quarta-feira, 31 de março de 2004

Ainda a morte (cont.)

Vale a pena ler «Um desespero de país», no Viva Espanha.

Eurogreve 2004

Anda meio mundo nervoso ('tá bem, exagero - é só o ministro das polícias...) com aquela ideia de o pessoal das fronteiras fazer greve durante o Euro 2004. A outra metade do mundo deita as mãos à cabeça e já range: ai se todos os sindicatos se lembram do mesmo.
Memória curta, é claro...
A meses da Expo 98 (estava o malandro do Guterres no poleiro, lembram-se?) não havia grupo ou grupinho que não se lembrasse de ameaçar com uma grevezita. E tudo acabou por correr bem, como se lembram. Seguramente que os louros não serão do Guterres, era o que faltava.
Acontece é que a vida está má. Já estava e continua a estar. Por isso, cada ameaça que seja feita durante os próximos meses tem aqui neste cantinho toda a solidariedade, um autêntico cheque em branco.

terça-feira, 30 de março de 2004

25 de Abril (para) sempre

O Adufe pergunta: «O que houve de bom nestes 30 anos de democracia?»
A resposta parece-me óbvia, demasiado óbvia: «Tudo».
Mas, é claro, tendo em conta o que por aí se lê, o melhor será mesmo explicar. E explicar muito bem, exaustivamente e com exemplos. É o que tenciono fazer, conforme a pena (o teclado, perdão...) me fôr puxando. Aqui, no Adufe, onde calhar.

A tara da virgindade

Decididamente, o Avatares não acerta uma. Há dias, meteu-me no mesmo ecrã a Scarlett e o Sharon. Hoje, dou de caras com a Catarina e o sr. Chésar ombro a ombro.
Aproveito a boleia para manifestar a minha perplexidade sobre essa coisa de debater a virgindade. Não percebo o interesse público da coisa - cada um(a) faz como quer. Trata-se de uma decisão sem consequências sociais. A defesa pública de qualquer uma das opções é uma tara.

Ainda a morte

A propósito de um caso doloroso relatado há dias, escrevi que o que mais me indignava é que a culpa do sucedido era das pessoas e não do sistema. O Tempestade Cerebral discorda - não culpa apenas as pessoas, mas igualmente o «monopólio estatal».
Os monopólios, na saúde ou noutras coisas, são sempre negativos. Isso não me parece oferecer qualquer dúvida. Mas não aceito que, em nome do sistema, se deixe morrer uma pessoa. Porque aquela pessoa passou por vários hospitais, foi seguramente vista (já não digo observada...) por várias pessoas. São essas pessoas que integram o sistema, desempenham funções, são por elas remuneradas - não é aceitável qualquer comportamento desresponsabilizante. Porque, mesmo não havendo monopólio (na prática, ele já não existe, só existe na colheita dos impostos) qualquer cidadão tem de exigir que os serviços geridos pelo Estado (logo, pagos pelos cidadãos) funcionem. E não há erros de gestão que desculpem a negligência concreta.

No quentinho do anonimato

Há um blogue muito interessante sobre o mundo dos media. Chama-se Provedor Alternativo e utiliza como frase de apresentação «Espaço de reflexão sobre a actividade jornalística». Fazendo jus a uma das principais pechas do jornalismo português, é completamente anónimo. É pena.

O Freitas do Eliseu, o Guterres de Downing Street

A direita não gosta de Chirac. A esquerda não gosta de Chirac, mas Chirac não é de esquerda.
A esquerda não gosta de Blair. A direita gosta de Blair, apesar de Blair não ser de direita.
A direita não gosta de Freitas, apesar de Freitas ser de direita. A esquerda finge que gosta de Freitas, só para irritar a direita.
A direita não gosta de Guterres. A esquerda também não.

segunda-feira, 29 de março de 2004

Filosofia barata

«Imagens de mortos na linha do comboio»
«Pedofilia forum imagens sexo»

Dois dos meus mais recentes leitores só aqui chegaram após teclarem num motor de busca as expressões que aí estão.
Provavelmente, muito do que por aqui se escreve não interessa nem ao menino Jesus... ou interessa às pessoas que não me interessam. Provavelmente, tudo será um grande equívoco.

AG

A avaliar pelas reacções descabeladas da direita ao pré-regresso de Guterres, a campanha das presidenciais promete. Não há melhor combustível que esse odiozinho.

Constatação/confirmação sexista do dia

Elas são muito melhores a tirar o celofane dos cêdês.

Quando a Natureza imita o Homem

O Governo anuncia a retoma.
A Primavera anuncia-se com vento polar.

Blogo-barbárie

Gosto de discutir tudo. De ter opinião sobre (quase) tudo. Umas vezes menos informada, mas paciência...
Quando deparo com coisas como esta, encontro os meus limites:
Eu gostava de ter sido não só o piloto que disparou um dos mísseis que fez o cheique em fanicos mas o próprio míssil.
Isto eu não discuto.

Casa, pia em directo

«Hoje vem uma testemunha muito importante, que é a porteira, a dona Rosa». Repórter da SIC Notícias. Isto, é claro, porque a enfermeira Odete faleceu em Janeiro.

João Soares

Não, este texto não é sobre a proto-candidatura de João Soares à liderança do PS.
É mais para apoiar o que escreve num jornal árabe:
مؤمنا إلا أننى أكن إحتراما عميقا لمَن لديه إيمان، وهو إحترامٌ يمتد ليشمل كافة العقائد وليس فقط الديانة السائدة فى بلادى، بل إننى أقر بأن الإيمان قد جعل البرتغال والبرتغاليين يتجهون إتجاها كان له تأثيراً حاسما فى تاريخهم ، وعندما أقول "إحتراما
Muito bem.
Já agora, na sondagem sobre o local onde vai ser julgado Saddam Hussein, voto na hipótese a): «Na Boa Hora, acusado pelo DIAP».

domingo, 28 de março de 2004

A abstenção

A Al-Qaeda, que segundo alguns votou nas eleições em Espanha e segundo outros ganhou mesmo essas eleições, absteve-se nas regionais de hoje em França. Nem sequer votou em branco, seguindo as orientações do suspeitíssimo Saramago.
Cinicamente - ou simplesmente com a má-fé do costume - cabe perguntar: que ganhou Chirac fazendo o jogo de Saddam?

A maluca das Finanças

(...) essa maluca das Finanças - por acaso até é gira, é muito feia mas é gira, é uma mulher a sério, não é o Peixoto, aliás o Barroso (...)
Luiz Pacheco, hoje, na Pública, numa entrevista com duas fotos e nenhuma pergunta.

Causas naturais (caso prático)

A história arrepiante da semana está aqui [via Adufe]. E o mais arrepiante é percebermos que a culpa não é do sistema, mas das pessoas.

Onde está a hora que ontem aqui deixei?

E ao sétimo dia, Ele inventou o Sitemeter. Perdeu-se no Technorati. Vasculhou o Blo.gs. E correu pela casa toda a perguntar que horas eram.

Grandes vultos da literatura (série Europa)

Tabucchi no Bloco, Saramago no PC... Agora, só falta João de Deus Pinheiro no PSD... e quem no PS?

Looking for the little Couto

Costuma estar na quarta ou quinta página a contar do fim do caderno principal.
E esta é a hora indicada para o ler... quando os ponteiros do relógio estão um bocadinho lost in twilight zone.

sábado, 27 de março de 2004

Tenham lá paciência...

Caí dentro da montanha de papel do Expresso e estou quase a naufragar.

Midnight blogs

O Bloguítica já desmentiu. Não era gente do PSD, não era o José Lamego... Seria uma reunião de blogo-spinners?
[Já agora: com Durão em Moçambique e Sampaio em Cabo Verde, quer dizer que isto vai ficar entregue ao Mota Amaral, Paulo Portas...?]
O Adufe, todo lampeiro, exulta porque hoje é sábado. Pois, quando vires que domingo vai ter menos uma hora...

Da lucidez

Agora, eu ia escrever umas coisas sobre o Saramago. Sobre uma certa vacuidade do discurso de Saramago.
Mas os blogues de direita já puxaram o debate para a latrina.
Passo...

sexta-feira, 26 de março de 2004

Nem bom vento?

O Bloguítica passou o dia com gente do PSD. Do CDS aposto que não foi... E do PS... talvez José Lamego.
A ideia de que Zapatero vai falhar só pode vir dessas bandas. Seria excelente, entre outras coisas, para justificar qualquer percalço que a economia portuguesa possa ter. Ou possa continuar a ter...
Estamos, é claro, no domínio do puro wishful thinking. Como se eu dissesse, por exemplo, que:
a) Zapatero sabe que não pode falhar. As circunstâncias muito especiais em que foi eleito criaram-lhe obrigações também elas muitas especiais;
b) Uma dessas obrigações passa por tornar a TVE uma coisa asseada. Isto pode parecer pouco, mas não é, tendo em conta o peso da televisão do Estado na política espanhola.
c) Na economia, a aposta é na continuidade. E foi na economia que Aznar marcou pontos. A chamada a Madrid, para vice do governo e responsável das Finanças, do comissário Pedro Solbes, um dos arautos do controlo orçamental a todo o custo, é um sinal evidente.
d) A questão iraquiana, sendo complexa, exigirá muito tacto, mas é necessário ter em conta que atravessamos um momento de transição e de redefinição de tarefas no terreno que poderá ser um elemento facilitador.
e) Resta a questão parlamentar. O PSOE não tem maioria, mas quer a IU quer a esquerda catalã (ERC) parecem dispostos a negociar apoios, restando saber se serão estáveis.
Mas isto é wishful thinking, claro.

Os sinos da minha aldeia

Dez da noite e o autocarro parado na Estrada de Benfica.
À espera que passe a procissão.

Scarlett (update)

Já temos um clube de fãs.
Já actualizámos os 10 mandamentos.
Só faltas tu, Scarlett.

Lusofilosofia barata (edição de bolso)

Há, presumo, uma qualquer causa natural para que Portugal seja assim.
Causa natural (definição para pessoas de Fé): a razão de ser das coisas que, em última instância, até à mão de Deus escapam.

O pensamento único (contributos)

José Manuel Fernandes, Público, 26 Março 2004:
O sistema parece estar na moda. Proferem-se umas frases chocantes, anuncia-se que são contra o "pensamento único", assume-se que não passam de provocações mas acrescenta-se que de destinam a pôr as pessoas a pensar.
Eduardo Prado Coelho, Público, 26 Março 2004:
A "provocação" de Mário Soares teve o enorme mérito de nos pôr a pensar onde o "pensamento único" considerava que tudo estava pensado. Não é que a "solução" por ele sugerida tenha grande sentido: não se pode dialogar como uma estrutura em rede, não hierarquizada, que não tem objectivos estratégicos definidos, e que não pretende "ganhar" nada. Mas não me parece que a sugestão valha por si mesma.

Ideias contra a abstenção - parte 385

Luís Filipe Menezes quer Belmiro de Azevedo como cabeça de lista ao Parlamento Europeu.
Já decidi - voto Pingo Doce. O voto que adoça a boca... Huuummm.

quinta-feira, 25 de março de 2004

Nua. Agora, toda a verdade

O MacGuffin, como bom blogger de direita/conservador/liberal (riscar o que não interessa), adora fazer citações, transcrições, recomendações «obrigatórias» de leitura. Já lhe conheço os percursos, os dias, os locais de predilecção.
Agora, chegou a minha vez. Melhor, chegou a vez dele. Vou citá-lo, extensivamente
«A minha Scarlett Johansson é, acima de tudo, a imagem que construí da Scarlett Johansson. Pouco me importa a Scarlett real e inatingível, i. e., a Scarlett provavelmente com alguma celulite, de anca larga e barriguinha excessivamente proeminente (sim porque, estou com Maria de Medeiros em Pulp Fiction: existe um nível de protuberância que é bem-vindo e desejável no que à tummy diz respeito) e com a boca a saber a papeis de música pela manhã. Provavelmente o encanto estilhaçar-se-ia. Ou não. Não sei, nem quero saber. E não, não tenho medo de mulheres nuas.»
Dito isto, que subscrevo «na íntegra e mais além», tenho uma confissão a fazer. Eu até gostava de ver a Scarlett nuínha, tenho é vergonha de o admitir em público. Desculpem-me a fra(n)queza.

O pára-raios

Blair em Lisboa, Barroso no Parlamento, Vitorino em Bruxelas, Cimeira Europeia... Todos unidos contra o terrorismo, discursos de grande unidade, juras de que estão atentos, nós a percebermos que estamos completamente à mercê e a eles que não, que estão a trabalhar na nossa segurança, que vão coordenar tudo... Parecem um pára-raios apontado à Al-Qaeda.

quarta-feira, 24 de março de 2004

Conversando com terroristas

O senhor Kadafi (isto não se escreve assim, mas não atino com a grafia do gajo...), ou o seu regime, o que vai dar ao mesmo, foi considerado culpado, pelos países do eixo do bem, culpado directo de, pelo menos, dois ou três atentados terroristas, que fizeram umas dezenas de mortos.
Comprovadamente, o cavalheiro também andava a tentar construir umas armas de destruição maciça, bombas atómicas e coisas assim.
O senhor Blair, lídimo representante do eixo do bem, após uma visita relâmpago a Lisboa, seguiu para a Líbia, onde vai ter umas conversas amigáveis com o cavalheiro terrorista.
Ainda não encontrei uma única palavra de indignação da parte dos cavalheiros que, nos últimos dias, insultaram o «dialogante» Mário Soares.
[Actualização: nem de propósito, o Para mim tanto faz dá mais umas dicas. Afinal, há terroristas bons...]

Scarlett, umas rectificações

Estou cheio de problemas de consciência. Porque, afinal, parece que pus o J (presumo, o novo template não ajuda), do Cruzes Canhoto, a despir a Scarlett Johansson. Confesso - distorci um pouco as palavras do J... mas que seria dos debates da blogosfera se não andássemos todos a distorcer ligeiramente as palavras uns aos outros?
Já agora, uma correcção. O J diz que não me consegue imaginar «cheio de ardores perante catequistas de meia-idade com saias rodadas até aos tornozelos e pullovers XL.» Não sei... há nessa coisa das «catequistas de meia idade» qualquer coisa que me atrai.

O Nelson

O Nelson Rodrigues, se a memória não me atraiçoa, surge no primeiro texto de TdN. Não faço parte da pequena legião de adoradores e até temo que essa sacralização acabe por ser exclusiva (no sentido de excluir...).
O homem escreve bem que se farta e nem considero a questão ideológica relevante - os homens também são o contexto e alguma da ideologia que carregamos só acontece em contexto, ora por adesão, ora por aversão, a certos ideais.
Alguns dos seus textos são pequenos apontamentos de filosofia. Mesmo quando faz ficção, na qual encontramos sempre uma certa moral. Reaccionária, talvez.
Por isso, caro MacGuffin, quando der um salto um a Lisboa, tem quase uma prateleira à sua disposição. Por exemplo, Não se pode amar e ser feliz ao mesmo tempo, assinado por Myrna. Uma delícia.

Troca de cromos (II)

... ou Serviço de «inspecção de linguagem», ronda das 10:30.
NMP, no Mar Salgado, diz que o tal do Yassin é por aí «hipocritamente descrito por alguns como um inocente entrevadinho».
Ando a fazer uma colecção de cromos e ainda não tenho esse. Alguém tem repetido?

Emprestas-me o teu ginecologista?

«O argumentário envidraçado do debate político permite apenas uma pescaria de espécies de aviário: as que escamam na esguelha da esquerda e as que escamam na esguelha da direita. Nem se guerreiam, apenas se guelreiam.»
E, às vezes, não é assim. Talvez só chatear, talvez só para fazer a excepção que confirma a regra. Abre a janela e vê como um ex-homem numa cadeira de rodas conseguiu lançar a confusão nas hostes. Ou, então, lê aqui a síntese nocturna e perfeita.

Out of this world

Pedro Lomba, Pedro Mexia e Francisco José Viegas.
Everybody knows this is nowhere.
Re-bem-vindos.

terça-feira, 23 de março de 2004

Razões para não ter fotos no bloge - parte 584

Abro o Avatares e que vejo eu?
A Scarlett e o Sharon no mesmo ecrã.

Nelson nu

Flor de Obsessão, As 1000 Melhores Frases de Nelson Rodrigues, Companhia das Letras, São Paulo, 1997, pp 118-119.

O polícia, o rapaz, o canibal e o inglês dele

Há dois anos, um polícia matou um rapaz em Setúbal. Vocês sabem como é - polícia corre, rapaz corre, polícia dispara, rapaz está ou não armado, grande algazarra... o mal está feito.
Ontem, foi a leitura da sentença, ao fim da manhã. O tribunal absolveu o polícia.
A SIC preparou o palco.
Abriu o Jornal da Noite com a leitura da sentença. Mandou um repórter para Setúbal, bairro da Belavista, o local do crime. Repetiu a peça sobre os incidentes de há dois anos.
Deu a história a abrir o noticiário... continuou-a meia hora depois e... vinte minutos depois, emitiu um videoclip com imagens dos acontecimentos e música. Sem notícia.
O palco estava montado. Infelizmente, nada aconteceu. Só a leitura da sentença, nem um disturbiozinho que justificasse um directo ao bairro da Belavista. Nada. A puta da realidade não ajudou.
Amanhã, já sei. Vou ver a TVI. Eram 21 e 40, uma hora e 40 minutos após o início do noticiário, e a TVI prometia para amanhã uma reportagem com um canibal. «A TVI confrontou-o com os seus actos», dizia o pivot. Não percam, por isso. Amanhã à noite. Ah, é verdade, o gajo falava inglês, só não sei se ficou assim depois de ter comido o outro. Se calhar, o outro é que era inglês e o canibal ficou a falar inglês. Na TVI nunca se sabe... Se me sentir enganado, mudo para a SIC... Pode ser que ainda vá a tempo de ver o videoclip de amanhã.

Do Zé Mário ao Stephin Merritt

Reparo, caro MacGuffin que não lhe interessa a sondagem sobre o FMI. Faz mal - tinha aqui mesmo à mão uma cópia autografada do «FMI», de José Mário Branco, para entregar a que acertasse na resposta. Assim, terei de a enviar à ministra Leite - estou a imaginá-la, à janela do ministério, a insultar os gajos e a chorar baba e ranho em coro com o Zé Mário...
Deixe-me só notar-lhe - e juro que isto não é «patrulha ideológica», mas apenas «conselho amigo» - que o MacGuffin, além de dar troco a um para-terrorista (é o que somos, todos nós, os que não nos benzemos pela manhã para jurar- Bush és grande, faças o que fizeres, a Luz esteja contigo), utiliza um «mas» no seu texto sobre o tal do Yassin-da-cadeira-de-rodas. Cuidado, os seus amigos não vão gostar. Um simples «mas» pode ser o princípio da decadência.
PS: o gajo da música árabe, afinal, era do piquete do gás. O que, obviamente, não me deixou mais descansado...
PS2: Oldham, não. Ontem, foi Magnetic Fields, o novo (ou futuro?, sei lá...) e não achei nada de especial. As canções aparecem excessivamente vestidas, orquestrações um bocado gaiteiras. O melhor é voltar a tirar o 69 Love Songs da estante...

Sondagens, israelitas e... you know what I mean

Não, não fui eu que encomendei esta sondagem - a maioria dos israelitas aplaudem o balázio no mártir da cadeira de rodas. Coisa que mereceria leitura política - tivesse eu paciência para me envolver numa discussão que, inevitavelmente, iria parar no tal filme que tem o ketchup como actor principal. Eu até nem acho que as coisas estejam ligadas, mas anda aí muita gente que, jurando que os outros misturam tudo, não param eles próprios de misturar. E falta-me a paciência, confesso.

Sondagem (os primeiros resultados)

Scarlett Johansson deve, ou não, pôr-se nuínha no próximo filme?
Moi même e o Cibertúlia dizemos que não; a rapaziada do Cruzes Canhoto parece que sim; no Golpes de Vista esperam ansiosos uma decisão. E o MacGuffin, que achará o MacGuffin disto?

Sondagem manipulada (versão económica)

O FMI duvida da nossa retoma e da nossa ministra das Finanças. O FMI está com má-fé porque:
a) é dirigido por esquerdistas mal reciclados;
b) foi tomado de assalto por um grupo de jornalistas portugueses, liderado pela TSF e pelas secções de Política e Internacional do Público;
c) é o braço avançado na alta finança do senhor Ben Laden;
d) fez uma sondagem em Portugal e limitou-se a divulgar os resultados.

Blogues e jornalistas

Anda aí uma polémica que mete Israel, os conceitos de guerra vs terrorismo, a infinidade de coisas do costume. Coisas que também por aqui passam, uma vezes em polémica outras nem por isso.
Num dos textos de Filipe Moura, do Blogue de Esquerda, há uma questão lateral que me apetece comentar.
Escreve ele: «Não se pode admitir que um jornalista tenha uma opinião no blogue, sobre um assunto de tamanha importância, que não seja visível no jornal.»
Começo por achar graça à expressão «não se pode admitir», mas o que verdadeiramente acho espantoso é a ideia de fundo.
Veja-se o meu caso - escrevo diariamente sobre as mais variadas matérias, nomeadamente na área de política internacional. É óbvio que tenho opiniões sobre tudo isso. Mas o que leitor espera de mim, enquanto jornalista, é que lhe faça um relato objectivo (eu sei, nunca é possível, mas é possível tentar...) dos acontecimentos. Não tenho (nem devo) expressar a minha opinião, a não ser em espaços de comentário, análise ou opinião.
No blogue, tudo é diferente. Por um motivo muito simples - no blogue, não sou jornalista. Sinceramente, nunca tive a mais leve dúvida sobre a separação das águas.
Até porque tenho um amigo que é ginecologista e tem um blogue...

Anti-semitismo, zapateirismo

Meu caro CAA,
agora sou eu que o não conheço, habituado que estou a encontrar em si uma voz sensata.
Que raio de salto lógico (?) é que o meu amigo faz do «anti-semitismo» da «Nova Esquerda» para o «zapaterismo»?
Note: isto nem sequer é uma crítica, antes disso teria de compreender.

A música, por exemplo

Está uma carrinha branca estacionada na rua, o condutor dentro, vidro do seu lado aberto, de onde sai uma claríssima canção árabe.
Aviso a polícia? Ou a TVI?

segunda-feira, 22 de março de 2004

Sondagem manipulada

Se nos próximas dias houver um atentado de grandes dimensões da Al-Qaeda nos EUA ou na Europa, quem devemos culpar?
a) Zé Luis Zapatero;
b) Ariel Sharon.

Do equilíbrio das coisas

Se Israel está em guerra, então teremos que deixar de chamar terroristas aos membros do Hamas. Uma guerra pressupõe sempre dois lados, dois exércitos.
E as notícias dos próximos dias começarão assim:
«Dois soldados palestinianos fizeram-se explodir hoje numa praça de Telavive...»

Cadeiras de rodas e estado de direito

O tal do «líder espiritual da cadeira de rodas» era uma besta.
Às bestas, as democracias sentam no banco dos réus. Se há coisa que as bestas detestam é ser submetidos às regras da democracia. Causa-lhes imensa comichão...
Desfazer uma besta numa cadeira de rodas com um balázio de alta tecnologia é fácil. Mas transforma quem o faz numa besta do mesmo calibre. Porque do campo de batalha desaparecem, de uma só vez, a democracia e o estado de direito. Ganha a besta.

PH neutro (garantido)

Não querendo ter a última palavra, nem sequer eternizar a mais patética polémica que se pode ter, que é a polémica sobre a polémica - ainda para mais numa altura em que parece já não haver polémica -, sempre quero registar que será uma pena o Pedro Mexia deixar de escrever sobre política. Nos blogues, nos media, ou seja onde for. Ele é o melhor da geração naquele quadrante político - não, isto não é uma indirecta acerca de uma certa página no DN -, pelo que os seus escritos políticos são a verdadeira «absolvição». Da direita.

Xeque ao bom senso

Entre o «diálogo» de Mário Soares e o terrorismo de estado do governo israelita, não haverá uma forma mais sensata de lidar com o terrorismo?

Scarlett, não te dispas !

Ora aí está uma discordância realmente séria. No Cruzes Canhoto (nova moradia, agora com o patrocínio do maior banco privado português...) ficaram tristes com a perspectiva de nunca verem Scarlett Johansson nua. Sinceramente, prefiro assim. Até porque a moça não põe de parte participar num «erotic project».

Monsieur Ben Laden, parlez vous français?

A esquerda ganhou a primeira volta das regionais francesas. E a Al-Qaeda ainda não votou.

Tirez pas sur la pianiste

Com mais paciência - e mais conhecimento de causa - no Aviz escreve-se sensatamente sobre Maria João Pires e os apoios do Estado à cultura e educação.

Carta ao Diabo

Caro Pedro
[será isto chat, ou carta aberta?]
Lamento que tenhas reagido dessa forma ácida. Sou teu leitor assíduo, no blogue e no resto. E gosto do que leio. Quando escreves sobre política e sobre o resto. Um dos últimos textos que não escrevi (tenho uma vasta colecção) era precisamente sobre ti. Tinha acabado de ler, no Independente, um texto teu sobre o Bloco de Esquerda (partido que nem sequer é da minha particular simpatia...), em que, ao contrário da papagaiíce generalizada da direita, tu tentavas compreender e explicar o «fenómeno». Compreender não significa aderir, ao contrário do que se tornou hábito pensar cá pelo burgo. E cheguei a alinhar uma coisa qualquer que teria algures uma frase em que dizia que a «expressão direita inteligente deveria ter sido inventada para falar de PM». Ainda bem que não o fiz - provavelmente, dirias agora que o que eu queria era atirar-me a outros (o que era verdade) e não falar de ti (o que era mentira).
Ao longo dos meses de existência do TdN, meti-me várias vezes contigo (bicadas, como tu dizes) e o registo, pensava eu, foi quase sempre simpático - as miúdas, as fotos das miúdas, o tom que usas quando falas dos teus (des)encontros com as miúdas. Acho que apenas uma vez trocámos bicadas, como tu dizes, sobre o improvável tema da Libéria (!). Na altura, ao fim da primeira ronda, deixaste-me a falar sozinho - deveria ter percebido que não querias conversa. Paciência...
Obviamente, não te quero obrigar a polemizar sobre seja o que for. Tenho com que me coçar - nota, não me queixo, gosto. Registei apenas que a notoriedade mediática parece ser proporcional a um certo autismo. Do qual, sinceramente, não gosto. Acho que, numa sociedade saudável, quanto mais presença mediática se tem, mais obrigações se adquirem. Mas, é claro, sou eu que falo em obrigações, tu ou outro qualquer são perfeitamente livres de fazerem o que entenderem.
Achas que, no fundo, eu gostaria de discutir jornais portugueses. Garanto-te que não corresponde à realidade. Quando criei o blogue, a minha intenção era fazer aquilo que faço - opinar sobre tudo e mais alguma coisa, quando tudo e mais alguma coisa me interessa. Isso inclui, seguramente, os media. Mas não inclui, por exemplo, o Diário de Notícias - a única vez que falei dele com alguma profundidade foi em Julho ou Agosto do ano passado, numa troca de bicadas, como tu dizes, com Pacheco Pereira. Quando JPP aceitava discutir, imagina há quanto tempo...
O Diário de Notícias - e é disso que falas quando falas de «jornais portugueses» - não me interessa em termos de debate público. Interno, sim, se para isso houvesse condições. Até mesmo contigo, que, apesar de colaborador, és das poucas coisas positivas que lhe aconteceram nos últimos dois anos.
Deixa-me dizer-te ainda que considero uma perfeita tonteria isso da acidez (que raio de palavra...) e do enviesado que vês na minha escrita. Sou dos poucos que, neste mundo dos blogues, chama sempre os bois pelos nomes, critico quando quero criticar e quando critico ponho os nomes. A cordialidade que dizes sentir no nosso trato superficial nunca impediria a frontalidade de uma discussão séria se alguma vez tu estivesse para aí virado.
PS: dito isto, permite-me a liberdade de manter o link do Dicionário na coluna da direita. Leio, continuarei a ler, e aconselho quem passa por aqui a ler.

Arre burro !

«É importante combater o terrorismo, mas receio que esta luta se limite a evitar atentados e mais tarde ou mais cedo alguém se lembre de criar um muro à volta da Europa, como Sharon está a fazer em Israel; afinal nos EUA esse muro já existe na fronteira com o México. Talvez se reduza a probabilidade de atentados, mas trata-se de uma política autista e assente numa arrogância cultural que a impede de ver um muro de pedra não elimina as consequências de um muro invisível que separa beneficiários e prejudicados por um modelo de comércio mundial que mais parece um redemoinho que transporta toda a riqueza para o seu centro.»
Isto escreve o Jumento. E escreve muito bem, que não é nada burro.

Auto-patrulhamento ideológico

Esqueci-me de registar que o artigo de Helena Matos, sábado no Público, é um escarro. Como de costume.
E que, no mesmo dia, mas no Expresso, o gajo do costume escreve mais uma merda em três actos. Como de costume.
Só não queria que pensassem que estou distraído ou que mudei de opinião. Desculpem o atraso.

domingo, 21 de março de 2004

Receita anti-terrorista

Zapatero dá hoje uma grande (quatro páginas) entrevista ao El Pais. Vale a pena ler, para depois não se comentar o que não se conhece. Apenas um exemplo. Qual a resposta operativa ao terrorismo?, pergunta o jornal.
«A melhor resposta é a comunidade mundial de serviços secretos. Tem de haver muito mais cooperação entre os serviços de informações. E devemos reduzir ao máximo os focos que produzem fanatismo e violência. A guerra é o último recurso. É um factor que pode provocar mais ódio, mais fanatismo, mais risco de violência.»
Vaidoso, fui rapidamente reler o que escrevi há dias.

O medo e a força II

Tem toda a razão, o Driving Miss Daisy: os atentados de Madrid também só aconteceram porque havia em Eapanha um Governo fraco, o de Aznar. Tão fraco, de resto, que até se deixou bater pelo fraquíssimo - e cobarde - Zapatero.

É a paz, é a paz !

As manifestações de ontem contra a guerra, a começar pela de Lisboa, foram um flop.
Dificilmente a mobilização de há um ano seria repetível (a propósito, onde andam os teorizadores dessas manifs como a nova superpotência mundial?).
As manifs de Fevereiro de 2003 tinha um carácter genuíno irrepetível - aquelas pessoas estavam convencidas de que podiam influenciar a História. De certo modo, fizeram-no - não evitaram a guerra, mas contribuiram para a criação da ideia pública de que havia uma alternativa, de que a guerra não era inevitável.
Um ano volvido, ganhou o realismo. No terreno, há uma situação política e militar, de facto, que é necessário resolver. Com a participação dos EUA, das Nações Unidas, dos iraquianos, de toda a gente.
O protesto que saltou para as ruas há uns anos foi, entretanto, mastigado politicamente. Está a ter consequências políticas internas nos vários países - os casos inglês (as mentiras, os inquéritos), americano (as sondagens que dão vantagem aos democratas) e espanhol serão a face mais visível dessa herança de Fevereiro de 2003. Essas manifs e muita coisa do que se lhe seguiu contribuiram decisivamente para a melhoria do sistema democrático em que vivemos.
Só se espera que o realismo que ontem imperou não seja ignorado pelo campo dos guerreiros do costume. Porque aquele flop não foi a vitória desses guerreiros, mas sim a vitória do bom senso de quem agora revelou tal realismo.

Pequena política

Tony Blair vem terça-feira a Lisboa conversar com Durão Barroso.
E Ferro Rodrigues fica-se?

Polémicas?

Por falar em reflexos pacheco-pereirianos, porque será que, quanto mais palco se tem, menos polémicas se aceitam?
Haverá alguma relação entre esse facto e as estatísticas que dizem ser Portugal um dos países do mundo onde se vendem mais espelhos?

Troca de cromos

É claro, o Pedro Mexia não escreve sobre política no blogue e, num reflexo compreensivelmente pacheco-pereiriano, não entra em polémicas. Não fosse assim e eu pedia-lhe um exemplo de um texto em que Bush seja comparado a Hitler. É só para completar a minha colecção de cromos.

É a guerra, é a guerra !

Javier Solana, que deveria ser o porta-voz da UE em matérias de política externa e não é por razões que não vêm agora ao caso (uff), disse ontem uma daquelas coisas que nenhum jornal português deve ter registado. É demasiado banal, não tem panache, não soa a slogan. Registo aqui duas frases para a minha posteridade:
1. We have to energetically oppose terrorism, but we mustn't change the way we live. Europe is not at war.
2. We are democrats who cherish our freedom. If we change the way we think, we are adding to the terrorists' victory.

Tresleituras

Na missão de «patrulhamento factual» a que às vezes me dedico, acabo de verificar que FNV, no Mar Salgado (vocês conhecem o link...), fala do que não leu. Se tivesse lido a entrevista de Maria João Pires, verificaria que a pianista não está apenas zangada com David Justino e que nomeia outras entidades, incluindo empresas privadas.

O medo e a força

Um dos argumentos mais espantosos que tenho lido acerca do que se passou em Espanha é a ideia de que a «cedência» dos espanhóis, ao votarem PSOE, e de Zapatero, ao anunciar a retirada do Iraque, são sinais de fraqueza que incentivam a Al-Qaeda a atacar. Porque a Al-Qaeda ataca onde sente fraqueza e não onde sente força.
Deve ser por isso, então, que atacou as Torres Gémeas num país governado pelo fraquíssimo George W.

Um domingo inteligente

Abro a página 15 do Público e deparo com o título Al-Qaeda 'Fabricou' Prestígio de Bush.
E continua assim: O título acima não é para o leitor levar a sério. É para guardar, no arquivo do humor negro, lado a lado com a famosa palavra de ordem da direita, erigida em parangona de jornais, "Al-Qaeda venceu as eleições em Espanha".
Nem preciso de ler o resto - talvez mais logo - porque está tudo ali.
Mário Mesquita desmonta, numa frase, a obsessão de uma certa inteligência em pôr tudo a preto e branco, preferindo o slogan ao raciocínio.

sábado, 20 de março de 2004

Penso? Lento

Os vendedores de pensos rápidos voltaram às ruas de Lisboa. Muitos, em muitas ruas.
É uma coisa que nunca hei-de perceber, esta coisa de se venderem tantos pensos rápidos na rua. Pelo que vejo, não há assim tanta gente com pequenas feridas a necessitarem de consolo urgente. Não se percebe porque não se vendem fósforos, preservativos, alfaces, pastilhas, eu sei lá...
Mesmo que as margens de lucro sejam imensas, digamos de 200, 400, 800 por cento, será sempre um negócio condenado à falência. O valor da mercadoria é baixíssimo e a procura será sempre imensamente inferior à oferta.
Só consigo entender este tipo de comércio à luz da ignorância que os pobres têm dos mecanismos do comércio. Quanto mais pobres mais ignorantes, quanto mais ignorantes mais pobres. E isto não é novidade nenhuma. Digamos que estamos perante uma enorme doença que os mais pobres tentam deter com pensos rápidos.

Estoy harta y no aguanto más, me marcho

Estranho o silêncio à volta da entrevista de Maria João Pires ao El Pais de ontem. É que a blogosfera já deu mais que provas de que não conhece fronteiras no que às fontes de informação diz respeito.
E o que diz a pianista?
Título: «No aguanto más mentiras de mi Gobierno».
O resto é mais ou menos no mesmo tom. Por exemplo: «Ha volado la ética, da gente es oficialmente mala. Es triste».
O fundo da história é o mesmo - o financiamento do centro de artes de Belgais.
Há uns anos, a mesma Maria João Pires deu uma entrevista ao mesmo El Pais, na qual dizia mais ou menos as mesmas coisas. O fundo da história era o mesmo - o financiamento do centro de artes de Belgais.
Há uns anos, caiu o Carmo e a Trindade sobre Guterres. Agora, fez-se silêncio de morte. Como diriam os habituais críticos dos media, deve ser porque são todos de esquerda, logo manipuladores.
Para além da pequena política, a entrevista de MJP levanta o eterno tema do financiamento do Estado à cultura. Tenho para mim que a questão não é linear e que o Estado, dentro de um conjunto de critérios razoáveis e transparentes, deve estudar os casos individualmente.
Também me parece que é impensável o Estado apoiar a 100 por cento este tipo de projectos. O apoio estatal poderia funcionar como um selo de garantia, o qual abriria as portas aos privados para que investissem em segurança.
Mas o mais espantoso é que MJP acusa entidades privadas de terem o mesmo comportamento anti-ético que aponta ao Estado. Ou seja, prometem, anunciam nos jornais, e depois esquecem-se de entregar o dinheiro.
É mesmo assim. Como diz MJP: «Estoy harta y no aguanto más, me marcho».

sexta-feira, 19 de março de 2004

Impasses (2)

Esqueci-me de anotar que o livro tem algumas ideias interessantes. Pena é que a realidade não as confirme.

Impasses

Nos últimos meses, tropecei vezes sem conta no livro Impasses, de Fernando Gil, Paulo Tunhas e Danièle Cohn (ed. Europa América). Todas as referências vêm acompanhadas de adjectivos: ignorado, esquecido, silenciado... Se, pelo menos, os que o citam alguma vez o leram, já deve ser um best-seller.

Dialogando com terroristas II

Não há terrorismo, há terrorismos. As cabecinhas mais radicais gostam de bradar que são todos iguais, que é preciso ser firme com eles todos, que eles até operam em conjunto, treinam-se uns aos outros, e por aí fora. Todos os terrorismos merecem condenação, é certo, mas nem todos são iguais e meter todos no mesmo saco é coisa tão irracional quanto o terrorismo ele próprio.
Até o senhor Tony Blair, que pensa estar a combater o terrorismo no Iraque, manda o seu ministro da Irlanda no Norte a Belfast negociar com o malando do sr. Gerry Adams, rosto dos católicos, que ainda há poucos anos estava banido dos media de Sua Majestade. Não se pense que em Espanha as coisas são muito diferentes.
Dir-me-ão: Londres não negoceia com terroristas, mas sim com os políticos que querem a separação. A verdade é que a existência, em paralelo, de braços políticos e militares da ETA, do IRA e de outros movimentos é um facto que serve a todos. Porque essa ambiguidade constitui uma porta entreaberta para a negociação, os contactos, o diálogo.
Mas isso é apenas em relação a esse terrorismo que, à falta de melhor definição, classificaria de «político». A Al-Qaeda, o terrorismo global, é outra coisa. E tem de ser tratado de forma diferente.

A(s) célula(a) portuguesas da Al-Qaeda

O PSOE, que sempre foi contra a guerra do Iraque, quer retirar as tropas espanholas do Iraque.
Dizem que é por cedência à Al-Qaeda.
Ou seja, querem que, por causa da Al-Qaeda, Zapatero comece por desrespeitar uma das suas principais promessas, torcendo a espinho dorsal da sua política externa. Ou seja, querem que a política externa de Espanha seja condicionada pela Al-Qaeda.
São as células (cerebrais) portuguesas da Al-Qaeda.

Dialogando com terroristas

Mário Soares defendeu o diálogo com a Al-Qaeda. Não encontro reproduções das suas palavras, mas apenas notícias genéricas. Tomemos como boa a interpretação que a SIC Notícias está a fornecer - Soares propõe diálogo com a Al-Qaeda.
Tenho defendido aqui que a guerra não me parece a solução para combater o terrorismo. Os factos aí estão para o provar.
Mas esta ideia do «diálogo» parece-me especialmente peregrina. Não é possível qualquer diálogo com terroristas. Nem sequer me parece que seja isso que eles querem. Eles, os do terrorismo global, querem apenas espalhar o medo, um medo total e global, à sombra do qual sonham ser possível impôr as suas regras. Trata-se de algo profundamente estúpido, mas o terrorismo é estúpido (e isto não é um afirmação indignada, tenta ser uma análise fria...).
Já terei escrito aí algures que o combate ao terrorismo passa, em meu entender, por dois eixos centrais de acção: o trabalho dos serviços secretos; o combate às causas geradoras do terrorismo.
No primeiro caso, admito que seja necessário recorrer, em casos específicos, a meios mais pesados, incluindo armados, e que, igualmente em casos específicos, haja algum sacrífico, ponderado, das liberdades.
No segundo, incluo o apoio ao desenvolvimento, o combate à pobreza, os incentivos a democratização.
Aquilo a que temos assistido é à confusão deliberada de todos os meios: como os serviços secretos não funcionam, impõe-se a democracia pela guerra. O resultado tem sido o desastre que está à vista de todos.

Vê lá no que te metes, Kwasniewski

O Presidente da Polónia, Aleksander Kwasniewski, diz que se sente enganado com a inexistência de armas de destruição maciça e que vai retirar as suas tropas do Iraque antes de tempo [a Polónia comanda um dos sectores em que o país foi dividido].
Oh Kwasniewski, pá, então tu não vês que o mundo está muito mais seguro hoje? Vê lá, Aleksander, o que interessam essas minudências das armas? O importante é que há menos um tirano à face da terra. Não me digas, Kwasniewski, que também tu andas a receber ordens do Ben Laden?

quinta-feira, 18 de março de 2004

Feelings

Sara Muller, no Blasfémias, tem um feeling, obviamente feminino, de que os eleitores espanhóis foram enganados e que, durante quatro anos, nada podem fazer.
O meu feeling, obviamente masculino, é de que, em democracia, os eleitores nunca são enganados. Porque, matematicamente, isso pressuporia uma soma gigantesca de enganos. Uma impossibilidade estatística.
Em condições normais, daqui a quatro anos, os eleitores espanhóis farão uma nova escolha. Que será, ou não, condicionada pela que fizeram agora.
É disso que se faz a democracia, dessa liberdade do risco, dessa imprecisão da escolha.

E viva a cultura geral

A Lília, num concurso da televisão, hesita sobre o nome do vice-presidente dos EUA: «Eu mudo sempre de canal quando falam do Bush... é uma embirração pessoal... pessoal não, ninguém gosta dele».

Minas e armadilhas

A polícia portuguesa fez explodir hoje uma «mochila suspeita» na Expo. Verificou-se depois que a mochila só tinha roupa. Após dizer isto, Manuela Moura Guedes anunciou que a TVI tem «várias» equipas a caminho. Esperemos que a polícia as desarmadilhe.

A justiça funciona

Estive três horas no tribunal. «Tem de voltar amanhã, às nove e meia. Só vamos ouvir mais duas testemunhas». Voltarei amanhã.
O que tenho para dizer é que não, não conheço o tal senhor, não, não conheço, de todo, como se produziu a ofensa, não, não sei de nada. Mas lá voltarei. Estes dois meios dias de trabalho perdidos são preciosos para as nossas estatísticas de produtividade.

Golpes de Vista...

Os «sinais dos tempos...» trouxeram os Golpes de Vista para o mundo dos blogues. Aquelas reticências é que são uma merda. Infelizmente, os tais «sinais dos tempos» impedem que discutamos as tais reticências com a frontalidade que se impunha. Em termos práticos, a blogosfera ganhou mais uma voz que vale a pena acompanhar. Bem vindo, caríssimo dm.
Uns chegam, outros partem. O Cerco do Porto rompeu ontem um longuíssimo silêncio só para dizer adeus. Em compreendo-o, a vida não se esgota nisto e isto talvez seja apenas uma fase. Que dá mais forte a uns que a outros. Só não percebo aquela da «precariedade do suporte digital». Pedro, já chegaste um fósforo a uma página de jornal?
O meu amigo Colaço lembra-me um texto prometido para o aniversário da Ânimo. Desta vez, juro, não vou faltar!
O Quase em Português mudou de visual e está mais bonito. Não mudou de texto e isso agrada-me. Por exemplo, aquela mania de sacar de uns «mas»... Somos uns chatos, não é Lutz?
O Bloguitica continua muito preocupado com a política caseira. Ou melhor, em encontrar alguma racionalidade na coisa. O que, levado a sério, o impedirá de alguma vez acabar com o blogue... Ah, é verdade, confirma-se que a esquerda portuguesa delira com Zapatero. O movimento de fronteira já é grande e espera-se a qualquer momento um novo manifesto sobre os centros de decisão: «Todos para Espanha, já». E em força... O Viva Espanha faz agora muito mais sentido.
O Liberdade de Expressão está com os textos mais lúcidos destes dias. Por exemplo, na desmontagem daquelas análises circulares e em que a indignação substituiu a análise fria dos acontecimentos.
Uma última nota para o meu caro CAA, do Blasfémias: não estará a exagerar nas críticas ao Burmester? Não haverá, a montante, outros actores que valeria a pena ter debaixo de olho?

quarta-feira, 17 de março de 2004

A Má Educação

O Jaquinzinhos pode dar-se ao luxo de «manipulações de pensamento». Se fosse espanhol, as hipóteses de o fazer seriam bastante mais reduzidas.
Por exemplo, se fosse espectador da TVE, nunca teria visto as declarações de Pedro Almodovar de que tanto gostou. Segundo o El Pais (sem link), a direcção da estação pública de televisão deu ordens expressas para que fossem suprimidas todas as opiniões políticas do cineasta durante a apresentação do seu último filme, La Mala Educación. «Hemos ido para hablar de cinema», disse o editor do Telediario à jornalista que estava a fazer a peça.

De Madrid a Rabat, passando por Granada

A confirmar-se a pista marroquina nos atentados de Madrid, a Europa tem razões de sobra para se preocupar. Porque a Al-Qaeda, ou uma qualquer das suas sub-secções, poderá continuar a dizer que é tudo por causa do Iraque. Mas não é.
No mundo árabe, os Estados Unidos serão o alvo a abater por uma infinidade de razões, que vão da Palestina às bases militares na Arábia Saudita, passando por um desconforto sem contornos relacionado com a dominação cultural.
Mas, na margem Sul do Mediterrâneo, a Europa está na mira desde que os mouros foram expulsos de Granada. A fractura Norte/Sul passa pelo Mediterrâneo - é uma fractura económica, religiosa, cultural.
Durante as últimas décadas, a migração rumo à Europa foi a tendência mais forte. Apesar dos problemas, naturais sempre que duas culturas se confrontam, fomos convivendo. Mas o 11 de Setembro e tudo o que se lhe seguiu abriram uma caixa de Pandora. E a Europa, não os EUA, estão por natureza na primeira linha do confronto.
O que a UE tem feito nos últimos anos - um trabalho de aproximação e cooperação, lento, mesmo com regimes que politicamente nos repugnam - tem funcionado, talvez melhor do que poderemos supôr. Esta talvez seja a hora de a Europa insistir nessa ideia.
Ou, se se provar a pista marroquina, haverá por aí alguém disposto a uma nova cimeira dos Açores para dar um ultimato a Rabat?

O protegido do Jorge

Pergunta-me um leitor se já aterrei ou se ainda estou ali ao lado.
Não, caro leitor, estou em Portugal. Quer uma prova?
O Blasfemador CAA exulta com a saída de Pedro Burmester da Casa da Música. Porquê? É mau músico? Pior gestor ou programador cultural? Nada disso - é «protegido de Jorge Sampaio». Estou em Portugal... nem preciso beliscar-me.

El trío de las Azores

Em política, os pormenores são preciosos. Num tempo sem grandes utopias, é através deles que, cada vez mais, se fazem opções.
Zapatero diz que retira as tropas espanholas do Iraque se, até 30 de Junho, o comando das operações não passar dos EUA para a ONU. Ora, para essa data, está prevista a passagem de soberania da coligação para os iraquianos e a Espanha não está sozinha na exigência de que - como os americanos não aceitaram que fosse antes - a ONU passe a ter nessa altura um papel central em todo o processo.
Portanto, a decisão de Zapatero é tudo menos pouco solidária com os iraquianos, porque não significa, de todo, abandoná-los à sua sorte. Significa: se os EUA quiserem continuar como até aqui, que continuem sozinhos.
Uma posição que os media espanhóis traduzem pelo desejo de tirar a Espanha do «trío de las Azores».

Os nacionalismos

A vitória do PSOE, se bem que resulte de um crescimento nacional, deve-se, em grande parte, aos votos das regiões que reclamam, ou simplesmente já têm, maior autonomia face a Madrid: Catalunha, País Basco, Andaluzia, Galiza. Basta uma leitura em diagonal dos resultados para perceber que o castigo ao PP vem mais daí que do eleitorado urbano da capital.
Os mandatos de Aznar ficam marcados por uma enorme crispação interna, em que qualquer divergência face ao poder central era criminalizada. Em Madrid (com repercussões curiosas nos media portugueses...) o civilizado nacionalismo catalão é associado ao terrorismo da ETA, como se da mesma coisa se tratasse.
A política externa não explica, de facto, tudo na reviravolta espanhola.

Para combater a má-fé, sem aspas

O Abrupto gostaria que se esclarecesse toda a sequência de troca de informações e divulgação de informação acerca da autoria dos atentados.
Modesto contributo: as «fontes cirúrgicas» da Cadena Ser limitaram-se a dar tudo. Das conferências de imprensa do ministro do Interior, às informações dos serviços secretos que o ministro do Interior confirmava na conferência de imprensa seguinte (chegou a fazer três no mesmo dia...), por vezes só depois de as mesmas informações terem circulado pelos media internacionais. Do lado do PP, foi bem mais simples: a TVE (não nos iludamos, a TVE e o PP são a mesma coisa - comparada, a RTP é modelo de independência) limitava-se a transmitir em directo, sem qualquer enquadramento, como se de comunicações ao país se tratasse, as mesmas conferências de imprensa do ministro. Por vezes, nem transmitia a parte das perguntas e respostas, onde o governante admitia certas nuances na investigação.

O rasto da pólvora

É claro que podemos sempre brincar ao jogo das escondidas.
O Jaquinzinhos cita o El Pais para dizer que os explosivos usados nos atentados foram fabricados em Burgos. Estão a ver... Burgos, «a 60Km de Bilbau», a ETA, os bascos, a esquerda, Zapatero... Enfim!
É claro que o diminutivo Joaquim esqueceu-se de acrescentar que os explosivos foram, sim, fabricados em Burgos, mas que não se sabe onde foram comprados/roubados. Vem no El Pais.
E também esqueceu-se de dizer que os detonadores foram roubados numa pedreira a norte de Madrid. Estão a ver? Norte de Madrid, província de maioria PP, polícia fecha os olhos aos ladrões, cumplicidades... Topam?
Porra... e o argelino preso em San Sebastián? Bolas, já são coincidências a mais. O tal Zapatero não terá um primo, nem que seja afastado, no País Basco?

O terrorismo e o Iraque

Os terroristas dizem que fizeram o atentado para castigar a intervenção espanhola no Iraque.
Zapatero, como toda a esquerda europeia, considera que a intervenção no Iraque nada tem a ver com a luta contra o terrorismo.
Os críticos de Zapatero, ao insistirem no relacionamento entre as duas frentes, revelam que, entre o raciocínio da esquerda europeia e o raciocínio dos terroristas, preferem o raciocínio dos terroristas.

Madrid, Bagdad

Zapatero anunciou, a 15 dias das eleições, que retiraria as tropas espanholas do Iraque caso ganhasse as eleições.
Ganhou e reafirmou a promessa. Dizem que, tendo em conta os atentados, isso é uma cedência ao terrorismo. Ou seja, queriam que Zapatero, por causa dos atentados e do terrorismo, tivesse mudado de opinião. Ou seja, queriam que Zapareto cedesse aos terroristas e que fossem eles, e não o vencedor das eleições, a determinar a política externa de Espanha.

A democracia

Porque os espanhóis votaram PSOE estamos reféns do terrorismo.
Mas não estamos sempre reféns do terrorismo? Essa não é a natureza das coisas?
Se os espanhóis tivessem votado PP, as democracias deixariam de estar reféns do terrorismo? Isso alteraria alguma coisa?

E se...

Se o PP tivesse ganho as eleições, também poderíamos dizer que a Al-Qaeda ganhara as eleições?
Sim, porque esse teria sido, verdadeiramente, o voto do medo. O voto no partido que fala de alto com os terroristas. O partido protector.

O medo, a mentira

Zapatero ganhou as eleições porque houve um atentado. Um atentado da Al-Qaeda.
Não tivesse havido atentado, ou tivesse ele sido da ETA, e Aznar duraria. Por interposta pessoa, mas duraria.
Mas não foi a Al-Qaeda que ganhou as eleições.
Porque o que levou os espanhóis a mudarem de opinião em 48 horas não foi o medo, mas a indignação perante a mentira.
Tivesse o medo sido o motor da viragem e era indiferente que o atentado fosse da ETA ou da Al-Qaeda. Mas não. Naquelas horas terríveis entre o acordar de quinta-feira à tarde e o despertar de sábado, o que os espanhóis queriam saber era quem tinho sido. Isso era fundamental, percebia-se a cada passo. Respirava-se no ar pesado de Madrid.
Foi nessas horas que se deu o clique, que milhões perceberam o logro, não desses dias, mas dos muitos que tinham ficado para trás.
O voto de domingo foi um voto indignado, de protesto interno, não de medo face a algo exterior.

Eis a minha concha

As palavras andam outra vez gastas, repetidas, vazias.
O mundo voltou a ser a preto e branco.
A realidade voltou a ser apenas uma bola de sabão que encaixamos na concha da mão. E cada mão faz a concha à espera que a realidade a ela se conforme.
Eis a minha.

Test

1, 2, 3... 1, 2... experiência... 1, 2, 3... Será que isto ainda funciona?

terça-feira, 9 de março de 2004

Ao lado

Se nos próximos dias não me encontrarem por aqui, estou ali ao lado.

Desportos

Algumas pessoas, o professor Moniz Pereira por exemplo, estranharam que, na recepção ao atletas Rui Silva e Naide Gomes no aeroporto de Lisboa, apenas tenha estado a família e os amigos.
Noutro canal de televisão... uma claque de futebol entretinha-se a assaltar calmamente uma estação de serviço, enquanto que um responsável afirmava recear que, durante o Euro, aquele calmamente desapareça.
O país não está a ficar perigosamente parecido com o último livro de Mário Carvalho. O livro é que reflecte muito bem o país.

Esclarecimento

A propósito de um texto que publiquei a 6 de Fevereiro, recebi de Eduardo Cintra Torres o seguinte esclarecimento: «Informo-o de que escrevi sobre a relação Manuela Moura Guedes-José Eduardo Moniz há três ou quatro anos, quando ela começou a apresentar o Jornal Nacional».

Os exames

Voltou a polémica sobre os exames no básico e secundário. Como todos somos filhos, pais, alunos, ex-alunos, professores, explicadores nas horas vagas, em suma, pedagogos, todos temos opinião. Aí vai a minha.
É óbvio que um dos males portugueses é o facilitismo, de que uma das faces mais visíveis é a falta de controlo de qualidade. Isto é válido para a educação e para o resto.
Também me parece ser necessário encontrar algum equilíbrio no sistema de educação. Por natureza (e ainda bem que assim ocorre...) ele é um dos mais expostos à inovação, à experimentação. Mas também é verdade que o sistema não pode ficar à mercê das vontades e birrinhas, não de cada partido ou orientação ideológica, mas mesmo de cada ministro.
Não discuto a existência de exames - parece-me que eles nunca deveriam ter sido eliminados - mas penso que valeria a pena debater um pouco que tipo de avaliação queremos nas escolas.
Desde logo, saber que peso terão os exames na avaliação final. Dito de outra forma - não deverá a avaliação contínua ter um peso considerável? Não será essa uma das formas de evitar que a aferição de conhecimentos recaia exclusivamente sobre um momento específico, excessivamente determinante?
Queremos exames nacionais, ou a nível de escola? Ou seja, que grau de autonomia queremos para as escolas? Queremos tudo normalizado por uma bitola nacional, ou admitimos variantes de ritmo ou mesmo conteúdo? Ou quereremos algo que combine as duas vertentes?
Receio que o debate limitado à existência dos exames seja redutor, sacralizando ou diabolizando os exames. Estes nunca serão, por si, um meio para melhorar o ensino em Portugal. Mas podem ser um dos meios, permitindo, além de avaliar o aluno, fazer uma avaliação sobre o próprio sistema (Importaria saber, por exemplo, se os resultados dos exames de aferição conduziram a qualquer rectificação no ensino básico).

Às escondidas com o mundo

Um dos momentos hilariantes de todas as manhãs é quando os pivôs da SIC Notícias mostram os jornais do dia. Quando chegam ao 24 Horas, hesitam, pigarreiam, e... passam ao lado. Raramente lêem a manchete. Hoje, por exemplo, é: «Rute Marques expulsa de casa». O pivô engasgou-se, hesitou e lá disse que o destaque do 24 Horas são umas afirmações de... Maria Cavaco Silva. O que vale é que, por enquanto, as câmaras não mentem. Mas não deixa de ser estranho que uma televisão de notícias vire as costas ao mundo.

Dias

Já passa da meia noite? Sim? Uff, então já é Dia do Homem outra vez.

segunda-feira, 8 de março de 2004

'Tá tudo parvo, ou quê?

Mas o que é que esse tal Portas queria debater com Mário Soares?

sadomasoquismo-subscribe@onelist.com

Nas últimas semanas, as minhas caixas de correio (pessoais, profissionais, blogais...) pouco mais têm tido que lixo. Ora é o Spam mais idiota (tentam vender-me de tudo - especialmente coisas de que não preciso ou simplesmente não posso comprar), ora são os vírus disfarçados em correio de gente amiga (à pala disso, já recebi correio verídico que nem era para mim). E há gente com uma imaginação simplesmente delirante - esta tarde, chegou-me um vírus do seguinte endereço: sadomasoquismo-subscribe@onelist.com. Alguém está interessado?

Hoje há crónica

Recomenda-se A Lista, de Eduardo Prado Coelho, no Público. Puro humor corrosivo.

O dia de hoje

Abro o El Pais e dou de caras com duas páginas dedicadas ao «Dia Internacional de la Mujer Trabajadora». Isto, meus senhores, perdão, minhas senhoras, é que é discriminação.

Casa Pia - a lama «cívica»

Uma «fonte da investigação» disse ao Correio da Manhã de domingo que um dos 127 do álbum de fotografias foi identificado por testemunhas e só não foi constituído arguido porque o crime prescreveu.
Ou seja, se tirarmos a dezena de arguidos, qualquer um dos outros cento e tal é pedódilo. Só não sabemos qual...
É claro que, pelo andar da carruagem, a tal «fonte da investigação» pode continuar a acrescentar suspeitas nas próximas semanas.
Até porque, no Jornal de Notíticas de hoje, refere-se que as 127 personalidades «foram quase todas referidas no processo, como suspeitos de abusos ou como tendo relações de proximidade com os arguidos».
Ou seja, aquela é uma lista de suspeitos de serem suspeitos.
Mário Mesquita, no Público de domingo, chama-lhe «álbum da totoculpa», explica como a lista poderia (deveria?) ter sido diferente e alinha algumas justificações (a questão mediática) para que tenha sido assim e não de outra forma.
No Correio da Manhã de domingo, Moita Flores também explica as (des)razões da lista. E nota que nela figuram, curiosamente, muitas pessoas que criticaram publicamente o processo.
Mesquita espanta-se com a falta de indignação pública. Flores chega ao ponto de exigir a demissão do PGR.
Mas a verdade é que convém não nos indignarmos muito - qualquer indignado é candidato a suspeito.
Espantoso é que Marcelo Rebelo de Sousa considere a lista «serviço cívico». Mesmo que a lama continue a ser atirada sobre «suspeitos» que já prescreveram. Mesmo que a lama lhe possa cair em cima. Cívico, diz ele!

domingo, 7 de março de 2004

Blogando

Principal vantagem dos blogues colectivos: são tantos a escrever que até o Sitemeter abana...

Contos da loucura normal 2

«Não deixa de ser surpreendente o anátema contra quem, a este propósito, utiliza os conceitos de 'natutal' ou de 'normal', quando é certo que são exactamente esses os conceitos que figuram na Constituição e na lei.»
Rita Lobo Xavier, porfessora da Universidade Católica, num artigo do Público de hoje, em que contesta a possibilidade de adopção de crianças por casais homossexuais.

Abstenção faz 69 (versão corrigida)

Uhm... Uhm.. uum, ummm... umm... uuuuuuummmmmm... uummmm... um, um... Fuççu Putuuhhh !!!
[Versão corrigida após o autor se ter lembrado da impossibilidade de diálogo nas circunstâncias supracitadas...]

Abstenção faz 69

Mais, mais... isso, continua... aí... Oh não, oh sim... está quase... isso, aí... mais, mais... Força Portugal !!!

Deficientes, quais deficientes?

Já tinha saudades da lógica implacável do FNV (Mar Salgado, link à direita...) - os media não tinham nada que se «eriçar», nem que fazer qualquer «chirivari», com aquela coisa de Pedro McDonald Lopes não querer levar crianças deficientes ao Euro 2004. Simplesmente, porque aquilo é a regra e não a excepção. Caia, pois, uma cortina de silêncio sobre o assunto.

Aspas, aspas, idem, ibidem

Hoje, outra vez, uma incursão do exército israelita fez mais 14 mortos na «Palestina», quatro deles crianças. Perdão, «crianças».
Segundo fontes muito bem informadas, tratou-se de mais um acto de anti-semitismo. Em sentido lato, claro.

Uma carta muito interessante

Um deste dias, Ana Gomes defendeu a despenalização do aborto com o argumento de que isso evitaria mais Casas Pias.
Esta semana, Manuel Abrantes (ex-provedor, ou provedor-adjunto, e arguido do processo) dá-se ao trabalho de criticar a deputada socialista, numa carta enviada ao Independente. Mas a critica pouco interessa, porque as coisas laterais que Abrantes escreve é que são mais curiosas:
a) «[estou] convicto de que se não houvesse o Processo Casa Pia, outro semelhante haveria de ser chamado à ribalta»
b) «peço que acompanhe o que, a meu ver, será o fenómeno Casa Pia e não o caso Casa Pia».

Medianamente desorientado

Hoje, houve novamente problemas na Palestina. Perdão, em Israel.
E parece que morreram mais seis pessoas. Perdão, «pessoas».

Castells ainda (porque não?)

Joseph Saint-Simon, leitor do TdN, cruzou-se comigo nos comentários do Barnabé. E discorda da apreciação que fiz da entrevista do Castells na 2:, basicamente porque considera que o homem não diz nada de novo e que algumas coisas que diz foi buscá-las a outros.
Não conheço a obra de Manuel Castells tão bem como o Saint-Simon e muito menos conheço de forma profunda a literatura sobre o tema (teoria da informação, sociedades em rede, etc), pelo que não posso discutir se há plágio ou não.
Não considero, porém, que a originalidade seja um valor absoluto. E não desgosto de pensadores que conseguem fazer sínteses. E parece-me que, perante o enorme ruído comunicacional dos nossos dias, Castells consegue ter um pensamento muito organizado, objectivo e acertado sobre uma data de coisas. Ou seja, sobre uma série de temas que me interessam e que considero determinantes para os próximos anos, Castells talvez consiga fazer a síntese que mais me interessa:
a internet - não a endeusa, mas também não a diaboliza. Diz que com ela (mas não só, com o resto das tecnologias da informação...) o Homem ganha/acrescenta/desenvolve capacidades e que a sociedade em rede veio mudar (e tem potencialidades para mudar ainda muito mais...), por exemplo, a forma de fazer política.
a política - o exemplo Finlandês de que tanto se tem falado mostra como dentro do sistema capitalista se pode desenvolver política para as pessoas (e Castells tem o cuidado de salientar que não está a dar uma receita, cada país tem de encontrar o seu caminho - e essa é a ideia central). Sinceramente, a questão dos imigrantes, que tem sido valorizada nos debates, parece-me completamente secundária.
Enfim, o homem não inventou nenhum ovo de Colombo, mas - insisto - perante os disparates, o descentramento do debate, que todos os dias nos entra pela casa dentro, parece-me de uma sensatez muito acima da média.
Já agora, uma nota pessoal para o Joseph Saint-Simon - não enfie a carapuça sozinho, que lhe fica larga, e continue a ler TdN. Também aqui vou tentanto fazer algumas sínteses...

sábado, 6 de março de 2004

Contos da loucura normal

Eu hoje vou comer um feto.

Pois...

Como não tenho comentários, ando a pôr comentários nos blogues dos outros. Por exemplo, passei pelo Barnabé, li um texto sobre o Manuel Castells e deixei um comentário:
«Ora bolas, estive eu a perder tempo a ver o gajo (duas vezes...) quando, há pelo menos 10 anos, que há gente em Portugal que já sabia aquilo tudo, já tinha percebido como se faz, e até topa onde o gajo vai copiar. Afinal, sempre somos país de ponta em alguma coisa... Na presunção.»

sexta-feira, 5 de março de 2004

E o Grande Prémio Coerência vai para...

Liberdade de Expressão:

1. O aplauso para «uma medida claramente liberalizadora»: «A legislação [dos EUA] garante que a opção por turmas de sexo único será sempre dos pais e que a opção por turmas mistas deverá estar sempre disponível.»
2. O aplauso para a distribuição de folhetos sobre o aborto nas escolas, porque «A constituíção protege a Liberdade de Expressão».
No entanto, desta vez os pais não escolheram:
Milhares de folhetos com imagens de alegados fetos, mensagens chocantes e a descrever com pormenor o aborto estão a ser distribuídos às crianças em várias escolas portuguesas, sem o conhecimento dos pais.

É o fim do mundo

A campanha eleitoral de George W está a começar da pior maneira, com as famílias das vítimas do 11 de Setembro a acusarem o homem de abusar das imagens do 11 de Setembro.
Diz Ron Willett, pai de uma das vítimas: «Mais depressa votava em Saddam Hussein que em Bush».
É o fim do mundo, meus senhores, o fim do mundo...

Na pátria do McDonalds

Nos Estados Unidos, pátria da liberdade e do McDonalds, seria assim:
com os jogadores, na sessão inaugural, entrariam cinco crianças - uma branca, uma preta, uma hispânica, uma deficiente... e uma pendurada na mama da Janet Jackson para dar audiência.

Absent Friends

Quinze minutos de filme, só cordas e metais. Depois, o costume. Estou a ouvir Absent Friends, o novo disco dos Divine Comedy. Não faço ideia quando estará à venda, mas presumo que seja nos sítios do costume. Basta estar atento. Quem falhar, não tem perdão.

Um país de perna aberta

Entras no autocarro ou no metro e é sempre a mesma coisa. Os únicos lugares vagos estão ocupados com uma perna.
Alguém me sabe explicar porque andam sempre os portugueses de perna aberta nos transportes públicos?

Castéis (o quê, outra vez?, o gajo 'tá doido...)

Ana Sousa Dias não acerta com a pronúncia de (Manuel) Castells. Mas esse é apenas um dos desencontros da entrevista. Há muitos outros ao longo da conversa.
Já aqui escrevi que se trata de um momento imperdível de televisão. Pelo que Castells diz.
Mas naquela entrevista também gostei muito do aspecto formal. Ou melhor, gostei que tivesse sido tão informal. Por vezes, percebe-se que a entrevistadora tanto poderia tomar um caminho como outro qualquer, como se, perante a clarividência do entrevistado, tudo pudesse ali ser abordado. Porque Castells tem resposta para tudo. E isto, que costuma ser uma ofensa (não gostamos de gente que tem resposta para tudo...), nele é uma mais-valia, porque as respostas que dá nem sempre são aquelas de que estamos à espera. Ou até são, mas com uma fundamentação feita de inteligência e cultura em estado puro.
E, é claro, perante alguém assim, apetece tornar a conversa interminável. Mais, apetece globalizá-la, meter tudo lá dentro.
[Bom, estou a escrever novamente sobre o Castells. De certa forma, é só para confirmar o que escrevi ontem - que sou mesmo um chato - e, já agora, para lembrar que passa na 2:, às 11 e 30, daqui a bocadinho...]

?

O Possidónio Cachapa encerra, ou não, o seu blogue?
Não se aceitam apostas.

Justiça

Acho normal que qualquer pessoa possa constar de um álbum de fotos de suspeitos. Nisso, sou como o outro: se houver uma lista de suspeitos com óculos, ponham-me lá.
O que acho absolutamente extraordinário é que, em tal album, apenas surjam pessoas conhecidas, nomeadamente políticos.
Haverá melhor prova de que estamos perante a tal politização da justiça?

Digam-lhe adeus!

Mesmo em cima do noticiário das 9, o Rádio Clube Português voltou a passar uma coisa chamada «E Depois do Adeus», de um tal Paulo de Carvalho. Ora a coisa, aparentemente inocente, foi uma das senhas do 25 de Abril. Pensava eu que, 30 anos passados, isto já não seria possível. Quem pensam eles que nós somos?
Recordo que, por exemplo, esta semana na Veja o tal Mainardi, Diogo, avançava com uma proposta corajosa - a demolição, sim a demolição, pura e simples de todo e qualquer edifício ligado à resistência à ditadura brasileira.
Ora do que Portugal precisa é de gente corajosa como este rapaz Mainardi. Podíamos começar pelo Rádio Clube Português - que os mais velhos ainda associarão ao tenebroso nome de Emissora da Liberdade. É que, ainda há dias, estavam a passar a «Pedra Filosofal». E juro que há umas semanas até ouvi José Afonso (notai que não escrevo «Zeca»...). Onde é que isto irá parar se não tomarmos medidas? Ora aí está uma bela proposta de acção para a blogosfera nacional. Mostrar que ainda estamos vivos. E verticais.

quinta-feira, 4 de março de 2004

Castéis, bis

Eu sei, sou um chato.
Mas queria avisar que esta sexta-feira, às 11 e 30 (da manhã...) repete na 2: (sim, na RTP...) a entrevista em que Manuel Castells explica o (complexo) mundo às crianças (que somos nós).
A inteligência é cada vez um bem mais raro (e, logo, caro). Por isso, aproveitem bem estes 50 minutos.

Promessas

Acho que Guterres e Durão prometeram. Cavaco não, porque ainda não havia. Qualquer coisa do género - computadores em todas as escolas, internet para todos, descontos no IRS, a sociedade da informação a sério.
Se eles soubessem que cada português, assim municiado, iria querer um blogue, não teriam prometido. O Inferno não são os outros, são as opiniões dos outros.

Definitivamente não

Incomodam-me muito as coisas definitivas, sem retorno. Os juízos e os factos. A pena de morte consegue fazer o pleno.

Heaven's Door

Até conhecer o Voz do Deserto ignorava que o rock também podia conduzir ao Céu. Sinceramente, não quero experimentar. Mas gosto de saber que há acredite. Parabéns.

Jesus. Porquê tanto escândalo?

Às vezes, muito raramente, também gosto de fazer as minhas citações longas. É claro que para as citações longas escolho textos curtos. Por exemplo, este que saiu na edição de quarta-feira do Le Monde, do escritor Henri Raczymov:

Qui a tué Jésus?
La France se prétend un pays laïque. On en douterait, à voir la polémique exorbitante qui entoure la sortie de La Passion du Christ. Rien à voir avec l'affaire du comique Dieudonné.
Dans un cas, il s'agit clairement d'antisémitisme, revendiqué comme tel dans les déclarations que l'intéressé multiplie. Dans l'œuvre cinématographique, en revanche, nous avons affaire à un film à thème religieux conçu et réalisé dans un pays, les Etats-Unis, dont l'immense majorité des citoyens et la tradition sont étrangères à la notion même de laïcité. "In God We Trust" sur le billet vert, avouons-le, la formule sur ce support-là sonnera toujours très bizarrement pour un Français. Envisageons à présent de considérer le film de Mel Gibson avec des yeux laïques. Et même, si je ne choque personne, du point de vue de l'athée que je suis.
De ce point de vue, Jésus n'est pas le fils de Dieu, lequel d'ailleurs n'existe pas. Au mieux, Jésus, c'est une sorte de Socrate oriental que sa communauté, de même que pour le philosophe athénien, a mis à mort. Parce qu'il embêtait le monde, cet homme, rien de plus. Or, pour le meurtre de Socrate, accuse-t-on les Grecs ? Pire, accuse-t-on les Grecs de 2004 ? Ce serait pure folie. Alors pourquoi diable s'offusquerait-on de ce que des juifs aient voulu, sinon mis en œuvre, la mort de Jésus ? Puisque Jésus, pour un juif, précisément, c'est un homme comme tout le monde, qui n'a strictement rien de divin. Bon, ils ont tué un homme, c'est mal. Et alors ? Quelle communauté n'a jamais tué un homme qui semait la zizanie en son sein ? Où est le scandale éternel ? D'un point de vue athée, la crucifixion de Jésus est un non-événement.

Deficiências

Câmara de Lisboa convida crianças sem deficiências a assistir ao Euro 2004.
Comentário dos blogues liberais do costume: é a lei do mercado, levar crianças deficientes ao futebol sai mais caro.

Voxx

O Barnabé, o Blogue de Esquerda e o Intermitente trocaram umas palavras sobre a venda da rádio Voxx.
Não me parece que seja possível debater tal coisa sem antes passar pelo post 525 do Bloguitica.

Esclarecimento

As direcções dos externatos Planalto e das Escravas do Sagrado Coração de Jesus vêm por esta via esclarecer que os alunos que participaram ontem numa marcha contra o aborto estavam no cumprimento de uma aula prática de educação sexual.
Assinatura ilegível.

Factos da vida

1. Morreu o Criador do Conceito de "Pseudo-acontecimento".
2. Acabou o segredo no processo Casa Pia.

Um mundo sem ti

É claro que anda por aí uma agressividade de bradar aos céus. Já qualquer coisa serve para alimentar o ódio. Há quem tente disfarçar esse ódio de debate. Desenterram-se, então, velhos argumentos, como se não fôssemos já suficientemente crescidinhos para sabermos que, para cada um desses argumentos, há sempre um contra-argumento.
Isto é normal, isto é a vida real. É impossível fugir.
O que me espanta, espantar-me-á sempre, é que tanta gente apenas queira silenciar o outro. A esgrima de argumentos, porque fictícia, aguenta-se por breves instantes. Não querem esclarecer pontos de vista, eventualmente tentar perceber os pontos de vista do outro, já não digo chegar acordo mas qualquer coisa do género «Ok, percebi o teu ponto de vista, mas tenho razões para pensar que não é assim». Não, o que muita gente quer é simplesmente o silêncio do outro: «Cala-te que és um idiota, não te quero ouvir, nem te quero ouvir...»
O que eu não entendo é que interesse teria um mundo assim. Sem o outro.

Aborto, outro nome da hipocrisia

A decisão tomada pelo Parlamento vem juntar-se ao recente acórdão de Aveiro na perpetuação da hipocrisia.
A prática judicial já tinha mostrado que a lei não é para levar a sério. Agora, os deputados da maioria vieram confirmá-lo, com todo o peso do poder legislativo. Porque, dizem, em 2006 voltamos a falar do assunto. Ou seja, esta lei que aí está é só a fingir, não liguem, a malta não pode discutir isso agora, por causa de uns compromissos, mas depois há-de dar-se um jeito.
Entretanto... na vida real, o aborto continua a ser praticado nas mais inacreditáveis condições, às escondidas, lançando sobre aquelas que o praticam todos os perigos reais para a sua saúde que essa prática, assim clandestina, acarreta. E também a desvantagem moral e o perigo, também ele real, de um qualquer juiz se agarrar à lei e decidir que, de um caso concreto, vai fazer um exemplo para que todas cumpram o que está em vigor.

quarta-feira, 3 de março de 2004

As miúdas da Publicidade

Constatação de elevador: as miúdas mais giras estão no Departamento de Publicidade.
Dúvida da tarde: as miúdas mais giras estão do Departamento de Publicidade, ou a Publicidade torna mais giras as miúdas do Departamento?
[Alerta aos menos avisados: o conceito de miúda, para quem nasceu no ano dos Beatles, é assim um bocado para o vago...]

Blogando

Por exemplo... eu agora não me apetece escreve nada. E não escrevo.

terça-feira, 2 de março de 2004

Força Avelino

O primeiro-ministro, afinal, quando comentava o caso Ferreira Torres, estava a falar genericamente, pois ainda não tinha visto aquilo que as televisões estão a mostrar, ininterruptamente, há 48 horas.
O ministro da Administração Interna elogiou a GNR, pelo que, amanhã, vou dar uns pontapés na mobilia do Museu Nacional de Arte Antiga, insultar os funcionários («O que é que querem? Não gosto de Arte Antiga!...») e dialogar com os três agentes da PSP que, calmamente, me vão acariciar durante um quarto de hora. Depois, vou para casa.
O líder parlamentar do PP, partido do qual o senhor Ferreira Torres é destacado militante e dirigente, não comenta. «Como compreendem...» Não, não compreendemos.

The case for...

A edição desta semana da Economist, uma revista conservadora, remete para um editorial em que defende o casamento entre homossexuais - The case for gay marriage.
A ideia é simples: trata-se de uma questão de livre iniciativa. «If homosexuals want to make such marital commitments to one another, and to society, then why should they be prevented from doing so while other adults, equivalent in all other ways, are allowed to do so?»
Como o editorial vem a propósito da proposta de Bush para proibir o casamento entre homossexuais, escreve a Economist: «In America the constitution expressly bans the involvement of the state in religious matters, so it would be especially outrageous if the constitution were now to be used for religious ends.»
Não sei porque me fui lembrar disto logo hoje. Desta ideia de o Estado se manter afastado das decisões que envolvem a esfera íntima das pessoas. Por exemplo, àquelas coisas que as pessoas normalmente associam à religião. E às questões que essas pessoas acham que derivam da religião.
Não sei porque me fui lembrar disto. Logo hoje... Terá sido por alguma coisa que li no Barnabé?

Fred Astaire

«Peço a todos os intervenientes do futebol, sejam desportistas, responsáveis associativos ou responsáveis autárquicos, a maior contenção, a maior elegância, o maior desportivismo» - Durão Barroso.
E foi então que Avelino Ferreira Torres se inscreveu num curso de ballet.

Ensino básico - aula de português

Ele há com cada regra na escrita... Por exemplo, num jornal diário, passamos a vida a escrever no passado. Chegamos a escrever no passado, coisas que nem sequer se passaram. Mas isso é outra história...
A verdade é que essa coisa de escrever no passado se agarra à pele. Descrevemos uma cena ali à nossa frente, bem presente, e logo teclamos «ontem...». É automático. Mesmo que num texto com o título de «Amanhã, Bassorá». E que, num jornal diário, teria de ser «Hoje, Bassorá», perdendo logo toda a poesia. Foi o que aconteceu com o JPH, no Glória Fácil. Há ali um «ontem» que é «hoje». Isto para que o «amanhã» não seja «hoje».
Aviso à navegação: este texto tem apenas 0,4 de acidez. É puro azeite virgem. Que fica bem em qualquer caldeirada, coentrada, ou mesmo no pires para molhar com pão rústico. Não vos quero ensinar nada. Só me estou a insinuar...

Ensino básico

- Papá, papá, o que é um belogue?
- Um belogue, menino Zézinho, é um caderno diário que se escreve de baixo para cima e se lê de cima para baixo.

As vacas sagradas

O novíssimo Blasfémias publica uma lista que é espelho dos múltiplos equívocos que afligem a opinião publicada em Portugal. Numa total inversão de valores, LR chama Vacas Sagradas àqueles que são, verdadeiramente, os bombos da festa. Daí resulta o habitual enviesamento de qualquer debate. Vejamos dois ou três exemplos:
Mário Soares - não há cão nem gato que não se atire ao homem: vem um e chama-lhe criminoso por causa da guerra colonial, vem outro e diz que o homem anda a proteger os criminosos da Casa Pia. Nos últimos anos, não houve percalço da democracia portuguesa a que não tenha sido associado. Vaca sagrada? No último debate público que manteve não foi ele o protegido pelos media e opinadores, mas sim a outra parte... como de costume.
A Classe Jornalística - exageram-lhe o poder, a influência, para conferirem legitimidade à bordoada geral. Seja a propósito do Iraque, da Casa Pia ou do simples esgoto da esquina, a culpa há-de ser sempre de um qualquer jornalista. Ou porque escondeu, ou porque mostrou. ou porque não era bem assim, ou porque era mais assado...
A Função Pública - de quem é a culpa de Portugal ser uma desgraça? Pois obviamente dos funcionários públicos, essa corja de inúteis. Todos despedidos ainda era pouco. É claro que o sector produtivo nacional - privado, onde não há funcionários públicos - é de uma incompetência que brada aos céus. Mas é muito mais cómodo atacar essas vacas sagradas da função pública.
Concluindo - e usando a mesma linguagem bovina do Blasfémias - diria que em Portugal há é muita vaca louca, malta que não sabe, ou não quer saber, do que fala. Vacas sagradas, felizmente, há muito poucas.
[Actualização: lista por lista, a do Driving Miss Daisy é mais bovina].

Ferreira Torres e o resto

O episódio Avelino Ferreira Torres tem um aspecto aparentemente secundário que, a meu ver, é bem mais importante que a figura patética do troglodita. Essa, haja um juiz com tomates, e vai dentro. Mas isso do juiz com tomates prende-se precisamete com o que quero dizer...
O tal aspecto secundário é a impotência, a conivência, a quase convivência, a inutilidade dos GNR que, pacientemente («então sô dôtor, vamos lá, sô dôtor...»), tentam acalmar a fera.
Um dos problemas deste nosso pequenino Portugal é que, fora dos grandes centros (e às vezes nos grandes centros), toda a gente se conhece. Que soldado da GNR de Marco de Canavezes se atreveria a dar voz de prisão ao autarca? Que delegado do Ministério Público do Marco ou lá perto se atreve a abrir um inquérito? Que juiz se atreverá a mandá-lo para a prisão?
Todos se conhecem e partilham muito mais que a paixão pelo futebol. Nesses meios pequenos, é tal a cadeia de solidariedades, de cumplicidades, que nada pode acontecer.
Por esse país fora, quantas prepotências, quantos escândalos, quais ignomínias estarão abafadas só porque o juiz é compadre do presidente da câmara, que por sua vez vai à caça com o principal empresário lá da terra, que tem um caso com a mulher do capitão da GNR, que é irmã do director do hospital, o qual é casado em segundas núpcias com um agente da PJ colocado na vila mais próxima...
O caldo só se entorna quando uma dessas cadeias se quebra. Como aconteceu em Felgueiras.

...da-se

Parafraseando o poeta:
sigamos os linques, meu amor, sigamos os linques.
Os links são os do Anarca... e dão que pensar.

Castéis

A entrevista com Manuel Castells (Castéis, em catalão) foi uma das melhores coisas a que assisti nos últimos tempos. Não porque tenha dito qualquer novidade sobre este nosso mundo. Sim pela forma como o entrevistado sistematizou as principais tendências da comunicação, da economia, da política, ora complexificando o que parece evidente, ora descodificando aquilo em que nem sequer tinhamos reparado. Simplesmente fabuloso.
Repete sexta-feira de manhã (11 e 30) na 2:.

segunda-feira, 1 de março de 2004

Slogans trocados

Após a coligação ter roubado o slogan «Força Portugal» à selecção, resta à selecção ficar com o slogan da coligação: «Nas tintas prá Europa». Teme-se, pois, o pior. Lá para Junho.

Castells

Andam por aí a aconselhar uma entrevista que passa hoje, na 2:, com o sociólogo Manuel Castells (23 horas).
Eu não aconselharia. Além de um dos sociólogos que melhor tem interpretado toda esta marmelada da sociedade em rede na qual vivemos, o homem tem a mania de ser um espírito livre. Tanto lhe dá para criticar uns como os outros. Americanos incluídos. Vocês não iam gostar...

Cartaz, qual cartaz?

Digam-me lá baixinho: de que cartaz está ele a falar?

Dos ácidos e outras azias

Porquê tal animosidade contra quem (...) se limita a falar apenas do que lhe interessa, do que o diverte, daquilo em que se sente mais seguro ou, como me aconteceu hoje, daquilo em que lhe der na real gana?
J in Cruzes Canhoto! Não podia estar mais de acordo.

Regresso

Every time I think about back home
It’s cool and breezy
I wish that I could be there right now
Just passing time.

Everybody Know This Is Nowhere, Neil Young.

Haiti (ainda)

Afinal...
não foram os americanos que aterraram no Haiti. Mas sim os americanos, os franceses (!!!) e os canadianos. E com mandato da ONU.
O sistema funciona
ou
quando não há petróleo, o sistema funciona.

Perturbação da ordem, destruição de bens, sequestro, agressão...

Para que prisão foi transportado Avelino Ferreira Torres?
Ah, não foi preso? 'Tá bem.
E se tivesse sido eu?

Haiti, petróleo e pilhagens

Em 1915, os americanos invadiram o Haiti. Ficaram até 1934.
Em 1994, os americanos recolocaram no poder Jean Bertrand Aristide e depois foram-se embora.
Em 2004, os americanos tiraram Aristide do poder. Aposto que se vão embora num instantinho.
Definitivamente, não há petróleo no Haiti.
Mas, já agora, talvez o Liberdade de Expressão, recorrendo ao método infalível da lógica aplicada, nos possa confirmar se é correcta a seguinte equação:
a) os americanos chegaram a Bagdad e Bagdad foi pilhada:
b) os americanos estão a chegar a Port-au-Prince e Port-au-Prince está a ser pilhada;
logo
c) onde chegam os americanos, há pilhagem.

Leituras essenciais

Essencial é o texto que Alexandra Lucas Coelho escreve hoje no Público.
«A conspiração de Helena Matos», ou como a esquizofrenia analítica não é um exclusivo da blogosfera.

Apresentas-me a tua psiquiatra?

Telefonei à minha psiquiatra. "- Se é para falar dessa merda dos blogs, não estou"- ela, empática.
in A Natureza do Mal.

Blasfémias

Blasfémias. Aí está o tal megablogue. Boas-vindas. Só é pena que comecem logo por cometer um erro do tamanho de um comboio - naquela galeria de presidentes do Haiti falta um. Mais propriamente, falta um W.