin comentarios.

Resposta ao 494

Agora já percebo a razão pela qual o Bloguitica diz que anda sem tempo para blogar. Para desmascarar um bluff, ele acha que é necessário passar pela Amazon. Meu caro, passe pelo Rossio e compre a Spectator e mais duas ou três e vai ver que chega.

Forza Portogallo

Há quem diga que o «Força Portugal» com que a coligação PP/PSD se apresenta às europeias é uma mera cópia do slogan de Berlusconi. E que, no fundo, consubstancia o velho sonho de Portas, um cavaliere dos media que abraçou a política. E que, para que tal paralelismo seja perfeito, apenas falta que Durão/Portas sejam donos da quase totalidade do espaço mediático português. Discordo.
[Dedicado ao Opiniondesmaker, que vale a pena ler todos os dias...]

O rebanho

Há por aí um filme incómodo. Isto é, um filme com uma visão. Um ponto de vista. Neste caso, a morte de Jesus. Nunca me incomodou especialmente que a arte - um filme é arte, recriação, por muito histórico que pretenda ser - brinque com o real, o reinvente, o ficcione, o molde a seu jeito. Parece-me, de resto, que é assim que as coisas se passam. Com tudo.
No tal filme, um cavalheiro com determinadas inclinações, diria, filosóficas entretem-se a escrever a História a seu modo. Talvez a reescrever, quem sou eu para saber. Diria que está no seu direito. Já vimos este tipo de coisa tantas vezes, já tanta gente fez o que quis com a realidade.
E eis que a indignação estala. Previsível, pavloviana. Dizem-me que a coisa é séria, muito séria, que com ela não será lícito jogar o jogo dos pontos de vista. Que aquilo é mais ódio que mais ódio trará.
Acho que exageram. Cada qual verá ali o que quiser. Cada qual verá ali o que quer. Não é por estar em filme que se torna real. A história ou o sentimento, a opinião, de quem a escreve, quem a conta.
A indignação, assim, em rebanho, faz-me mais confusão que o resto. Essa indignação que apela ao coro, que espreita a dissidência, o mero silêncio, pelo canto do olho. Essa indignação é, ela sim, toda feita de ódio, odiozinho, diria.
Passo os olhos pelos blogues do costume. E a indignação lá está - com excepções, pois claro - nos sítios do costume. Dos que foram pela guerra do Iraque, que gostam de Bush, que aplaudem Israel, que deliram com o muro, e, pois claro, domesticamente são o que se sabe. Essa indignação, assim tão organizadinha, é que me mete impressão. Medo, se fosse de ter medos. É uma indignação de picar o ponto - quantos dos que se indignam viram o filme? -, uma indignação de seita. Logo exclusiva, como quem dissesse: «Quem não disser isto, quem não escrever esta senha, não é dos nossos, e não sendo dos nossos só pode ser mau, só pode estar do lado do mal». É rebanho essa indignação. Puro rebanho.

sábado, 28 de fevereiro de 2004

Unidos no lixo

«Eu desde já exijo que o meu lixo seja equiparado às minhas telecomunicações . Exijo que o meu lixo só possa ser aberto por ordem de um juiz e exijo que toda a informação irrelevante seja apagada dos arquivos dos fiscais do lixo. E vou começar a encriptar o meu lixo para confundir os fiscais. E sou contra o cruzamento dos dados obtidos no lixo com os dados da segurança social.»
Escreve o Liberdade de Expressão e eu subscrevo. Até porque desconfio que o Governo se prepara para amealhar umas «receitas extraordinárias» com as multas de quem não separar o lixo.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2004

Time strikes again, and again

Vale a pena lerem esta pequena notícia que nem no último número da Time:
If you're lucky enough to be enjoying lunch in the hillside Provençal village of Bonnieux you can't do better than to order a bottle of pale pink Château La Canorgue, made just outside the village. Though the days when rosé was scorned are gone, the good stuff tends not to travel, and there's still some not-so-good stuff around (Saddam Hussein was said to be fond of Mateus rosé, a vestige of the bad old days).
Ou seja, os tempos em que o mercado internacional era dominado pelo Mateus rosé são para esquecer. O Mateus, lembra a revista, era o vinho preferido de Saddam Hussein, por isso não devia ser grande coisa.
A Time aconselha outros rosés, muito superiores.
Nós até sabemos que o Mateus rosé é uma bela merda. Mas isso não interessa - interessava que o mito vendia lá fora.
Não podemos ficar indiferentes a mais este ataque soez da revista americana à economia portuguesa. Exigimos que o ministro Arnaut tome posição.

Pacto (de Estabilidade)

1. Francia lanza una nueva oleada de privatizaciones para reducir el déficit. El País, primeira página, 27 de Fevereiro (no link available)
2. Durão Barroso anuncia privatização de mais seis empresas. Público on-line, 27 de Fevereiro.

Mais uma ideia para o lixo

O Quase em Português escreveu há dias um texto divertido (CD's piratas ou Elogio do Bom Senso) sobre a nossa saudável mania de nos estarmos nas tintas para as leis.
E isso foi antes de um secretário de Estado sem mais nada que fazer ter ameaçado com multas o pessoal que não separar o lixo. A coisa é tão pateta que nem merece comentários. Comentário merece, sim, o facto de, em matéria ambiental, o principal prevaricador ser o Estado. Pelo que faz, pelo que não faz, pelo que deixa fazer. Crimes pelos quais o secretário de Estado, isto para não falar no ministro, deveria estar preso. Ou, pelo menos, ter vergonha de aparecer em público.
[Actualização: O Adufe - que já tratou com profundidade estas coisas da reciclagem - junta uma questão inquietante: e as autarquais reciclam mesmo o que é para reciclar?]

Small letters, great sex

O Amor e Ócio conclui, a partir de uma notícia do Correio da Manhã - Sexo oral pode provocar cancro - que o mundo está perigoso. Meu caro, esqueceu-se de uma regra de ouro na leitura de tablóides: a verdade é inversamente proporcional ao tamanho das letras. Neste caso, a única coisa que interessa é o antetítulo: o risco é diminuto.

Sondagens IV

O Viva Espanha propõe um método alternativo às sondagens - a frequência dos transportes públicos. A propósito, já compraram o passe? Depois não digam que não foram avisados....

Grandes negócios, pequenas mentiras

Caro MacGuffin,
a verdade é que estou arrependido de ter feito negócio consigo. Não pelo negócio em si, que correu mal, mas porque, com o que escreveu ontem, liquidou de vez qualquer possibilidade de partilharmos uma perdiz desossada no Fialho, seguida de uma audição contida de Stephin Merritt, ou mesmo dos Lambchop, em dose dupla e muito, muito boa. Podíamos, eventualmente, tentar convidar a nossa amiga comum...
Acontece que o meu amigo não podia trair a família ideológica a que pertence e, por isso, conta as coisas a seu gosto, omite factos, treslê, confunde quem o lê... Mas, meu caro, não estamos a falar de armas de destruição maciça, coisa tão longínqua que nos permitimos opiniar sem risco próprio (que diabo, não somos iraquianos, nem árabes, nem coisa parecida...), mas sim do nosso dinheirinho.
Por exemplo, o meu amigo imagina-me ao volante de um Punto, de braço dado com Carvalho da Silva. Não sei onde foi buscar essa ideia. Presumo seja só má vontade. A mesma má vontade com que omite os principais problemas e as soluções que apontei para a nossa empresa comum.
Antes de prosseguir, queria só lembrá-lo de que a nossa fábrica chamava-se, de facto, Portugal, e que só usámos a marca Icily por causa de uma questão de patentes.
Para resolver o défice, o meu amigo decidiu optar pelas receitas extraordinárias. Vendemos, pois, património, numa altura de recessão. Belo negócio...
O meu amigo vem depois com a história do reinvestimento para a modernização e para o redimensionamento do quadro de pessoal. Esquece-se de que essa era a minha proposta desde o início. Sempre lhe disse que deveríamos ter investido mais na formação do pessoal, na diversificação da oferta, em melhores métodos de gestão. A tudo isso fez orelhas moucas.
Não, você só queria fazer «receitas extraordinárias» e recorrer ao outsorcing. Sempre lhe digo que desconfiei desde o início da segunda ideia. E bastou-me fazer umas perguntas à pessoas certas para ter a certeza - a tal empresa do outsorcing é de um primo seu - um velho hábito, este, de negociozinhos em família - e que, por acaso, segundo li nos Ecos do Alentejo, até está metido naquela história obscura do financiamento da coligação PSD/CDS nas últimas autárquicas de Évora. Mas, enfim, não desviemos as atenções do essencial, até porque isso são coisas que acontecem todos os dias...
Mas, sinceramente, o que mais me chateou foi mesmo a omissão, que só posso tomar por deliberada, da sua principal proposta para a resolução do nosso défice.
Tínhamos feito um empréstimo a um banco, a Caixa, coisa nacional, penso que bonificado. O que fez você? Pois foi renegociar essa dívida com um banco árabe, numas condições fantásticas - não pagamos nada durante cinco anos e, depois, vêm os juros a 10 por cento (na Caixa tínhamos 5...). Outro belo negócio...
Conclusão: ficámos sem património para engordarmos as «despesas extraordinárias» e entregámos a gestão de parte fundamental do nosso capital a uma entidade estrangeira com juros que se descontrolarão ao longo dos anos.
Estamos na merda, meu caro MacGuffin. Desculpe-me o linguajar esquerdóide. E só vejo uma maneira de dela sairmos. Insisto na qualificação dos gestores (que ideia foi aquela de contratar um seu conhecido, militante do PSD em Borba, director do centro de saúde local, médico, presumo, e que você insistia ser um craque em recursos humanos?), na adequação do quadro de pessoal à necessidades da fábrica (sugiro-lhe que tentemos uma conversa com o João Proença, que está sempre disponível para estas coisas; talvez o gajo dos TSD que você pôs a chefiar o turno da tarde tenha o telemóvel dele..); e, já agora, com o pouco que temos para investir poderíamos tentar concorrer a uns programas europeus para a divulgação das energias renováveis - tenho uma ideia para vendermos frigoríficos a energia solar para a Líbia que acho uma maravilha. O quê?, a Líbia não. Mas você não sabe das últimas? A Líbia já está no Eixo do Bem, não há problema. Ah, o seu problema é outro... Dá-se mal com a inovação, prefere coisinhas seguras. Pois e o subsídio, uma gaita... Você não gosta de subsídios... Pois, como se não tivesse sido com subídios que, nos anos 80, montou aquele negociozito com que ganhou as massas que investiu no nosso negócio. E o jipe? Não se lembra? Sim, aquele que o meu amigo enchia de «gasóleo verde» numa bomba da Vidigueira...
Fico-me por aqui, caro MacGuffin. Antes que esta minha tendência para pôr tudo em pratos limpos me leve a contar mais duas ou três coisas que sei do nosso negócio...
[PS (quer dizer Post Scriptum, não é o que está a pensar...): quanto aos problemas de gestão, talvez possa começar por ler o que escreve o Tempestade Cerebral.]

A crise anda aí

Então ninguém rebate o texto A verdade a que temos direito? Começo a ficar convencido de que a crise blogosférica anda mesmo aí. Ai anda, anda.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2004

Palavras à bicha? Palavras em bicha?

Se eu jurar que quando escrevi aquele «é o nosso gosto pelas bichas, presumo» do texto anterior não estava a pensar nisso ninguém acredita. É que não estava mesmo. Estava a falar do nosso gosto pelo convívio em fila indiana. Oops... Aquele «gosto pelo convívio» também não me soa bem. Volto já!

Na bicha do passe

Hoje, lá fui comprar o L. Este mês, mais caro, mas muito melhor. Agora, abre portas no Metro e faz não sei o quê - já alguém percebeu o quê? - nos autocarros.
Estive 15 minutos na bicha. Mesmo num mês de 29 dias, estar 15 minutos numa bicha para comprar o L, no dia 26, parece-me um exagero. Enfim, é o nosso gosto pelas bichas, presumo.

A verdade a que temos direito

Durante a guerra do Iraque (20 Março - 9 de Abril de 2003), o Telediário 2 (principal telejornal de Espanha - às 21 horas, na TVE 1) deu a Aznar o dobro do tempo concedido a Zapatero para falar da guerra.
No mesmo período, diz o El País de hoje citando um estudo universitário, o Governo+Aznar+PP (ou seja, o campo pró-guerra) teve 72 por cento do tempo.
Ainda no mesmo período, as declarações de líderes estrangeiros favoráveis à guerra tiveram mais do dobro do tempo daquele que foi concedido aos líderes contrários à guerra.
Lá, como cá, a esquerda, os pacifistas, os anti-americanos, enfim, essa corja, dominam claramente os media.
E ainda há gente que tem o descaramento de vir dizer que a BBC, sim a BBC, manipulou informação e foi pouco séria...

Sondagens III

O Ma-Schamba, um atentíssimo e interessantíssimo blogue feito em Moçambique, que desconhecia (é o que dá a minha desatenção sobre África...), dá uma achega ao desafio sobre sondagens: «Talvez as sondagens pouco valham. Principalmente nestes interstícos eleitorais». Parece uma coisa óbvia, descontando o facto de frequentemente nos esquecermos do óbvio.
Luís Bonifácio, do Nova Floresta, faz uma curiosa comparação com o que se passa nos EUA, onde John Kerry está a ser levado em ombros pelos democratas só porque as sondagens dizem que é ele o homem indicado para derrotar Bush. Assim, como os portugueses estarão fartos de Durão, viram-se para o PS porque... verdadeiramente, só poderiam virar-se para o PS. A velha alternância...

A nossa equipa em Marrocos

Aconteceu na Argélia, está a acontecer agora em Marrocos.
Há um sismo, de considerável intensidade, e dois ou três dias depois (!) segue uma equipa de socorro portuguesa, com o respectivo cão.
Parece-me que o interesse destas deslocações está mais em aprender a lidar com as tragédias do que na ajuda propriamente dita.
Só que tais equipas tornam-se sempre o centro das atenções dos media. No caso da Argélia, vimos até a partida em directo, com declarações de responsáveis no aeroporto (o cão não falou, mas exibiu umas habilidades, penso que à vinda...).
Hoje, está uma equipa portuguesa em Marrocos (ainda não vi o cão, mas ele deve lá estar) e nas rádios e televisões não se ouvia outra coisa senão os pormenores absurdos sobre a equipa portuguesa. Que, afinal, já não é preciso procurar vítimas, que a equipa vai distribuir alimentos, que a equipa não estava preparada para isto, que vão ter de esperar transporte porque não o levaram de Lisboa, que... E o sismo, ainda alguém se lembra do sismo?

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2004

Sondagem II

Na linha do que ainda hoje havia escrito, o Bloguitica comenta a sondagem afirmando que os portugueses vêem no PS uma alternativa mas não vêem em Ferro Rodrigues uma alternativa.
Tenho alguma aversão a leituras rígidas da política à luz da História (do tipo «não pôr os ovos no mesmo cesto»...), mas não resisto a deixar aqui uma provocação:
A duas semanas das últimas eleições legislativas (Março de 2002), uma sondagem DN/TSF (e as outras iam no mesmo sentido) dava uma vitória folgada do PSD (acabou por ser mais estreita), mas colocava Ferro Rodrigues como o líder mais popular e Durão Barroso no fundo do tabela (batido apenas por Carlos Carvalhas).

Sondagem

Tenho à minha frente uma sondagem que coloca o PS francamente à frente do PSD e o líder socialista, Ferro Rodrigues, claramente como o líder partidário mais impopular.
Aceite sugestões de interpretação.

Anti-semitismo e Israel

Anda por aí novamente o debate sobre o anti-semistismo. Já por aqui passou e, sinceramente, não tenho muito mais a dizer. Reparo, novamente, que a questão é indissociável da política concreta do estado de Israel. Há um anti-semistismo com raízes históricas, religiosas se quiserem, que nem sequer discuto. Apenas condeno, com veemência. Mas há um anti-semitismo mais recente, mais político, que é gerado e alimentado pela cegueira de Israel (e dos Estados Unidos, obviamente) que recusam a evidência - os palestinianos têm o mesmo direito a viverem em paz que os israelitas. Podemos jogar com as palavras, debater conceitos, mas voltamos sempre ao mesmo - Israel, o estado de Israel, é ele próprio gerador de anti-semistismo, em sentido lato. E eu, que nem sequer tenho qualquer gosto por teorias da conspiração, não estou completamente seguro de que não seja premeditado.

Crise, qual crise?

Isto tem sido uma corrente de ar... Nos últimos dias, a porta não pára de bater. O Outro-eu saiu, desistiu, aparentemente de vez, o que é pena. Mas eis que (re)chega o Amor e Ócio. E cheio de vontade de trabalhar...
Por cada um que tomba... há pelo menos um que se levanta. Crise, qual crise?

terça-feira, 24 de fevereiro de 2004

A popularidade mata

Soube pelo Adufe que a Rita Ferro Rodrigues já não está No Parapeito. Isto um dia depois de ter sido manchete no 24 Horas (!!!) - «Ela conta tudo sobre a filha». Se bem me lembro... é a primeira vez que (à parte o Muito Mentiroso) um blogue foi manchete. Pelos vistos, a popularidade mata...
[O Rui acha que um dia há-de resistir ao Carnaval. Ele conhece lá o poder socializador de um infantário, de um jardim-escola, de uma escola primária, isto para não falar da televisão, dos amigos...]

Conselho amigo

O Bloguitica anda desanimado e admite encerrar o blogue ou mudar-se para um colectivo. Duas péssimas ideias... De qualquer modo, se optar pela segunda, sugiro-lhe a Grande Loja do Queijo Limiano. Até já lhe disseram que tem «falta de lucidez», característica essencial para integrar o tal estabelecimento queijeiro.

Cus-cos

Mais um contributo para a agenda da blogosfera:
Dizem os Marretas: «Estes cuscos preferiram falar dos Marretas nas nossas costas.»
Há uns tempos, estava na moda falar assim: «Estes rotos preferiram...»

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2004

Proposta muito séria

O meu amigo RR - viciado nas coisas da economia - sugere-me que faça um negócio com o MacGuffin. Vamos fazer uma empresa - proponho que fabriquemos frigoríficos, daqueles pequenos tipo escritório, e que exportemos para o promissor mercado da Islândia. Metemos capital em partes iguais. Como o modelo até é de qualidade, exportamos muito nos primeiros meses. Um sucesso, o negócio vai de vento em pôpa. Compramos carro novo, uma casa de férias, coisas assim. Ao fim de alguns meses, as encomendas - vá lá saber-se porquê - começam a voltar para trás. A empresa começa a ficar em dificuldades. Mas nós não vacilamos - recorremos às receitas extraordinárias. No primeiro mês, vendemos o carro. No segundo, uns apartamentos que compráramos para pôr a render no mercado de aluguer. No terceiro mês, decidimos fazer uma receita extraordinária vendendo a máquina xpto de pintar frigoríficos. No quarto mês, vendemos um armazém onde guardávamos os frigoríficos... Andamos muito satisfeitos - as contas estão equilibradíssimas. Só é pena que há muitos meses não vendamos um único frigorífico para a Islândia ou outro país qualquer.

Andam aí os espanhóis

Diz um empregado da Portugália da Expo para o outro: «Isto está cheio de espanhóis...»
É natural, pensei. Deve ser mais uma brigada que vem tomar conta dos nossos centros de decisão. O mais certo é isto passar a chamar-se Iberália...
Mas não, eles vêm apenas fazer a ponte: na Páscoa, no Carnaval, quando calha. Apenas para nos mostrar que não, não são as nossas pontes que dão cabo da nossa querida economia.

Marretas

Esse local de referência que é o Blogue dos Marretas está a comemorar o primeiro aninho de vida. Não percam tempo, vão até lá dar uma marretada, que hoje é de borla...

O défice, essa ilusão

Quando Durão Barroso chegou ao Governo impôs a norma de cada ministério ter apenas um assessor de imprensa. A ideia era pôr cobro ao regabofe socialista, que tinha criado uma invejável rede de emprego a este nível. A verdade é que, hoje, a maioria dos ministérios tem gordas assessorias de imprensa, que os secretários de Estado têm assessores de imprensa e que a generalidade dos gabinetes ministeriais têm assessorias políticas, pagas a peso de ouro, que fazem inveja a qualquer empresa privada (o ministro da Defesa até faz gala de que se saiba...).
Isto, na verdade, não tem nada de mal - governar é, nos dias que correm, uma mistura de 10 por cento de trabalho com 90 por cento de relações públicas. O que está mal é a hipocrisia, a demagogia eleitoralista.
Vem isto a propósito do que escreve o Liberdade de Expressão. É claro que as mordomias pouco peso têm nas contas públicas - não são umas dúzias de assessores a ganharem mais que ministros que as desequilibram.
Não, nada disso. Trata-se apenas de um dos sintomas. No Estado, seja nesta superficialidade, seja nas questões mais sérias, pouco ou nada se fez nos últimos anos. O Estado continua gordo, ineficaz, gastador. E isto pouco tem a ver com os funcionários públicos. Isto tem mais a ver com deficiência de gestão. E isto também nada tem a ver com o Estado social - um país, economicamente atrofiado como Portugal, vai precisar, por muitos anos, de um Estado social forte.
A redução do défice advém, quase exclusivamente, dos cortes nos investimentos e das receitas extraordinárias. Os primeiros vão ter que abrandar - não para fomentar a retoma económica, mas porque vem aí um ciclo eleitoral muito prolongado - e muitas das segundas são irrepetíveis (venda de património, cessão de créditos fiscais...). Nessa medida, o défice apresentado é em boa medida artifical, não consolidado.

O outro nome da vigarice, perdão, maquilhagem

O MacGuffin tem toda a razão. Nesta coisa do défice, a contabilidade anda de mãos dadas com a política. Sim, que isto das operações contabilísticas a que chamam «despesas extraordinárias» é, claramente, uma opção política de fundo.

Carnaval

Há nesta coisa do Carnaval português standardizado pela influência brasileira uma marca de falsidade que supera todas as medidas.
Meninas sambando suas celulites à impiedosa e gélida chuva, a alegria que nem a álcool consegue alimentar, o tal Jardim que já esgotou toda a capacidade de nos surpreender... O mau gosto pindérico que cobre tudo. Insuportável.

domingo, 22 de fevereiro de 2004

Anedotas de domingo à noite

Sobre a falta de currículo para o cargo de Presidente da República patenteada por Santana Lopes e denunciada por Miguel Sousa Tavares, escreve Neptuno, no Mar Salgado: «será inferior ao de Sampaio quando se candidatou pela primeira vez?».

Olhó Frescos

Os Frescos estão de novo activos para aqueles que querem saber as actualizações na blogosfera. Como disse há dias, construir uma lista pessoal é muito fácil. E agora ainda mais com as dicas do Frescos.

sábado, 21 de fevereiro de 2004

Para uma Bolsa da blogosfera «right wing»

Dizer bem de Helena Matos foi chão que deu uvas.
Agora, o que está a dar é dizer mal de Miguel Sousa Tavares.

E ele a dar-lhe

Há pessoas que têm cada fixação...
Por exemplo, JPP aproveita um daqueles textos nostálgicos com que salpica os nossos dias, desta vez sobre um tal Musil, para se atirar outra vez a Santana Lopes, «fantasma do Parque Mayer, homem sem qualidades». Já é mania!

Défice, ou melhor: dé - fi + **

Deixem-me ver se percebi:
1. Despesas Extraordinárias: ora bem, então temos aqui três caixas de clipes para o gabinete daqueles meninos da dra. Cardona, mais um carro novo topo de gama para o senhor primeiro, mais a conta da decoradora para o forte do senhor ministro de Estado, mais o combustível do Falcon para qualquer eventualidade...
2. Ora bem «cor**» deve ser «corno». Portanto, quando eu falo em «défice» e ele fala em «receitas», quer dizer que eu falo de «alhos» e ele de «bugalhos».
3. Já agora, só um esclarecimento: estamos a falar de política ou de contabilidade?

Notícias - uma má e uma boa

Tenho duas notícias para vos dar. Uma é má, a outra boa.
Vou começar pela má: foi descoberto um caso de gripe das aves no governo português.
Agora vem a notícia boa: vão ter de abater todo o galinheiro.
[Pois, Carnaval...]

Espesso

Vocês acham que o Balsemão me devolve os 3 euros?
Sinto-me enganado - nem um título, nem uma linha, sobre as presidenciais na primeira página do melhor jornal portugês? Então e, agora, do que é que a malta fala?
Bom, lá dentro, dizem que o Santana e o Durão tiveram uma cena de gritaria por causa das presidenciais. E que, depois, firmaram um pacto de silêncio. Que, obviamente, é extensivo ao Expresso, o jornal do regime.

O défice, ou seja, a falta (de razão)

Eu pensava que o Liberdade de Expressão ia dizer que o Governo mostrou um défice falso. Conseguido à custa de manobras de maquilhagem, de venda de património, de truqes financeiros. Que o Estado não se reformou, que a Administração Pública não melhorou a gestão, que o Estado deve a toda a gente e não paga. Que nada disto é sustentável, que esta melhoria do défice não é estrutural.
Não, nada disso. O Liberdade de Expressão acha que a mentira é que está bem. Quem está mal são os outros. E ainda dizem que a direita blogosférica está em crise!

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2004

Vale tudo

A figura de Vale e Azevedo - tudo o que ele representa - não me é simpática. Mas isso só me deixa mais livre para me indignar com a palhaçada de justiça que rodeia aquele homem. E o que aconteceu esta semana é apenas mais um episódio.
Que tudo isto aconteça sem que, no poder político (a PJ é dependente do Governo) e judicial, se retirem consequências - falemos claro, sem que haja demissões - apenas torna tudo mais insustentável.

Contributos para o nosso optimismo

Na página 13 da edição de hoje do El País, a ilustração de Máximo é a seguinte: um esboço da Península Ibérica, com a Espanha sombreada de cinzento e a seguinte inscrição sobre Portugal e França - país normal.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2004

Fui descoberto

When Journalists Blog, Editors Get Nervous.

Porcarias

Agora que a Disney comprou os Marretas, acham que a maluca da Miss Piggy vai atirar-se ao fofinho do Piglet?

O passarólogo

No Glória Fácil procura-se um passarólogo. O único que conheço passeia-se de vaporetto pelos canais de Veneza, lendo poesia e ouvindo (!?) música country (!?). Também é especialista em ácidos. E em candidatos presidenciais. Já repararam?

Se o sexo faz bem à saúde...

Quando vi hoje a manchete da Visão - Sexo faz bem à saúde - lembrei-me daquela velha frase anarca: se o trabalho dá alegria que trabalhem os doentes. É claro, isto era no tempo em que os anarcas não eram pessoas doentes...

Santana e o PSD

Pacheco Pereira tem razão. Se Cavaco Silva anunciar a sua candidatura à Presidência da República, «cinco minutos depois terá o apoio do PSD, dez minutos depois, do PP».
O problema é o que fará nessa altura Santana Lopes. Eu, se fosse militante, pelo sim pelo não, preferia mandá-lo para Belém.

Cenas (i)Morais

O programa da SIC Notícias com o Morais Sarmento passa outra vez, hoje, às 13 horas.
Recomendo especialmente as cenas à beira da praia, em que ele fala da dívida da RTP e teoriza sobre televisão (vocês sabiam que as televisões, hoje, não transmitem a realidade, produzem realidade? - pois, não sabiam, mas o nosso ministro explica) e as cenas no gabinete, em que ele diz que só aceitou ir para ministro porque o que está a ser feito agora tem mais ou menos o mesmo impacto que o 25 de Abril. E, juro, isto são apenas aperitivos...

Para acabar de vez com os partidos (II)

Lendo os jornais de hoje, noto que fui profundamente injusto com o tal Clube apresentado por Helena Roseta. Desde logo porque os promotores tiveram um especial cuidado em apresentar gente nova, pouco conotada com partidos:
«A iniciativa partiu de nove deputados socialistas, Helena Roseta, Ana Benavente, Manuel Alegre, Alberto Martins, João Cravinho, Vera Jardim, Medeiros Ferreira, Jorge Lacão e Jorge Strecht, tendo a lista de fundadores alargado já a mais de 100 subscritores. Na cerimónia estavam presentes personalidades como Vasco Lourenço e Vítor Alves, Dias da Cunha ou Rosa Mota.»
Também gostei muito dos temas inovadores, mobilizadores, que querem discutir:
Estão já definidos quatro temas para debate, com uma iniciativa agendada para Abril sobre "Consensos e conflitos na sociedade portuguesa". De seguida, será discutida a "Evasão Fiscal", "O imobiliário, o betão, o ordenamento do território e o poder" e por fim "Direitos sociais e desenvolvimento".
Manuel Alegre, estando presente, não se podia calar. Ei-lo (agora convém ler em voz alta, com voz de poeta):
«Há mais vida para além dos projectos pessoais. Há mais cidadania para além da fulanização partidária».
Infelizmente, nem as televisões nem os jornais têm ainda a capacidade para transmitir aquela exaltante mistura de odores a naftalina e a môfo que tal colecção de cromos exalava à distância.

Para acabar de vez com os partidos

Na televisão, Helena Roseta apresentava uma coisa chamada Clube de Política Liberdade e Cidadania, cujo objectivo é atrair para a política gente que não gosta de ir a reuniões de partidos.
Essas pessoas têm agora uma alternativa - podem ir às reuniões do Clube reunir-se com... as pessoas dos partidos.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2004

Prendam-nos, prendam-nos...

O ministro Morais Sarmento acaba de dizer na SIC que a RTP dava um prejuízo de 30 milhões de contos (por ano?) e que, «se fosse noutros países, os responsáveis estariam presos». Há dois anos que o ministro anda a dizer isto. Serviços públicos de televisão a dar prejuízo são aos pontapés por esse mundo fora. E nunca ninguém pediu ao ministro um exemplo de um país em que haja responsáveis desses presos. E também nunca ninguém lhe perguntou se vai mandar prender as dezenas de gestores de empresas públicas e para-públicas que, já sob a direcção da coligação PSD/CDS, continuam a dar sumiço a muitos milhões de contos.

E por falar nisso

O Technorati é completamente de direita... há quase dois dias que não funciona.

Toma lá blogue

A graça disto é precisamente a sua geometria variável. A geometria externa - os que saem, os que entram, os que são mais lidos, os que preguiçam e caem nos tops... E também a geometria interior - o dia em que escrevo, em que tu não escreves, em que escrevemos sobre política, em que falo de um disco, em que dizes um disparate só para desanuviar...
Os textos que, por exemplo, o Barnabé e o Abrupto escreveram nos últimos dias sobre o estado da blogosfera nacional têm pistas interessantes. E nem sequer penso que sejam incompatíveis. O que JPP diz sobre os «círculos de amigos» ou sobre os que «têm alguma coisa a dizer» encaixa na análise política mais dura que surge no Barnabé.
Pessoalmente, encaro o blogue sem qualquer militância, no sentido mais lato da palavra. Escrevo quando quero, sobre o que quero, trocando ideias com quem quero. Não me sinto na obrigação de seguir qualquer agenda, nem qualquer alinhamento. Por isso, resisto a contar espingardas, como muitas vezes ataco as questões ideológicas (a fractura esquerda/direita que os blogues ressuscitaram) com uma razoável dose de ironia.
Como se diz naquelas entrevistas foleiras - «Quer mandar uma mensagem para todos os que estão a ouvir?» - interessam os que cá estão (bolas, esta, além de me ter saído foleira, é toda lapaliciana...).

It was 40 years today...

Cada vez gosto mais deste JFK.

O candidato passivo

«I am no longer actively pursuing the presidency», anunciou hoje Howard Dean.

Aveiro não

As absolvições do caso de aborto de Aveiro - independentemente dos aspectos pessoais envolvidos - são uma péssima notícia, na medida em que reflectem e consolidam a hipocrisia reinante sobre a matéria.
No fundo, a mensagem que fica é que se pode continuar a praticar o aborto, desde que seja às escondidas. Sobre as mulheres que o praticam continua a recair a condenação moral, o incómodo social, isto para não falar das questões materiais (despesas com advogados, por exemplo).
Enquanto as coisas se mantiverem como estão, todas as sentenças, de absolvição ou condenação, constituirão vitórias para o campo do «não».

Nota técnica

Há males que vêm por bem. Devido às palermices que andaram a fazer com as listas de blogues actualizados, fiquei sem uma das ferramentas que mais usava. Vai daí, arregacei as mangas e atirei-me ao http://blo.gs. E descobri que, afinal, é muito fácil elaborar uma lista de favoritos para uso pessoal. Fica, porém, um problema por resolver - quem fez a lista que estava a circular tinha o cuidado de a actualizar, pelo que nós sabíamos sempre que surgiam blogues novos cá no burgo. Agora, vai ter de ser às apalpadelas. De qualquer forma, penso que algum dos alojadores de blogues nacionais poderia tentar fazer uma lista destas para uso generalizado - só não sei se isso é tecnicamente possível.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2004

Ai de ti, Cuba

Haiti. Vejo as imagens da rebelião. E as imagens da extraordinária pobreza. E penso noutra ilha, ali ao lado. Cuba. Tão pobre também. E não vale a pena virem-me com histórias de liberdade e democracia. Que o Haiti não é melhor que Cuba.
Não quero com isto alinhar em qualquer defesa do regime de Havana. Apenas salientar a nossa hipocrisia - que vê o mal de Cuba e não o mal que está ao lado. Que grita contra o mal de Cuba e ignora os males que crescem no Haiti. Por exemplo.

Lição de meteorologia aplicada à informática

'Tá um frio do caraças. E o frio, como se sabe, faz encolher a banda larga.

Factos da vida

A SIC pegou no seu comentador do Jornal da Noite e levou-ou ao Jornal da Noite para ser entrevistado na qualidade de candidato a candidato a Presidente da República. Audiência de milhões.
A SIC pegou no seu comentador do Jornal da Noite e levou-o à SIC Notícias para ser entrevistado sobre a sua candidatura a candidato à Câmara de Lisboa. Quantos milhares de audiência?

Atchim... santinho

A constipação deste gajo é mais velha que a gripe das aves... Num acesso de febre, atira cá para o mangas as culpas pelo vírus Santana que anda para aí a atacar os blogues. Então é assim:
- tenho recibos da Brisa que atestam a minha presença em várias auto-estradas à hora dos acontecimentos
- o meu cartão Visa foi usado nesse dia em Valença, Vilarinho das Furnas e numa tasca de Moncarapacho
- tenho duas crianças pontas a testemunhar em minha defesa e, como se sabe, o algodão... perdão, as crianças não enganam.
[Actualização: já quanto a esta moça... encarrega-se de demonstrar que o famoso sexto sentido é uma treta.]

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2004

Volto já!

Isto hoje está um bocado agreste. Vou ali e já venho.

Defeito genético

«Encontros e Desencontros». Este foi o melhor título que os brasileiros encontraram para o filme «Lost in Translation», que em Portugal pode ser visto com o título «O Amor é um Lugar Estranho».

Que droga...

Consultando os gráficos constantes do site especializado das Nações Unidas, um observador mais apressado seria levado a concluir que a reposição dos níveis de produção de ópio teria sido o principal motivo para a invasão americana do Afeganistão:
«In 2001, following the ban imposed by the former Taliban regime, an abrupt decline of illicit opium poppy cultivation interrupted a two-decade increase. It also stimulated a subsequent 10-fold increase in opium prices. After the fall of that regime, cultivation resumed at a high level in 2002 and started to spread outside the traditional areas. Although a new ban was issued in January 2002, poor compliance with the law has so far hindered efforts by the new government to curb opium cultivation – an activity further stimulated by its high revenue.»
Contributo para o pingue-pongue entre o Barnabé e o Mar Salgado.

Saldos

Há cáscois a 2,5 euros. Depois, não digam que não avisei.

Então, feliz Natal

Vieram no fim-de-semana levantar as decorações de Natal. Demoraram, mas compreendo - tinham esperança de que houvesse replay. Taparam alguns buracos do passeio, outros nem por isso. Juntam-se aos do ano passado, e do outro e do outro. Até o Natal nos serve para o desmazelo.

domingo, 15 de fevereiro de 2004

Depois do MyDoom... o Santana

Quem, como eu, usa o http://blo.gs/2097/favorites.html para ler blogues actualizados teve uma surpresa hoje de manhã. Os links dos nossos blogues favoritos (clicava-se e funcionavam mesmo...) tinham sido ocupados por slogans anti-Santana, em particular, e anti-Situação, em geral. Será que a Microsoft já tem um patch para esta vulnerabilidade do sistema?

Santana tem uma pedra 10:42 - 15/02
Santana is Evil 10:41 - 15/02
fuck Santana 10:40 - 15/02
Nos amamos o Santana 10:34 - 15/02
Portas foi catado ontem a noite 10:34 - 15/02
mas que merda e esta? 10:31 - 15/02
Valentim Loureiro denuncia Filho 10:30 - 15/02
Cavaco esta a tomar o pequeno almoco com o Delgado 10:29 - 15/02
Tavares Moreira a Presidente 10:27 - 15/02
E o primo do Isaltino? 10:26 - 15/02
Que merda e esta com o Santana? 10:24 - 15/02
SEBENTA 10:24 - 15/02
Santana pro Jardim Zoologico 10:24 - 15/02
Santana é Homem 10:22 - 15/02
Santana tem escarepes 10:15 - 15/02
Mourinho & Santana A Mesma Luta 10:14 - 15/02
Aussies for Santana 10:12 - 15/02
Pedro Santana Lopes 4 Ever (in Hell) 10:07 - 15/02
Pedro Santana Lopes 4 Ever (in Hell) 10:06 - 15/02
Pedro Santana Lopes 4 Ever (in Hell) 10:05 - 15/02
pixeldust 09:37 - 15/02
Companhia de Moçambique 09:27 - 15/02.

Lição de solidariedade

É nestas pequenas coisas que se manifesta a superioridade moral da esquerda. Estou sinceramente chateado porque o MacGuffin veio de Évora ao El Corte Inglés (ao Club Gourmet, entenda-se...) logo num dia em que o sítio está fechado. Para seu consolo, meu caro, sempre lhe digo que quem inventou estes horários estapafúrdios para as chamadas grandes superfícies foi o engenheiro Guterres, esse malandro. And I mean it.

Lição de perplexidade

Escreve-se no Opiniondesmaker: «O Avatares e o Terras são dois blogues que constroem no seu fluxo uterino uma ponte entre uma esquerda vaidosa e uma direita reprimida. Esse religare tão peculiar faz também deles dois assumidos símbolos religiosos.»

Lição de música

Só a música é revolucionária. Nos Galarzas, hoje é noite de Arly Cravo!!!

Imagens perturbantes

Vejo na televisão o autocarro do FC Porto, num sábado à tarde sem trânsito, no centro de Lisboa escoltado por motas da polícia.

sábado, 14 de fevereiro de 2004

Tenham medo, tenham muito medo

Paulo Portas inicia na segunda-feira, em Lisboa, uma volta pelo país para «responder aos ataques que têm sido desferidos contra o CDS». Noticiou hoje o Expresso e ainda não foi desmentido.

Madredeus

Madredeus num dia assim.
Às vezes interrogo-me se a alma de um país não se ressente destas coisas.
Há quanto anos os Madredeus não têm disco novo?

Santana (primeiras impressões)

Santana Lopes anuncia (no jornal de que toda a gente diz mal e que não se pode linkar porque é a pagar) que vai ser candidato à presidência da República. Porquê?
Porque ele, ao contrário de Cavaco, é o único à direita capaz de manter a coligação unida. A coligação - vale a pena recordar - foi feita para garantir o poder. Durante a campanha eleitoral, PSD e CDS mostraram que tinham ideias bem diversas para o país. Os últimos meses de Governo voltaram a mostrar isso mesmo. As eleições europeias vão mostrá-lo ainda mais (se houver uma derrota, nem que ligeira, está o caldo entornado no PSD...). Se esta tese de Santana vingar, ela será a confirmação de que o PSD está de facto refém do CDS (embora circunstancialmente possa parecer o contrário). Que o PSD optou por abandonar o centro, de alguma forma a social-democracia, e que virou à direita, para um perfil de partido conservador.
Porque ele tem um programa para o país. Aí está outra ruptura - o PR, por tradição e pela Constituição, tem um programa soft, o verdadeiro programa é do Governo. E se Santana for eleito e, a seguir, houver um governo de esquerda, o que acontecerá ao tal programa? Esta ideia de programa levanta uma questão suplementar - o actual governo não tem, afinal, o tal programa reformista de que o país necessita? O que está a ser feito são, afinal, uns fogachos a que só um PR alinhado poderá dar substância?
O que Santana propõe é um presidencialismo à revelia da Constituição.
Por isso, renovo a interrogação que aqui fiz há meses - qual o papel de Durão neste filme?

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2004

Aborto, a grande oportunidade

O número de abortos praticados em Espanha não pára de crescer, diz o El Mundo.
Como diria o nosso primeiro, mais que uma ameaça, Espanha representa uma oportunidade.

Força, força companheiro Paulo

Afinal, Paulo Portas tinha razão - Mário Soares é um malandro. Quem o confirma é Vasco Gonçalves. Que também dá a receita para sairmos desta crise - uma «luta pluriclassista». Excelente ideia, não é camarada Paulo?

Importa-se de repetir

A ministra Cardona afirma:
a) «Não tenho por hábito comentar especulações e não participo no jogo especulativo».
No entanto, a ministra Cardona comenta uma notícia da TSF segundo a qual teria posto o lugar à disposição. Ou seja, a ministra Cardona só comenta notícia especulativas para dizer que elas são especulativas.
No entanto,
a ministra Cardona afirma:
b) que tem «apoio e solidariedade inequívocos» do primeiro-ministro.
Será que isso lhe foi comunicado quando colocou o lugar à disposição?

Ateste o cofre, sff

Um mês e meio após a liberalização dos preços dos combustíveis, as empresas petrolíferas preparam-se para o terceiro aumento de preço. Logo:
1. a liberalização só serve para aumentar os preços, nunca para descer
2. qualquer pretexto serve para aumentar os preços
3. as empresas funcionam claramente de forma concertada.

Viva Portugal

Compromisso Portugal... Missão Portugal.
Quem disse que os portugueses, a sociedade civil, não querem fazer coisas? Contribuir para o futuro glorioso do país?
Tanga? Recessão? Défice? Desemprego? Cardona? Moderna? Iraque? Santana? Theias? Aborto? Reformas? Quais reformas? Desemprego? Ainda não acabou? Mais tanga?
Estamos fartos de ouvir dizer mal.
De Fevereiro a Maio de 2004 vamos criar uma onda.
Avante camarada, avante camarada, junta a tua à nossa voz... tralará, tralará, e o sol brilhará pra todos nós...
O quê? Enganei-me na canção? Mas a letra é bonita, não é?

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2004

Coisas sobre as quais não tenho opinião...

... por enquanto. O desfile carnavalesco (antecipado) que vai pelo PS.

Lição de Geografia

A Sofia, da Natureza do mal, escreve que «o par interessante do Terras do Nunca é o Mar Salgado».

Sem aborto

Deve elogiar-se o esforço de Freitas do Amaral. Conseguiu, dentro da lei, compatibilizar a despenalização do aborto com a manutenção do crime. Agradar a gregos e a troianos.
Mas a ideia não serve. No fundo, ela propõe-nos um «aborto bom» e um «aborto mau». Nem vale a pena entrar na discussão dos critérios para a delimitação de fronteiras. Passada a lei, tal ideia seria geradora de qualquer coisa muito parecida com o sistema de castas. Inaceitável.

Sexo e amor?

O estrangeirado de Londres anda à procura de sexo e amor na Internet (ao que uma pessoa chega...). Se os links que deixei por aqui há uns meses ainda estiverem activos, acho que o posso ajudar.
Não vejam neste texto qualquer altruísmo. Trata-se de um mero pretexto para falar de sexo e assim aumentar as audiências.

Prioridades

Concordo com a argumentação de José Pacheco Pereira no artigo de hoje no Público - os EUA tinham que fazer alguma coisa após o 11 de Setembro. Fizeram-no, no Afeganistão, derrubando o regime que apoiava directamente os terroristas. Mas logo se perceberam os limites do poderio americano - Ben Laden continua a monte, evaporou-se entre o Afeganistão controlado militarmente pelos EUA e o Paquistão, um dos países muçulmanos mais cooperantes na guerra ao terrorismo.
Falharam aí os serviços secretos, mas falhou também a diplomacia e a vontade política destes EUA quanto ao problema palestiniano. Se alguém pode resolver o conflito do Médio Oriente esse alguém são os EUA. E, obviamente, só o pode fazer obrigando Israel a uma atitude mais dialogante. Porque Israel representa aqui, tem de representar, o campo do bem, o campo do anti-mal, representado pelos fanatismos religiosos do outro lado. Não nos iludamos, não haverá paz, estabilidade, seja o que for naquela região, enquanto Israel não reconhecer o direitos dos palestinianos a terem um país.
O Iraque não era, pois, a prioridade seguinte - muito menos se tivermos em conta que o país até estava pejado de inspectores da ONU. E não, a questão da (não existência) das ADM, não é coisa de somenos. Porque sem elas não é possível descrever o Iraque como uma potencial ameaça, como fazem os defensores da guerra.

Com a mentira me enganas

Paulo Tunhas, um dos autores do famoso livro Impasses que muitos têm chamado à liça para mostrar a superioridade dos argumentos americanos na guerra do Iraque, escreve hoje no DN um artigo que vale a pena ler na íntegra. Porque, no fundo, ele é revelador da hipocrisia e má-fé com que o campo do sim à guerra tem lidado com o assunto.
Reproduzo uma das partes mais significativas do artigo e mostro onde está a má-fé:
«Indo apenas ao essencial: o ónus da prova da não-existência das ADM cabia, de acordo com a Resolução 1441, a Saddam; Saddam não provou a não-existência das ADM; a posição da França e da Rússia (anúncio de um veto no Conselho de Segurança) acarretou uma suspensão de facto do Direito Internacional; assim, a decisão de entrar ou não em guerra passou a caber unicamente à coligação; isto é, ela não foi 'ilegítima'. Trata-se aqui de matéria de facto.»
A verdade é que nesta argumentação há um ponto em que não existe «matéria de facto» e que prejudica todo o raciocínio. Porque, em Dezembro de 2002, o regime de Bagdad entregou às Nações Unidas o famoso dossier (quilos e quilos de papel) onde respondia, ponto por ponto, às dúvidas da ONU. Perante esse dossier, houve duas atitudes: a dos EUA, que consistiu em pura e simplesmente desvalorizar, e da França, Alemanha e Rússia, que apontava para a continuação das inspecções. Hans Blix, utilizando um raciocínio muito em voga actualmente em Washington, nunca deu como provada a não existência de ADM, mas também nunca deu como provada a sua existência. A posição do campo do não à guerra era de que deveriam ser prosseguidas as inspecções - num horizonte temporal limitado - até se terem mais certezas.
Argumentar-se-á: mas como acreditar nas tais provas de Saddam, se o homem era um ditador e nós não podemos acreditar nessa gente. Pois... mas foi a ONU, com o agreement dos EUA, que assim determinou na famosa resolução 1441.
Daí que tenho muitas dúvidas de que a «suspensão do direito internacional» tenha tido orrigem no campo do não à guerra.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2004

Um elogio, caraças!

Miguel Poiares Maduro escreve hoje no DN um dos retratos mais perfeitos da blogosfera nacional. É um retrato elogioso, claro, que nós merecemos (não, não estou a ser irónico):
«Este é um dos fenómenos mais interessantes dos últimos anos em Portugal: a emergência de uma nova comunidade crítica e de uma opinião livre de uma marca política partidária. Sejamos honestos, muita da melhor opinião que se escreve em Portugal hoje em dia encontra-se nos blogs. Importados dos Estados Unidos, começaram por trazer uma nova opinião de direita ao espaço público português, mas hoje parecem ser os blogs de esquerda que estão mais activos (a isso não será estranho o facto de, felizmente, muitos dos bloguistas de direita terem passado a colaborar, igualmente, na imprensa escrita, o mesmo não tendo sucedido, da mesma forma, à esquerda). Se quisesse ser provocador, diria que a direita chegou primeiro mas se aburguesou e que a esquerda chegou mais tarde mas é mais resistente. O que mais admiro no espaço público dos blogs, no entanto, é que a defesa de um discurso ideológico marcado e transparente coincide com a manifestação de uma notável liberdade face aos campos tradicionalmente definidos pelo discurso partidário e da opinião escrita dominante em Portugal. Simultaneamente, o assumir claro de um debate ideológico não impede a emergência de um notável respeito recíproco entre bloguistas com posições bem diferentes (que, inclusive, desenvolvem amizades e se citam mutuamente). Se há um verdadeiro espaço público em Portugal (no sentido Habermasiano de procura de um espaço de discurso universal, livre e transparente) ele encontra-se, paradoxalmente, no espaço virtual da nossa Internet.»
Só uma pergunta: Miguel, qual é o seu blogue?

Aquele VLX é um brincalhão

O VLX, do Mar Salgado, após ter escrito uns dislates sobre Salazar, a que acrescentou dose equivalente sobre o colonialismo, vem agora dizer que, afinal, foi tudo um «estudo» para ver como a malta reagia, assim uma espécie de manipulação de emoções:
«Foi fácil fazer um texto sobre o assunto e deixá-lo resvalar para o anterior regime, suscitando assim mais reacções e, como eu esperava, emoções.»
Tudo isto para proclamar uma espécie de superioridade moral. Sim, porque nós estamos cheios de emoções e falhos em objectividade (presumindo-se que a objectividade ficou toda com o tal VLX):
«É que a discussão assim apaixonada e inflamada altera os argumentos, enche-os de emoção, retira-lhes seriedade, força e objectividade e um mínimo de isenção e imparcialidade.»
Este fulano ainda não percebeu que se pode ter razão emocionado, esgrimir razões aos gritos, trocar argumentos com exaltação. A teatralidade que colocamos no que fazemos pode enganar um ou dois, dois ou três segundos, não engana todos o todo tempo.
Com esta tentativa de desdizer o que de facto disse, VLX rivaliza no pódio dos flopes com a tal Anabela M. Ribeiro. Sim, essa em que estão a pensar.

E agora, carapau?

Há dias, o Jaquinzinhos declarou ao mundo que gosta muito de Diogo Mainardi, mesmo sem o ter lido (já parece a outra, que lia grego às escuras...), só porque eu tinha criticado o gajo uma ou duas vezes. E que ia ver um filme qualquer porque havia não sei quem que não gostava do dito.
Vejo hoje que, como eu, o Jaquinzinhos não se consegue decidir sobre o véu islâmico nas escolas francesas. Como o carapau não afixa horas, não sei quem terá escrito primeiro. O que é tramado, porque um de nós vai ter que mudar de posição.

Não me lembro de nada... a sério

«I don't remember the statement being made, to be perfectly honest.»
Isto foi o que Donald Rumsfeld, secretário da Defesa dos EUA, respondeu quando o questionaram sobre os célebres 45 minutos que Blair dizia serem necessários a Saddam para disparar armas de destruição maciça.
O esquecimento, a amnésia, o horror... Na vasta panóplia de argumentos do dossier Iraque, este «esqueci-me..» ainda não tinha feito a sua estreia.
Saddam Hussein? The name rings a bell, só não sei qual... Quem é, afinal?

Importo-me, não me importo

Assuntos sobre os quais não tenho opinião?
Por exemplo... a proibição dos símbolos religiosos nas escolas francesas.
Quando descubro um argumento a favor, logo me surge um contra. E assim sucessivamente.
Importo-me com o assunto. Não me importo de não ter opinião.

O Estado (não) vai à bola

Alexandre Mota Pinto, no Mar Salgado (a nau estava mesmo a necessitar de um reequilíbrio...), levanta uma série de questões muito interessantes sobre as relações entre desporto e política, na sequência de um texto (Pereira Alegre) que aqui escrevi sobre o mesmo assunto.
Comecemos pelo acessório. Chamei Salazar e Estaline à baila por motivos subliminares, quase freudianos. JPC tinha manifestado saudades do velho das botas umas semanas antes, Alegre chamou «estalinista» a Guterres (imagine-se...) antes de um célebre congresso do PS em que se defrontaram. A referência era, pois, quase do domínio da private joke e, admito, poder ter desviado a atenção do essencial.
Há um outro ponto em que concordo totalmente com o AMP - todos os poderes usam o desporto como motivo de diversão, no sentido lato da palavra. Nisso, as democracias aprenderam muito com as ditaduras.
Quanto ao essencial - a intervenção do Estado no desporto - se eu explicar direitinho o que penso sobre a matéria talvez até estejamos de acordo.
Os textos de JPC e Alegre seguem-se a umas declarações patetas de Mourinho e a umas altercações em Guimarães. JPC, mais que Alegre, consideram que o Estado deve pôr os dirigentes na ordem. Eu até vou mais longe, e acho que as instituições do Estado devem por toda a gente na ordem. E aqui incluo desportistas, treinadores e espectadores.
O que me parece é que, sendo o desporto profissional uma actividade privada, o Estado deve legislar e fazer aplicar a lei. O que os textos de JPC e Alegre indiciam é bem mais vasto e, em meu entender, entra pelos terrenos do intervencionismo puro, incluindo mesmo aspectos morais.
Ora o desporto (entenda-se, o futebol) até já tem regras muito claras. O funcionamento das SAD, as questões fiscais, a compra e venda de jogadores, uma infinidade de coisas que desconheço, porque nem sequer vou à bola. Quanto ao que se passa nos estádios, até me dizem que as ideias recentemente avançadas pelo Governo (afastar os hooligans) até já estão previstas na lei portuguesa.
O que não compete ao Estado fazer é moralizar o futebol - se o senhor Mourinho quiser dizer disparates, o Estado deve proibir? Se os senhores Pinto da Costa e Dias da Cunha passam a vida a incendiar paixões, o Estado deve impôr a censura? Se o senhor Luís Filipe Vieira até com a língua portuguesa tem dificuldades, o Estado deve mandá-lo à escola? Se o senhor Loureiro manda na Liga e o filho do senhor Loureiro manda no clube e passam a vida a fazer ameaças veladas, não será isso um simples caso de polícia?
Sinceramente, parece-me que, à parte o que compete ao Estado regulamentar (e isso já está feito, independentemente de eventuais aperfeiçoamentos), o futebol deve obedecer às regras da auto-regulação. Se os espectadores não gostam daqueles dirigentes, elejam outros. Se os os dirigentes acham que aquilo é um mundo corrupto, mudem de vida. Se há quem se dê mal com os estádios, deixe de lá ir.
Entendo que o Estado deve zelar por uma série de coisas fundamentais, básicas, da vida. Quanto a isso, sou ferozmente estatista. O que me encanita é que chamem o Estado a regular o acessório. Qualquer dia, até querem a intervenção do Estado no Festival da Eurovisão (vai daí, era capaz de ser mais útil para a imagem do país do que as tricas da bola...).

Prémio cacha

O juiz Rui Teixeira declinou o convite do Conselho Superior de Magistratura para vir explicar publicamente as decisões que tem tomado no processo Casa Pia.
Mas para quê? Desde a primeira hora que todas as decisões do juiz Rui Teixeira têm sido devidamente publicitadas através da comunicação social.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2004

Esquerda, direita (here we go again...)

O Lutz, Quase em Português, descobriu que é de esquerda quando começou a frequentar blogues. Pela parte que me toca, quando aqui cheguei até já tinha esquecido essa coisa da direita-esquerda. Quase afiançaria que escrevi algures que esse confronto já nem faz sentido. E quem se der ao trabalho de ir ler uns textos antigos, ao acaso, até constatará que frequentemente tentei fugir do jogo ideológico.
Vem tudo isto a propósito de uma triangulação em que me meti. Eu é que fiz a triangulação, porque estava o Lutz em troca de textos com a rapaziada do Quinto dos Impérios quando em me meti na conversa. Já que me meti...
O FMS, do Quinto dos Impérios, põe-se a zurzir na esquerda actual e não arranja nada de melhor que elogiar a esquerda antiga. A avaliar pelo título, é a esquerda aí da segunda metade da década de 60, «progressista nos propósitos, sonhadora na atitude, pueril e ingénua nos comportamentos. Literariamente estimulante, filosoficamente provocadora».
Ora metade dessa esquerda via na União Soviética o Sol na Terra, outros (Maio de 68) adoravam Mao, outros era a Albânia... E depois havia dois ou três maduros que eram contra essas coisas todas e eram considerados traidores.
É essa esquerda aliada de tiranos que o tal FMS elogia. Em contraponto à actual. Por exemplo à esquerda inglesa, liderada por Tony Blair, que se alia a esse autêntico senhor da guerra, neo-conservador, George Bush, o W.
Perante tanta incongruência da dita direita, o que pode Lutz fazer? Nestas circunstâncias, ser de esquerda pode ser um acto de higiene mental.

Indignação selectiva

O que eu gostava mesmo era que o FNV, do Mar Salgado, me apresentasse o VLX «da outra colina» para eu poder exercer um pouquinho na minha «indignação selectiva»

O futuro talvez esteja aí

No dia em que um conjunto de empresários e outras almas cheias de boa vontade se juntaram para discutir o futuro da nação, o nosso governo mostra que não dorme:
«Amílcar Theias quer envolver industriais no problema dos esgotos». Bem haja. E, também, bem aja.

Oops, they did it again!

Não há maminhas p'ra ninguém...
Por causa daquele atrevimento da mama, perdão, da mana Jackson, a MTV americana atirou para o horário nocturno meia dúzia de videos mais ousaditos. A Britney Spears, que desde que beijou a Madonna na boca, anda mesmo a pedi-las, encabeça a lista com o seu Toxic. O site da MTV já dá link not available, mas na VH1 (sem banda larga nada feito...), do mesmo grupo, dá para ver. E para perceber que o consumo de drogas - sim, que aquela malta dos media americanos não é de confiança - a longo prazo tem efeitos muito complicados.

http://movies.go.com/images/news/Johannson_index.jpg

Há em Pedro Mexia uma desonestidade que me desagrada particularmente.
Há uns meses, ausentou-se e deixou-nos na companhia de uma mui bela e formosa amiga. Durante semanas, tentei perceber de onde conhecia aquele meio corpo.
Agora, repete a dose, mas intensifica a maldade - diz que volta daqui a duas semanas (na linguagem dele, quer dizer «um mês») mas obriga-me a ir diariamente ao Dicionário e ficar por ali nem que sejam 5 segundos. Perdido na metonímia.

Coincidências sebastiânicas

1. 300 empresários e similares propõem-se debater, entre outros pontos, «um modelo económico que permita ao país alcançar níveis superiores de riqueza e sair da cauda da Europa nos próximos dez anos.»
2. Portugal deverá manter verbas da UE até 2013.
3. Fichas de inscrição no site Compromisso Portugal.

A mama direita

Desta vez, concordo com o FNV, do Mar Salgado. É simplesmente escandaloso que a malta de esquerda não encontre mais nada para comentar do que a exposição da mama direita da Janet Jackson.
Isso mesmo pode ser comprovado nos seguintes locais:
Dicionário do Diabo
Mar Salgado
Bomba Inteligente
Homem a Dias.
(sujeito a actualização).

Cubanos e outros malandros

Há coisas que nunca hei-de perceber. Por exemplo, a cegueira que conduz aqueles que colocam tudo numa permanente dicotomia esquerda-direita.
O Quase em Português espantou-se com o facto de os EUA barrarem a entrada ao cubano Ibrahim Ferrer.
No Quinto dos Impérios responde com a atitude do regime de Havana de proibir a saída do país de Osvaldo Payá.
Entendamo-nos: Cuba é uma ditadura, não há liberdades, é uma prisão. Que mantenha uns presos e não deixe sair outros é normal (obviamente, esse normalidade não deve calar os nossos protestos).
Já os EUA são uma democracia. Apesar de todas as críticas que lhes possam ser feitas, ainda são um dos melhores exemplos de democracia que por aí andam.
Ao porem entraves à entrada de Ferrer, os EUA estão a colocar-se ao nível de Cuba. Sublinhar esse paralelismo redunda num frete a Fidel.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2004

Recado

Ao leitor que hoje aqui veio, através do Google, à procura de «as mais belas palavras começadas por A»:
volte amanhã, e depois, e depois...
Art.º 1.º dos Direitos das Palavras: «Todas as palavras têm direito a serem belas, independemente da primeira letra do seu nome, da acentuação e da rima a que estão destinadas.»

Chapada Cardona

Questiona-se esta maliciosa: «É impressão minha ou a Celeste Cardona é a cara chapada da amiga Olga?»
Sinceramente, não consigo associar o nome de Celeste Cardona a «amiga», ou mesmo a «Olga». Já quanto a «chapada»...

Pereira Alegre

Comecemos pelas citações:
[sim, são do Expresso, mas aquilo custa 3 euros e, portanto, tem que se ler todo e comentar todo - é a economia de mercado, acho eu)
João Pereira Coutinho: «Eu não sei se o dr. Durão tenciona fazer alguma coisa sobre a matéria. Fica o conselho: é preciso limitar os mandatos desta espécie [os dirigentes do futebol].»
Manuel Alegre: «É talvez tempo de o Estado de Direito impor as suas regras ao futebol português.»
Eis como estes dois marretas, que andaram à batatada por causa do Ary, entendem que deve ser a relação entre o futebol e o Estado. Se um pede intervenção, outro pede intervencionismo. Se um pede mais leis, outro pede mais Estado de Direito na bola.
E vejam bem que nenhum deles acusa os dirigentes do futebol de fuga ao fisco ou sequer de incitação à violência, coisas concretas em que o Estado poderia intervir. Não, eles querem que o Estado intervenha porque sim. Porque o Estado é o paizinho, sempre chamado quando há birra na capoeira. Eles querem que o Estado intervenha para repôr a moral no futebol. Sim, porque, no fundo, ambos acusam os dirigentes de todos os males do futebol. Quais os males? Não se sabe bem... é assim como que um desconforto. Um desconforto moral.
Salazar ou Estaline também achavam que o desporto fazia parte do aparelho do Estado. Para glorificação do corpo e do espírito. Salazar e Estaline não sabiam é que iriam ter tão bons discípulos.

O poder dos media (caso prático)

Uma semana após a histórica dupla manchete sobre Vitorino /Marcelo /Jardim /Amaral, comentada e achincalhada na pequenita aldeia global que vai de Lisboa a Cascais (com passagem pelo eixo Leça/Gaia), o Expresso dedica-se a ajustar contas.
Em Nota Editorial, chama burros a todos os que puseram em causa as duas notícias. Eram boas porque eram... surpreendentes. Bah...E depois o estafado argumento: os desmentidos ainda vão ser desmentidos. É claro que o Expresso dá exemplos, mas qualquer um de nós poderia dar outras de sinal contrário (basta, de resto, consultar as páginas de cartas da mesma edição).
Depois, na coluna do arquitecto, explica-se como o cargo de comissário assentaria que nem uma luva ao professor Marcelo. Dá-me ideia que o argumento poderia ser usado para qualquer cargo que se inventasse para o professor, mas enfim.
O mais fantástico vem, no entanto, nas páginas de noticiário político. Em pequenos e sarcásticos textos, achincalha-se os comentários com que as personalidades da dupla manchete receberam a bênção de tais notícias. Basicamente, diz-se: não aceitam as ofertas do Expresso? Pois ainda se vão arrepender...
Ou seja, o Expresso exerce o seu poder em circuito fechado. Dá notícias sobre políticos, que os políticos comentam, que o Expresso comenta, que depois hão-de dar outras notícias... Nada disto tem verdadeiramente importância, o povo está a Leste. Mas a verdade é que o Expresso acaba por assumir um papel central na via política portuguesa - uma espécie de rotunda, um distribuidor rodoviário de tráfego político.

O poder dos media (a teoria, salvo seja)

Desconfio sempre que vêm com o poder dos media, seja ele o quarto ou o contra.
Os media, ainda para mais numa sociedade como a portuguesa, chegam a uma fatia ínfima da população. E mesmo as televisões, muito mais poderosas, pelo próprio modo como trabalham a realidade, tornaram-se mais fábricas de ficções/emoções do que instrumentos de mediação no sentido clássico. O seu poder é, pois, outro.
Nestas coisas, sou tentado a dar razão ao tal Serge Halimi (autor de Os Novos Cães de Guarda, uma visão pós-maoista, mas que até direita não se importará de subscrever) - os media funcionam hoje em função de quem manda, de quem tem dinheiro.
A acepção clássica (daí o quarto ou o contra-poder) de que os media seriam uma forma de dar voz à opinião pública, aos sem voz, e dessa forma influenciar os poderes está cada vez mais fora de moda.
Os jornalistas, hoje, gostam é de conviver com o poder, não com o povo. O seu poder joga-se na traficância de influências nas diversas instâncias de poder. Os media são poderosos quando derrubam um ministro, não porque ele governe mal, mas porque algo ou alguém na cadeia do poder (dos vários poderes) decidiu que aquele ministro era para cair. E os media entram no jogo. Isto é assim, e daí não tiro ilações morais.

O jogo da mala

Natalia Verbeke tornou-se visita regular para quem vê tv cabo (porque haverá tantos anúncios a pensinhos nos canais da tv cabo?). Ignorante e desatento a tudo o que é cinema (quanto ao espanhol, nem se fala...) sempre imaginei que se tratava de uma personagem. Afinal, é actriz. Soube-o pelo Janela para o Rio. E seguindo os links sugeridos, descobri finalmente o que tem ela na mala. Querem espreitar [link retirado em 28 Fev 05]?

domingo, 8 de fevereiro de 2004

O companheiro Vasco

No Glória Fácil comentam-se de novo os dislates do senhor VLX, do Mar Salgado.
Tarefa inglória. «Sou suficientemente crescidinho para analisar a História de Portugal de forma desapaixonada e séria», diz o dito. Aquilo, meus amigos, é uma verdadeira muralha de aço.

Ler jornais é saber mais?

Guterres não tem nenhuma intenção de mudar o que está a fazer. Por isso, afasta corrida a Belém.
Durão admite que até pode perder as europeias, mas diz que não foge.
Jorge Coelho diz que está preparado para substituir Ferro Rodrigues na liderança do PS, mas não contra Ferro Rodrigues.
Após um sábado out, estou com superavit de informação.
Há momentos em que a informação não significa conhecimento.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2004

O respeitinho

Há uma semana insurgi-me porque andava por aí um tolo a dizer que tinha saudades de Salazar.
Venho agora pedir desculpa. Percebi, pelo que li nos últimos dias, que se trata de um sentimento generalizado. E que posso eu contra a turba?
Vejo que há quem peça e aplauda um acordo inócuo entre o PSD e PS à volta de temas esotéricos e sem qualquer interesse prático para a nação. Só em nome do consenso. E eu que pensava que, sendo o PSD e o PS tão parecidos, do que o povo gostaria era que cada um dissesse que propostas concretas tem para os tais problemas muito complicados da pátria. Para a malta poder escolher...
E vejo também que há muito gente ofendida pela dureza e/ou clareza do debate parlamentar e extra-parlamentar. Que não se pode falar assim, que assim a política resvala, que patati-patatá... E eu que pensava que chamar os bois pelos nomes era o melhor serviço que os políticos podiam fazer à nação. Sim, que de falinhas mansas e de tudo ao centro já estamos um bocadinho fartos.
Vejo, pois, que há por aí muito quem goste do consensozinho, seja ele expresso em papel timbrado (mesmo que escrito à mão...) ou em debates parlamentares educadíssimos e charlas televisivas bem compostinhas.
Ou seja, vejo que há muita gente que, no fundo, gostava era que voltasse o respeitinho, sim, o respeitinho é muito bonito. Salazar, pois então. De preferência na versão mais serôdia do marcelismo (de Caetano, não confundam...), que sempre deixa as consciências democráticas mais descansadas.

Água na gasolina

O LR, do Mata-mouros, fala do que não sabe.
Eu ando de L, o passe social inventado pela esquerda e que a direita sonha liquidar. Dá para dar a volta inteira a Lisboa de Metro e autocarro - uma coisa completamente despesista, que está a levar o Estado à ruína...
Embalado a falar do que não sabe, o LR põe-me a defender que o estado tabele os preços. Escusava de ter escrito tal disparate, se tivesse clicado na palavra «liberalização» que estava no meu texto anterior.
Quanto ao caviar... isso come-se?

Critérios

Eu até gostaria de subscrever, assinar por baixo, etc, o que o Jaquinzinhos tem escrito sobre os direitos de autor. Mas os mui restritos e restritivos critérios ideológicos que coloca em tudo o que escreve, lê ou vê certamente que me impediriam de o fazer.

Coisas com piada

O Liberdade de Expressão recomenda três artigos com muita graça do Inimigo Público. Tem razão, mas revela uma grande dose de modéstia. Por exemplo, o texto que escreve sob o título «Pensar é mais fácil que fazer» é tão engraçado como os do Inimigo Público. «Pensar» e «fazer», meu caro, não se excluem um ao outro. Pelo menos quando são usados cronologicamente e pela ordem correcta. E isto nada tem a ver com esquerda e direita.

Isto anda tudo ligado

O Barnabé denunciou, para espanto de muita gente, que Manuela Moura Guedes só apresenta o telejornal (!!!) da TVI devido a uma qualquer cumplicidade familiar.
Só espero que o Eduardo Cintra Torres, que denunciou nas páginas do Público uma cabala politico-familiar da SIC, tenha lido o Barnabé. Assim já pode começar um texto sobre a TVI da mesma forma: «Anda por aí um documento na Internet...»
O Cintra Torres? Não está a ver quem é? É aquele rapaz que escreve sobre televisão e foi assessor (ainda é?) da Media Capital e integrou um grupo de traballho (pago?) do Governo para reestruturar o canal 2 da RTP.

Onanismos ideológicos

A rapaziada do Quinto dos Impérios decidiu desmontar o último texto do Fernando Rosas no Público, contrapondo a cada um dos parágrafos do bloquista de raíz maoísta afirmações com sentido contrário.
Outra rapaziada, em sintonia ideológica com os tais do Quinto, desatou a elogiar o fantástico exercício. Gerou-se, assim, uma daquelas cadeias de solidariedade de que a blogosfera tanto gosta.
Depois, o Posts de Pescada decidiu fazer o mesmo com o texto do Quinto. Isto deixou completamente à mostra aquilo que já era evidente desde a primeira hora - que os debates ideológicos, tipo branco contra preto, são de uma vacuidade assustadora.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2004

A mão invisível

A liberalização dos preços dos combustíveis segue a bom ritmo.
Agora, duas majors subiram os preços para acompanhar outras que já o haviam feito.
Por causa dos preços do petróleo, pago em dólares, quando o euro está mais forte que nunca (!!!).
Pelo meio, há uma empresa na qual o Estado manda directamente e que faz de regulador... aumentando os preços.
Quanto à distinção pela qualidade - que tantos ingénuos proclamaram - continuamos à espera.
Chateia-me mais a hipocrisia da coisa que os aumentos em si. Porque há por aqui o chamado mecanismo da «mão invisível», a mão que saca sem olhar a meios.

Anabela e os blogues

Quando aqui cheguei, não me apresentei, nem mostrei BI. Assinei jmf e fiquei satisfeito. Não sou estrela dos media, mas também não sou anónimo. Tenho o nome profissional que a lei obriga. Senti-me bem com o semi-anonimato - o que ia escrevendo valia por si, no círculo das amizades/conhecimentos toda a gente sabia.
Nesses tempos recebi apenas dois mails equivocados, um simpático, o outro nem por isso. Eram ambos para o director do Público e a única coisa que me espantou foi a distracção de quem os escreveu.
Há uns dias, decidi pôr o nome por extenso na primeira página, sem que isso tenha alterado uma vírgula do que escrevi a seguir.
Para essa mudança foi decisiva a polémica que cresceu à volta de um blogue chamado Possibilidade do Sentir, cuja autoria muita gente (e eu também) atribuiu a Anabela Mota Ribeiro. Pouco interessa se nos enganámos.
Interessa que, pela primeira vez, senti um mal-estar muito grande na blogosfera. Porque já tínhamos tido dois anónimos ilustres - o Pipi e o Mentiroso -, mas em ambos os casos o anonimato fazia parte do jogo.
Porque, quanto ao resto, anónimos ou nem tanto, lá nos fomos entendendo. Com regras de conduta e de ética não escritas, damos turras, turras valentes, descobrimos cumplicidades, seguimos caminho.
Diria que nos blogues encontrei um sentido de honestidade e responsabilidade que não encontrara noutros locais com regras aparentemente mais consolidadas.
Todos sabemos que este meio convida à usurpação do nome, embora o Blogger imponha regras (a versão brasileira é ainda mais exigente). Mas isso não nos precocupava, porque estávamos aqui com sinceridade, de livre vontade, com o coração aberto, se quiserem.
O tal blogue veio quebrar essa regra. Tanto se me dá se a autora é a tal Anabela, ou outra Anabela qualquer. Sei que, pela primeira vez em muitos meses, alguém tenta manter uma mentira. Disso não gosto.
[Este texto - e outro que há-de surgir qualquer dia - estava prometido há uma semana. Apesar de por aqui se falar muito de política, isto é o mais próximo que consigo chegar da política - a dificuldade de cumprir as promessas.]

Mamas

[Este é um texto que eu não deveria escrever. Porque tenho de perder esta mania de ter opinião sobre tudo e mais alguma coisa; e porque serei certamente acusado de sexista, machista, ou coisa parecida. Mas, o que querem?, não resisto?]
A única coisa que me chocou na exposição da mama da Janet Jackson é que aquilo, assim, a sair de um buraco de uma roupa de couro, fica altamente inestético. Quase repugnante. Mamas e bundas só são apresentáveis quando o são.

SMS tipo pombo

Chegou-se à janela e apontou o telemóvel às nuvens.
Diz-me ele que não temos rede no escritório, nem para uma curta sms.
A mim pareceu-me que estava a enviar um pombo-correio à namorada.

Nota técnica

Tive notícia de que alguns mails que me enviaram não chegaram ao destino. Presumo que tenham sido vítimas da onda de vírus que por aí anda. Se for esse o caso, prova-se, mais uma vez, a eficácia do Yahoo! (o filtro anti-spam tem sido de grande utilidade). Se for caso disso, façam a fineza de reenviar.
A semana tem sido penosa noutros aspectos. Provavelmente para assinalar a Semana da Banda Larga que vejo referida nos jornais, a minha banda tem estado particularmente estreita. É mau para escrever e ainda pior para ler.
Última nota: há por aí um debate sobre direitos de autor. O que tinha a dizer ficou dito há um mês - aqui, aqui e aqui.

Eterno Ambrósio

No intervalo do filme, entre duas novelas, enquanto esperas pelas notícias.
- Ambrósio, apetece-me algo...
- Senhora, tomei a liberdade...
Nestes tempos em que tudo é efémero, só mesmo a publicidade para nos fazer acreditar em relações duradouras.

Shiuu... mudem de assunto

Desde que Colin Powell, Donald Rumsfeld e Tony Blair começaram a admitir que, afinal, armas de destruição maciça népia, nota-se um certo silêncio em alguns dos nossos mais notórios blogues. Silêncio, ou pior. Agora falam do estado do tempo, da nova cor de cabelo da vizinha do 7.º D, da chatice que é levar o cão a cagar todas as noites, da mamo-graphia da Janet Jackson, das sopas tão boas que se comem na Adega da Tia Zulmira...

Doutrina Rumsfeld

O CAA, do Mata-mouros, tem um texto lamentável sobre Fidel Castro.
Lamentável porque, de acordo com a doutrina Rumsfeld, não está provada a inexistência de um plano Bush para a assassinar o velhote das barbas.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2004

Anúncios totalmente de borla

Está farto de política? Desconfia que o autor deste blogue o quer catequizar para uma causa pouca razoável e de objectivos mais que duvidosos?
Tem toda a razão.
Sugiro-lhe que faça como eu. Passeie-se por aqui. Clique nas fotos (uma vez para ouvir, duas para parar...), espreite o namoro que vai dali para aqui...
Eu sei lá se os dois blogues até são escritos pela mesma pessoa... apeteceu-me espreitar aquelas cores, aquelas músicas, aquela alegria!

Socorro, estamos a ser atacados

A direcção do CDS/PP esteve reunida esta noite para analisar os ataques de que o partido tem sido alvo. Descodifiquemos os «ataques»: 2 por cento na sondagem do DN, 4 por cento na sondagem do Público.
Adenda:
Ao auto-comentar a reunião, na SIC Notícias, o dirigente do CDS António Pires de Lima referiu-se aos governos de Mário Soares dos anos 80 (Bloco Central) como aqueles em que Portugal teve a maior crise económica a seguir a 74. Pelos vistos, Pires de Lima anda a ler os capítulos errados do livro de Maria João Avillez...

!!!!!!!!

Donald Rumsfeld diz que no Iraque não foram encontradas armas de destruição maciça, mas também não foi provada a sua inexistência.
«As Dr. Kay has testified, what we have learned thus far has not proven Saddam Hussein had what intelligence indicated and what we believed he had», Mr. Rumsfeld said. «But it also has not proven the opposite.»
Ginástica mental, meus amigos, ponham os olhos nesta ginástica mental.

Estranhas vitórias

A vacuidade do debate esquerda-direita vem à tona na constatação, de alguma direita, de que o candidato supostamente mais bem colocado dos democratas americanos está a ficar para trás. Estranho regozijo: quando a esquerda é derrotada (!?) pela esquerda.

Miopias voluntárias

Fico sempre com dúvidas sobre se valerá a pena trocar umas palavras com o FNV, do Mar Salgado. Ele é daqueles que só não vê porque não quer ver. Por exemplo, que a fome em Setúbal, as bandeiras negras, a bordoada nos sindicalistas, foram no Governo do Bloco Central. Bastava ele ir ao tal livro da Avillez que tem lá em casa.
Se o FNV não acerta com os factos, o que dizer dos estados de alma? Por exemplo, quando confunde a minha perplexidade com susceptibilidade. Porque o que me espanta nesta história toda é o Paulo Portas esgrimir contra Soares com os argumentos usados pelo PCP nos anos 70 e 80. Mas, enfim, presumo que seria excessivo pedir uma pinga de coerência ao ex-director do Independente.

K

Estou desiludido. Será que vou ter de esperar por sexta-feira - ou, pior, por uma certa página de um certo jornal de sábado - por um sentido elogio fúnebre de Kaulza de Arriaga?

terça-feira, 3 de fevereiro de 2004

O Mainardi que há em si

O Jaquinzinhos não conhece, mas manifesta alguma curiosidade por Diogo Mainardi.
Meu caro, lendo-o a si regularmente e a ele todas as semanas, sempre lhe posso garantir: não queira conhecer, não ia aprender nada!

Memória selectiva, eu?

O FNV, do Mar Salgado, decidiu atribuir-me o prémio Memória Selectiva, por ter escrito que «os salários em atraso, a fome que havia no país e as cargas policiais», dos tempos de Mário Soares como primeiro-ministro, ocorreram em governos de coligação com os dois parceiros da actual coligação.
Como não gosto de injustiças e não quero subir ao palco sozinho, aí vai uma dose, retirada da mesma fonte (entrevista de Maria João Avillez). Todas as citações são relativas ao período 83-85, Governo do Bloco Central (PS/PSD):
«Quando o Bispo de Setúbal, D. Manuel Martins, falou de fome, fomos os primeiros a admitir que havia...»
«O PC promoveu uma espantosa mobilização e produziu uma hostil e persistente campanha contra o Governo. As paredes de Lisboa ficaram cobertas com os célebres grafitti: 'Soares e Pinto, Rua'»
«Julgo que o Manuel Lopes, da Intersindical (...) foi um dos que foi preso numa dessas vezes.»

Oh Filipe, memória selectiva eu?
E, já agora, visto que é coleccionador de velharias, aí vai uma estatísticazinha.
Mário Soares foi primeiro-ministro:
18 meses de um governo PS
7 meses de um governo PS/CDS
28 meses de um governo PS/PSD.
Como imagina, se quiser mais citações «selectivas», ainda se arranja. Como o meu amigo alia uma elevadíssima selectividade de memória a uma lata descomunal, leva ainda, como bónus totalmente grátis, o Grande Prémio Diogo Mainardi.

Powell explica tudo

Confesso que ainda não percebi o ponto do Bloguitica acerca da guerra do Iraque.
As armas de destruição maciça não foram o único argumento para a guerra, mas foram o argumento público decisivo. E mesmo os outros - o terrorismo, por exemplo - derivam desse.
Que na Administração Bush houvesse uma agenda secreta, ou pelo menos não revelada, isso é outra história.
Colin Powell explica isso muito bem numa entrevista publicada hoje pelo Washington Post. Excertos:
«it was the stockpile that presented the final little piece that made it more of a real and present danger and threat to the region and to the world»;
« I was the chairman for the first Gulf War, and we went in expecting to be hit with chemical weapons. We weren't hit with chemical weapons, but we found chemical weapons. And so it wasn't as if this was a figment of someone's imagination» (esta frase deve estar a ser lida na Casa Branca - e no Pentágono... - com um peculiar ranger de dentes...)

Uma página em branco

Opinião de um leitor, na secção de cartas da Veja, sobre Diogo Mainardi: «Desinformação por desinformação, prefiro uma página em branco».

Lost in (french) translation

I wanted marry with you
And make love very beaucoup
To have a max of children
Just like Stone and Charden

But one day that must arrive
Together we disputed
For a stupid story of fric
We decide to divorced

It is not because you are
I love you because I do
C'est parc'que you are me qu'I am you
Qu'I am you

Renaud, It is not because you are.

Bela Ronda

O Retorta tem por estes dias uma das coisas mais belas da blogosfera - um ensaio fotográfico da passagem da Ronda dos Quatro Caminhos pelo CCB. Quem lá não esteve (penitencio-me...) vai sempre a tempo de ver aquelas fotos com banda sonora do disco Terra de Abrigo.

Confissão de um melómano maniqueísta

O José «Um, dois, três... cinco minutos de jazz» Duarte escreveu há uns anos uma frase de que gosto particularmente: «A boa música distingue-se da má pela qualidade.»
Vem isto a propósito do desafio lançado pelo MacGuffin, acerca das orientações ideológicas aplicadas aos gostos musicais [aqui, metade dos meus escassos leitores mudam de canal...]
Dou comigo a pensar que a ironia que por vezes uso (pois, pois, é uma arte e, se calhar, artista é coisa que não sou...) e a pura provacação (pois, pois, etc, etc...), mais tarde ou mais cedo, acabam por me dar apenas uma grande trabalheira. Mas pronto, o mal está feito...
A verdade é que sempre associei a direita a um gosto conservador. O que, reconheço, é hoje apenas um cliché. Pelo menos desde que inventaram essa coisa bizarra que responde pelo nome incerto de «direita inteligente». Porque «inteligente» inclui, parece, o conceito de «sensível».
Eu era, reconheço, daqueles que associava a direita ao António Mourão, no máximo ao Frederico Valério, e, lá fora, ao Frank Sinatra (nada mau, hã?) e a umas coisas entre o clássico e um modernismo balofo, que, no fundo, descabavam sempre em James Last.
Porque o resto eu associava à esquerda. Do rock à música brasileira, passando pelo Brel, o Sérgio Godinho e os Rádio Macau.
Vejam bem, essa malta ora andava metida na droga, ora abortava ou defendia o dito, ora andava por aí a pregar a revolução, no mínimo um certo incorformismo. A direita, pensava eu, não poderia gostar dessa gente. Porque essa gente fazia e pregava tudo aquilo de que a direita dizia não gostar.
Descubro agora que, sim, a direita sempre gostou dessa gente. Porque, secretamente, a direita sempre usou drogas, sempre abortou, sempre praticou sexo fora do casamento... diz publicamente o contrário, mas no segredo das alcovas sempre o fez.
Porque, convenhamos, e pegando apenas num exemplo apontado pelo meu caro MacGuffin, as canções de Billy Bragg, além de serem de um anti-thatcherismo primário, contêm referências culturais genéricas e modos de sentir a vida que radicam em valores de esquerda.
É claro que ainda me vou arrepender deste meu maniqueísmo. Acusação injusta, porque ao pôr a «direita inteligente» a cultivar valores de esquerda estou, implicitamente, a desvalorizar essas confrontações clássicas.
Post scriptum: meu caro MacGuffin, não sou eu que vejo tudo pela lente da política. São os seus amigos. Veja o que eles escreveram sobre o Ary dos Santos. Eles nunca leram Ary dos Santos. Apenas conhecem o seu número de militante do PCP.

Problemas de comunicação ?

1. Adeptos violentos vão ter cadastro (manchete do DN)
2. Governo vai cadastrar desordeiros do desporto (manchete do Público)
3. Governo quer ordem no futebol (manchete do JN)
[ ]
Eu, se fosse primeiro-ministro, reunia o Governo todas as segundas-feiras. Com a falta de notícias, preguiça e papagaísmo que por aí anda...

O «senhor», os «o» e a «a»

Irrito-me amiúde com a abusiva intromissão do fait divers, da coluna social e do comentário no noticiário político. Tenho cada vez mais saudades - e presumo que não estarei só - do noticiário político puro e duro.
Mas há casos e casos. E há casos em que a notícia é mesmo a coluna social. Como nesta notícia do Público.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2004

Karga tu

Chamem-me bota de elástico... mas acho aquele anúncio de telemóveis com o slogan «Karga nisso» de um valentíssimo mau gosto.

Pequeno anúncio (grátis)

«Docentes à beira de um ataque de nervos
Solicitam casamento rápido com Professores do Quadro exclusivamente para prioridade em concurso»
Público, domingo, pág. 56 (Local Lisboa).

Pum, pum... tiro no pé (II)

... é claro que ponho de parte que Paulo Portas, líder do CDS, fosse capaz de lembrar «os salários em atraso, a fome que havia no país e as cargas policiais» do tempo em que Mário Soares era primeiro-ministro de um governo do PS em coligação com... o PSD.

Futebol

Uma semana depois, longe de qualquer câmera de televisão, um miúdo de 14 anos cai fulminado num longínquo recinto desportivo.
Uma semana depois, no mesmo estádio, jogadores e espectadores envolvem-se em cenas de pancadaria e mimam-se com sonoros «filhos da puta».
Uma semana depois, nos bastidores de um estádio próximo, os protagonistas do futebol português mostraram a verdadeira face.
Uma semana depois, a vida continua como sempre foi, frágil. E o futebol a mesma merda de sempre.

domingo, 1 de fevereiro de 2004

Pum, pum... tiro no pé

Paulo Portas, líder do CDS, lembrou hoje «os salários em atraso, a fome que havia no país e as cargas policiais» do tempo em que Mário Soares era primeiro-ministro.
Ah... já me lembro. Quando Mário Soares foi primeiro-ministro de um governo de coligação do PS... com o CDS.

Inimputável

E se eu chamar Ministra da Justiça a Celeste Cardona, poderei ser levado a tribunal?
[Inspirado no Almocreve.]

O regresso à normalidade

Uma semana após o acontecimento trágico que emocionou a nação e ia mudar o futebol... a pornografia futebolística retomou o seu curso. E ninguém se indigna, obviamente.