sexta-feira, 30 de abril de 2004

Keep on pushing me baby

Aconteceu no Colombo, porque estas coisas acontecem sempre em sítios assim. Saio da FNAC [eis a referência cultural que dá substracto ao blogue - já agora, lembrem-se que hoje há 10 por cento de desconto em tudo para quem tem cartão] e entro no elevador.
Do primeiro andar ao «menos dois» do estacionamento, fico a sós no elevador com cinco (sim, cinco...) belas jovens, na idade exacta em que se tem orgulho do umbigo. Uma - wet, wet, wet - acabadinha de saiu do ginásio do segundo andar. Por entre respirações que tentam não se alterar, o minúsculo altifalante debita Madonna. Mais precisamente Borderline. Provavelmente, nenhuma das cinco meninas reparou alguma vez do que fala Madonna naquela canção:
Keep on pushing me baby
Don’t you know you drive me crazy
You just keep on pushing my love over the borderline
Look what your love has done to me
Come on baby set me free
You just keep on pushing my love over the borderline
You cause me so much pain, I think I’m going insane
What does it take to make you see?
You just keep on pushing my love over the borderline
.

Camões sem stock

No Notas Verbais, tudo o que você imaginou que se estava a passar no Instituto Camões, mas ninguém tinha ainda escrito.

Corrupção e democracia

O Optimista Esclarecido [já estava na hora de aparecer alguém que, além de optimista - coisa rara, acha que tem razões para o ser...] chama-me a atenção para um deslize que terei cometido quando abordei aqui os casos de corrupção que por aí andam e uma declarações feitas por Maria José Morgado [aproveito para fazer o link de onde colhi a frase].
Longe de mim considerar que é a democracia a gerar a corrupção. Penso interpretar corrrectamente MJM se disser que a ênfase está no verbo. Ou seja, por estarmos em democracia, podemos dizer que temos corrupção. Temos a percepção da corrupção.
Nos regimes não democráticos, a corrupção é um dado adquirido. Não consigo imaginar nenhum regime autoritário que não assente pelo menos parte dessa sua característica em mecanismos de corrupção. Visto de outra forma, talvez seja incorrecto falarmos em corrupção nesses regimes, visto que essa actividade não se distingue na matriz essencial do próprio regime.
Mas, já agora, sempre acrescento que a democracia, enquanto regime que garante o acesso (teórico, pelo menos) de toda a gente ao poder, aos centros de decisão e ao poder económico, acaba por, indirectamente (diria que inadvertidamente...), potenciar as hipóteses de existência de corrupção. Isso, é claro, será mais que insuficiente para uma crítica à democracia - simplesmente, isso resultará naquilo a que poderíamos chamar de democratização, generalização, da corrupção.
No fundo, não deixo de concordar com o essencial do que escreve o Optimista. Só não queria que se gerassem equívocos sobre o que eu próprio penso.

Viva a corrupção

Quem por estes dias passar os olhos pela imprensa nacional assusta-se - Portugal naufraga em escândalos. Não há partido que escape, câmara acima de suspeita, clube de futebol que se aproveite.
A verdade é que já todos sabíamos que era assim. Até adivinhávamos o nome dos protagonistas, o circuito dos dinheiros, as manhas e tramas dos esquemas.
Sorrimos, por isso. Foste apanhado, tinhas de ser apanhado, mais tarde ou mais cedo...
Sabemos que isto não é de agora, que esta corrupção não nasceu ontem. Pela parte que me toca, não acredito nas teses pias de que a investigação está agora a funcionar melhor, que a justiça funciona, que por isso podemos ficar mais descansados. Não acredito, mas não deixo de me interrogar, de me inquietar, sobre as razões pelas quais não foi possível esconder mais tanta podridão.
Não me descansam as afirmações sensatas de Maria José Morgado: «Temos corrupção porque vivemos em democracia». Mas admito que uma das pistas para que agora tudo se comece a saber passe por aí. A alternância de ciclos partidários dá nisto - tu denuncias-me e eu denuncio-te, tu investigas e eu investigo-te. A alternância, entre tantas desvantagens (a começar no rotativismo de um pessoal político que, parecendo diferente, é sempre o mesmo...) também terá, afinal, as suas vantagens.

Pois...

O Banco de Portugal chegou à conclusão de que, sem receitas extraordinárias, o défice público de 2003 ficou em 5,3 por cento. Não é por acaso que o Banco de Portugal sublinha que há dois défices: um com receitas extraordinárias, outro sem receitas extraordinárias.
As receitas extraordinárias estão a ser utilizadas por muitos governos e aceites pela Comissão. Compreende-se - ambas as partes estão interessadas em dar alguma credibilidade às suas políticas.
A verdade é que, estruturalmente, Portugal está exactamente na mesma, se não pior. Continuamos (leia-se, o Estado, leia-se, o aparelho do Estado, leia-se, o Governo...) a gastar mais do que podemos.
O combate ao défice, da forma demagógica como foi feito, não passou de uma operação de cosmética.

Os textos de VPV

São quase 11 da manhã e ainda ninguém aplaudiu o texto de Vasco Pulido Valente no DN de hoje em que arrasa o Bloco de Esquerda. Não perderemos pela demora...
Pela parte que me toca, raramente concordo com o dito (o texto sobre o 25 de Abril seria um excelente exemplo...), mais pela postura em que se coloca e pelo tipo de argumentação que utiliza do que pelas conclusões a que por vezes chega.
Mesmo quando, por um mero acaso estatístico, concordo com um dos seus escritos, evito aplaudir. Sei que, no dia seguinte, o mais tardar na semana seguinte, escreverá algo de que discordo profundamente.
Não é que o ache incoerente. Não, tudo aquilo é coerente. Não cola é com a minha coerência.

quinta-feira, 29 de abril de 2004

O tempo

Hoje fez frio. De manhãzinha e agora, à noite. O que torna desactual o texto anterior. Mas não as cerejas.

terça-feira, 27 de abril de 2004

O tempo das cerejas

Passa na televisão o anúncio a um «creme anti-rugas» com «extractos de cereja». Lá fora, aquele calor súbito. Este foi o ano em que a meteorologia se deixou enganar pela publicidade.

segunda-feira, 26 de abril de 2004

Memória elevada ao cubo

Na minha era pré-blogue, escrevi que Santana Lopes deveria ter preservado aqueles cubos com que animou a campanha eleitoral. Lembram-se? Eram uns cubos que anunciavam coisas do tipo «Parque Mayer a funcionar em três meses», «Túnel do Marquês em obras em seis meses», «Um jardim no Arco do Cego em quatro meses»... (só não garanto a correspondência total entre as promessas e os prazos) Defendi, então, que os cubos até nem eram desengraçados e que a sua manutenção seria um gesto cívico de grande elevação - o autarca assegurava perante os eleitores a sua fidelidade às promessas feitas.
Lembram-se? Isto foi nas últimas eleições autárquicas. Há dois anos e quase meio...

Emprestas-me o teu advogado?

Michael Jackson Replaces Attorneys. A dica foi-lhe dada por um tal Ritto, perdão, por um tal Bibi, perdão...

domingo, 25 de abril de 2004

Adenda ao apupo

Eu sei que Durão também foi assobiado na Avenida. Mas o assobio a Portas é mais simbólico. Porque, aposto, era ele que se passeava ali, pela Avenida, com o R no bolso.

Beata sem Defesa

É claro que o ministro da Defesa escolheu mal o sítio para passar a tarde. Bem o aconselharam a dirigir-se a Roma e representar o Estado na beatificação da Alexandrina de Baleizão... perdão, Balasar.

Duas opiniões a pedido

O Bloguitica sugere-me que opine sobre a visita de Zapatero ao anexo, perdão, a Lisboa, e sobre as exigência do PS para que a GNR saia do Iraque se não houver nova resolução da ONU. Presumo entender o interesse do Bloguitica na minha opinião. Por isso, aí vai.
1. Também eu seguirei com muito interesse a visita de ZP a Lisboa. Durão Barroso investiu imenso na relação com a Espanha de Aznar. Diria mesmo que esse investimento ultrapassou a questão política e entrava por áreas da afectividade e do simbolismo. A Espanha já não era o inimigo mítico, mas o exemplo a seguir. De Espanha, só vieram nos últimos tempos bons ventos. A coligação de Lisboa colhia em Madrid experiência a imitar. Por isso, Lisboa, a par com Washington, debe ter sido a capital mais desagradavelmente surpreendida com o resultado eleitoral de 14 de Março. Não admira, por isso, que o verniz tenha estalado à primeira oportunidade. Porém, o realismo há-de imperar - Portugal precisa de Espanha, as empresas espanholas precisam do nosso mercado. Cavaco deu-se bem com González e Guterres ficou amigo de Aznar. Com a actual dupla, perder-se-á, talvez, a afectividade. Pouco mais.
2. Não acho que a questão do Iraque tenha de ser motivo de consenso nacional. Não o é em parte alguma, nem nos EUA. O PS está a ser coerente quando exige a retirada. Há um trabalho a fazer no Iraque, mas ele não pode ser feito a qualquer custo - há responsáveis directos pelos erros cometidos e, obviamente, é a eles que compete, em primeira linha, resolvê-los. Acresce que a GNR, por mais bem preparada que esteja, é uma força de segurança e não militar. O seu envio pressupunha um cenário de estabilização no terreno, o que, hoje, não corresponde à realidade. Quando é o próprio ministro Figueiredo Lopes a admitir a retirada em caso de agravamento da situação...

Evolução (caso prático)

O ministro da Defesa foi assobiado durante uma parada militar na avenida que se chama da Liberdade. No 30.º aniversário do 25 de Abril. O que nós evoluímos...

25 de abRRRRRil

Façam de conta que está aqui um gRRRRRande, um enoRRRRRme, RRRRRamo de cRRRRRavos veRRRRRmelhos.

sexta-feira, 23 de abril de 2004

O mundo louco da bola

Quando digo que, no mundo louco da bola, presumo que todos sejam culpados até prova em contrário, estou a recorrer ao mesmo tipo de exagero que leva toda a gente a considerar que toda a gente é inocente até prova em contrário. Veja-se, por exemplo, o processo Casa Pia - já todos percebemos que é impossível presumir inocência em algumas daquelas figuras.
Vem isto a propósito de um comentário de dm, no Golpes de Vista. E que me dá a deixa para mais duas ou três ideias.
Desde logo para certificar que tenho, de facto, não um preconceitozinho, mas um realíssimo preconceito contra o desporto em geral e o futebol em particular. Não acha graça a nada daquilo, seria incapaz de praticar e diria mesmo que sou incapaz de assistir. Se não acha graça nenhuma ao futebol, imaginem o que penso dos ordenados fabulosos que os artistas recebem, das horas que a televisão do Estado (que pago...) lhe concede, da panóplia hilariante de dirigentes que por ali andam. Nada a fazer, portanto. Sou irrecuperável...
Quanto ao resto, faço minhas as palavras de dm - que se desenrolem os vários novelos. Do futebol, da política, dos empreiteiros... Tenho, porém, pouca fé. Para mim, a justiça é como a Brigada de Trânsito - apanha uns prevaricadores e os outros ficam com medo de ser agarrados e emendam-se. Não tenho, por isso, a ilusão de que, agora ou noutra altura qualquer, sejam apanhados todos os malandros, ou pelo menos a maioria. Já ficaria satisfeito se apanhassem alguns. Mas nem nisso acredito. Quanto a isto já gostaria de ser recuperado. Adorava estar enganado.

B-words

Sempre me pareceu que esta coisa de comunicarmos assim por escrito e em diferido não haveria de dar grande coisa. Agora é o MacGuffin que acha que eu o mandei àquela parte. Não mandei, nem mesmo retoricamente (não sei se repararam, mas já não estou a utilizar a b-word...). Eu era lá capaz de perturbar com tão agrestes palavras quem se deixa levar pelo som dos remos de barquinhos num bucólico lago da velha Inglaterra (esta agora é só para conhecedores, uma forma ardilosa de manter a conversa num patamar elevado).

Os tempos das utopias

«Regressámos ao presente, esse campo tradicionalmente flagelado, e desalojámos o futuro enquanto arena de promessas», escreve o Miniscente.
Há nessa coisa das utopias uma armadilha a ter em conta. Porque as que conhecemos, ou simplesmente pressentimos, reais ou imaginadas, são todas do passado. Utopias já não são. O que, muito sinceramente, só nos pode deixar todo o futuro como espaço de aventura. Porque não?

Pingue pongue (para ser lido acentuando a última sílaba)

O MacGuffin acha que não li a Biblia, perdão, o Impasses. Li, achei interessante, mas não concordo. Poderíamos até trocar uns bitaites, mas não me apetece. Do que falei mesmo foi do argumento da «má-fé», que nasceu no livro, mas que se cristalizou por aí, a cada esquina. De qualquer forma, aconselharam-me hoje vivamente a não utilizar expressões do tipo «bardamerda» no blogue. Pelo que, além de não poder comemorar devidamente alguns eventos marcantes do PREC, fico claramente limitado no que respeita a um vasto conjunto de debates que alimentam a nossa blogosfera. É pena.
A Adufe, entretido que anda a lançar a campanha eleitoral do Bloguitica, nem reparou que, de facto, estive refém por estes dias. E a culpa é toda do Barnabé, que lançou uma campanha chamada qualquer coisa do tipo «JMF para o Iraque, já». Deram pela troca - eu já voltei, agora só falta mandarem o verdadeiro.

Oh Telo

Já li uma data de vezes a frase de Otelo à Visão - «Nas eleições presidenciais de 1980, não votei em mim, votei no Eanes». E não sei se aquilo acentua o perfil de louco varrido, se absolve o radical lírico. Aceitam-se aclaramentos.

Presunção de culpa

Quando se chega à bola, ao mundo louco do futebol, por estas bandas suspende-se o estado de direito: não há presunção de inocência p'ra ninguém.

quinta-feira, 22 de abril de 2004

Outro regresso (cont.)

E depois de escrever aquilo ali em baixo, fui espreitar ao Frescos. Uma prova de vida. Refresh, reload... Olha, estou vivo.

Outro regresso

Quando por aqui passei, perfaz agora uma longínqua semana, ainda falei da impossibilidade de começarmos tudo outra vez. E da vontade, que apesar de tudo vale a pena acalentar, de recomeçarmos de vez em quando. Já nem sei se fui optimista, se pessimista. O tempo também desvaloriza essas classificações.
Acho que é sempre complicado explicar uma ausência. Fiquemo-nos, por isso, por isso mesmo: uma ausência é uma ausência é uma ausência.
Para os mais exigentes, roubo ao Glória Fácil, uma justificação colectiva que me assenta tão bem, a mim:
«Incapacidades objectivas em alguns casos, subjectivas em outros, ou concomitantemente objectivas e subjectivas, tornam a Glória difícil. Pedimos compreensão aos utentes.»

quinta-feira, 15 de abril de 2004

Somos todos reféns

Acho estranho que nenhum daqueles valentes portugueses que estão «em guerra» se tenha oferecido para render algum dos reféns no Iraque.
Isso, sim, mostrava valentia. E, já agora (aqui entre nós...) nem sequer teria muitos custos, porque ninguém lhes iria responder. Era uma «guerra» confortável, como essa malta gosta. Eles «em guerra» no sofá e os «outros» lá na frente de combate.

Totobola

É favor da retirada dos civis do Iraque?
2
É a favor da retirada dos GNR do Iraque?
1
É a favor do envio de tropa para o Iraque?
X.

Entre a utopia e a vidinha

É assustador o que lembra o Aviz - as utopias como lugar de supremo totalitarismo. O que nos deixa tragicamente desamparados, entregues à vidinha.
Há um pessimismo na frase de Steiner que gostaria de recusar. Porque gostaria de pensar que, apesar de tudo, de todos estes séculos de pensamento e cultura em cima, ainda não demos a volta completa a nós próprios, ainda não fomos ao fundo, ainda não percebemos a verdadeira natureza do nosso ser. Temo, no entanto, estar errado. Cada dia encontro menos razões para estar optimista. E nem estou a falar do que vejo na televisão, do que vejo no Iraque, do que vejo em Espanha. Falo do que vejo aqui, na esquina onde tomo café.

quarta-feira, 14 de abril de 2004

A má-fé

Anda aí um argumento no debate iraquiano que me encanita especialmente. A má-fé.
A coisa nasceu no já famoso livro Impasses e resume-se, rodeios à parte, à ideia de que quem critica Bush fá-lo por má-fé. Fica implícito que os outros, os que apoiam Bush e a guerra, estão no debate de boa-fé.
Para este tipo de argumentação só tenho uma resposta: bardamerda.

O humor parvo do PS

Tem toda a razão o Bloguitica [já viram isto? - ela passa-me a mão pelas costas, eu passo pelas dele...] quanto ao disparate de Vitalino Canas a criticar a decisão do Governo de mandar retirar os civis do Iraque.
É coisa de humor negro. Usar o cinismo em coisas destas é um péssimo caminho. É humor tão negro que só atinge mesmo quem o pratica.

terça-feira, 13 de abril de 2004

O blogue da aldeia

Por entre quilos de spam, chegam-me por vezes mensagens importantes. Por exemplo, de Ouguela, que não faço ideia de onde fica, para além do que me dizem - Campo Maior.
O professor António e os seus cinco alunos (!) decidiram mostrar ao mundo as grandes e pequenas coisas dessa terra que não vem nos nossos mapas.
Enternece-me a ideia. http://www.ouguela.blogspot.com.

Não temos mais começos

Vejo na Veja (vejam só este estilo - selim de silicone, vejo na vejo, este estilo...) uma frase da actriz Fernanda Montenegro. Pressinto reflectir o que pensa meio Brasil:
«Acho que o governo Lula precisa começar».
Isto faz-me lembrar aquela frase de George Steiner que o Francisco escolheu para identificar o seu Aviz:
«We have no more beginnings».
É isso:
- Acho que o governo Lula precisa começar.
- We have no more beginnings.
Eu acho que o Steiner tem razão in so many ways. É claro que ele seguramente falava num sentido muito mais ancestral, quase ontológico. Mas esta é uma frase que me tem assaltado frequentemente nos últimos tempos. Porque, se é verdade que não temos mais começos, nunca temos mais começos, também é verdade que não custa nada tentar. Mesmo sabendo que nunca lá chegaremos. Apenas podemos aspirar aos recomeços. E isso já é bom.

Eu hoje vou...

Eu hoje vou estar chateado com este gajo. Que desmontou o Cerco do Porto e agora abriu uma Fonte das Virtudes e nem avisou nem nada. Diz que ainda não decidiu o que fazer com o blogue. Eu, se soubesse, já tinha fechado a loja. Não sei se me fiz entender. Se calhar não, mas não faz mal, que eu próprio não sabia muito bem o que queria dizer.

Selim de silicone

No Cruzes Canhoto, oferecem-me uma bicicleta. Já agora, se não fôr pedir muito, que seja daquelas com selim de silicone... para não magoar os colhões.

A vitória americana, a derrota de Bush

Sobre o que se passa no Iraque, não tenho muitas dúvidas. Gostaria que os americanos se saíssem bem daquilo. Tenho uma visão optimista da História, gosto de pensar que cada vez há mais democracia no mundo, que o bem, num sentido relativamente difuso, está permanentemente a ganhar ao mal, por mais que nos pareça o contrário.
Acho que os EUA estiveram errados desde a primeira hora, que estão profundamente errados em tudo o que diz respeito ao Iraque. Mas não consigo conceber outra saída para aquele turbilhão que não passe pela vitória dos EUA. Porque, acima de tudo, apesar de tudo, são os americanos que representam, naquele cenário concreto, uma data de coisas em que acredito.
Há um princípio essencial que este meu desejo põe em causa - o direito dos povos à auto-determinação. A escolherem a sua via, o seu futuro, por muitos erros que cometam. Essa ideia foi ferida de morte por Bush quando decidiu avançar para esta loucura.
Mas, agora, há ali um problema. Prefiro que ele seja resolvido com a vitória do bem, o conjunto de valores em que me revejo, a democracia.
Nada disto impede que, deste lado da barricada, discutamos, entre nós, os do campo do bem, o que se passou. O que correu bem e o que correu mal. É isso a democracia.
Por isso, quero que os EUA ganhem no Iraque, ganhem o Iraque. Mas também quero que Bush perca em casa. Estou convicto de que, ao defender duas coisas aparentemente contraditórias, estou, no fundo, a defender esse conjunto de valores a que, por comodidade, identificamos com as democracias ocidentais.

segunda-feira, 12 de abril de 2004

Cuidado, obras em curso!

Estamos em trabalhos de manutenção. Realinhamento mental, sobretudo. Distribuição de tempos, re-hierarquização de prioridades... enfim, nada de preocupante.
Voltamos já!

domingo, 11 de abril de 2004

Rewind

I pictured a rainbow
you held it in your hands;
I spoke about wings
you just flew.
[The Waterboys, The Whole of the Moon]

(R)evoluções

Há uma pequena polémica sobre os slogans e os cartazes comemorativos do 25 de Abril.
Vamos por partes.
Em Portugal não houve revolução, no sentido clássico do termo. Houve um golpe de estado seguido de um período confuso, mas nunca chegaram a estabelecer-se, por tempo suficiente e com a profundidade necessária, os mecanismos próprios das revoluções. O Copcon durou o que durou e o Conselho da Revolução só tinha o nome. Mas, acima de tudo, em Portugal estabeleceu-se com relativa rapidez uma democracia parlamentar sustentada, de todo incompatível com qualquer conceito de revolução.
A queda do R não me incomoda, portanto.
Tivémos, então, evolução. Mas isso, meus amigos, é uma banalidade. Nas condições, geográficas nomeadamente, em que Portugal se encontra, dificilmente seria de outra maneira.
E os cartazes?
O slogan «Isto só neste país» e a ideia de potenciar as coisas boas que aconteceram no pós 25 de Abril, se é uma boa ideia na medida em que alimenta a tal auto-estima tão debilitada, não deixa de resultar em propaganda subliminar para o poder estabelecido.
De qualquer forma, convém não ser muito excessivo no foguetório. Basta ler o estudo A Situação Social em Portugal, 1960-1995, coordenado por António Barreto, para percebermos que muitas daquelas linhas e curvas de crescimento já vinham de antes do 25 de Abril. Talvez devido aos tais factores de inevitabilidade de que falei atrás. Talvez o 25 de Abril tenha sido apenas factor de aceleração. Meramente no plano teórico, seria interessante polemizar sobre o modo como um regime tão fechado como foi o nosso até 74 lidaria com essas tensões modernizadoras que já se faziam sentir na recta final.
Resumo do que interessa: a campanha não me parece má, até porque rompe com alguma pasmaceira das anteriores. Já está a dar polémica... E até aquela coisa de favorecer o poder actual tem que se lhe diga. Por exemplo, tenho à frente um anúncio sobre a grande evolução nos centros de saúde que termina em.... 2001.

sexta-feira, 9 de abril de 2004

As palavras do cardeal

D. José Policarpo, o chefe máximo da corrente religiosa maioritária no nosso país, referiu-se hoje:
1) à ansiedade dos desempregados;
2) aos pobres abandonados e doentes esquecidos e solitários:
3) aos receios de quem é julgado pela Justiça deste mundo.
4) às vítimas inocentes, sacrificadas aos milhares, na lógica irracional da vingança e do domínio, das guerras evitáveis, da perseguição injusta, da opressão da liberdade e da dignidade.
Não estivéssemos todos um pouco anestesiados por tudo e mais alguma coisa e estas seriam afirmações que, tendo em conta quem as profere, mereceriam um profundo debate.

Sapatadas na lógica

Leio por aí que a cedência de Zapatero, ao anunciar a retirada do Iraque, afinal não deu resultado: a Al-Qaeda continua a atacar (ou a querer atacar) em Espanha. Argumenta-se, então, que esse suposto sinal de fraqueza dos socialistas espanhóis seria a pior das posições perante o terrorismo.
A desonestidade intelectual não poderia ser mais evidente.
Não existe qualquer relação de causa-efeito entre o Iraque e o terrorismo. Aqueles que agora pretendem ver uma correlação é que, antes, já haviam insistido na ideia de que vitória de Zapatero fora uma cedência dos espanhóis aos terroristas.
Este parece ser um dos casos em que se tenta comprovar um raciocínio inquinado com outro que, necessariamente, está também ele inquinado porque depende do primeiro. O comodismo do pensamento circular.

quinta-feira, 8 de abril de 2004

Brel forever

Jacques Brel faz hoje 75 anos.
A Universal marca a data com o lançamento de Next, um CD com versões em língua inglesa das canções do mestre. As versões já eram conhecidas, mas muitas delas eram muito difíceis de encontrar.
Aqui dá para ouvir bocadinhos...

Portugal lá longe aqui perto

Não há um único jornal português à venda em Madrid. Não há, nos jornais de Madrid, uma única frase dos jornais portugueses. Uma notícia, uma opinião. Em Madrid, sabe-se tudo o que pensam os americanos, os franceses, os alemães, os ingleses do que se passa em Madrid. Do que Portugal pensa, diz, escreve, opina, nada se sabe.
Não acredito que haja uma explicação razoável para isto.

O que se diz quando se regressa?

Olá. Que saudades!...

sexta-feira, 2 de abril de 2004

Obrigado por terem vindo

Hoje não me apetece. Blogar.
Façam, por isso, o favor de imaginar aqui uma imagem, a vosso gosto, ou um poema, de preferência em espanhol ou inglês.
E se ficarem por aqui mais de dez segundos, podem ainda imaginar um texto sobre a chuva que bate violentamente na vidraça e que me faz lembrar águas longínquas. Talvez da infância, talvez mais longe ainda.

quinta-feira, 1 de abril de 2004

A tempo

A conclusão do texto anterior, ao contrário do que possa parecer a mentes mais mal intencionadas, nada tem a ver com a estatura física do comissário português. Tem apenas a ver com a falta de estatura da política doméstica.

Comissários

Em Espanha, o comissário europeu Pedro Solbes vai ser ministro das Finanças e Economia.
Em França, o comissário europeu Michel Barnier vai ser ministro dos Negócios Estrangeiros.
Em Portugal, o comissário europeu António Vitorino é D. Sebastião.
A medida da nossa pequenez.