Terras do Nunca
Everybody Knows This Is Nowhere - Neil Young
segunda-feira, 17 de outubro de 2005
sábado, 15 de outubro de 2005
quarta-feira, 12 de outubro de 2005
O princípio da transparência
Diálogo entre blogueiros e jornalistas: mostra-me a tua agenda, que eu mostro-te a minha.
A arte da falcoaria
Pergunto eu: em que circunstâncias devem os membros do Governo utilizar o famoso Falcon?
domingo, 9 de outubro de 2005
O (b)ónus (II)
No caso Eurominas, por exemplo. Todos são culpados até prova em contrário. No caso Casa Pia, por exemplo, idem aspas. Em todos os casos chamados mediáticos, o ónus da prova já está invertido. Na classe política em geral, alguém acredita no enriquecimento legal, normal?
sábado, 8 de outubro de 2005
Portugal positivo
O El Pais, escreveu-se por aí, mudou de correspondente em Portugal para dar do país uma imagem mais positiva.
Na edição de sexta-feira, escreve assim o tal Miguel Mora, novo correspondente em Portugal:
Título: La derecha portuguesa, favorita en las elecciones municipales del domingo;
Lead: Debates azedos, plenos de insídia e insultos e fracos de conteúdo; juízes, polícias e militares em pé de guerra contra o Governo devido ao corte de privilégios; os cidadãos assustados com a crise económica; quatro candidatos a câmaras perseguidos pela justiça por diversos delitos económicos são claramente favoritos; o Presidente da República, Jorge Sampaio, reclama uma nova lei anticorrupção... [as reticências estão no original].
Eis, então, Portugal positivo em todo o seu esplendor.
[act: dedicado, obviamente, ao Luís. não sei se às vezes nos precipitamos, se nos precipitam. começo a saber, com o tempo hei-de ir lá, que as primeiras impressões, a espuma, nos turva. que não temos de seguir, por vezes nem com o olhar, tanto foguete alheio que por aí anda.]
O (b)ónus
Andam por aí uns intelectuais superindignados com aquela coisa da inversão do ónus da prova proposta por Jorge Sampaio. Se calhar, até têm razão.
O problema é que esses são os mesmo intelectuais, sem tirar nem pôr, que acham que deve ser o Governo a provar que nada tem a ver com um negócio pretensamente oblíquo entre a Prisa e a TVI.
Esses intelectuais são, obviamente, uma treta.
Declaração de (não) voto
Há quem me aconselhe o voto em branco, há quem me recomende o voto na lógica do menos mal.
Se calhar, estarei a ser injusto. Se calhar, a culpa é do Governo ou do sistema. Sim, será Lisboa uma cidade governável com uma câmara distante e meia centena de juntas de freguesia impotentes?
A verdade é que Lisboa, a minha Lisboa, a do meu bairro, a dos sítios por onde passo, é uma cidade abandonada, desprezada, cada vez mais feia, cada vez mais desumana.
A verdade é que os candidatos que se apresentam são insuportavelmente maus. Obedecem a lógicas que nada têm a ver com a cidade. Percebe-se à distância.
A verdade é que estou habituado - talvez mal habituado - a que o meu voto tenha peso. Mania das grandezas... tenho a ilusão de que o meu voto ajuda a decidir o governo das coisas. Ora, desta vez, pura e simplesmente, é-me completamente, mas completamente, indiferente quem ganha Lisboa. Só isso.
Secretos
Há quem ande indignado com as mudanças nos serviços secretos. Não teria sido mais importante terem-se indignado com o que fez nesses serviços a tripla Durão-Santana-Portas?
quinta-feira, 6 de outubro de 2005
Micro-causa
Neste momento, tenho uma. Aparentemente pessoal, mas verdadeiramente partilhável - penso que haverá muita gente com o mesmo problema.
Eu, que nos últimos anos tenho escrito texto atrás de texto de combate à abstenção, tento racionalizar, o melhor que posso, a decisão que tomei há várias semanas - abster-me, pela primeira vez na vida, numas eleições.
Post Scriptum: estou recenseado em Lisboa.
terça-feira, 4 de outubro de 2005
Xiu
Hoje não escrevo para não perturbar as cerimónias do 5 de Outubro. E depois também não, porque entro em reflexão para as autárquicas. Depois, vem o Orçamento de Estado, mais as aparições em Fátima, mais o resto que vocês sabem. Compreendam, por isso, o meu silêncio. Sou uma pessoa importante, não posso derramar o meu ruído, perdão, os meus pensamentos dessa forma perdulária. Compreendam.
segunda-feira, 3 de outubro de 2005
domingo, 2 de outubro de 2005
Sondagens (uma adenda)
O último de McCartney é quase Beatles. O novo dos Stones é o melhor, pelo menos, desde a década de 70. E acabo agora de ouvir Prairie Wind, que vai directo para top de Neil Young.
Este é um tempo de dinossauros.
sábado, 1 de outubro de 2005
Os assessores do Expresso
Deve ser monótona a vida dos assessores de Cavaco. Numa semana, procuram, procuram e desenterram um artigo com dois anos sobre o semi-presidencialismo. Publicam-no no Expresso. Noutra semana, dão voltas à cabeça e ao calendário, voltas e mais voltas, e descobrem que o raio calendário consegue meter numa só semana uma eleição autárquica, um orçamento de Estado e uma aparição em Fátima. O professor, magicam, não pode falar. Mas há que fazer saber que o professor não fala. Publique-se, então, onde, onde? Ora onde haveria de ser? No Expresso. Depois, na outra semana, há um livro sobre o professor, no qual foi colocada a frase mortal, mortalmente mortal: «Ainda é cedo para avaliar Sócrates». Notem a perfídia, a malvadez: ainda é cedo, mas o dia há-de chegar. Melhor: ele até já está a ser avaliado, não se pode é saber o resultado. Mas convém que se saiba que o professor há-de avaliar Sócrates. Ou não fosse ele professor. E onde se há-de publicar tão profunda coisa? Mas haveria outro sítio senão... isso mesmo, o Expresso. A isto, meus senhores, chama-se alta política. Está visto, não é para todos.
sexta-feira, 30 de setembro de 2005
Sondagens (II de II)
Eu, se fosse político, fechava os olhos e não lia as sondagens de entre sexta-feira de manhã e sábado de manhã. Eu, se fizesse sondagens, também não lia.
Sondagens (I de II)
Eu também acho que há um efeito Manuel Alegre nas sondagens que não corresponde ao real valor eleitoral do dito cujo. E que Soares está desvalorizado. E que há muita direita a inchar o Alegre, mais por puro gozo do que na expectativa de que ele reduza Soares a pó. Basta ler, nos media e nos blogues, as palavras de incentivo ao poeta e os apelos, cada vez menos velados, à desistência de Soares. E também sei que anda muita esquerda a votar Cavaco, que uns o fazem também por puro gozo, outros em protesto contra PS-Sócrates-Soares, e poucos, mas mesmo muito poucos, o fazem a sério. E menos ainda irão votar, de facto, Cavaco. O sol sorri, porém, para Cavaco, mas todos sabemos como estes números, conhecidos agora, podem ser do mais traiçoeiro que existe.
E até percebo a nervoseira de quem tanto se incomoda com as análises que os media fazem das sondagens. Mas números são números - eu até acho uma série de coisas que contrariam os números. Mas valem as minhas convicções mais que os números, por muito que eu ache que eles não batem certo?
quinta-feira, 29 de setembro de 2005
Machismos e coisas assim
Conheço um blogue onde pontificam duas mulheres, muito mulheres (if you know what I mean...), onde quem manda, mas manda mesmo, é um homem.
Agricultores
A gente passa pelo Alentejo, anos a fio, e aquilo é um deserto. Nada. De agricultura, nada. Em ano de seca, surge a oportunidade para o subsídio. E manifestam-se. Podiam, pelo menos, ter deixado as camisas Calvin Klein em casa.
Duplicidades
Lembram-se da Alta Autoridade para a Comunicação Social, esse quisto da democracia, coio de parasitas? Pois, desde ontem, é um bastião da liberdade de imprensa.
quarta-feira, 28 de setembro de 2005
O ruído
Sobre o referendo do aborto, acho divertida, simplesmente divertida, a polémica que sempre se instala acerca da oportunidade e da data. Tudo serve para não fazer.
Agora, até a igreja católica acha que o referendo dever ser adiado para depois das presidenciais. «O bom senso exige que não haja um ruído simultâneo de acontecimentos». Mas o que tem a igreja católica a ver com isso? O que a incomoda nesse ruído?
[É curioso. O ruído. Há quem fale, não dizendo nada, ou dizendo tudo, para evitar o ruído. E quem não fale de política a 12 de Outubro porque a 13 há aparições em Fátima. Ruído, pois.]
Falhas (no sentido freudiano)
Acho espantoso o silêncio (ou a falta de espanto...) pelas cada vez mais espantosas declarações do senhor Van Zeller sobre o negócio da TVI. Ver, por exemplo, a peça de hoje no Público (inlinkável).
terça-feira, 27 de setembro de 2005
Um texto corajoso (II)
Um dos momentos mais interessantes da blogosfera actual está na caixa de comentários do post Advertência, do Luís [A Natureza do Mal II].
A reacção ao nojo do Luís pela política, pela hiperpolitização, pela degradação do debate político, não se fez esperar, os incentivos são generalizados. Eu também acho que abandonar as lides não é a solução, mas nisso, como no resto, cada um é o melhor juiz de si e dos seus gestos. O meio, como já escreveu alguém famoso que por aqui anda, é ácido. Como a vida, afinal.
A receita (!?) para sobreviver passa por encontrar um equilíbrio muito nosso. Importa o que dizem os outros, é certo, e mesmo, ou talvez principalmente, os silêncios. Mas nada substitui a nossa voz interior e nada é pior que a auto-castração.
Tudo isto para achar que o Luís agora não fala de política... mas ele já volta.
Sem sexo
A correspondente do Libération em Berlim falava hoje da campanha «assexuada» de Angela Merkel nas recentes eleições alemãs. Diz que começou com o entusiamo dos movimentos de mulheres e que até colheu simpatias noutros sectores políticos. Mas, durante a campanha, o discurso de Merkel nada tinha a ver com mulheres. Era um discurso assexuado.
Merkel deve, por isso
a) ser aplaudida porque as mulheres não devem usar o seu «estatuto sexual» como elemento diferenciador na campanha. Ela é política e só depois mulher?
ou
b) ser censurada por não ter usado o seu «estatuto sexual» como elemento diferenciador na campanha. Ela é mulher e só depois política?
domingo, 25 de setembro de 2005
Um texto corajoso
e, infelizmente, certeiro.
«A blogosfera a que consigo chegar é tão autista como os partidos políticos e mais fechada que os jornais, rádio e cadeias de televisão. Os blogs importantes têm fechadas as caixas de comentários e já publicam correio de leitores. Ninguém responde a ninguém. Ninguém fala verdadeiramente com ninguém. Há temas tabu, quase sempre por más razões.
Os que desde o início preveniam que a blogosfera não podia ser melhor do que o país estavam certos. Como sempre a razão destes não me alegra.
O ambiente político está tão degradado com a aproximação das eleições, apoderou-se dos intervenientes tal frenesim, que o risco de contaminação atinge todos os que não se afastarem convenientemente.»
Luís, in A Natureza do Mal.
O eixo dos comentadores
Estive a ver o Eixo do Mal. Aquilo é o state of the art do comentário político. Opiniões vincadas, definitivas, sobre tudo e sobre nada. Intrinsecamente contraditórias - o povo, por exemplo, tão depressa é parvo como inteligente. Fala-se porque sim, melhor, porque se é pago para isso. Sem o mínimo cuidado de informação, de saber do que se fala. A maior parte do que se diz não tem sustentação nos factos. Não é uma questão de opinião, são os factos. Escolhe-se do real aquilo que confirma as nossas convicções e ficamos satisfeitos. Exemplo? Estamos convencidos de que houve mão do PS no regresso de Fátima Felgueiras. Não há factos, há suposições. Mas isso não importa. E depois dizemos: porque está Jorge Coelho tão calado (topam a insinuação?)? Pouco importa que o homem tenha comentado a história (não a de Felgueiras, mas mesmo a do envolvimento do PS). Enfim, um dislate.
Mas o Eixo do Mal é apenas a versão cómica (será?) da coisa. Muito do comentário político que por aí anda - ponham os olhos nos blogues - é assim. Tudo se submete às convicções prévias de quem comenta. Uma tristeza.
sábado, 24 de setembro de 2005
Seasons
Apercebeu-se da chegada do Outono. Nem tanto pela luz filtrada do fim de tarde. Mais pelo bem que lhe soube a caneca de Mokambo, a torrada.
Anti-americanos (um jogo)
Fomos comprar um jogo Uno. Versão de plástico,Toys'r'us, €9,90.
Na embalagem, lê-se assim:
Clearly, America's #1 brand of family games!
!el juego familiar más popular de los EE.UU.!
Le jeu familial n.º 1 en Amérique, c'est evident!
O jogo número 1 da diversão em família!
Note-se o extremo cuidado em manter o ponto de exclamação em todas as versões. E a evidente omissão de referências à América na versão portuguesa.
Já somos todos americanos? Ou o nome da besta é impronunciável?
quarta-feira, 21 de setembro de 2005
E os anti-germânicos?
As eleições na Alemanha mereceram comentários entusiasmados cá pelo burgo. Alguns atiram-se mesmo aos alemães, tratando-os mais ou menos por estúpidos, pelo simples facto de terem votado mal - deviam era votar nas reformas, na Merkel. Votando como votaram, estão a condenar-se a si próprios.
Curioso é que ainda ninguém acusou o pessoal que anda a escrever isto de anti-germanismo. E, vejam bem, isto é bem mais grave que o anti-americanismo. O anti-americanismo, como se sabe, é apenas uma versão genérica do anti-bushismo. Ora, estas vastas e fundas análises sobre as eleições na Alemanha põem em causa os alemães, a sua incapacidade de se governarem. Não acham?
terça-feira, 20 de setembro de 2005
Coisas estatutárias
O comentador da RTP diz que Carrilho não ter perfil. Se dissesse o contrário seria expulso? Do PSD, quero eu dizer.
É só má-fé
Qual é explicação para este caso:
Há pessoas intelectualmente activas
ou
Há pessoas que vivem numa bolha anti-anti-americana?
domingo, 18 de setembro de 2005
Enviesamento (caso prático)
Há várias horas que a Euronews, nos títulos a cada hora, abre com as eleições na Alemanha e segue com um incêndio que houve hoje em Mortágua. Vejam bem, Mortágua quase tão importante quanto o governo da maior economia europeia...
sábado, 17 de setembro de 2005
O artigo 171.º (CRP)
2. No caso de dissolução, a Assembleia então eleita inicia nova legislatura cuja duração será inicialmente acrescida do tempo necessário para se completar o período correspondente à sessão legislativa em curso à data da eleição.
Enviesamentos
Como sempre, são muito estimulantes as reflexões de JPP [Abrupto] sobre os media, desta vez, mais especificamente acerca do «enviesamento» da informação.
Ainda há dias JPP se interrogava se a questão Prisa/TVI não deveria ser tratada nas secções de Política e não nas de Media, como a generalidade dos jornais estão a fazer.
[A questão levanta outra mais remota - nos jornais de referência, a Política é a secção nobre, mas, de facto, é nas de Sociedade, Regional ou Economia, por exemplo, que mais política se faz. É lá que, de forma ora ingénua ora mais manipulatória, se tratam as questões reais da governação - saúde, educação, qualidade de vida, economia - e é lá que os governos são todos os dias julgados, por vezes sumariamente. Nas secções de Política, esgrime-se retórica, é o reino do vazio.]
É curiosa, esta proposta. O caso Prisa/TVI deveria passar para a Política porque, à partida, deveria ser feito um julgamento. De que aquilo não é um negócio, mas sim um negócio político. Ou seja, o alinhamento dos jornais deveria, no fundo, reflectir a agenda da oposição e não uma agenda mais tradicional, ligada ao tema em apreço. Tomando esse princípio, se a oposição acusar o Governo de conduzir mal o combate aos incêndios, eles passam da Sociedade/Regional para a Política, se a oposição achar que o Governo está a interferir na Liga de Futebol, o campeonato deve ir para a Política. E a inversa seria, obviamente verdadeira - se atendessemos aos desejos dos governos (sempre interessados em despolitizar tudo), as secções de Política ficariam às moscas.
Num cenário desses, os media ficaram ao sabor de agendas externas, políticas. Ou seja, de envisamentos externos. Enviasamentos esses que talvez já fossem positivos...
Constitucionalismos
Há quem ache que o referendo sobre o aborto deve encalhar na discussão das sessões legislativas. E sobre essa matéria há opiniões divergentes, mesmo entre constitucionalistas. Não se percebe é porque umas leituras hão-de ser mais válidas que outras. Obviamente, podemos sempre inverter os princípios básicos da democracia e defender que a leitura da minoria e dos seus constitucionalistas é mais iluminada que a outra. Aliás, podemos mesmo alargar esse entendimento à questão de fundo e determinar que, referendo ao aborto, só quando todos estiverem de acordo sobre a sua realização. Ou seja, nunca.
sexta-feira, 16 de setembro de 2005
O ponto G
Pois, parece que há um programa de tv que usa e abusa de um certo estereótipo de gay. No Glória Fácil, opina-se e linka-se sobre o tema.
Nunca vi o programa, mas não custa imaginar o que seja.
Há a história do estereótipo - parece que a imagem de homem-gay que passa é aquilo a que costumamos chamar «amaricado». Efeminado, se quiserem - e aqui voltamos a entrar em estereótipos e nunca mais saímos...
O problema é que a tv é o território por excelência do estereótipo. Há uma série de que já aqui falei - L-Word, que passa no Fox-Life - que mais não é que um catálogo de lesbianismo. Há-as de todo o tipo, até das que gostam de homens. Mas essa é uma série sobre lésbicas, idealizada por uma lésbica, dirigida ao público lésbico - que, obviamente, todos adoramos ver, até porque tem um registo bem disposto. Essa série pode-se dar ao luxo de brincar com os estereótipos e até de os desmontar.
Esperar de uma tv generalista que, em Portugal, desconstrua o estereótipo gay é uma enorme ilusão. A tv, repito, trabalha quase exclusivamente com estereótipos - e isso não é apenas na ficção, vejam-se os telejornais, o modo como são abordados os temas, os alinhamentos. Tudo previsível, tudo estereotipado.
Por isso, a tv de grande consumo - dêem-me só aquilo de que gosto - só podia apostar no estereótipo do gay amaricado. Porque é essa a imagem que o povo tem dos gays.
Estavam à espera de quê? Que a televisão fosse um veículo para educar o povo?
quarta-feira, 14 de setembro de 2005
segunda-feira, 12 de setembro de 2005
domingo, 11 de setembro de 2005
À francesa?
Anda no ar uma certa comoção com o artigo de Cavaco que o Expresso se esqueceu de publicar em 2003.
O homem garante que não será Presidente à francesa. Como se fosse possível... Enfim, desde que não seja "à espanhola" o dr. Marques Mendes não se importa.
O povo não aprende. A única coisa que podemos ter como certa é que Cavaco (ou Soares) cumprirá a Constituição. O que não quer dizer absolutamente nada. Compare-se Soares I com Soares II, Sampaio I com Sampaio II e tirem-se as conclusões.
sábado, 10 de setembro de 2005
Flashback
Depois de o Expresso ter publicado hoje um texto de opinião de Cavaco escrito em 2003, a candidatura de Soares está a fazer chegar aos jornais os manuscritos do Portugal Amordaçado.
Anti-americanos primários
[o inimigo interno]
As autoridades norte-americanas recusaram 15 toneladas de ajuda alimentar da Alemanha para as vítimas do furacão «Katrina».
Acrescenta o “Der Spiegel”, as rações alemãs foram certificadas e consideradas sem risco pela NATO, sendo consumidas em intervenções militares comuns, como no Afeganistão.
O apoio
Hoje não há novidades sobre os afectos presidenciais do engenheiro. Será que a implosão lhe modificou o humor? A promoção regresso às aulas estará a funcionar? Coisas que me angustiam... Tanto, tanto, que tenho evitado até passar perto de um dito supermercado.
sexta-feira, 9 de setembro de 2005
Anti-americanismo (caso prático)
Hoje, fomos almoçar ao Great American Disaster, no Marquês de Pombal. Juro: pensava que tinha fechado por falta de clientela.
País tablóide (iii)
Nos blogues também. Também há blogues tablóide. Sim, estou a falar de blogues anónimos, que publicam o que lhes vem à cabeça, que treslêem, que confundem árvores com florestas, opinião com factos. Uns grandessissímos tablóides é o que eles são.
País tablóide (ii)
O Governo, o Sócrates, os autarcas, o empresário. Os que já foram e os que são. Especialmente os que pensam que são. Todos foram à implosão. E as televisões e as rádios e os jornais. Todos foram. E o povo viu. Em directo e em diferido. Três segundos de pó. O país é, obviamente, tablóide de alto a baixo. Não se atirem ao Sócrates, ou aos media.
País tablóide (i)
Parece que os tablóides é que dizem a verdade. E qual é a verdade? Que Sócrates só fingiu que implodia, porque quem implodiu foi outro. Qual o interesse disto para a história? Zero. Mas, pronto, é a verdade. Eu pensava que a informação curiosa, o fait-divers, o anedótico, o incidental, era o território por excelência dos tablóides. Que aos outros competia descrever, analisar, o que é essencial. Parece que não. O que interessa é a verdade e a verdade é definitivamente tablóide.
Lições de economia
Quando vi um post com o título «Que tal umas lições de economia?!», assinado por Miguel Frasquilho [Quarta República], ainda pensei que era uma coisa autobiográfica, consequência da triste figura que fez, há dias, no Parlamento, com os números do desemprego. Enganei-me.
Anti-americanismo (mais um contributo)
Até a Economist, como nota Vital Moreira [Causa Nossa], aderiu ao anti-americanismo primário. Uma vergonha... O mundo está perdido.
quinta-feira, 8 de setembro de 2005
Vai um cubano?
O RAF e o João Miranda [Blasfémias] têm razão: aquilo de Cuba liderar o investimento em educação é de anedota.
Sobre Cuba, acho o que toda a gente normal acha: o único indicador que interessa discutir é o da democracia e, para esse, nem precisamos dos relatórios da ONU.
Reproduzi aquela informação apenas com o intuito de desmascarar a sacralização que por vezes fazemos destes números e relatórios.
Já agora, em especial para o RAF e a sua indisposição sobre os media, aqui vai um excerto de uma notícia de ontem
"Por trás da retórica do mercado livre e das virtudes da harmonização das regras do jogo esconde-se a dura realidade: alguns dos agricultores mais pobres do mundo são forçados a rivalizar, não com os agricultores do Norte, mas com os ministros das Finanças dos países industrializados", declarou Kevin Watkins, principal autor do relatório, num comunicado de imprensa.
Provavelmente, até tem razão. A retórica é que me parece um pouco excessiva para quem faz relatórios supostamente imparciais para aquela que deveria ser a mais imparcial das organizações. Mas os media é que têm as costas largas...
O regabofe
A nomeação de socialistas suspeitos continua em grande estilo:
Carlos Tavares, antigo ministro da Economia no governo de Durão Barroso, será o próximo presidente da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), confirmou esta quinta-feira à agência Lusa fonte oficial do Ministério das Finanças.
Vamos então ao essencial
No Blasfémias apela-se a que se destaquem os aspectos positivos do relatório do PNUD sobre o desenvolvimento dos países. Parece que podemos aprender alguma coisa. Aí vai, então, um modesto contributo retirado do dito relatório: Cuba é o país que gasta a maior percentagem do Produto Interno Bruto (PIB) em educação.
Desesperadas em francês
O Índice de Desenvolvimento Humano
[que as Nações Unidas divulgaram ontem e em que Portugal, para variar, está cada vez pior]
passa ao lado das coisas importantes da vida.
Por exemplo: a França até pode ser rica, importante (enfim...) e tal, mas só a partir de hoje é que os franceses vão poder acompanhar as Donas de Casa (e ainda por cima no Canal + codificado, em aberto só na Primavera no M6 - e aposto que será dobrado - oh horror...).
O Libé dedica duas páginas ao événement e tem uma entrevista com Marc Cherry, o criador. Cliquem que está tudo disponível.
quarta-feira, 7 de setembro de 2005
Volto já
Fui só fumar um cigarro [na verdade, estou é a escrever posts atrás de posts noutro blogue].
terça-feira, 6 de setembro de 2005
Cuba libre
Há discussões que seria fácil alimentar. Um exemplo.
Escreve-se na Grande Loja:
O imperialismo americano é bom, sentença facilmente aduzida por milhares de cubanos desesperarem por um lugar numa instável embarcação destinada à América.
Ora a verdade é que, por cada cubano que quer sair de Cuba, há milhares a quem isso não passa pela cabeça.
Trata-se de uma questão de matemática, de lógica. E que, obviamente, nada tem a ver com a questão que realmente importa. A política.
segunda-feira, 5 de setembro de 2005
Hilariante
A senadora Hillary Clinton quer uma comissão de inquérito ao falhanço das autoridades americanas no caso do Katrina. É preciso denunciar: trata-se de uma anti-americana primária. Comunista. Uma louçã de saias. Uma vergonha...
domingo, 4 de setembro de 2005
Por exemplo
O candidato suplente do PSD às presidenciais, na habitual homilia de domingo, está a arrasar com inusitada violência a reacção de Bush ao furacão e o sistema político americano que se virou todo para o combate ao terrorismo e se esqueceu do país. Olhó comunista...
As doenças de certos (outros) intelectuais
Sou português, tenho opinião. Mas não devo ter opinião sobre a América, quando a América sofre ou erra. Não devo tratar a América como se fosse a espécie de segunda pátria que, na prática, é para a maioria de nós.
Não posso escrever sobre a América. Excepto, é claro, quando a apresentar, a torto e a direito, a título de exemplo de como as coisas devem ser feitas. Nomeadamente, se for em contraponto à alegada desorientação e decadência de Europa.
A América é o nosso ponto de referência, mas só se for para elogiar. Se nos passar pela ideia qualquer crítica, o melhor é olharmos para o lado.
As doenças de certos intelectuais
Critico Bush, ou a imagem que ele dá da América, sofro de anti-americanismo.
Se criticar Sócrates, ou uma certa ideia que ele tem de Portugal, sofro de quê? Anti-portuguesismo?
sábado, 3 de setembro de 2005
sexta-feira, 2 de setembro de 2005
Os desapoiantes
Abriu a época de caça. Nos bastidores, nos telefonemas, nos almoços, cada uma das candidaturas tenta pescar nas águas do adversário.
O PSD registou, e bem, que com Soares não estão agora apoiantes de outrora. Suspeito que, por exemplo, Cavaco, apoiante da segunda candidatura, não fará parte da actual comissão de honra.
quinta-feira, 1 de setembro de 2005
O Américo
Perguntam-me se conheço aquele senhor de bigode escuro muito marcado que hoje aparece ao lado de Mário Soares em 90 por cento das fotos dos jornais
[a anedota é ao contrário - quem é aquele senhor de cabelos brancos que aparece ao lado de senhor de bigodes?, mas agora não é disso que se fala]
e, de facto, até sei. É o Américo.
quarta-feira, 31 de agosto de 2005
Wishful opinion
Alegre é corajoso ou cobarde, a esquerda ganha ou perde em ir dividida, a direita ganha ou perde com mais ou menos candidatos à esquerda, APENAS conforme os desejos de quem opina.
terça-feira, 30 de agosto de 2005
Like an Angel
Este ano - vá lá saber-se porquê, estarei menos popular? - ainda ninguém me pediu para responder a um inquérito de Verão. Não faz mal, respondo na mesma. Por exemplo, à questão n.º 9:
- Que disco levaria para uma ilha deserta?
- Olhe, se fosse hoje, era o For The Stars, da Anne Sofie von Otter com o Elvis Costello. E só por causa da versão absolutamente fabulosa de Like an Angel Passing Trough my Room, um original dos Abba.
segunda-feira, 29 de agosto de 2005
Em contramão
O líder da oposição sugeriu ontem que o Tribunal Constitucional deveria ser chamado a pronunciar-se sobre as reformas dos funcionários públicos.
E porque não sobre as multas de trânsito, professor Marcelo?
domingo, 28 de agosto de 2005
Baralhando paradigmas
A série mais escaldante do estação corre no Libé. Há dias (Vendredi, c'est sodomie), a capa do suplemento de Verão tinha o seguinte título: «Les femmes, ces enculeuses. La sodomie se banalise chez les hétéros. Les femmes serait demandeuses, surtout côté actif.»
Alguém quer traduzir?
A higiene de um país
A limpeza coerciva das matas prossegue, paulatina. Esta noite é em Pombal. Podia ser noutro sítio qualquer.
sábado, 27 de agosto de 2005
Ambição loira, the comeback
[Ou Aguentem aí um bocadinho que só faltam três meses para o fim da crise... (onde é eu já ouvi isto?)]
«Get Up Lisbon» é o título do DVD duplo que a cantora Madonna gravou em 2004 durante os concertos realizados no Pavilhão Atlântico. O DVD será editado em Dezembro, adianta esta quarta-feira o Correio da Manhã. De acordo com a publicação, o DVD terá dois subtítulos - «Re-Invention Tour Live From Lisbon» e «I´m Going To Tell You A Secret?» - e incluirá cenas de bastidores captadas em diversas salas, nomeadamente no Pavilhão Atlântico.
[in Diário Digital]
Elas desesperadas 2
Há pessoas que têm preconceitos. Contra a ciência, por exemplo.
Só posso, por isso, agradecer à Blogotinha o link:
«Genetic differences in intelligence between the sexes helped explain why many more men than women won Nobel Prizes or became chess grandmasters», the study by Paul Irwing and Richard Lynn concludes. «For personal reasons I would like to believe men and women are equal, and broadly that's true», he [o autor do estudo] said. «But over a period of time the evidence in favour of biological factors has become stronger and stronger.»
[Actualização: a coisa, como temia, toma proporções universais. A Blogotinha manda-me ler um jornal australiano, de Helsínquia [Sob a Estrela do Norte] mandam-me para Londres. Espalhemos, então, a notícia...]
sexta-feira, 26 de agosto de 2005
Elas desesperadas
A Lusa publicou ontem uma notícia muito interessante, da qual não encontro rasto na Net. Alguém sabe mais alguma coisa? Como compreendem, o assunto é sério.
Um estudo britânico afirma que os homens têm um quociente de inteligência (QI) médio mais elevado do que as mulheres, segundo dados preliminares divulgados hoje na imprensa. Segundo o estudo, realizado pelos professores Paul Irving e Richard Lin, do Centro de Psicologia da Universidade de Manchester, acima dos 14 anos, os homens têm um QI em média cinco pontos mais alto do que as mulheres da mesma idade, diferença que aumenta nos QI mais elevados.
Desesperado com elas
Eram duas da manhã e ainda estava com mais um episódio do Donas de Casa, gravado poucas horas antes. Acho que, desta vez, na Fox. Acho... porque nunca sei a que horas passa a série e onde. Sic, Fox? Entre repetições, mudanças de horário, episódios aos pacotes, vale tudo. Enquanto não chega a versão DVD, o único remédio é ir espreitando as programações, gravar às escuras, o diabo a sete. Acompanhar a história, tornou-se uma aventura. No sábado, a Fox lá vai passar mais três episódios de enfiada. Já vi? Sei lá. É gravar e depois logo se vê.
quinta-feira, 25 de agosto de 2005
E não é que funciona mesmo?
Bastaram quatro visitas do primeiro-ministro aos fogos e duas interrupções de férias do senhor Presidente para que a coisa amainasse. Os comentadores tinham razão.
Os tipos dos estéreos
A f. [Glória Fácil] regressou de férias e a primeira coisa com que deparou foi com um anúncio de um detergente e coisa e tal, o achincalhamento da mulher e mais aquilo.
Ora eu acho exactamente o contrário. Que essa coisa do gajo vestido de mordomo que vende detergentes para a loiça a senhoras bem casadas se destina a perpetuar a imagem do eunuco (olhe que não, olhe que não, antes pelo contrário) sempre servil para a madame-dos-bonbons-ferrero-rocher.
Os malditos dos estereótipos.
quarta-feira, 24 de agosto de 2005
One more waltz
And I'll dance with you in Vienna
I'll be wearing a river's disguise
The hyacinth wild on my shoulder,
My mouth on the dew of your thighs
And I'll bury my soul in a scrapbook,
With the photographs there, and the moss
And I'll yield to the flood of your beauty
My cheap violin and my cross
And you'll carry me down on your dancing
To the pools that you lift on your wrist.
sábado, 20 de agosto de 2005
Sous aucun pretexte
Sous aucun pretexte
Je ne veux
Avoir de reflexes
Malheureux
Il faut que tu m' explique un peu mieux
Comment te dire adieu
Mon coeur de silex
Vite prend feu
Ton coeur de pyrex
Resiste au feu
Je suis bien perplexe
Je ne veux
Me resoudre aux adieus
Je sais bien qu'un ex
Amour n'as pas de chance ou si peu
Mais pour moi une explication voudrait mieux
Sous aucun pretexte
Je ne veux
Devant toi surexposer mes yeux
Derriere un kleenex je saurais mieux
Comment te dire adieu
Tu a mis a l'index
Nos nuits blanches nos matins gris-bleu
Mais pour moi une explication voudrait mieux
Sous aucun pretexte
Je ne veux
Devant toi surexposer mes yeux
Derriere un kleenex je saurais mieux
Comment te dire adieu
quinta-feira, 18 de agosto de 2005
Eu abaixo assinado
A minha avó, que não sabia ler nem escrever, sentia um certo incómodo, vergonha mesmo, sempre que, para dar autentiticidade a um documento, tinha de sujar o dedo e deixar a impressão digital. Não tinha conhecimentos suficientes para saber que uma impressão digital vale mais, quanto à responsabilidade civil e criminal, que uma assinatura. Mas percebia que, tratando-se de uma questão de honra, de empenhar o seu nome num acto, nada poderia substituir o seu nome grafado pelo seu punho.
[Há por aí um ligeiro debate sobre castas associado a este da assinatura. Passo.]
Fogachos políticos
O Luís [A Natureza do Mal] é então presidente do conselho de administração de uma empresa. Mas (e este mas fará alguma diferença), essa empresa dedica-se, por exemplo, ao import/export (que raio de expressão) de madeira, e possui, digamos, 300 e tal armazéns pelo país fora. Acontece que, todos os anos, ardem, mais ou menos pela mesma altura, dez armazéns (ou parte desses armazéns, para ser mais exacto na metáfora). Para que a metáfora tenha um mínimo de credibilidade, falta acrescentar que, no conselho de administração, há um elemento que tem a seu cargo a gestão dos armazéns e outro a gestão de catástrofes, incêndios incluídos.
Eu peço desculpa de usar com o Luís esta linguagem burocrática, mas limito-me a cavalgar-lhe a metáfora. Porque eu sei que lhe doi a alma com os fumos da Pampilhosa, do Alvão (um Portugal que desconhecia e que, fascinado, descobri há uns dois anos), a Estrela, por aí fora... E é claro que reconheço que, por momentos, a política também se faz com o coração, embora seja no campo do racional que ela deve ter o seu campo privilegiado. Penso, por isso, que Sócrates fez bem em não ter interrompido as férias - o que, de resto, poderá ter alguns custos políticos.
Quanto ao resto, caro Luís, sou bem mais pessimista: a avaliar pelos últimos meses, oportunidades não me faltarão, muito em breve, no sítio onde leu o texto sobre os fogos ou noutro qualquer, para me chatear, muito a sério, com esta governação socialista. Prefiro é fazê-lo por questões de substância, não por esta espuma de Verão.
quarta-feira, 17 de agosto de 2005
Exclusivo, última hora
O Manuel acaba de escrever uma coisa sensata: «Dividir o mundo entre uns e outros é no mínimo contraproducente.»
Opinar sem se chatear (ou ser chateado)
O Manuel dá a conversa por acabada.
Como, para mim, nunca nenhuma conversa está acabada, ainda tenho duas ou três coisas a dizer:
1. Não vale a pena virem com a treta de que quero silenciar alguém, ou sequer que fujo ao debate (incluindo com com quem não põe o nome em baixo). O que escrevi, e repito, é que a valorização que dou às coisas é diversa. Dar a cara pelas suas ideias é a maior das liberdades - estas são as minhas ideias, a cada momento posso mudar, a cada momento posso concordar ou discordar de quem quer que seja.
2. Quando falo em pôr o nome é o nome. E não o nome feito. E a blogosfera é precisamente um dos melhores exemplos. Ao longo destes dois anos, habituei-me a respeitar muitas opiniões de pessoas que não tinham nome e que não têm acesso aos media tradicionais. Mas que são muito boas na análise e na opinião.
3. Para o Manuel (isso é perceptível no texto sobre Cintra Torres), opinião válida só mesmo a que é do contra. É um mundo feito de permanentes conspirações e de agendas secretas. E às vezes as coisas não são assim.
4. O Irreflexões mete-me no saco dos «pouco habituados a terem de provar o seu valor», frase pela qual só o posso mandar bardamerda. Não tenho feito outra coisa na minha vida profissional que provar, a todo o momento, que sou capaz.
5. O Manuel deixa cair, às tantas, uma frase que resume esta conversa: Ter opiniões e visões sobre o mundo sem ter de se chatear por causa disso. É, obviamente, um direito de qualquer cidadão. Havendo, em contrapartida, quem se ache no direito de discordar.
Opinião, anonimato e responsabilidade
Que se escreva de forma anónima nos blogues nunca me incomodou. De resto, este blogue já teve, quanto à assinatura, configurações diversas. Sendo formalmente anónimo (JMF nada quer dizer), na substância nunca o foi.
Que os blogues, mesmo anónimos, exerçam uma função de watchdog em relação aos poderes, sejam eles políticos ou mediáticos, também não me incomoda. Sou daqueles que acha que as cartas anónimas não devem ser publicadas, mas que o seu conteúdo é passível de investigação. Contextualizo, por isso, as denúncias sobre pessoas e factos que vou lendo nos blogues, assim como nas muitas notícias baseadas em fontes anónimas. No que a matérias de facto diz respeito, quase que por tique profissional, habituei-me a joeirar as coisas, a tentar perceber o que é facto factual e o que não passa de facto ficcional.
Já quanto à opinião, tudo muda. Que valor tem uma crítica, uma opinião, face a um político, um juiz, ou um jornalista, quando essa opinião vem de alguém que se esconde atrás do anonimato ou do pseudónimo? Nesses casos, não estamos, de facto, perante opinião, mas apenas face a bocas. Equivalem àqueles apanhados de rua que as televisões fazem quando querem saber o que pensam as domésticas e os desempregados acerca da contenção da despesa pública. Podem ter um interesse lúdico, para quem não tem mais nada que fazer. Pouco mais.
PS: o josé, que escreve na Grande Loja, salvo erro num comentário no Quarta República, acerca desta questão do anonimato, vai buscar Cunhal para dizer que nunca ninguém se incomodou com o pseudónimo de Manuel Tiago. Isto é misturar alhos com bugalhos. Trazer o pseudónimo literário para a conversa é colocar a opinião dos blogues ao nível da ficção. É claro que se uma opinião destas tivesse sido expressa, por um exemplo, por um magistrado, eu ficaria bastante preocupado - que raio de critérios usará ele na sua vida profissional? Mas, como se trata de uma opinião anónima, passo à frente.
terça-feira, 16 de agosto de 2005
Já agora...
... poderá o Manuel esclarecer-nos acerca da coragem que é necessária ou do que é preciso abdicar para ter opiniões fortes e polémicas e incómodas para os poderes em blogues feitos por antigos e actuais assessores de gabinetes governamentais, filhos de famosos advogados da praça, ou simplesmente em blogues colectivos tipo «sociedade anónima», if you know what I mean.
segunda-feira, 15 de agosto de 2005
'Tadinho do Mainardi
Isto da escrita é uma coisa tramada. Escrevemos e, vaidosos que somos, achamo-nos graça e chegamos a pensar que temos razão.
Por exemplo, o Manuel cita uma data de tralha do Mainardi [com uma insinuação final que não me apetece comentar]. Fiquemo-nos pelo Mainardi. Por exemplo:
«Para fazer polémica é preciso se indispor com muita gente e estar disposto a perder muita coisa.»
Acontece que o Diogozinho, antes de se dedicar exclusivamente a escrever na Veja e a dar entrevistas sobre si próprio, vivia em Itália, onde (diz noutra entrevista) escrevia um livro de três em três anos. Pergunto eu: de que vivia o menino, do que foi obrigado a abdicar, com quem se indispôs (além de Lula, é claro)? Poderá o Manuel elucidar-nos?
Os comentadores comentados
O Abrupto publica um mail de Estrela Serrano, criticando os que criticam as férias do primeiro-ministro, e que toca num tema pouco debatido na blogosfera: a (ir)responsabilidade dos comentadores. Um excerto:
.
«É verdade que não temos escolas de formação de quadros políticos e que os nossos governantes saem, em geral, dos quadros partidários, muitos deles com passagens breves por instituições públicas ou privadas, sem grande conhecimento da sociedade que depois vão "governar". Mas, essa impreparação também existe em muitos comentadores, oriundos do jornalismo e de outras áreas, de quem se esperaria uma intervenção informada e consistente, pela responsabilidade que detêm no espaço público mediático, mas que pouco mais fazem do que desenvolver um criticismo sistemático dos políticos do governo ou da oposição, feito de frases sonantes ou de sínteses apressadas de leituras em diagonal. Essas frases sonantes, tanto mais repetidas quanto mais demolidoras se revelarem, correm o risco de afastar os (poucos) que ainda lêem jornais e votam em eleições. Dir-se-ia que o deserto de ideias que se nota nos governantes existe também nos seus críticos.»
U2 (reposição)
[O Verão é o tempo por excelência das reposições. Enfim, presumo que apenas por falta de motivo. Ou de paciência para fazer de novo. Aí vai, então, um copy & paste de um texto aqui publicado em Setembro de 2003.]
A Uncut de Outubro (à venda esta semana em Portugal) dedica a capa aos U2 e ao disco The Joshua Tree, editado em 1987. A revista lembra que foi com aquele disco que a banda conquistou o mundo, leia-se a América. E a generalidade das referências da música pop/rock assinalam-no como a obra-prima do grupo irlandês.
Como bónus, a revista oferece um CD de música americana In God's Country, The Music That Inspired The Joshua Tree. A América terra sagrada, terra de todas as utopias. Nas vozes de Woodie Guthrie, Hank Williams, Elvis, Robert Johnson, Staple Singers, John Lee Hooker... Enfim uma recolha séria, muito séria, das raízes, não apenas de Joshua, mas de toda a música pop/rock.
Se tivesse de eleger uma música símbolo das décadas que vivemos, não teria dúvidas em optar pelos U2, apesar de nem estar no topo das minhas preferências.
Os U2 não inventaram nada, não influenciaram especialmente os seus contemporâneos, não sintetizam na sua música as tendências marcantes destes anos.
O que os torna únicos e paradoxalmente emblemáticos é a maneira como fazem convergir na sua música (ainda não falo das letras...) coisas tão próprias, se bem que por vezes contraditórias, dos tempos que vivemos: uma certa tensão, o desespero, a falta de horizontes, a claustrofobia num mundo a que já demos a volta e no qual não sabemos que mais fazer, mas também a desejo de tentar romper fronteiras, uma violência lírica, um inconformismo sem cedências.
A batida, o baixo poderoso, as guitarras agrestes, a electrónica planante. Tudo colocado ao serviço de um conceito estético muito peculiar.
Nas letras, nos temas, nas causas que abraçam, os U2 representam, igualmente, esta época de desesperos e esperança. Ilusões e desilusões. Uma época sem referenciais, uma época em que sobreviver pode ser a causa derradeira. Sobreviver por entre alguma beleza, a verdadeira utopia.
domingo, 14 de agosto de 2005
Mainardi
O Diogo Mainardi é um betinho da elite brasileira com jeito para o português. Apenas isso. Escreve mal do Lula numa perspectiva do contra. Uma espécie de Vasco Pulido Valente, mas com alvo. Ele não critica acções concretas, objectivas, de Lula. Ele critica TUDO em Lula. Como a velha cassete do PCP em relação aos capitalistas. Tudo mau. Não percebo qual o interesse deste tipo de posições. Nem o arrojo de quem as toma.
Quanto ao resto, por muito paradoxal que isto lhe pareça, sou muito menos optimista que o Manuel. A realidade continuará seguramente a ser dourada com pílulas, aqui e lá. It'a a never ending story.
Milagres de Verão
Em alguma blogosfera, os noticiários da TVI tornaram-se subitamente modelos de jornalismo.
As férias exemplares
No país onde os juízes, professores e mais uns tantos têm meses de férias. No país onde cada feriado equivale, em média, a dois ou três dias de ausência do trabalho, entre pontes e outros expedientes. No país onde os servidores do Estado têm um vasto leque de cláusulas que legalizam a balda. No país que tudo faz para garantir as mais baixas taxas de produtividade do mundo civilizado e do outro mundo. Nesse país, clama-se que o primeiro-ministro não pode ir de férias. Porque o país «está a arder», como esteve em todos os verões da nossa memória. Porque, obviamente, o exemplo tem de vir de cima. E nós, sem exemplo, somos lá capazes de sobreviver.
Em chamas
Voltando a Vilar Formoso. Num rápido zapping por duas ou três estações de rádio, sou informado de que «vários distritos continuam em chamas».
Eu sei que o dr. Louçã caiu em desgraça entre os opinion makers. E que o dr. Costa - função oblige - idem aspas. Mas eles têm razão. As labaredas andam descontroladas pelos media.
PS: e onde estão as muitas almas que se indignaram com o circo mediático de Entre-os-Rios? E que elogiaram a discrição dos media nos atentados de Londres? Pois...
sábado, 13 de agosto de 2005
Fora de contexto
Há dias, a fronteira de Vilar Formoso era o prelúdio do fim do mundo. O ar abafado, o horizonte em tons de vermelho sujo, o ar irrespirável. O fumo parecia desconhecer Schengen, respeitava a fronteira. No Rádio Clube, passava There's a Kind of Hush, dos Carpenters, a canção mais estupidamente feliz que existe à face da terra. Percebi que algo não batia certo. Estava de regresso à Pátria.
sábado, 23 de julho de 2005
(...)
Nos próximos dias (muitos, espera-se...) a actualização deste blogue vai ficar (muito) dependente do GSM, do GPRS, do WIFI e do PDA. Uma trabalheira.
sexta-feira, 22 de julho de 2005
Olhe... ponha-me isso num estudo
[Resposta ao Milhafre, obviamente sem qualquer intenção de descredibilizar.]
Ia jurar que a A1 já tinha três faixas até Aveiras (ou seria Carregado?) antes de 2001. Porém, para o confirmar, teria de ler uns estudos ou, no mínimo, consultar o Google. Mas estou sem tempo e, confesso, paciência.
Quanto aos estudos tenho um problema: nunca sei quais ler - os que são a favor, ou os que são contra.
Ponham dois cientistas, engenheiros, especialistas, seja o que for, a discutir a Ota ou o TGV e verão como muito rapidamente desatam a esgrimir com mais violência que qualquer político. Verão ainda como todos os argumentos técnicos se destinam a sustentar uma tese prévia. Ou seja, como a ciência é posta muito rapidamente ao serviço das convicções. Quase uma fé.
Temos, assim, os media pejados de cientistas que são pró e contra o nuclear, especialistas que são contra e a favor da co-incineração, da fertilização in vitro, do aborto, da regionalização, do combate ao terrorismo...
Uma das consequências da hipermediatização em que vivemos é que a ciência, os estudos, não só deixaram de ser o território neutro por excelência, como passaram a ser ele próprios os principais protagonistas das polémicas. Insisto: relatórios, estudos, especialistas, são hoje apresentados apenas para confirmar teses apriorísticas e só muito raramente para esclarecer ou ajudar a decidir. Exemplo acabado disso são os famosos pareceres jurídicos, sempre feitos à medida da encomenda.
Com a Ota e o TGV passa-se exactamente a mesma coisa, pelo que me dispenso sequer de tentar ler os famosos estudos. Leio opiniões e nenhuma delas é equilibrada - cada um colige os dados que mais se colam à sua ideia preconcebida. Tão simples como isso.
E é por isso que não tenho opinião sobre a Ota e o TGV. Não é por preguiça. Aliás, se quisesse ter opinião, seria fácil - faria como toda a gente. Primeiro, decidia de que lado queria estar, depois arranjava uns números que confortassem essa opção.
Prefiro, por isso, ficar-me pela apreciação da espuma da decisão política. E, face às indecisões de décadas, confio nas decisões do presente. E volto a insistir - confio porque decidi confiar e não por ter feito qualquer estudo sobre a matéria. Aliás, desconfio que se fizesse um estudo ele dar-me-ia inteira razão...
Há, porém, um aspecto quase trágico, porque cómico, em toda esta questão do TGV e da Ota. É a teoria da conspiração levada para lá dos limites do razovável. Há um ministro que se demite por causa da Ota (!), há um partido que obriga o seu Governo a fazer a Ota (!!) devido, é claro, aos mais inconfessáveis propósitos... - como se isso não estivesse no programa eleitoral... - e andamos todos muito entretidos a dar razão a uns e a tirar a outros. Porque, de fonte muito segura, topámos tudo o que se está a passar. Pudera... está tudo estampadinho num estudo.
quinta-feira, 21 de julho de 2005
Cuidado... há aviões na auto-estrada !
A auto-estrada do Norte terá que ser duplicada naquela zona. Qualquer leitor que conheça a A1 naquela zona, sabe que estamos a falar de um terreno acidentado. Há espaço? Quanto custará? Alguém já fez o estudo de construção?
Na zona do aeroporto da Ota, a A1 já tem três faixas para cada lado, o que dá um total de seis faixas. Com a duplicação, ficaríamos com 12 faixas. Obviamente, o estudo consultado prevê a aterragem de aviões na auto-estrada... Será por isso que o mesmo estudo assegura que no local só podem ser construídas duas pistas?
Shiu... não contem a ninguém
Fico sempre espantado com o que certas pessoas sabem:
A demissão de Campos e Cunha têm apenas um motivo : A construção da Ota, move demasiados interesses imobiliários comprometidos com o PS, e que ao poder o conduziram, que jamais algum ministro poderá questionar.
quarta-feira, 20 de julho de 2005
Luís Vaz de Cervantes
Numa mesa-redonda sobre o Mercosul, um dos embaixadores presentes previu, sem qualquer sombra de sorriso, que daqui a uns anos, umas décadas, o portunhol será reconhecido como língua.
[Imaginem as discussões que se poderiam fazer a partir desta ideia.]
terça-feira, 19 de julho de 2005
Estação terminal
Já andava desconfiado... o Manuel [GLQL] passa as tardes a ver os Morangos com Açúcar. Visualmente, é agradável, mas temo que já não seja para a minha idade. Ou que, só de ver, fique abrangido por qualquer disposição do Código Penal.
Quanto ao resto, lamento dizê-lo, mas o Manuel só quer mesmo é conversa. Discorda por discordar, o que é uma óptima ginástica mental. Mas é uma droga - uma espécie de Morangos com Açúcar (sendo este em itálico) - que não leva a lado nenhum.
Infelizmente, este blogue está a entrar em regime de pré-férias. Note-se o ritmo: primeiro a entrar, depois em pré, e só depois férias. Qualidade de vida... E é só por isso que a conversa, pela minha parte, vai ficar por aqui. Não é, como o Manuel gostaria, por desprezo a pessoas que, como ele, tiram umas horas valentes ao descanso para se porem a discutir a Pátria. Há uma semana que ando às turras com o Manuel e ele ainda acha que eu só ligo ao risível Freitas e a outros emproados. Não há pachorra... Como, aliás, a sua última réplica já denota - estamos, afinal, a falar que quê?
PS: moro aqui às portas da Amadora e esta noite há uma fumarada que não se aguenta. O Manuel, que sabe sempre tudo, poderá esclarecer-me se a caça aos raposos é feita com recurso a queimadas?
Ideias com retorno
Na Grande Loja, insiste-se na questão do TGV. E eu sou obrigado a repetir-me para que não ponham no meu blogue coisas que nunca escrevi.
1. Nunca escrevi que o TGV seria prioritário, ou que nos tiraria do poço. Verdadeiramente, nem sei se será útil. Repito: não percebo disso o suficiente.
2. Escrevi e repito que, numa economia como a nossa, o estado, infelizmente, ainda é o motor de muita coisa. E é-o não por opção política, mas apenas por escandalosa omissão de quem deveria assumir esse papel - os privados.
3. O que eu escrevi, e repito, é que o plano de investimento que o Governo anunciou, e volto a repetir, o plano, constitui um sinal de esperança.
4. Aqui, no blogue, e noutros sítios, tenho insistido em que o défice não é o nosso principal problema. Que o nosso principal problema é a economia, se quiserem, o crescimento. Enquanto este não fôr apresentável, o défice nunca será resolvido, ou sê-lo-á pontualmente.
5. O António Duarte recorda os casos da Expo e do Euro. Quanto ao futebol, está coberto de razão. Retorno, aquilo? Já no que se refere à Expo, estou convencido de que nunca ninguém se dedicou a fazer um estudo sério sobre o real impacto, ao longo dos anos, ainda hoje, daquele investimento na economia. Reconheço que há uma dificuldade - muito desse impacto não foi directo, nem talvez seja possível medi-lo.
6. O caso do Manuel é, sejamos benévolos, mais complicado. Ele quer que eu tenha uma ideia, eu, simples mortal, que a última coisa de que me lembraria na vida era ir para a política. Não Manuel, não tenho de ter uma ideia. Se tivesse, já tinha feito um partido. O mesmo, diga-se, passa-se com o Manuel. Ideia? Népia. A única coisa que consegue encontrar para tirar o país do buraco, em alternativa ao TGV que ele pensa ser a minha proposta, é esse banalidade do mérito. Até eu, rapaz sem ideias, já tinha conseguido chegar lá. Não, Manuel, o país precisa de qualificação, mérito se quiser, mas isso não chega. Nem uma ideia, precisa de várias. Se cada um for tendo uma, viável, interessante, com retorno, por pequena que seja, tudo junto é capaz de nos levar a algum lado.
domingo, 17 de julho de 2005
Lição de ortografia
Na entrevista ao político muito conhecido, sobre descolonização, a pergunta saía da agenda. A resposta não lhe ficou atrás.
- E o Acordo Ortográfico.
- Sabe... a ortografia está em decadência. Hoje, vinga a linguagem oral. E a electrónica, que não respeita ortografias.
sexta-feira, 15 de julho de 2005
Os leitores com espaço próprio (XIII)
O A. João Soares (Cascais) está de parabéns. Hoje, publica uma carta na Sábado e outra no Independente. Diferentes e tudo.
Mania de perguntar
«What turns a man into a terrorist, and what can be done about it», pergunta hoje, em título, a Economist.
Esta mania de fazer perguntas é que nos leva à desgraça.
quinta-feira, 14 de julho de 2005
Traidor, mil vezes traidor
O ex-comissário europeu António Vitorino defendeu hoje que o combate ao terrorismo passa pela não hostilização das comunidades islâmicas na Europa, e por conseguir a adesão das moderadas contra os sectores mais fanáticos e radicais.
E foi este o homem que inventou umas medidas contra o terrorismo na Europa. Agora, capitula. Traidor.
[Adenda: recebi um mail de alguém preocupado pelos insultos a AV. Quem lê este blogue, nomedamente a polémica sobre o combate ao terrorismo, sabe que se trata de ironia. Para os outros, fica aqui o aviso.]
Perceber, compreender, combater
"Did you see this man at King's Cross? Was he alone or with others? Do you know the route he took from the station? Did you see him get onto a No 30 bus? And if you did, where and when was that?"
A polícia inglesa não pára de fazer perguntas.
Do que tu gostas sei eu
O senhor Denis Olivennes, presidente da FNAC, veio a Portugal e a Visão entrevistou-o. Diz ele, em título: «Não gosto de impostos». Na foto, coloca as mãos sobre a máquina que lê os códigos de barras. Olha, Denis, do que tu gostas sei eu.
[Post-lamento de um consumidor consumido].
TGV, uma resposta ao ralenti
Há dias, registei a coincidência de Espanha e França estarem a anunciar planos de investimentos muito semelhantes aos de Sócrates. Registei, apenas.
O Manuel [Grande de Loja do Queijo Limiano], olho vivo, logo viu nisso gesto de propaganda. E desata numa arenga sobre o TGV, o desgraçado deste país e mais umas coisas que podem ler aqui.
Não sou nem contra, nem a favor do TGV. Não conheço estudos, impactos e etc. Não tenho competência técnica. Outra coisa, bem diferente, é considerar que o Estado português, seja qual for o Governo, tem, obrigatoriamente, de ter um papel, decisivo, dinamizador, na economia. Se ficamos à espera da iniciativa privada... Nesse contexto, parecem-me do maior interesse iniciativas como os planos de investimento anunciados pelo Governo.
Ao Manuel, isto faz confusão. Como pode um país com um défice deste tamanho, fazer investimentos avultados? A minha resposta é outra pergunta: devemos, então, ficar quietinhos à espera que o défice se resolva e que tudo à nossa volta apodreça?
Os leitores com espaço próprio (XII)
A. João Soares (de Cascais) publica hoje uma carta na Visão e outra no 24 Horas. Outra, não. É a mesma. Curiosamente a mesma que já publicara, esta semana, salvo erro, na Capital.
Curioso é o tema: os impostos e os motoristas do ministro da Justiça, um tema que foi manchete no Correio da Manhã e que o próprio jornal desmentiu, de forma oblíqua, no dia seguinte.
Porque estamos a perder a guerra
contra o terrorrismo.
Porque pessoas como José Pacheco Pereira - cultas, inteligentes e aparentemente disponíveis - acham que é traição metermo-nos na cabeça do inimigo. [Público de hoje, inlincável]
Defende que nos atiremos a eles, nem que seja à dentada. Se soubermos onde morder, principalmente se soubermos onde se localizam as veias jugulares e as cabeças da hidra, seremos bem mais eficazes. Morder nas canelas não me parece que dê outro resultado que não seja acicatar a besta.
[Act: o Lutz, Quase em Português, comenta, com grande pertinência, o texto de JPP, nomeadamente no que respeita ao paralelismo com Hitler; no Fonte das Virtudes, há outro bom texto de reflexão sobre a palavra negociar.]
quarta-feira, 13 de julho de 2005
Negociar
Negociar, tal como entendo o verbo, implica sempre ganhos e cedências. O problema, caro FNV [Mar Salgado], é que não encontro nada que possa ceder aos terroristas.
Marketeiro
O Manuel [Grande Loja] acha que me insulta chamando-me Edson Athayde. Engana-se.
E está enganado.
A Espanha construiu a primeira linha de TGV, já lá vão uns anos, enquanto equilibrava as contas públicas. O resultado está à vista.
A França é tão avançada tecnologicamente que inventou a Net antes da Net (chamava-se Minitel, lembram-se?) e foi o flop que se viu. E agora ainda anda às voltas com o abissal afundamento da língua francesa na Net, americana como se sabe.
O problema de Portugal é outro - os grandes centros de excelência e de influência, como a GLQL, estão sempre do contra...
Seduzir, desarmadilhar
Reparo agora que FNV [Mar Salgado] utiliza o termo negociar. Acho que vai longe demais.
Prefiro os verbos seduzir, desarmadilhar. E explico.
Negociar com terroristas parece-me fora de questão. Não apenas pelas questões práticas que FNV assinala, mas especialmente por questões de princípio.
Acho, porém, que antes de lançar duas ou três bombas atómicas sobre uma certa zona do globo, algumas coisas podem ser feitas.
Estou a pensar em coisas que têm a ver, grosso modo, com a diplomacia, o trabalho nas organizações internacionais, a espionagem, os serviços secretos. E não excluo, obviamente, acções armadas, desde que contidas e dirigidas a alvos específicos. Nada do tipo Iraque ou algo semelhante.
E as acções em que estou a pensar nem sequer se dirigem aos terroristas. Mas sim ao meio em que nascem e florescem. Falemos claro: aos países islâmicos.
É necessário apoiar todas as experiências democráticas, de abertura, que separem o estado da religião. Mais que apoiar, é preciso incentivar. Apoiando os moderados, injectando dinheiro nos países ou zonas que caminhem nesse sentido. Punindo, vetando, sancionando os radicais. Se for caso disso, o uso da força é legítimo (ir buscar o Bin Laden ao Paquistão? uma força rápida de intervenção pode fazê-lo).
É nesse contexto que me parece um disparate, gasolina no fogo, a invasão do Iraque. É nesse contexto que me parece que nada terá solução enquanto o Ocidente (digo, os EUA) não mudarem a sua política para a Palestina.
O terrorismo alimenta-se de condições específicas, onde germina o ódio ao Ocidente. É por isso que falo em seduzir. Não os terroristas, mas a sua hipotética base de apoio, que apoia os que estão no activo e de onde saem todos os dias novos terroristas. Só conquistando essa gente para o nosso lado será possível desarmadilhar o terrorismo.
terça-feira, 12 de julho de 2005
Compreender
Dizia Isaiah Berlin que antes de tentar mudar o mundo, é preciso compreendê-lo. Uma escalada militar impede essa tentativa de compreensão, oferece pólos de sedução aos mártires e pretextos à quinta coluna. Negociar, ganhar tempo, obter informação, expor identidades, é coisa para homens de barba rija e narizes treinados.
[Por vezes, sabe-se lá porquê, distraio-me e esqueço-me de ler com atenção o que escreve FNV, no Mar Salgado. A inteligência ao serviço de um bom debate. Mesmo quando dele discordo. O que até nem é o caso.]
Perceber
Não estará mesmo a ver como é perigoso: perceber?! Que perceber é meio caminho andado para ceder, capitular, concordar com eles? Não me venha com aquela de quem tem confiança no seus valores pode permitir-se perceber. Isto é treta: Confiança. Mesmo auto-confiança. A auto-confiança, pelo contrário, precisa de que não se sabe demais. Perceber é traição.
[Ironia. Genial. Quase em Português]
A luta contra o terrorismo
Os atentados de Londres foram realizados por quatro suicidas british born. Obviamente, isto não interessa. São pormenores. Interessa é que os gajos são uns cães.
Entretanto, na posse destes pormenores sem importância, a polícia inglesa realizou hoje uma série de operações, identificou pessoas, deteve outras, encontrou as pistas, os esconderijos.
Os milhões, lá fora
Em França:
67 pôles de compétitivité pour dessiner une nouvelle France industrielle
Le gouvernement a rendu publique, mardi 12 juillet, à l'issue du Comité interministériel d'aménagement du territoire (CIADT), la liste très attendue de ces projets. Réunissant entreprises, chercheurs, centres de formation, ils recevront une dotation de 1,5 milliard d'euros sur trois ans.
Em Espanha:
El Plan Estratégico de infraestructuras y transporte
Zapatero promete unir todas las capitales de provincia por AVE y autovía en 2020.
Eva Longoria, hoje, em entrevista ao El Pais:
P. Su personaje es controvertido porque mantiene una relación con un menor y está casada por dinero. En una sociedad conservadora como la estadounidense, ¿ha habido presiones de la cadena ABC para que su personaje sea menos atrevido?
R. No, y me sorprende mucho que no las haya. Al principio pensé que eliminarían enseguida el personaje, pero se ha convertido en uno de los favoritos en parte porque es uno de los preferidos por el público femenino. Muchas mujeres se encuentran en una situación como ésa, un matrimonio sin amor, una relación sin pasión...
P. ¿Pero cree que ése es un perfil habitual, el de una mujer hispana, joven y atractiva, casada por dinero?
R. Creo que es la primera serie que presenta un retrato positivo de los hispanos. Por fin somos los ricos del barrio, y tenemos un jardinero blanco. En la serie, mi marido y yo somos gente con estilo. Nadie nos mira mal, no somos la minoría racial. Hasta ahora, los hispanos que salían en televisión eran señoras de la limpieza o jardineros.
P. ¿Usted cree que el modelo de Wisteria Lane, la calle en la que viven las Mujeres desesperadas, es comprensible en otros países, como España?
R. No sé en España, pero en el Reino Unido la serie va muy bien en parte porque en ese país nació la comedia negra. Tenemos mucho interés por saber cómo funciona en España o Alemania, porque en esos países los valores son muy diferentes a los de EE UU. Quizá mi personaje sea un problema para ellos, pero sólo queremos hacer reír y pensar.
P. No me diga que piensan ustedes que España es un país más conservador que EE UU...
R. No, desde luego los estadounidenses son demasiado conservadores. Se han quejado de algunos argumentos de la serie, pero en televisión, hoy en día, hay mucha más violencia que sexo. Yo prefiero que haya más sexo, porque no hace daño a nadie, y ver a una de mis compañeras desnuda que a Bruce Willis pegando tiros.
Os leitores com espaço próprio (XI)
Isto hoje está calmo - é só desconhecidos. Sugere-se, porém, ao senhor Esperança (de Coimbra) e ao senhor Soares (de Cascais) que ataquem o Jornal de Notícias. Tem uma página inteira só com cartas de Rio Tinto, Feira e São Mamede de Infesta (!). Um desperdício.
[I don't know what to do. Every time I look at you I feel so completely dismantled.]
A partir de vários computadores, utilizando vários motores de busca, mas sempre no Brasil, têm sido procurados neste humilde blogue, com alguma insistência nas últimas horas, episódios de L Word.
Não tenho.
segunda-feira, 11 de julho de 2005
Os leitores com espaço próprio (X)
O C. Medina Ribeiro (Lisboa), publica hoje uma carta no Diário de Notícias. A mesma que publicara sábado na Capital.
Os leitores com espaço próprio (IX)
O Carlos Esperança (Coimbra), hoje escreve no Diário de Notícias.
Os leitores com espaço próprio (VIII)
O A. João Soares (de Cascais), que no domingo escrevia nas secções de cartas do Público e do Diário de Notícias, escrevera na Capital, no sábado.
Relativismos
Srebrenica. Foi há dez anos. E não é possível esconder, após uma década de tentativas frustradas de mostrar que tudo não passou de uma invenção mediática. Só ali, desapareceram quase 8 mil pessoas (quase dá vontade de comparar com outros massacres da idade contemporânea...). Dos desaparecidos na guerra da Bósnia, 85% eram muçulmanos, 12% sérvios e 3% croatas. Bárbaros são os outros, evidentemente.
domingo, 10 de julho de 2005
Xenofobias
Sobre o famoso arrastão de Carcavelos, já nem sei que pensar: foram os filhos da puta dos pretos, ou os filhos da puta dos jornalistas?
Repórter em chamas
Na televisão está uma rapariga deambulando sobre cinzas fumegantes. Percebe-se que a única coisa que arde é um amontoado de ferro-velho. Percebe-se porque se vê. Do que ela diz, nada se entende. Está ofegante, atropela as palavras. Ofegante e quase fumegante. Jornalismo em estado puro, ou seja, antes de qualquer intervenção humana.
Os leitores com espaço próprio (VII)
A. João Soares (Cascais) escreve, hoje, no Público, sobre impostos e tabaco, e no Diário de Notícias, sobre a ajuda a África. Este homem é um poço de opiniões.
Desesperada
Gabrielle, a latina, ao lado da sogra em coma, tenta convencer o padre, enganar o destino:
«E se eu me confessar, vou para o Céu? E tem de ser hoje, não pode ser quando fizer 75?»
sábado, 9 de julho de 2005
Outra coisa
são, por exemplo, as sempre muito criticadas declarações de Mário Soares.
O que ele diz, no fundo, é que, para melhor lutar contra o terrorismo, temos de conhecer as suas causas, o campo onde germina, e combater as condições que o levam a crescer. E corrigir, se for caso disso, os actos que, do nosso lado, adubam essa planta daninha.
Tudo isto me parece muito razoável e até sábio. Só um tonto se lança numa guerra contra algo ou alguém sem, antes, tentar perceber o que leva o outro a estar em guerra. Quanto a esta guerra específica, na qual já se percebeu que o poderio militar não é factor de vantagem, haverá mesmo todo o interesse em desarmadilhar o inimigo, retirando-lhe as motivações, enfraquecendo a sua base de apoio.
A ideia de que os terroristas são simplesmente loucos fanáticos é inoperante. Devemos ouvir o que dizem, tentar perceber o que dizem e porque o dizem, para que, combatendo essa argumentação, lhes retiremos força.
Bradar que «somos todos ingleses», que «a razão está do nosso lado e por isso venceremos» parece-me uma atitude tão idiota, por ineficaz, como desatar a bombardear o Iraque.
À irracionalidade do outro campo só podemos responder com mais inteligência. E o primeiro acto de inteligência talvez seja de tentar encontrar pontos de convergência, de aproveitar todas as forças que estão do nosso lado, em vez de trabalhar com vista a detectar todas as mais mesquinhas divergências.
Londres, 07.07.05 (esclarecimento a pedido)
Não conheço ninguém que tenha dito «estavam mesmo a pedi-las».
Que alguém, perante o que aconteceu em Londres, dirija o primeiro pensamento para os que ao seu lado NÃO estão a dizer nada daquilo é revelador do estado de insanidade a que chegámos. Ou seja, o ódio e a vigilância privilegiam quem está mais próximo, do nosso lado, e não os bárbaros. Acho que não há muito mais a esclarecer, caro MaGuffin [Contra a Corrente].
sexta-feira, 8 de julho de 2005
Desesperadas. Desesperadas. Desesperadas
Sábado, às 21.15. Domingo, às 17.15. Três-episódios-três de Donas de Casa Desesperadas. Canal Fox.
[Post publicado ao abrigo da lei do serviço público].
Os leitores com espaço próprio (VI)
A. João Soares (Cascais) escreve hoje na secção de cartas do Independente. E amanhã?
quinta-feira, 7 de julho de 2005
Os leitores com espaço próprio (V)
E continua. O A. João Soares (de Cascais), hoje, escreve na Capital. E amanhã?
Londres, 07.07.05
Nestes dias, há sempre uma coisa muito irritante: aqueles que se abeiram para dizer «estavam mesmo a pedi-las».
E há uma coisa ainda mais irritante: aqueles que se chegam à frente para protestar contra aqueles que dizem «estavam mesmo a pedi-las».
Por exemplo: nos blogues, já encontrei uma data deles a debitarem a segunda tese, nenhuma a primeira.
quarta-feira, 6 de julho de 2005
Os leitores com espaço próprio (IV)
O A. João Soares (Cascais) escreve hoje no Público. Onde escreverá ele amanhã?
G8, fora nada
O que é mesmo bom é escrever num blogue de direita, perdão, num blogue liberal...
Por exemplo, sobre os G8. Fica-se imediatamente dispensado de escrever sobre o essencial. O que é, ou não, discutido. Basta dizer umas banalidades sobre os idiotas que se manifestam cá fora.
terça-feira, 5 de julho de 2005
Os leitores com espaço próprio (III)
O Carlos Esperança (Coimbra) tem hoje uma carta no DN.
O Hugo Daniel Oliveira (Lisboa), que já chegou a ter uma coluna no DN (!), tem hoje mais uma (!) carta no Público.
Os leitores com espaço próprio (II)
O Cibertúlia seguiu o rasto a Carlos Esperança. E o A. João Soares (Cascais), por onde andará ele?
segunda-feira, 4 de julho de 2005
Os leitores com espaço próprio
As cartas dos leitores são uma das secções mais menosprezadas dos jornais. Em alguns casos, como nos semanários que saem ao sábado, são muito lidas simplesmente porque desmentem as notícias mais interessantes da semana anterior. No resto dos casos, são lidas pelos próprios e pouco mais. Outra das curiosidades é que aquele espaço é uma espécie de Opinião 2, onde escrevem sempre mais ou menos os mesmos. Por exemplo, este fim-de-semana, lá vinha o A. João Soares, de Cascais, num semanário e num diário. Para a semana, quem sabe?, será a vez do Carlos Esperança, de Coimbra. Se calhar, também têm blogues.
domingo, 3 de julho de 2005
Velhos com causas
O Canal 1 está a repetir a maratona Live Eight. O que mais salta ao ouvido é que (quase) todas aquelas canções são velhíssimas. Como o problema que ali as levou, dir-se-á. Não me parece que isso tenha sido propositado.
sexta-feira, 1 de julho de 2005
quinta-feira, 30 de junho de 2005
Um aborto
Cavaco lá estava na televisão a explicar que referendo ao aborto agora não porque há prioridades muito mais importantes para o país por exemplo a economia.
O cavaquismo no seu pior - ou seja, com aquele toque de salazarismo de que o povo tanto gosta.
Não percebo que consequências pode ter na economia uma consulta popular para uma mudança legislativa numa matéria como o aborto.
Dois anos
E agora? Como agradeço a tantos que se lembraram? E elogiaram, quase sempre com palavras excessivas? E os outros, os que não se lembraram, ou lembraram mas não ligaram? E os outros? E eu, se me esqueço de algum?
Um sincero e largo agradecimento a todos.
quarta-feira, 29 de junho de 2005
Perguntas de uma tarde de Verão
Porque será que, dos países civilizados, Portugal é o único onde a água com gás se vende apenas em garrafas de 25cl?
Blairg
Tanto barulho e eu sem nada para declarar.
Ainda se tivesse um blogue minimalista... fazia como o António, uma lista. Assim, faço à mesma como o António, um blairg, um «blogue da terceira via». Que é o que isto é.
E, não fosse o António ter chamado o Castrol à conversa, e quase me esquecia das análises. O prazo de validade da requisição termina a três, que é domingo. Talvez vá na sexta. Ou talvez deixe para amanhã.
terça-feira, 28 de junho de 2005
Dá-me música
O Resistente Existencial sugere-me que responda a um Q&A musical. A que já respondi, incitado pela Inês [Umbigo Meu]. De forma pouco ortodoxa, é certo, mas isso deve-se apenas a uma certa alergia a este tipo de inquéritos.
O Rui [Amor e Ócio] fez o favor de pôr a rodar [os CD rodam?] os Lambchop. Eu, que não sou muito de music blogs, agradeço e aplaudo. Ou vice-versa.
Sexo (trans)atlântico
Há umas semanas, meti-me numas conversas sobre sexo e poder. O papel da mulher na sociedade e essas coisas. É conversa que vale pouco - no fundo, o pessoal só está interessado em medir os preconceitos uns aos outros.
A conversa sobre isso e coisas conexas anda por aí. Alguns blogues deram mesmo em trocar ideias sobre períodos ovulatórios. De um ponto de vista lúdico, diga-se, o que, tratando-se de períodos ovulatórios, é como brincar com o fogo.
O António [Opiniondesmaker], esse grande lúbrico, perdão, lúdico, tem por lá os links da conversa. Que, por ora, se encontra neste estado:
«Portugal também deverá ter direito a sexo sem desencantos e amores e por isso queremos dois Carnavais na Madeira por cada Natal nos Açores.»
Por mim, tudo bem. Desde que o Continente beneficie, em simultâneo, do aconchego natalício dos Açores e da desbunda madeirense.
Notícias de choque
Os espanhóis gastam cinco vezes menos em água que em telemóveis.
A comparação parece parva à primeira vista, mas depois faz sentido. E, ao contrário do que parece, não quer dizer que os espanhóis gastam pouco em água. Quer dizer que gastam muita água, mas pagam pouco por ela. Eu acho que, para equilibrar as coisas, o melhor era baixar o preço das chamadas por telemóvel, mas isso não resolvia o problema da água. Só o dos espanhóis.
Choc
A palavra choque tornou-se, há uns tempos, a palavra chique da política doméstica. O pessoal tem medo de dizer revolução e acha que com reformas já não vamos lá. Fica-se, então, pelo choque. De certa maneira, estamos no domínio do politicamente correcto, esse saco de boxe que amortece todo o atrito.
Euro 2005
Reparei hoje: na minha rua, ainda há dez bandeiras à janela. Desbotadas. Como a Pátria que as pariu.
segunda-feira, 27 de junho de 2005
domingo, 26 de junho de 2005
Ouçam e Verão
Estava agora aqui a pensar: e o disco do Verão? Não sei porquê, sempre me deu para eleger o disco do Verão. Assim um cd que anda no carro, volta para casa, passa pelo computador da empresa... Enfim, taras.
Há uns anos, apostei nos Tribalistas. E acho que também já apostei naquela modelo francesa, com um cd a preto e branco (!) todo cheio de fotos e que dedilha uma guitarra enquanto sussurra uma coisas relativamente audíveis. Vejam o que é a fama: andou em tudo o que era capa de revista e agora não me recordo do nome. Bom, a verdade é que bastava levantar-me e, dois metros andados, há-de estar por ali o disco...
Este ano, acho que vou escolher uma discografia completa. Emendo. Vou escolher três discos (que são quatro - um é duplo) dos Lambchop. Escolho estes três porque são os que conheço - parece que têm mais uns dois ou três anteriores, mas não estou para aí virado.
O disco fundamental chama-se Nixon. E se tivermos em conta que a banda se chama Lambchop temos a associação mais disparatada que alguém jamais arranjou para uma música ou outra coisa qualquer. O coitado do Nixon não é práqui chamado e, enquanto alguém não me convencer do contrário, lambchop só pode ser mesmo o que parece.
Mas voltemos ao cordeiro, perdão, à vaca fria... Este disco e os seguintes (Is A Woman e Aw C'Mon/No, You C'Mon - outro título fantástico) são das coisas mais belas, refrescantes e assim que se podem ouvir. Elegância em estado puro.
Como me faltam as palavras, certamente não se importam que cite o All Music Guide: «Lambchop was arguably the most consistently brilliant and unique American group to emerge during the 1990s. Their unclassifiable hybrid of country, soul, jazz, and avant-garde noise seemed at one time or another to drink from every conceivable tributary of contemporary music, its baroque beauty all held together by the surreal lyrical wit and droll vocal presence of frontman Kurt Wagner». É de perder o fôlego, damas e cavalheiros.
Olhem... como se ouvia num célebre spot da Rádio Comercial (aos anos que isto foi...) que saltava cá para fora nesta época: «Ouçam (ou seria oiçam?) e Verão».
sábado, 25 de junho de 2005
sexta-feira, 24 de junho de 2005
Debater sim, mas outra coisa
Joana Amaral Dias [Bicho Carpiteiro] acha que Sócrates escolheu debater a educação no parlamento porque... não quer debater.
A educação dominou a agenda política, sindical e mediática das últimas duas semanas. A educação é um dos sectores mais determinantes dos tempos actuais. A educação é um dos sectores em que Portugal necessita de fazer muito (mas mesmo muito) mais.
Mas a Joana preferia, talvez, um bom debate sobre o consumo da sardinha assada nos santos populares, ou o impacto dos ventos solares na determinação do sexo das focas. Seguramente, qualquer um desses temas daria um debate mais animado e, acima de tudo, mais importante para o país.
Tudo ao contrário
Estou a ouvir o debate parlamentar e espanto-me com a actuação de Sócrates. Está a ultrapassar em muito os limites de arrogância e presporrência de anteriores performances, polvilhada com crescente falta de educação e demagogia a rodos. Um bom líder de oposição humilhava-o. Bastava usar os adjectivos certos. Marques Mendes não os conhece.
Isto é o que escreve o Jaquinzinhos.
A política, a sério, como tudo na vida, faz-se de concretização, de coisas substantivas. A adjectivação é a arma dos fracos, dos que não sabem fazer.
Seja português. Diga não à «reforma»
Portugal tem uma saúde abaixo de cão. A justiça é uma lástima. Da educação é melhor nem falar. O tecido produtivo é uma imensa gargalhada.
Há culpas da estrutura, do sistema, em tudo isto. Mas o fundamental são as pessoas. O pior da educação são as pessoas que a fazem, o que torna a justiça uma inexistência são os seus agentes. A economia só mudará quando empresários e trabalhadores entenderem qual é o seu papel.
O Manuel [GLQL] insiste na reforma (eu acho que ele quer dizer revolução, mas tem medo da palavra...) do sistema político. É um discurso gasto, este. Desculpabilizador, porque assenta sempre nos outros. Ineficaz, porque nenhuma reforma seria suficiente.
Eu acho que Portugal só será um país decente quando tiver melhores portugueses (não apenas políticos, nem principalmente políticos...). Melhores cidadãos, melhores profissionais. Os melhores políticos virão por arrasto. Querer o contrário é pedir a Lua.
E isto só se faz com trabalho. Não há volta a dar.
quinta-feira, 23 de junho de 2005
Por falar em (não se darem ao) respeito...
Achei interessante o senhor sindicalista dos juízes apelar ao Presidente da República no caso da bem evidente gaffe da ministra da Educação.
Manif (2)
Os telejornais estão a passar mais uma manifestação de polícias. Hoje, há um mascarado de cozinheiro... E muitos slogans tipo hooligan: «Vai-te embora, vai-te embora...» (cantado) e «Mentiroso, mentiroso». Uma garotada. Esta polícia não se respeita. É difícil respeitá-la.
A manif
A manif de polícias em Lisboa foi demasiado folclórica para o meu gosto. Polícias vestidos de padre, um boneco-polícia num caixão, insultos a governantes...
Preocupa-me pouco a legitimidade da manif - quem tem, ou não, razão. Nunca ninguém a tem por inteiro.
Preocupo-me, sim, com o respeito que vou perdendo a esta polícia-fandanga.
O medo
Pacheco Pereira, auto-intitulando-se professor e funcionário público, indignou-se [Quadratura do Círculo] contra o clima de medo que vigora nas escolas neste tempo de greves.
Obviamente, Pacheco Pereira não tem filhos a estudar nem entra numa escola há anos. Ignora, pois, a arrogância com que os professores [eu sei, a generalização é sempre injusta...] se movimentam no sistema.
terça-feira, 21 de junho de 2005
Coisas que fazem sentido
O Presidente da República começar uma semana sobre o optimismo na economia portuguesa com uma visita a uma fábrica de cervejas.
O Carrilhão de Lisboa
Manuel Maria Carrilho é um monstro. Um Frankenstein político. Some-se um percurso político sem qualquer nota digna de registo (um bom ministro da Cultura, imagine-se...), umas ideias dispersas, pomposas, mil-folhas de lugares-comuns, junte-se tudo isso a uma vaidade maior que o personagem e eis MMC.
Como todos os monstros modernos, MMC foi criado e alimentado pelos media. Lembram-se? Estávamos no declínio do guterrismo, os media já não suportavam Guterres, MMC já não suportava Guterres. Curiosa coincidência. MMC tinha razões. Estava despeitado. Queria governar a RTP (a Cultura para o povo, com as piores ressonâncias que possam imaginar) e Guterres tinha mais que fazer que o aturar. Os media deram-lhe então guarida. E apaparicaram-no, alimentaram-lhe a vaidade. Foi ver então o ódio transformado em visão clara, em ideologia. Ele tinha razão, sempre. O que escrevia, que outros já tinham escrito, era luz pura. O homem tornou-se o biógrafo do guterrismo crepuscular. Note-se: ele nada previu. Cavalgou a onda. Os media, no ódio cego a Guterres, deram-lhe guarida, incharam-no. De Carrilho transformaram-no em Carrilhão.
Lembro-me do famoso congresso em que defrontou Guterres. Sem tropas, com a coragem dos que sabem que vão perder, sem uma única ideia a partir da qual se pudesse construir algo. Os media deliraram - foi primeira página em todo o lado. Houve quem visse ali o futuro líder do PS.
E ele percebeu que tinha um aliado forte - os media. Por detrás da popa foi crescendo esse sonho inconfessável - chegar longe, o mais longe possível. Se não pelo partido, que sem tropas nada feito, que fosse pela câmara, como outros já haviam tentado (e até conseguido, reconheçamos...).
No PS, uns apoiaram-no sinceramente, outros na esperança de ver o mito morrer às porta da Praça do Município.
Foi aí que se lembrou de mostrar o bebé. Oh escândalo... oh horror, um bebé. Poderia, eventualmente, um repórter que o entrevistasse no quintal lembrar-se de lhe pedir: «Ó Manel Maria, podia fazfavor, pegar no puto ao colo para a capa da newsmagazine?» Estava tudo bem. Como se sabe, as newsmagazine são especialistas em mostrar estas coisas - Cavaco abraçado à Maria nas férias brasileiras, Durão com os rapazolas no sofá antes de rumar a Bruxelas, um irmão de Jerónimo de Sousa babado com o dito... Os media adoram, adoram, essas palhaçadas. Não suportam é que outros tenham a veleidade de as fazerem sem lhes dizerem água vai. Muitos menos ele, que por eles foi criado.
E eis como os mesmos media que criaram Carrilho já acenderam a pira para o queimar em lume brando. Até Outubro. Nada que não mereçam. Eles e ele. É a vida, diria o outro. Os media necessitam permanentemente de criar e desfazer mitos. É a sua indústria. Agora, calhou na rifa ao MMC estar na mó de baixo. Se tiver paciência e souber resistir, até pode perder a câmara. Daqui a seis meses, dois anos, quatro ou seis, seja lá o que for, Sócrates, de quem os media se habituam agora a gostar, de forma diferente da que gostaram de Guterres, também vai começar a enjoar. Os media, claro. E aí MMC pode fazer a mesma figura de há uns anos. É déja vu, pois é. Mas com a falta de memória que por aí anda talvez ninguém note. Se MMC não estiver para aí virado, pode, é claro, mandar o Dinis. Talvez nessa altura os media já achem graça. A lua tem fases.
segunda-feira, 20 de junho de 2005
Nada se move
O Manuel [GLQL] excita-se em demasia com os processos judiciais. De tal forma que perde o discernimento - então alguém acha que se alimenta o Sitemeter em polémicas com a Loja?
Vamos ao que interessa.
Em Portugal, os processos judiciais envolvendo políticos começam sempre em pequenas e grandes vendettas e acabam em reajustamentos do sistema - afastam-se alguns personagens e surgem outros. Ou seja, nada (de essencial, de estrutural) se move...
E é isso que, com ou sem sobreiros, com ou sem lojas discount, com ou sem novas urbanizações, está a acontecer neste exacto momento.
Por vezes, a serena circulação de pessoas e bens (principalmente quando ligados uns aos outros...) no seio do Bloco Central (o qual sempre incluiu o PP....) é interrompida por pequenos sobressaltos. É quando alguém acha que, chegada a sua vez, outro ficou com a parte que lhe pertencia. E então estrebucha. Só isso.
E é por isso que casos como o de Maria de Belém versus Zezinha (a confirmar-se...) são o sintoma de que, por baixo de toda esta erupção aparente de justicialismo, corre um pacífico rio de lava, um toma lá dá cá que sustenta o sistema.
Obviamente, nenhum governo vai cair, nenhum peixe graúdo vai dentro. Nada. Nada se move, caro Manuel.
domingo, 19 de junho de 2005
Regresso a África
O leitor Carlos de Lisboa enviou-me um mail:
«Sobre o post Pequenas Incorrecções e porque o que quero é ser ensinado, diga-me de onde retirou esses números.
Já agora e enfim sempre é uma pergunta pessoal e pode não merecer resposta; visitou, habitou ou esteve nalguma província ultramarina antes, durante ou depois do 25 de Abril.»
Vejo que o leitor é adepto do método Louçã: se não tens filhos não podes debater o aborto; se não foste a África não podes debater a descolonização; enfim, se não te chamas José Lamego (o único português que lá esteve, por dentro, tempo qb) porque discutes o Iraque?
Nunca estive em África, pelo menos naquela. A partir daqui a conversa perde o interesse, porque o leitor não acredita em nada do que eu disser.
Acerca de África faço o costume: leio, tento perceber, ouço testemunhos de familiares que lá viveram (sim, dos tais retornados...). E retiro conclusões. Por exemplo: o 25 de Abril não resolveu o problema de África, como as décadas anteriores também não tinham resolvido. O 25 de Abril criou problemas novos a África como criou cá dentro. Infelizmente. Interessa-me, porém, o balanço global - e aí não aceito que se culpe o período de 74/75 pelos problemas, pelas males, que já lá estavam. De resto, basta ver o estado de miséria em que se encontra a generalidade da África negra - o PREC não tem as costas tão largas.
sábado, 18 de junho de 2005
Porque é que adoro Desperate Housewives (*)
O Fox (TvCabo) está a repetir a sessão especial de três episódios de Desperate Housewives (tinha passado na segunda-feira, presumo que com o objectivo de ultrapassarem a SIC, que ia um episódio à frente). Vista assim, de enfiada, ainda fica mais claro que o verdadeiro motor da série é a mentira. Não o engano, não o equívoco. Apenas a mentira. Pequena ou grande, sempre deliberada. Como na vida.
(*) Porque é que adoro Desperate Housewives
sexta-feira, 17 de junho de 2005
No pasa nada
O Manuel [GLQL] anda a ler os jornais errados. Por exemplo, se tivesse lido a última página do JN de hoje teria ficado a saber da mais edificante história do socratismo. Uma coisa de deixar corado de vergonha Gomes da Silva (who...?, sim esse, o do caso Marcelo) - o secretário de Estado Ascenso Simões obrigou um jornal de Vila Real a retirar das bancas uma edição onde se publicava uma entrevista não revista pelo seu punho. Na nova edição, já nas bancas, acham que só as respostas foram revistas? Nããã... o Ascenso reviu também a entrada, onde um jornalista (presume-se...) fazia a biografia do entrevistado. E depois o estalinista é que foi a enterrar...
[O espantoso nem é que o tal Ascenso ainda seja secretário de Estado, é simplesmente que, 24 horas depois, o silêncio seja tão atordoador.]
Mas o Manuel, que acha que se vai passar alguma coisa (onde terá ido desancantar tão súbita ingenuidade?), ainda nem terá reparado que Maria de Belém desistiu de Oeiras no mesmo dia em que Maria José Nogueira Pinto desistiu da Santa Casa?
O sistema funciona, meu caro. Olá se funciona!
Olhe que não, olhe que não...
Bolas... 'tava a ver que nunca mais concordava com o FNV [Mar Salgado].
Spam & hate mail united
A propósito do post «Pequenas incorrecções» recebi o seguinte mail de uma leitora:
O post "Pequenas Incorrecções" não só demonstra uma ignorância extrema do assunto assim como explica porque é que em África morre tanta gente à fome, por causa de pessoas como vocês que se estão completamente nas tintas.
Respondi-lhe assim:
Se não percebe nada do que lê, porque insiste?
Respondeu-me assim:
Foi a primeira e última vez.
O fim
Já são quase dez da manhã e o Manuel [Grande Loja] ainda não previu o fim de nenhum partido político, nenhum processo judicial, nenhum jornal semanário, nem do próprio regime. Preocupante.
quinta-feira, 16 de junho de 2005
Inside information
Amanhã, Pedro Mexia escreve, no DN, um texto sobre Scarlett Johansson. Com tudo no sítio. O texto. Depois não digam que não foram avisados.
Suposições
O MacGuffin [Contra a Corrente] informa-me de que eu falo com base em suposições.
Eu, como sou uma pessoa com muito menos certezas que o MacGuffin, limito-me a supor que o MacGuffin não tem as informações que diz ter.
[PS: diz o MacGuffin que os processos sobre fuga ao fisco baseados nos sinais exteriores de riqueza nunca dão em nada. Esse é o ponto. É por isso (e por outras do mesmo género...) que anda meio mundo a exigir maior combate à fuga ao fisco.]
[PS2: quanto às minhas insinuações, o MacGuffin que fique descansado. Não sei de nada. E, nesse caso, nem sequer suponho].
Olha, obrigado
Eu desconhecia que, para o Francisco, a gratidão é um gesto desprezível [Os pais da Pátria]. Que se lixe... Não é por isso que vou deixar de manifestar publicamente a minha dívida - que é assim uma espécie de tentativa de pagamento - pelo facto de ter aberto o Aviz há dois anos. Não tivesse sido assim e, se calhar, o TdN não tinha nascido. Ou não tinha nascido uma semana depois.
Ostentam, ostentam... suponho
O MacGuffin [Contra a Corrente] sustenta todo um texto na suposição de que eu escrevo com base em suposições. Infundadas, presume-se. E é então que o MacGuffin escreve que «boa parte dos vigaristas evitam pavonear-se com sinais exteriores de riqueza». O MacGuffin lá saberá do que fala, visto que não escreve com base em suposições. Presumo. Suponho, porém, que o MacGuffin está errado. Não apenas pelo facto de o MacGuffin estar quase sempre errado (salva-se a parte da música...), mas porque estou convencido de que os vigaristas, pelo menos os vigaristas-novos-ricos-portugueses, gostam mesmo é da ostentação.
Pequenas incorrecções
Ainda a (des)propósito da morte de Cunhal, escreve Rodrigo Adão da Fonseca [Blasfémias] que o processo que se seguiu ao 25 de Abril «atirou para a miséria e morte milhões de africanos que falam a nossa língua».
Acontece que, antes do 25 de Abril, esses africanos que falam a nossa língua:
a) não viviam na miséria simplesmente porque viviam em regime de escravidão, nas fazendas e nas cidades;
b) não morriam aos milhões (enfim, desconte-se o exagero...) em guerras fratricida porque tinham uma guerra colonial que se encarregava disso.
Pequenas incorrecções.
[Pelo Blasfémias e por outros blogues, a propósito da morte de Cunhal, há uma corrente de crítica aos media que não passa de pura arrogância intelectual - a verdade foi-lhes revelada, não suportam a divergência, que não pensem como eles. E depois os outros é que são estalinistas...]