sexta-feira, 31 de outubro de 2003

What makes the world go 'round

A Visão traz o Jardim Gonçalves na capa, a Exame escolheu o Ricardo Salgado. Ainda bem que, de vez em quando, alguém nos lembra quem verdadeiramente manda.
Não admira por isso que o homem que limpa as folhas de Outono esteja interessado em saber quais são as 1000 Maiores.

Verde, código... buraco ao centro

Fui levar a minha filha à escola e, no sítio do costume, lá estava a carrinha do dinheiro em cima do passeio. Desta vez, tinha ao lado a do Panrico.
- E se eles se enganam e põem os donuts na máquina do multibanco?

quinta-feira, 30 de outubro de 2003

Fofinhas

Tinha dezanove anos e um peluche.
Um dia, hei-de começar assim um romance.
Do universo de mistérios femininos, este é um dos que mais me fascina.

Dezembro em Outubro

Eram dez da noite e o sistema sonoro do Metro não parava de anunciar:
«Informamos que os passes para o mês de Dezembro já se encontram à venda, evite as filas do fim do mês».
Que pena não haver mais Novembros.

Bom, lá vou eu repetir-me

Sinceramente, acho que querem dar comigo em maluquinho de tanto me repetir, de tanto me repetir, de tanto me repetir... perdão.
Por exemplo, dizendo-me, como faz o Liberdade de Expressão, que a invasão americana do Afeganistão se justifica porque, antes, o Afeganistão já tinha sido subjugado pelas armas dos talibãs.
Ora gaita, mas então vamos descer ao mesmo nível de barbaridade dos facínoras dos talibãs?
Vou, então, repetir-me: tenho tudo contra os totalitarismos, nada contra as democracias, excepto quando as democracias se armam em totalitaristas.
Vou, então, repetir-me: tenho tudo contra os totalitarismos, nada contra as democracias, excepto quando as democracias se armam em totalitaristas.
Desculpem...
[Quanto à questão de fundo: se um barbeiro me cortasse o cabelo à Titanic, aderia ao islamismo só para poder mandar cortar-lhe as mãos.]

Links, poesia e impostos

Há três blogues da Weblog.com.pt que são um primor. E nem sequer falo do conteúdo, falo do grafismo (nada exuberante, mas claro, elegante) e dos autênticos serviços públicos que servem nas colunas de links.
São eles o Adufe, o Janela para o Rio e o Memória Virtual. O Janela para o Rio, além do mais, até tem um documento, em pdf, que ensina a poupar nos impostos. Tudo o que seja para impedir o défice de de cair abaixo dos 5 por cento é bem vindo ('tou a brincar, 'tou a brincar...).
Por falar em iniciativas meritórias. O incansável Retorta e a não menos Janela Indiscreta acabam de dar à luz o primeiro livro de poesia da blogosfera lusa. Uma recolha interessantíssima, para passar os olhos, a alma, o coração, nos intervalos das crispações em que nos metemos.
Obrigado a todos.

quarta-feira, 29 de outubro de 2003

Será chinês?

Se há coisa que admiro no J., do Cruzes Canhoto!, é a paciência.

O Iraque, os EUA, a ONU (uma polémica)

No Mar Salgado encerraram a polémica, mas ainda há duas ou três coisas para dizer. Se ficar a falar sozinho, paciência. Habituei-me bastante nos últimos meses.
Por exemplo, de nada vale ao NMP vir com tiradas do estilo «manifeste-se contra os americanos à vontade» porque, além de não me manifestar (no sentido mais comum da palavra), não sou anti-americano. Quero é gozar da liberdade de, a cada momento, poder criticar decisões e políticas. Parece que isso hoje incomoda muita gente. Paciência, outra vez.
A questão central que NMP e Neptuno levantam é a do unilateralismo versus multilateralismo. Acho justo, essa é a questão mais séria e ampla que o problema do Iraque levanta.
É claro que, para debater a coisa seriamente, tenho de ignorar o que NMP escreve sobre contratos petrolíferos e outras incidências económicas. De outra forma, corria o risco de me desmanchar a rir e de o debate ficar por aqui.
O Neptuno debruça-se sobre o funcionamento da ONU. Entendo muitas das preocupações que levanta, mas tenho uma série de objecções.
Não me parece que os EUA, enquanto única superpotência, tenham algo a perder ou corram o risco de ficar reféns da ONU. O passado deixa-nos muitas pistas. Por exemplo, os EUA bloquearam a recondução de Boutros Ghali, um secretário-geral que não era do seu agrado, os EUA limitaram radicalmente a acção a Unesco, cortando o financiamento, quando a agência prosseguiu políticas que não lhes agradavam, os EUA bloqueiam sistematicamente toda e qualquer decisão que belisque o seu aliado preferencial no Médio Oriente. O peso específico dos EUA manteve-se intacto nas últimas décadas. Não me parece é que seja aceitável transformar a ONU num departamento da diplomacia dos EUA.
O Neptuno diz depois que muitos países (exemplifica com a França, vá lá saber-se porquê...) agem por motivações egoistas. Meu caro, mas não é sempre assim? Não é assim, por exemplo, na União Europeia? Ou o meu amigo acha que existe altruismo nas relações internacionais? (Ah, desculpem, temos a excepção do Bush que foi implantar a democracia no Iraque...)
Por último, a questão dos países não democráticos. Meu caro, a verdade é que eles existem e temos de conviver com eles. Quer maior hipocrisia do que o apoio tácito que os EUA dão à tal China que refere, ou à Rússia (acha que aquilo é uma democracia?), isto só para falar nos maiores.
Quanto ao facto de esses países terem por vezes posições de destaque, como a presidência da Comissão de Direitos do Homem, isso também me incomoda. Mas, num órgão colegial, a presidência acaba por ser meramente operacional, o que contam são os votos. Obrigar esses países a participarem dessas decisões parece-me, de resto, que até pode ter um efeito positivo - ouvem das boas, são obrigados a lidar com o problema, talvez até percebam melhor o isolamento a que se votam.
[O Planeta Reboque juntou-se ao debate]

Sampaio (uma insistência)

CAA [Mata-mouros] é coerente. Já o sabia. Não gosta de Sampaio, não suporta o homem, abomina o discurso, ainda mais a (falta de) acção. Isto nem sequer é uma crítica, apenas uma mera constatação. A provar essa coerência está o facto de insistir em instalar a Presidência no museu de Arte Antiga, quando, de acordo com o que diz, o mais indicado seria mesmo o Panteão Nacional, agora que aquele espaço se abriu a actividades de índole diversa.
Não gostaria de prolongar o debate para lá do tolerável - não quero convencer CAA, nem ele terá essa pretensão. Mas, se tiver paciência, diga-me como resolveria esta equação:
Sampaio tem, muito claramente, dúvidas sobre a política do Ministério das Finanças, nomeadamente quanto à sacralização do combate ao défice. Já o expressou repetidamente (o Diário Económico tem hoje um trabalho interessante sobre a matéria - muitos economistas concordam com o PR) e presumo que tenha transmitido essa preocupação ao primeiro-ministro. Mas que mais pode fazer? Exigir a cabeça de Ferreira Leite? Exigir a mudança de política de um Governo com legitimidade eleitoral? O quê, então?

Que o silêncio esteja connosco

Encontro-me em estado de coma anímico. Peço, por isso, desculpa aos amigos (e, principalmente, aos adversários - notai que não tenho inimigos...) que por aqui passam a altas (e a baixas) horas, mas não me encontro em condições de blogar em condições (que raio de figura de estilo é esta - ou será apenas falta de estilo?).
Tudo isto porque, por desprecaução (confirmem no Houaiss se a palavra existe, se não, registem-na e recebam as royalties) liguei os três canais de televisão à hora de jantar. Não foi, claro, ao mesmo tempo e isso talvez tenha sido a minha perdição - acabei por ver (e ouvir, senhores, e ouvir...) barbaridades aos quilos, afrontas ao bom gosto (e até ao mau...), sem-vergonhices descontroladas (e outras bem controladas)... enfim, um estendal.
Pois é, primeiro foi a provedora Catalina, virginal em suas pias causas, aquele chorrilho de comiseração, aquelas ofensas só aparentemente inocentes à Justiça (com jota grande) e à democracia (cada vez com dê menor).
E depois veio a amiga do Bibi, com entrevista em directo. A dizer as coisas mais inacreditáveis, também ela com a sua cabala (meu Deus, mas ninguém se interroga sobre quem é este ser, ao que vem, porque fala, porque a ouvem, o que quer ela?).
E ainda veio o advogado do Bibi, olho vivo, rebolando, também com entrevista em directo, a dar baile à jornalista e a empertigar-se, a facturar pelo presente e pelo futuro, ali à nossa frente.
O vómito, meus amigos, tem face e voz. Vi-o hoje, repetidamente, à minha frente. Assumindo sempre novas vozes, novas faces. Mas sempre vómito.
Façamos, então, um profundo acto de higiene. Que o silêncio esteja connosco.

terça-feira, 28 de outubro de 2003

Percebo-o, perplexo-me, mas não concordo

O CAA é um dos bloguistas (blogueiros?) mais activos e equilibrados do burgo. A prová-lo está o facto de por vários vezes ter premiado o TdN com os seus prémios semanais (estou a brincar...). E a provar essa regra há a excepção do carinho que nutre por Arafat (estou a falar a sério...).
[Aqueles parênteses são um plágio de um texto muito antigo do CAA. Uso-os quase como private joke só para irritar um amigo meu, que não tem blogue e que passa a vida censurar as nossas conversas em circuito fechado.]
Decididamente, o CAA não gosta de Jorge Sampaio. Longe de mim tentar convencê-lo do contrário.
Acho que o homem desempenha fielmente o papel que a Constituição lhe confere. Inércia? O CAA recorda-se, certamente, do maior intervencionismo de Mário Soares, nomeadamente contra Cavaco Silva. Mas não concorda que tudo aquilo foi um exagero? Sinceramente, não entendo onde poderia o PR intervir mais, nomeadamente pondo em causa legitimidades próprias, como sejam as da AR, do Governo, ou da Justiça, por exemplo.
Sampaio aposta claramente numa acção discreta, intramuros. Lembra-se o CAA, por exemplo, da demissão de Armando Vara? Quem a forçou? Além do mais, vários protagonistas da cena política coincidem na ideia de que o homem é incansável na tal gestão discreta de conflitos, chamando a Belém intervenientes e especialistas em várias matérias.
Dou-lhe um exemplo - na entrevista desta semana, ficou claro que o PR vê como muita preocupação a política de combate ao défice a todo o custo. Mas que pode ele fazer? Pedir a demissão da ministra Ferreira Leite, legitimada que está pela AR? Exigir que o Governo, eleito pelo povo, mude de atitude?
Nesta época de grande crispação, acho que Sampaio tem sido um farol de bom senso, de serenidade.
O CAA, pelos vistos, queria a revolução. Mas, meu caro, não será um contra-senso exigi-la ao Presidente? Não caberia isso, em primeira linha, aos partidos, ao Governo?
Eu também gostaria de mais - daí aquela bizarra fórmula verbal intercalar no título - mas eu, nos dias ímpares, ainda acredito na revolução. Azar que hoje seja 28.

Jamé?

Como diria o Bloguitica, acrescentei o ALVino aos links. Ora toma.

Fujam, vem aí o Marx

Passeava eu de blusão Levis decorado com o pin do Tio Patinhas que os miúdos me ofereceram na Eurodisney, quando Pacheco Pereira, com aquele ar austero, me olha de um quiosque.
Aproximo-me e, afinal, era o Marx na capa de um número especial do Nouvel Observateur [Ainda fui à Net para vos mostrar as semelhanças entre os dois gurus político-espirituais, mas os fulanos só lá têm a edição desta semana, também ele a merecer uma leitura - os mestres da manipulação, os chamados spin doctors, um tema actualíssimo].
O número especial tem na capa o título «Karl Marx - le penseur du troisième millénaire?». Estes franceses continuam uns provocadores, mas nunca vão até ao fim - o que faz lá aquele ponto de interrogação?
A avaliar pelo editorial, de Jean Daniel, a coisa promete. Chama-se «Un étrange besoin de Marx». Eu depois conto mais... se sobreviver.

O Império (uma resposta)

No Mar Salgado, gostaram muito do que aqui escrevi ontem sobre o Afeganistão e o Iraque. Não os quero desiludir. Por isso, aqui vai mais uma dose. Estes «disparates» não são tão apressados como os anteriores - desta vez, pensei cinco segundos antes de começar a escrever.
Começo pelo fim, pela referência de NMP às minhas «certezas» e «visão do mundo a preto e branco». É claro que NMP não leu (nem tinha que ler...) tudo o que escrevi, ao longo de meses, sobre o Iraque, Israel and so on... Se há alguém que não tem certezas sobre estas e muitas outras coisas, ei-lo aqui.
E prossigo com uma tirada ecologista - não acham os meus amigos do Mar Salgado que os EUA, enquanto única potência mundial, deveriam, além de expandir a democracia e o livre comércio à escala planetária, cuidar igualmente da diversidade cultural? A questão turística, a mim que não acho graça nenhuma a tudo o que não seja hotel de cinco de estrelas, não me parece uma questão assim tão secundária.
O Neptuno, quanto a esse aspecto, é especialmente distraído (reparou que tenho o Neil Young como musa? Ah, pois é canadiano...). E, falho de inspiração, plagia-me descaradamente. Então não fui eu próprio que me apelidei de «sacana» por estar aqui a defender «os talibãs, a ditadura, as mulheres asfixiadas»? Está bem, pronto, esqueci-me dos homens com bigode. Olhe que o Afeganistão, se espreitar bem, é capaz de ser um bocadinho mais que isso...
Presumo que, ao nível a que querem colocar o debate, poderíamos continuar com estes maniqueísmos - o Afeganistão é intrinsecamente bárbaro e só há uma maneira de o civilizar: à bomba. Mas, como o NMP ensaia um esboço de conversa séria, vamos a ela.
Entre uma ditadura (seja ela qual for) e uma democracia (mesmo musculada), prefiro sempre a segunda (peço desculpa aos meus leitores mais fiéis - estou sempre a repetir isto...).
Não me parece é nada natural que a democracia seja imposta de fora e muito menos à lei da bala. Acredito (vejam lá antiquado que sou...) em instituições como as Nações Unidas e estou convicto (Oh lírico...) que países como os EUA, se não tivessem o imperialismo escrito no sangue, podiam apostar mais nestas organizações (onde nunca perderiam a primazia, está bom de ver...), em vez de as debilitarem para depois virem dizer que tiveram de agir sozinhos porque os outros não quiseram ir.
Isto responde à questão fundamental que NMP levanta - agora que já invadiram aquilo, temos que resolver o problema. Pois é, mas os EUA continuam a tudo fazer para que isso se faça à margem da ONU e numa perspectiva unilateral. Basta ver o que se passou nas negociações para aprovação da última resolução do Conselho de Segurança. Kofi Annan, se pudesse, teria tanto a dizer sobre isto...
Nota para o Neptuno: escrevi este texto enquanto ouvia um Best Of acabadinho de sair dos Eagles, esses grandes comunas. A música não é grande coisa, diga-se, mas o som, remasterizado, é uma delícia...

Errei

Uma das coisas fascinantes dos blogues é mesmo esta - como isto é tudo ao vivo, sem tempos de mediação, e baseado nas apetências momentâneas de cada um, nunca se sabe o que sai e de que lado sai. Por exemplo, eu achava que o Mata-mouros e o Bloguitica estavam danadinhos para comentar a Entrevista do Presidente (nome catita...), mas nada. O Bloguitica anda em arrumações, compreende-se, mas querem ver que o CAA até gostou?!...

segunda-feira, 27 de outubro de 2003

O gajo leu-me, o gajo leu-me

Hoje escrevi aqui isto:
Só um louco poderá aplaudir o que se está a passar por estes dias no Iraque.
Os únicos que conheço - e desculpem o cinismo, único ângulo de apreciação possível - estão em Washington, embora tenham delegações abertas em todo o mundo, incluindo Lisboa.
A loucura dessa gente é insistirem que o Iraque está a caminho da estabilização e que caminha alegre e seguramente para a democracia.

Depois de me ler, um tal George W. Bush resolveu dizer isto:
The more progress we make on the ground, the more free the Iraqis become, the more electricity that's available, the more jobs are available, the more kids that are going to school, the more desperate these killers become.
Obrigado George, por teres sido tão célere a dar-me razão. Estou enlevado...

Um olho no blogue, outro no Sampaio

Jorge Sampaio está a dar uma entrevista à RTP. Formalmente, não está a funcionar - a Judite de Sousa, o Sarsfield Cabral e o José Manuel Fernandes não se atropelam, mas também não se complementam. Não há qualquer valor acrescentado pelo facto de serem três, antes pelo contrário.
Quanto ao conteúdo, é claro que não há novidades. Sampaio diz coisas muito sensatas sobre a Casa Pia e ainda mais sensatas sobre o estado do País. Mas ninguém o ouve, o País só já ouve a gritaria, recusa a serenidade. E hoje nem sequer se pode acusar Sampaio de estar a ser muito confuso, disperso ou sequer consensual. A entrevista é só sumo, mas não há quem o absorva. Os jornalistas estão colados aos faxes à espera de mais um pacote de escutas vindas directamente do Ministério Público, os políticos estão-se nas tintas para isto tudo - coisas sérias nunca ajudaram a ganhar eleições.
Acho que esta noite ainda vou ler uma crítica violenta a Sampaio. Será no Mata-mouros, só não sei que aspecto irritou mais o CAA desta vez.
E no Bloguitica (agora renovado e com novo endereço) surgirá um comentário estruturado, aberto à discussão. O Bloguítica é um espaço atento, até os silêncios regista.

Eu pelos outros

O Formato 1, que apenas descobri ontem, descreve-me assim: Um blog que escuta a própria voz. Com atenção: Terras do Nunca. O titulo diz tudo, nunca. Uma palavra original. Confesso: gosto, mas fico baralhado.
O Cruzes Canhoto, que foi o primeiro blogue a dar pela minha existência, e para o qual tenho óbvias simpatias, confunde-me com a TSF: Tudo o que se passa... É verdade, tenho-me passado um pouco.

O Império (o Iraque)

Só um louco poderá aplaudir o que se está a passar por estes dias no Iraque.
Os únicos que conheço - e desculpem o cinismo, único ângulo de apreciação possível - estão em Washington, embora tenham delegações abertas em todo o mundo, incluindo Lisboa.
A loucura dessa gente é insistirem que o Iraque está a caminho da estabilização e que caminha alegre e seguramente para a democracia.
As bombas de hoje, de ontem e, infelizmente, de amanhã, aí estão para pôr a verdade nos eixos.
Insisto - só um louco poderá aplaudir o que se está a passar. Mas, sem cinismo e nem sequer uma pinga de vingança moral, é preciso lembrar que houve alguém, muita gente, que avisou.

O Império (o Afeganistão)

Num daqueles programas com a que a Euronews preenche os compassos de espera - chama-se No Comments e é um achado televisivo: só imagens e sons, sem interpretação - passaram hoje imagens de um estúdio de rádio em Cabul, Afeganistão.
O animador convenientemente engravatado, a animadora com a face descoberta, as paredes exibindo fotos de Britney Spears (por enquanto, só as poses virginais...), a Shakira e o Ricky Martin.
Pensei: a democracia está a chegar ao Afeganistão...
Já sei, vão dizer-me: «Preferias os talibãs, a ditadura, as mulheres asfixiadas, meu sacana?»
De nada valerá dizer que preferia um pouco de decência em tudo isto. Que o Afeganistão continuasse a ser o Afeganistão e que a nossa alegada superioridade cultural e política - porque é disso que se trata - se impusesse pela sua força própria, e não pela força das armas.
Mas, é claro, o objectivo é mesmo que, daqui a um século, os turistas americanos (e talvez os japoneses...) possam viajar por esse mundo fora e ter em cada esquina um MacDonalds. Com umas especiarias afegãs aqui, umas ervas africanas ali, uns pózinhos orientais mais além. Mas sempre MacDonalds, com o respectivo excesso de colesterol, se faz favor.
Ah, a democracia?... Bom, mas essa não vem naturalmente atrás dos MacDonalds?

Os media e o poder

Leio no Mata-mouros:
Melhor Debate: entre o Abrupto, o Bloguítica Nacional, o Cidadão Livre e liderado pelo Adufe em “MUDAR O MUNDO - SERVIÇO PÚBLICO DE COMUNICAÇÃO”.
Subscrevo (o prémio), acompanho (o debate) com muita atenção e recomendo.

Sim, que é feito de si?

Alguém chegou a TdN hoje de manhã após procurar no Sapo «felicia cabrita outubro 2003».
Uma boa questão. Se souberem a resposta, digam alguma coisa.

domingo, 26 de outubro de 2003

Esclarecimento

Falemos claro.
Sou jornalista, sem qualquer responsabilidade editorial, do Diário de Notícias. Em 4 meses de TdN, escrevi sobre o DN uma única vez (se excluirmos as raras citações, em nada diferentes das que fiz de outros media), de uma forma que em nada fere a relação contratual e ética que mantenho com a empresa que o edita.
A forma como entendo essa relação impede-me de aqui expressar sentimentos e pensamentos sobre a vida interna do jornal, mesmo no que ela tem de interesse público.
Compreendo, também, que isso me limita (dentro de certos limites, perdoe-se a expressão..) nas apreciações que possa fazer sobre o universo mediático português. É uma restrição que me imponho. A primeira nestes quatro meses, mas quero que quem me lê tenha dela pleno conhecimento.

Amor é bossa nova, sexo é carnaval

Há um mês, falei aqui de uma crónica de Arnaldo Jabor que falava de amor e sexo, com a Rita Lee à mistura. Então não é que Rita pegou no texto e fez uma canção?
Vale a pena ouvir aqui (enquanto o link está activo, o do Jabor já não está - muda todas as semanas, pelo que só podemos ler a crónica mais recente).

Parabéns a mim

A rotina, a velocidade de cruzeiro, tem destas coisas. Não fosse a mensagem de uma leitora atenta de TdN e nem teria reparado que fez ontem, sábado, quatro meses que aqui passo quase todos os dias:
Parabéns pelo 4º mês destas terras, clap, clap, clap pelo texto sobre a conferência inter-religiosa e por favor não se arme em Paranoico Pérez, aquele extraordinário personagem do Villa-Matas (Bartleby & Cia) que nunca conseguiu escrever nenhum livro, porque sempre que tinha uma ideia e se dispunha a escrevê-lo, o Saramago escrevia-o antes dele. Laura Rubín
Recomenda-me Villa-Matas e lá tenho eu que o juntar ao Cela na próxima passagem pela FNAC. Só me dão trabalhos, repito.
Não imaginam quão recompensadores têm sido estes meses...

O sexo das coisas

Eu, por mim, recuso-me a debater tudo que tenha a ver com a condição feminina, o declínio do macho lusitano, ou os direitos dos homossexuais.
Deus ou o acaso cometeram o erro original - criaram apenas dois sexos, opção que me parece bastante limitadora. E não me lembro de, na altura, ter havido qualquer protesto.
Enquanto não forem até à raíz do problema, não contem comigo.

Ainda há salvação

«Existe outro tipo de vida consciente no Universo», diz este senhor, no JN. Só não percebo porque utiliza a palavra «outro».

sábado, 25 de outubro de 2003

Vaias, vaias...

O Guterres foi vaiado num torneio de ténis, o Durão foi vaiado no Estádio da Luz. Viva a luta de classes! Viva!

Que três...

Nas últimas semanas, passaram-me pelas mãos (e pelos ouvidos) três discos que não resisto a aconselhar:
«HoboSapiens», de John Cale, «Cuckooland», de Robert Wyatt, e «What's Wrong With This Picture», de Van Morrison.
Trata-se de três valentes cavalheiros que há uma data de anos fazem boa música, convenientemente arrumada nas prateleiras pop/rock, mas que estravaza claramente todas as fronteiras.
Dá-se a coincidência, perfeitamente irrelevante, de todos eles andarem agora à volta dos 60. Irrevelante, só em certa medida, já que não deixa de impressionar a vitalidade e a abertura a todo o tipo de experiências que continuam a exibir.
Neste dias caseiros, ouçam-nos, sff.

Cela

Passei pelo Aviz e descobri-me um celiano. Agora tenho de ler os livros. Só me arranjam trabalhos.

(...) 2

Não sei se já vos disse que um dos mais belos templates da blogosfera é o do Barnabé...

(...)

Tenho por aí uns livros de filosofia em que se fala do silêncio. Das virtudes do silêncio. Mas nem me apetece levantar e procurá-los.

E a chuva, o que é?

Há horas que chove incessantemente. Uma chuva mansa, persistente. Como se tivesse todo o tempo do mundo. Como se sempre lá tivesse estado.
Algures em Lisboa, por estes dias, John Cale há-de cantar, há-de ter cantado, (I Keep a) Close Watch, a canção mais bela, mais triste, mais tudo que alguma vez ouvi.
«I still hear your voice at night»... como se todos tivéssemos, como se todos tivéssemos de ter, um amor inatingível. Como se a recusa fosse uma alegria.
Olho uma vez mais para a capa branca de Fragments of a Rainy Season e aquele diálogo de Shakespeare:
- It will be rain tonight.
- Let it come down.

sexta-feira, 24 de outubro de 2003

Clinton e a luta contra a SIDA

Quando esteve em Lisboa, esta semana, Bill Clinton apontou o apoio dos países ricos à luta contra a SIDA no hemisfério Sul como um exemplo do que deve ser feito para que o planeta se torne um sítio mais habitável. O retrato que traçou era dramático - milhões de infectados e pouquíssimos deles com acesso a tratamento.
Hoje, acaba de ser anunciado que a Fundação Bill Clinton alcançou um acordo com empresas farmacêuticas para o fornecimento de medicamentos a um terço do preço. Moçambique será um dos beneficiados (Clinton lembrou em Lisboa que outro país lusófono, o Brasil, já tem uma política deste género).
Entre os países que apoiam financeiramente a iniciativa estão o Canadá e a Irlanda.
Quando visitou Portugal, em 2000, o então Presidente dos EUA propusera um plano de luta contra a malária.
É bom saber que, num mundo dominado pelo cinismo e pelos interesses económicos, ainda há quem rume contra a maré. Falando, mas principalmente fazendo.

Leiam o Miguel, leiam o Miguel, leiam o Miguel, leiam...

Vou fazer o que nunca fiz e o que nunca se deve fazer. A partir de hoje, nomeio o Miguel Sousa Tavares meu legal representante para as opiniões sobre a Casa Pia, o PS e assuntos conexos.

Casa Pia - duas posições

O leitor Luís Bonifácio - com quem já troquei umas ideias sobre leite e Joni Mitchell - escreveu-me um longo texto acerca do processo Casa Pia, no qual, em grande medida, manifesta discordância com algumas das coisas que aqui escrevi nas últimas semanas. Penso, por isso, que seria supérfluo responder a cada um dos aspectos que aborda. Eis os excertos mais significativos:
“O caso casa pia está a ser politizado”, acusa a direcção do PS. Quem estiver atento às notícias só pode chegar a uma conclusão, “O caso casa pia está a ser politizado pela própria direcção do PS”. Desde Fevereiro que nenhum outro partido utilizou a prisão de Paulo Pedroso como arma de arremesso.
(...)
“A divulgação das escutas é destinada a fazer cair Ferro Rodrigues”. Sinceramente os factos demonstram que esta divulgação não é necessária para fazer cair Ferro.
(...)
Quem quer ser primeiro-ministro ou ministro de negócios estrangeiros (Ana Gomes) têm de saber uma postura de estado e nunca perder o sangue frio (ou pelo menos ser o ultimo a perdê-lo). O Caso casa pia tem provocado na direcção do PS (Candidatos a ministros portanto) uma histeria total de que eu não me lembro. Imagine-se o que teria sido do país se no verão quente de 75 a classe governante tivesse entrado em histeria? Quantas pessoas teriam ido à fonte luminosa? Teria havido 25 de Novembro se o grupo dos 9 fosse constituído por histéricos? E se Costa Gomes fosse tão histérico como Ana Gomes? Esta direcção do PS pura e simplesmente NÃO SERVE, a bem da nação venham outros, pois este governo que temos já fede mas com esta direcção do PS é melhor manter lá o Barroso e o Portas pelo menos até às próximas eleições.
(...)
Rematando considero que a sua frase “Bloco central de interesses” toca no cerne da questão. Na minha modesta opinião, o caso Casa Pia poderá ser, caso produza a condenação de gente importante, a passagem do Rubicão para a sociedade portuguesa, no que toca à destruição de “certos interesses instalados” nela desde à muitas décadas, será como o dia de abertura da caça aos patos, os caçadores todos (Magistrados e policia) de caçadeira em punho para apanhar os patos. E quem são os patos? Advogados e outros que ganham rios de dinheiro e só declaram o salário mínimo; Uma lavandaria disfarçada de banco; Um politico que mete as mãos no bolo; Uns negócios escuros de uns grandes lusitanos orientais. Quem não vai ser o magistrado desejoso apanhar um destes “patos” e dizer aos colegas “o meu é maior que o teu!”
(...)
Eu acho que estas fugas (Pró defesa e contra defesa) vêm de um uma única fonte que tem como objectivo final fazer com que o caso termine como terminaram muitos outros: prescrições, condenação das testemunhas, processo “mal instruídos” e assim manter alegremente o status-quo vigente. Por isso esta direcção transformou, involuntariamente, o PS no defensor destes “interesses”, eles estão todos aninhados nas costas do Ferro, sendo este mais outro motivo para o PS mudar de direcção
(...)
O Adufe, entretanto, levanta uma questão fundamental: terá Ferro Rodrigues condições para conduzir normalmente o PS, fazendo oposição normal, enquanto este processo não terminar (e temos de admitir que isso vai levar anos...)?
Acho que não. Mas também me parece que nenhuma direcção do PS, seja quem for o líder, terá grandes condições para o fazer. Esse é o verdadeiro problema. Pessoalmente - embora admita que esta seja uma posição excessivamente romântica, que posso assumir porque não tenho qualquer interesse directo neste caso - ficaria triste se visse uma direcção partidária cair devido a comportamentos que considero inadmissíveis da parte do aparelho do Estado. Isso sim, seria uma derrota para a democracia.

quinta-feira, 23 de outubro de 2003

O Carrilho

Escrevi de raspão sobre o Carrilho e agora sinto-me na obrigação de dizer mais qualquer coisa, dada a mini-polémica que aí anda, principalmente entre o Barnabé, o Adufe, o Gin Tónico e o Bloguitica.
Começo por dizer que não me interessa muito escrever sobre a vida interna dos partidos. Já aqui disse que os partidos, o seu funcionamento interno, são do menos democrático que existe nas nossas democracias.
Cada vez estou mais convencido de que as lideranças partidárias resultam de uma conjugação do acaso com jogos muito rasteiros, em que a discussão de ideias tem um peso secundaríssimo.
Penso, também, que há nos partidos uma espécie de casta - coincidente, em parte, com aquilo a que se chama de barões -, a qual assume um papel que me desagrada profundamente. São aquelas pessoas que nunca se comprometem com trabalho político efectivo e que passam a vida a mandar bocas. Lembro-me, por exemplo, do que Angelo Correia dizia sobre Durão Barroso a seis meses das últimas eleições.
O caso de Carrilho é mais complexo, mas também entra nessa classificação.
A Carta Aberta que publicou no DN poderia ter sido escrita por qualquer um de nós. Melhor, nos blogues e nos jornais escreveu-se aquilo e muito mais.
Mas Carrilho não antecipou nada, diz agora aquilo que toda a gente diz. E também não o faz no local certo. Limitou-se a assistir, a conveniente distância, ao afundamento do barco. Agora vem dizer que o barco está a afundar-se, mas nem sequer avança com propostas alternativas.
Já no tempo de Guterres fez exactamente o mesmo: pôs-se de fora, em nada contribuindo para as soluções, mas apenas para os problemas. Cavalgou a onda de críticas a Guterres, numa altura em que TODA a gente criticava Guterres. Nunca apresentou uma alternativa.
A cena repete-se. Após esta carta, vai passar para a oposição, vai escrever todas as semanas contra o PS, a direita vai dizer que ele tem razão, vai apresentá-lo como um socialista lúcido e os socialistas vão continuar a olhar para ele ainda com mais desconfiança.
Isto não leva a nada.

A dos metros bajo tierra

A série «Six Feet Under», que em Portugal passou sob o nome «Seis palmos de terra», começou ontem a ser exibida em Espanha com o título «A dos metros bajo tierra». Vai passar na FoxTV, um canal codificado da Digital Plus.
Trata-se de uma das melhores e mais premiadas séries televisivas dos últimos anos - uma família que se esfrangalha (ou se regenera, conforme os pontos de vista...) perante nós, tendo como cenário uma firma de cangalheiros.
Engraçado é que a estreia valeu uma página de publicidade a cores no El Pais. Por cá, passou no Canal 2 e não deixou rasto. É (também) nestas pequenas coisas que se vê a nossa pequenez.

Citemos, então

Hoje estou citativo, que é outra forma de estar preguiçoso.
O Miguel Sousa Tavares esteve brilhante na cena (que não vi...) em que mandou calar a Guedes. Lá está mais um caso em que o incidental acabou por abafar o fundamental. E o fundamental é isto:
«Acho que infelizmente, e deve ser a quinta vez que o digo aqui, as deficiências da instrução são tamanhas que eu acho que o grosso dos implicados vai acabar de fora, com prejuízo de acabarem dentro alguns inocentes e que jamais alguém neste país vai ter a certeza de que se chegou à verdade.» Clap, clap, clap (isto sou eu a aplaudir sonoramente).
[Actualização: o Diário Económico de hoje reproduz o famoso diálogo Moura Guedes/Sousa Tavares, mas, no que à peixeirada diz respeito, o Jornal de Notícias é bem mais completo.]
Já o Barnabé diz o que tinha de ser dito sobre o Carrilho: «cobardia política ou exibicionismo fácil». Tendo em conta a megalomania da figura, acho que são as duas.

Relato da loucura contemporânea

Arnaldo Jabor escreveu esta semana sobre a loucura da nossa época. Vale a pena ler tudo, enquanto está acessível (basta registar, não é necessário pagar). Fica um excerto:

As paixões passaram a durar o tempo entre duas reportagens de “Caras”. O amor é um pretexto para a orgia de troca-trocas narcisistas. O casamento virou um arcaísmo careta. O sexo, uma competição de eficiência. Onde está a sutileza calma dos erotismos delicados? Onde, o refinamento poético do êxtase? Nada. No sexo, o desejo é virar máquina e atingir o desempenho perfeito, o orgasmo definitivo.
Até criticar o erro do mundo ficou ridículo. A arte ficou ridícula, inócua, pregando num deserto de instalações melancólicas que ninguém vê. O cinema virou um “titanic”, um videogame, com guetos de “independentes” queixosos. Os artistas não têm mais nem o consolo do pessimismo clarividente, do absurdismo iluminista de um Beckett ou Camus. Não há esperança nem na desesperança crítica. O absurdo ficou óbvio demais para ser condenado, superou o mais terrível pesadelo surrealista.

Homem prevenido?

Hugo Marçal foi libertado pelo juiz Teixeira porque apresentou quilos de documentos que lhe reconstituem o rasto em 104 fins-de-semana de 1999. Eu ontem estive em Évora e nem disso tenho prova.

Então e eu?

Estou cada vez mais preocupado. Dei a habitual volta matinal pelos blogues e quase todos têm nova publicidade no topo. E eu não. Se o mercado funcionar, serei obrigado a fechar. [Noto que, nos últimos dias, ando com tendência para a rima, rima fácil, é certo, mas, mesmo assim, rima. Será grave?]

Martins da Cruz, que é feito de si?

O Notas Verbais voltou. Se quiserem saber a resposta ao título desta nota...

Religiões em confronto

Ontem assisti, em Évora, a parte substancial de um debate inter-religioso sobre a paz. Estavam presentes representantes da igreja católica, do islão e do judaísmo. Alguns nomes sonantes, outros nem tanto.
O que mais me impressionou é a flagrante incapacidade para qualquer tipo de diálogo entre aquela gente.
Embora todos insistissem nas virtudes do diálogo e declarassem sonoramente que estavam interessados em estabelecer pontes com o parceiro do lado, a desconfiança era o sentimento dominante. Atrevo-me a dizer que, mais que a desconfiança, cada intervenção era marcada pelo desprezo face ao parceiro do lado. Um desprezo intelectual, feito de certezas estudadas, mas que, frequentemente, resvalava para um desprezo quase pessoal.
Ao esmiuçarem os textos sagrados, a história e as atitudes presentes de cada uma das religiões, os conferencistas deixaram muito claro que, do ponto de vista institucional, cada uma dessas religiões foi construída contra algo, contra outra religião. É uma história de diferenciação e não de comunhão.
A pairar sobre tudo isto, surgiu Eduardo Lourenço. Em plena forma.
Suavemente, explicou como a religião e a geoestratégia se têm interpenetrado tanto nas últimas décadas. Por exemplo, como a Europa descobriu que o «desencantamento» religioso que promoveu na segunda metade do século XX «não foi propriamente uma vitória». E como a (re)descoberta de que, aqui tão perto, a vitalidade do Islão obrigou a Europa a voltar-se de novo para a religiosidade. E como os EUA nunca passaram por esse «desencantamento» porque, no fundo, «são tão fundamentalistas como os que acusam de fundamentalismo». E de como isso acaba por ser uma «vantagem» para a América. E de como «a descrença não é uma vantagem prática» para os Europeus.

De 9 a 21, vão... vão... bom, é fazer as contas

O Liberdade de Expressão não prima pelo apego à realidade. A maior parte das vezes, mistura 5 mentiras, duas suposições e três ilações erradas, leva tudo ao shaker e apresenta-nos uma verdade irrefutável.
Desta vez, porém, abusou. Garante-nos que «entre o dia 9 de Maio e o dia 21 de Maio um suspeito e todos os seus amigos mais próximos tiveram acesso a informação em segredo de justiça.» Fala do Pedroso, entenda-se. Não sei onde foi encontrar tão ribombante informação, mas isso não interessa. O que verdadeiramente me preocupa é o LE chegar à conclusão de que, de 9 a 21 de Maio, vão 11 dias. Ora, pela minhas contas, vão 13, visto termos de contar com os dias 9 e 21. Na minha modesta opinião, este é um erro que prejudica claramente o raciocínio do texto. Maus a lógica, ainda vá lá. Agora a aritmética?
[Actualização: o LE tem toda a razão - 9 e 21 não foram dias completos. Pode-se lá tentar sabotar o sistema judicial em dias incompletos!?...]

quarta-feira, 22 de outubro de 2003

A ONU e o muro (II)

O Bloguitica está acutilante. Agora, pergunta:
ISRAEL afirma publicamente que nao vai respeitar a resolucao aprovada pela Assembleia Geral das Nacoes Unidas que condena a construcao do muro e na blogosfera ninguem barafusta?
Pois é meu caro - os que não barafustam são exactamente os mesmo que, há dias, achavam que, com a nova resolução das Nações Unidas, Portugal já está perfeitamente à vontade para mandar a GNR para o Iraque. Ou, talvez mesmo, uns militares a sério.
A isto não se chama duplicidade de critérios. Não senhor...

Sampaio? Aplaudo

O Bloguitica registou que ninguém, além dele, elogiou a intervenção de Jorge Sampaio sobre o caso da pedofilia.
De facto, os poucos comentários que li eram críticos. Pelo tom, parece-me que seriam sempre críticos, independentemente do que Sampaio dissesse.
Para equilibrar as coisas, embora com 24 horas de atraso, aqui vai o meu aplauso:
- por ter afirmado que não interferiu no caso. É uma redundância, mas o nível de disparate a que já chegámos tem obrigado muito de nós a reafirmar evidências
- por ter apelado à serenidade. Pelas mesmíssimas razões do texto anterior
- por ter exigido que a divulgação das escutas não fique impune
- por ter encontrado a definição acertada para o circo mediático em que estamos mergulhados - novela judiciária
- por ter elencado, mais uma vez, os reais problemas que estão a ser esquecidos por causa deste processo
- por ter falado, assumindo assim as suas responsabilidades. Parece outra evidência, mas não é.

Casa Pia - o acordo

O Aviz e o Abrupto temem um «acordo de Bloco Central» acerca da Casa Pia. Eu receio bem que esse acordo exista há muito e que seja esse acordo que está a gerar o lamaçal em que nos encontramos.
Alguém usava, há anos, a expressão «Bloco Central de interesses». Nunca liguei muito, parecia-me uma chalaça.
Face ao que foi escrito nos últimos meses acerca da pedofilia, as suspeitas que se levantaram, os nomes que circularam (é claro que devemos ser cuidadosos quando falamos disto, porque há muita insinuação e coisas sem fundamento), sou levado a acreditar que não havia fumo sem fogo. Mas a verdade é que hoje, nove meses após o início do processo, o que há é muito pouco. Bem pode a dra. Catalina Pestana falar de «terramoto».
Por isso, temo bem que um «Bloco Central de interesses» tenha trabalhado na sombra, precisamente para se proteger.
Mas penso, também, que esse «Bloco Central de interesses» não passa pelas actuais direcções do PS e do PSD. Ou pelo menos não passa pelo coração dessas direcções.

Luzes na noite

Às 06:06, o Almocreve escreveu estes fabulosos Momentus Politikus. Abençoada noite que tanto iluminas.

A ONU e o muro

A ONU condenou o muro que Israel está a construir em território palestiniano.
Comentário cínico: eu sempre disse que a ONU estava infiltrada de terroristas.
Comentário sério: quem apoia a construção deste muro, por silêncio ou palavras, está a ter o mesmo comportamento de benevolência criminosa que há mais de meio século conduziu ao que sabemos em relação ao povo de Israel.

Notas dispersas

1. O procurador-geral da República vai fazer um inquérito para saber quem divulgou as escutas do processo Casa Pia. A conclusão, óbvia, chegará: foi a direcção do PS, como forma de mascarar a total incapacidade para fazerem oposição séria ao governo.

2. Esse inquérito será muito interessante, mas insisto num outro de que já falei:
Tendo em conta a forma, o momento e os excertos escolhidos das escutas divulgadas, o Procurador-Geral da República já abriu algum inquérito para averiguar se existe, ou não, uma acção concertada (não lhe chamemos, para já, associação criminosa...) para derrubar ilegitimamente (isto é, por actos não políticos) um dirigente partidário?

3. Mantive com o Planeta Reboque uma troca de correspondência que o Pedro, com a minha anuência, decidiu publicar.

4. António Lobo Xavier remete para o final do seu artigo de hoje no Público as questões que interessam:
Como se tudo isto ainda fosse pouco, surge agora a divulgação das escutas transcritas no processo do antigo dirigente socialista. Admito que o seu conteúdo é perturbador, porventura merecedor da interpretação de Pacheco Pereira. Mas, ao contrário de outros comentadores especialmente iluminados, não sei avaliar plenamente a sua relevância para a investigação.
O problema está em que, por um lado, aquela divulgação, em si mesma, constitui um atentado intolerável contra a privacidade das comunicações pessoais, que para mim sobreleva todo o interesse da análise política
. (sublinhado meu)

5. Numa ordem de interesse público, entre o comportamento do PS e comportamento do aparelho da justiça qual é mais importante? Penso que ninguém duvida da resposta.
Todos sabemos o que os militantes do PSD disseram nos seus comentários televisivos do fim-de-semana acerca do PS. Alguém se lembra do que disseram sobre as fugas de informação das escutas telefónicas? Alguém os viu preocupados com o funcionamento do sistema mediático que tanto os apoquenta noutras alturas?

6. Parece que o Miguel Sousa Tavares se atirou à Moça Guedes. Ver aqui, p. Ex.
O que eu perdi
com esta minha mania
de não ver a TVI.

Ou falo eu ou fala o senhor...

Na SIC Notícias, o João Almeida está a entrevistar o Manoel de Oliveira. Com aquele estilo sôfrego, a interromper o entrevistado logo à segunda palavra. Estão a ver, logo o Manoel de Oliveira...
Vai daí, às tantas, atira o cineasta: «Bom, ou falo eu ou fala o senhor...»
Engraçado foi ver depois o João Almeida a fazer o gesto de interromper, mas o som a morrer-lhe nos lábios. Divertido.

terça-feira, 21 de outubro de 2003

É só inquietação...

Vou abrir-vos o coração. Atenção, sorvei (será que é assim que se escreve?) este momento, não é todos os dias que o faço. É que ando cheio de dúvidas.
Dúvida um - devo ou não seguir o conselho do senhor Presidente da República e exercer o meu direito cívico à serenidade. A verdade é que estou um pouco (pouco?) cansado de escrever sobre a Casa Pia, o PS, bla bla. Mas, de cada vez que leio jornais e passo pelos blogues do costume, não resisto a corrigir uma incorrecção aqui, uma incongruência ali... Além disso, sinto sempre que ficou algo por dizer. Enfim, um verdadeiro dilema. Por isso, apetece-me apanhar a boleia de Sampaio e calar-me. O que acham?
Dúvida dois - um dia vou ter de arrumar os links. Vou pondo lá os que leio, mas alguns deixo de ler e há sempre novos a aparecer. Não gostaria que aquela lista crescesse desmesuradamente, gostava que ela fosse um sincero conselho de leitura. Isto levanta-me outro poblema - cada vez mais, deparo-mo com blogues intelectualmente desonestos. Já disse que gosto da polémica e, por isso, leio tudo, mesmo, ou talvez principalmente, aquilo de que discordo. Mas há coisas para as quais estou a ficar intolerante - o disparate, a graça parva, a pura desonestidade. Ter ideias, discuti-las, é uma coisa. Aparvalhar, por falta da necessária massa cinzenta ou pura maldade, é outra. Por isso, brevemente vou começar a arrumar os links.
Dúvida três - Deus, afinal, existe ou não. Ah, ainda não podem responder. 'Tá bem.
[O título do texto é uma referência a José Mário Branco, um esquerdalho do piorio, mas um génio do caraças.]

Flash back? Flash forward...

Há um gajo que leio todos os dias. É o Anarca. Mas aquilo são pérolas a porcos. O gajo produz em tal quantidade que é impossível ler tudo. Por exemplo, escapou-me uma fantástica. Recuperei-a no Avatares. E se a TSF transmitisse as escutas em directo? Já viram o que a democracia ganhava em transparência? Em vez de mandarem as transcrições para as televisões e jornais, os senhores das escutas só tinham de emitir a coisa, via satélite ou simples RDIS, para a TSF.

Clinton

Hoje, assisti a uma prelecção de Bill Clinton em Lisboa.
Teve um lado divertido e um lado sério. Comecemos pelo sério, que depois percebem melhor o divertido.
A parte séria é que qualquer pessoa com um nível médio de QI perceberia com toda a facilidade que com Clinton no poder o mundo estaria hoje bem melhor. E não vale a pena virem-me com a treta de que os atentados do 11 de Setembro foram preparados durante os seus mandatos. É apenas uma teoria, como tantas outras.
A sua visão multipolar do mundo contrasta flagrantemente com a falcoaria ignorante e obcecada que se instalou em Washington. Os exemplos que deu são cristalinos - por exemplo, no Médio Oriente, é preciso impôr a noção de partilha e não a de dominação, como actualmente ocorre.
O entendimento que tem da complementaridade no eixo EUA/Europa é o único que permite um diálogo frutuoso, em contraponto a esta desconfiança que se instalou e da qual nada de positivo pode sair.
Enfim, o homem é um tratado.
Agora, vem a parte divertida. A assistência, maioritariamente composta por gente do poder político e económico, que nos últimos tempos tem sobrevivido ideologicamente à sombra das concepções bushistas, aplaudiu calorosamente. Será que ao menos percebem inglês?

Pedroso e Nobre Guedes

Escreve JPP:
A ACUSAÇÃO A JOÃO PEDROSO de ter ido para o Conselho Superior de Magistratura por causa do processo que envolvia o seu irmão é insustentável. É uma insinuação do mesmo tipo da que foi feita contra Nobre Guedes e a Ministra da Justiça, a propósito do processo Moderna. A verdade é que a primeira insinuação veio apenas de Marcelo Rebelo de Sousa e a segunda foi repetida à saciedade por muitos que agora se indignam, como se fosse a coisa mais natural do mundo, e ninguém pensou em processa-los.
Há uma ligeira diferença: a insinuação sobre Nobre Guedes era em abstracto; a relativa a Pedroso é concreta.

Pessimista

Meus amigos, algo de verdadeiramente grave está para acontecer - há vários dias que este e outros blogues são encimados pela habitual mensagem publicitária, mas com a frase: «This blank space brought to you by Google».

A SIC e o PS

Após ter derrubado dois ministros da Nação, a SIC está claramente apostada em fazer cair o líder do maior partido da oposição. Basta ver a insistência com que repetem as peças das escutas, o tom agressivo dos textos, o desconforto com que os pivôs lidam com os comentadores menos sanguinários.
Nestas alturas, costuma-se dizer que tem tudo a ver com Balsemão. A SIC e o Expresso tornam-se mais ou menos agressivos para o(s) poder(es) conforme evoluem os negócios do patrão.
A tese, embora plausível, carece de confirmação. Até porque ninguém fez (mas é possível fazer...) uma investigação séria sobre o assunto.
Para já, prefiro pensar que tudo está, ainda, na esfera meramente jornalística. Que os jornalistas da SIC precisam de afirmar a sua independência perante o mundo, mas principalmente perante eles próprios.
Estou, é claro, a falar apenas da SIC.

Pode-se escutar uma SMS?

Há uns dias, expressei a minha indignação pelo facto de o meu telemóvel se recusar a escrever automaticamente a palavra «merda». Devo informar que já resolvi o assunto. Pergunto-me agora: as mensagens SMS também estão sob escuta?
Nota: vejo pelas fotografias que o meu telemóvel é igual ao do Ferro. A pergunta que faço pode ser, por isso, importante para outras pessoas.

Macau em Paris

Folheio o Libération com novo grafismo enquanto ouço o novo/futuro disco dos Rádio Macau, Acordar.
Impressiona-me como se consegue envelhecer, mudando sem trair.

O que está em causa

Escrevi hoje um texto que hesitei em publicar. Guardeio-no no Blogger, mas, como já me aconteceu noutras alturas, não faço a mínima ideia de onde foi parar.
Basicamente, por outras palavras e seguindo outros caminhos, dizia o mesmo que a Clara Ferreira Alves.
Retiro dois ou três excertos:
Aconteça o que acontecer, a guerra entre o partido, o procurador e os acusadores e investigadores da pedofilia é total e é até à morte. Ou caem os socialistas, ou cai toda a máquina que investigou e desenhou este caso. Porque, como se viu após a libertação de Pedroso, o «outro lado» não hesita no golpe baixo e na má língua. A divulgação destas escutas telefónicas destinadas a destruir Ferro Rodrigues e a envolver outra vez o nome de Jorge Sampaio são um sinal de que a democracia portuguesa está profundamente doente.
(...)
Não é apenas por boas razões que a máquina judicial e judiciária anda a violar o segredo de justiça, é também porque quer transformar Pedroso e Ferro, e os outros, em canalhas e culpados. Esta gente sabe que se perder este processo, perde a carreira e perde a dignidade. Sabe que se perder esta guerra perde o emprego e a credibilidade, e perde a vida. Por isso, utiliza todos os truques e subterfúgios e vai «vomitando» esta papa para os jornais, que a publica, evidentemente. A única reacção que podemos ter é a do asco.
(...)
A cabala não deve existir mas existe gente que não tem escrúpulos nem vergonha. E essa gente tem de ser denunciada. E têm de existir mecanismos de controle desta gente, mecanismos democráticos. Uma «cabala» pode ser constituída por um intriguista bem colocado. Além do PS, estão a destruir a democracia.
(...)
No texto que perdi e que me arrependo de não ter publicado, escrevia ainda algo assim:
Nada me assusta mais que um sistema de justiça que faz linchamentos públicos através e com a cumplicidade dos media.
E escrevia ainda algo assim:
Nós, comuns mortais que nada temos empenhado no PS, podemo-nos estar nas tintas para o destino de Ferro. Mas devemos estar cientes de que a saúde da nossa democracia está mais dependente do destino de Ferro do que parece.
Fica o registo de uma intenção e do essencial dessa intenção.

segunda-feira, 20 de outubro de 2003

Vária

Entre a vertigem das coisas importantes e o conforto das pequenas coisas, vamos deixando para um depois excessivo interpelações diversas que surgem um pouco por todo o lado.
O Miniscente glosou uma neura que (auto)diagnostiquei algures. Só lhe digo que a dinamarquesa já se foi, o besugo ficou e a neura não voltou. A última parte é mentira, mas era só para rimar com(o) a canção.
O Sérgio, da Aba de Heisenberg, escreveu sobre a reciclagem de embalagens e fez uma referência aos textos que aqui escrevi sobre o leite UHT. Este blogue tem mantido uma troca de ideias muito interessante sobre reciclagem com o Adufe.
Mais uma - alguém anda a pôr num blogue os textos da revista Kapa. Uma iniciativa de elogiar.

Método eleitoral

Há iniciativas que merecem ser acarinhadas, até porque vão ao arrepio da voragem destes tempos.
O Blog-sem-nome decidiu pôr à discussão uma mudança do sistema eleitoral. Entrei no debate, basicamente para expressar o meu pessimismo acerca das condições objectivas para a concretização de algo nessa área. O Blog-sem-nome deicidiu agora cumprir a promessa de criar um blogue dedicado a recolher todos os contributos. Merece um segundo aplauso. Chama-se Método Eleitoral.

Duas perguntas

1. Nas escutas agora divulgadas a Ferro Rodrigues e Companhia são referidos com insistência contactos com o Lopes, o Marcelo e o Sarmento. Já algum jornal ou televisão, enquanto espera que lhe caiam nas mãos as escutas ao PR, pediu as escutas feitas a esses três sociais-democratas?
2. Tendo em conta a forma, o momento e os excertos escolhidos das escutas divulgadas, o Procurador-Geral da República já abriu algum inquérito para averiguar se existe, ou não, uma acção concertada (não lhe chamemos, para já, associação criminosa...) para derrubar ilegitimamente (isto é, por actos não políticos) um dirigente partidário?

Não assino, já disse!

Bem pode o Mata-mouros tentar subornar-me com prémios, que eu não assino a petição. Já disse, não assino!

Ferro - agora a sério

Nada é por acaso. Há meses que nada é por acaso. Por isso, Ferro Rodrigues não vai demitir-se.

Palavra de honra...

Eu bem avisei o Ferro:
«Ó pá, quando disseres que te estás 'cagando para o segredo de justiça', acrescenta um sonoro 'palavra de honra'. Vais ver que assim te safas...»

jpp or pacheco and sic - estas cinco palavrinhas são apenas para dar menos trabalho à pessoa que, todas as segundas-feiras, de há um mês para cá, as procura no Google.

Crazy packs, ideia muita louca

Eu, que não fumo, ando preocupado com os fumadores. Segui no Aviz o debate sobre o Português Suave. Acho a coisa um verdadeiro atentado cultural - e não, não estou a ser irónico.
Agora, uma boa notícia.
Vi, há dias, numa televisão, uma ideia maluca dos franceses - uma espécie de capa para envolver os maços de cigarros e, dessa forma, esconder aquelas frases idiotas que enchem as embalagens (pior - parece que vêm aí umas imagens de extremo mau gosto).
Chamam-se Crazy Packs, são baratos e têm a vantagem de cada um escolher a imagem que, a cada momento, mais lhe agradar - do Che ao Bush, do Marilyn aos Beatles.
Aqui há um video com mais informação. Os franceses, mesmo quando inventam coisas com nomes ingleses, continuam a ser uma malta com uma certa piada.

O que dizem lá fora

Do «sonho ao pesadelo», escreve o El País sobre Portugal. O link é pago - a Lusa dá uma ajuda.
Como já referi há dias, trata-se apenas de mais um passo para uma ampla internacionalização do nosso país. De qualquer forma, convém estar atento se não haverá uns anunciozitos perdidos na revista de domingo do jornal madrilenno.

domingo, 19 de outubro de 2003

Geleia com amor

Estivemos a beber chá e a comer tostas com geleia de goiaba. Dizia na embalagem que foi «feita com amor» no Brasil, obviamente.
Se tivesse sida feita na União Europeia, teria sido feita com E-345, E-480b, E-156. Sem corantes, nem conservantes. Ou, simplesmente «feita».
E teria, envolvendo 90 por cento do pote, uma faixa assim: «O Governo alerta que o consumo desta geleia pode ter efeitos altamente positivos no consumidor e em todos os que o rodeiam».

Fumo na TV (adenda)

«A cultura não interessa, somos merda», disse o Samora, criticando os orçamentos do Ministério da Cultura.
Chame-se já a polícia... Um homem que diz isto na TV não pode ser actor!

Fumo na TV

O Fernando Lopes e o Rogério Samora estão a ser entrevistados pela Bárbara Guimarães na SIC Notícias. Nestes tempos de intolerência, ambos fumam e têm em cima da mesa uma garrafa de uísque. O Fernando é focado amiúde com o copo nos lábios, o fumo sobe perante as câmaras. Ela está grávida, mesmo que a mesa não o deixe ver.
Eu, que não fumo, deveria criticar tudo isto. Mas só me apetece elogiar.

Revoltillo

Es la forma de revuelto más simple que existe.
Se calienta da salsa de tomate previamente obtenida (tomates sin semilla, rama de apio, un ajo, un pedacito de guindilla, sal, aceite y media cucharadita de azúcar).
Se baten los huevos (dos por persona), sin llegar al batido de una tortilla pero lo suficiente como para que la clara se integre con la yema.
Se remueve la salsa de tomate y sin para se va anadiendo el huevo, a fuego muy bajo, hasta conseguir una consistencia ya no liquida, pero tampoco atortillada. Es preferible que peque por jugoso.
Salar definitivamente mientras se está removiendo.


A esta hora, como compreendem, talvez só já haja paciência para uns ovos mexidos. Não menosprezemos, porém, os encantos dos pratos aparentemente simples.
A receita sai directamente do livro Las Recetas de Carvalho, em que Manuel Vásquez Montalbán reúne os petiscos e pratos de grande confecção que espalhou pelos seus muitos livros. Este Revoltillo é do Historias de Amor. Quem quiser mais, a edição é da Planeta.

Pop suiça, perdão, francesa

Há quase duas horas que o MCM está em fundo. O som, digo. A visão dispersa-se, preguiçosa, pelo amontoado de papel dos jornais de fim-de-semana, pelo computador, a MCM só pelo canto do olho...
Serve esta nota para registar a extraordinária previsibilidade da pop francesa. Nestas duas horas, já escutei uma data de gente de que nunca ouvira falar, intercalada com o Daho, a Paradis, os Negrésses, até o Gainsbourg mais óbvio.
A batida esmera-se em não surpreender. A melopeia, a pose, tentam seduzir, num jogo entre o Eurofestival e o erotismo mais desinteressante.
Só o gosto de ouvir cantar em francês justifica esta minha estranha atracção. Porque a pop francesa, generalizando, pois claro, é verdadeiramente suiça - não adianta nem atrasa.

sábado, 18 de outubro de 2003

Pepe vive

Disse-me um amigo que o Pepe Carvalho está hoje à noite, algures em Lisboa, a cozinhar, presumo que para os amigos.
Estivéssemos nós no Inverno, iria lá ter com uma caixa de livros que andei a guardar para esta ocasião. Aquecer-nos-iam a alma, mas principalmente o corpo.

Mônica e Docontra

Esta é só para meter inveja ao Adufe.
A Marta tem um desenho com um beijo da Mônica. E o Daniel tem um desenho do Docontra.
Foi hoje à tarde no Festival de BD da Amadora. Estava lá o Maurício.

Adéu Pepe

Manuel Vásquez Montálban morreu no aeroporto de Banguecoque.
«Os lábios de Archit tentaram dizer qualquer coisa antes de se entregarem à rigidez da morte. Carvalho ficou convencido de que tinha tentado repetir o nome dos pássaros, o reconhecimento dos pássaros e, com eles, da grande pátria dos céus.» Último parágrafo de Os Pássaros de Banguecoque, 1983.

Hugo out

Hugo Marçal foi libertado. Rotina. O ALVino é que os topa.

Dúvida muito inquietante

Será que o governo vai utilizar nos media portugueses o mesmo critério que usou com a Time para a colocação de publicidade ao Euro'2004?

E continuo já aqui

Antes que alguém me pergunte sobre as novas escutas, aí vai:
1. Se um dia, algum familiar meu for injustamente acusado de um crime de tal gravidade, podem ter a certeza de que até o Papa eu chateio. Qual PGR, qual Sampaio, qual Lopes, qual carapuça. Se me reconheço este direito, porque não haveria de o reconhecer a um partido político.
2. Se isso acontecer, é bem provável que no meu telemóvel não encontrem a expressão «estou-me cagando para o segredo de justiça». É mais provável que lá seja ouvido: «Eu fodo esses filhos da puta, cabrões...»
3. Se isso acontecer, eu sei que, enquanto eu fizer esses telefonemas, uns provedores beatos, uns advogados ex-alunos, uns psicólogos enigmáticos e uns políticos impolutos estarão, ao telefone e ao vivo, a influenciar o processo mais do que eu alguma vez poderia fazer.
4. E eu sei que se tudo isto se souber só pode vir de um dos lados - a acusação - e que o objectivo é só um: dar cabo de todo o processo.
A mando de quem?, perguntam vocês. Não sei.

Declaração

No Glória Fácil, asl pede aos amigos que não lhe falem da Casa Pia. O PG, no Bloguítica, teve um momento de nojo, mas voltou à superfície. Já há dias, o daniel, no Barnabé, temia a ressaca. Há pouco, foi o Rui, do Adufe, a informar-nos que vai atravessar um deserto só dele.
O processo Casa Pia, mas principalmente o cruzamento deste processo com o mundo da política, está a atirar-nos para um fosso. Em calma mas contínua espiral.
É certo que, pelo meio de tudo isto, há uns tantos cheios de certezas. Porque acreditam em tudo o que querem acreditar, porque talvez deles seja o reino dos céus.
Para esses tantos, os culpados há muito que estão encontrados. Para alguns deles, aliás, o que era preciso era inventar o crime, pois os culpados já eles tinham identificado.
Dizem-me que pode ser o regime democrático que está em causa. Dizem-me que é a justiça que está podre. Apontam-me a política - é ali, naquele reino, que se movem os maus. Eu vejo isso, mas vejo, talvez mais de perto - deformação profissional - que também os media são uma merda.
E agora? Desistimos?
Chegados tão fundo, e olhando ainda mais para baixo, a tentação é grande. A atracção é irresistível.
Mas ainda não. Seguramente, não. Nunca, não.
Desculpem lá o mau jeito, mas tenho de continuar. Há-de haver algures uma racionalidade para tudo isto. É o coração que o diz, mais que a razão.
Por um imperativo de lucidez, por uma imperativo de sobrevivência, de civilização, continuo.

Há heroína na direita

Li os blogues, li o Independente. A direita tem heroína - chama-se Ana Gomes. Tudo pesado, é certo, são os lugares-comuns de sempre. As banalidades que se dizem quando alguém incomoda para lá dos limites estabelecidos. Pavlovianamente. Fizeram o mesmo com Freitas do Amaral. Hão-de fazer o mesmo quando e se Manuel Monteiro sair da insignificância a que se remeteu. Isto, é claro, os que sobreviverem à overdose da nova heroína. Embora me digam que, à direita, é mais cocaína.

Dúvida

Será que a Le Point tem publicidade ao Euro'2004? Se não tem, não seria de ter?

Mata mouros, mata

O Mata-mouros, um dos blogues portugueses mais interessantes, tem momentos destes. De puro humor.

sexta-feira, 17 de outubro de 2003

Peixe frito

O Adufe vai fritar robalinhos. Desta, ainda não haverá cheirinho a Jaquinzinhos. Sublinho, desta.

Guida remata à figura do Eduardinho

O Cibertúlia chama, e bem, a atenção para esta peça de alto gabarito de Margarida Rebelo Pinto.
Pessoalmente, a parte de que gostei mais foi esta: Eduardo Prado Coelho, conhecido crítico literário do Público que nunca percebeu bem o que é que ando cá a fazer e desconfia dos meus livros embora simpatize com a minha figura.
Se me é permitido um comentário, dos livros dela nunca desconfiei, não senhor, e, quanto ao resto, simpatizo com figuras um tudo nada mais cheiinhas.
Também gosto muito desta parte: Eu respiro fundo, conto até três e interrogo-me: porque é que a cabeça das pessoas neste país nunca mais se abre para o mundo? Porque é que não se pode dizer bem de nada? Porque é que as pessoas com sucesso são sempre alvo de crítica e de ácida troça?
Com este tipo de raciocínio, não percebo porque é que a rapariga ainda não tem um blogue.

Merda

Deparou-se-me hoje um contratempo que penso ser de toda a utilidade comunicar a todos vós.
O meu telemóvel Nokia não aceita a palavra MERDA no editor automático de mensagens.
Logo à noite, vou ver o manual de instruções - lembro-me de lá ter visto que é possível acrescentar palavras ao Dicionário. Tenho mais duas ou três que, presumo, ser-me-ão úteis nos próximos tempos.

Justiça, outro exemplo

Um acórdão do Tribunal da Relação mandou que Paulo Pedroso continuasse preso. Esse acórdão foi emitido um dia após um acórdão do Tribunal da Relação ter mandado libertar Paulo Pedroso. (!!!!!)
Espantoso: o mesmo Tribunal da Relação recusara-se a apreciar um recurso da defesa, por alegadamente estar prejudicado por uma decisão entretanto tomada pelo juiz de instrução. Pela mesma ordem de ideias, e embora tratando-se de um acórdão sobre matéria diversa, não deveria ter sido cancelada a divulgação do segundo acórdão, visto o seu alcance ter sido claramente prejudicado?
Espantoso. Tudo espantoso.
Mas há mais: o tal segundo acórdão da Relação mantém a prisão de Pedroso porque:
1. Os maiores indícios dos crimes imputados ao recorrente, entretanto recolhidos, justificavam que o meritíssimo juiz Rui Teixeira reafirmasse a manutenção, agora reforçada, dos pressupostos que haviam determinado a opção pela medida coactiva mais gravosa. Espantoso: isto foi exactamente o que o outro acórdão deitou por terra...
2. Vergonhosa e inadmissível coacção psicológica exercida sobre (...) o juiz, quer por maus profissionais de informação, quer por figuras públicas de relevo, as quais devendo ter maior contenção (...) deixaram-se invadir por apaixonados sentimentos sectários. Espantoso: um arguido é prejudicado ou beneficiado consoante o que escrevem os jornais e os «sentimentos apaixonados» de «figuras públicas de relevo»...
3. Afinal, as vítimas não são agora as crianças violadas? Espantoso. Afinal, tudo se explica - esta secção da Relação é integrada por Catalina Pestana, Pedro Namora e o famoso Bibi, que, como se sabe, é o mais inocente desta história toda.
É claro que há alguém interessado em dar uma imagem pouco digna da justiça. E não são os políticos. E não são os arguidos. E não são os media. Qualquer comentário suplementar entraria, como se compreende, na área do ilícito penal!

No Outono, por entre folhas que caem...

Acontece no campo, mas também acontece na cidade. E é lindo!

quinta-feira, 16 de outubro de 2003

A Justiça - uma reportagem

A SIC Notícias acaba de exibir a mais impressionante reportagem que já vi sobre o estado da Justiça em Portugal. E em apenas 1 minuto.
À porta do TIC onde estão a ser ouvidos os arguidos do processo Casa Pia, dois caixotes do lixo abarratovam de papés. Nada mais nada menos que convocatórias, fotocópias de BI, extractos de processos, requerimentos... Tudo ali à vista, perfeitamente identificável, os nomes, as moradas, os telefones... Um retrato da competência, profissionalismo e seriedade com que a Justiça portuguesa está a funcionar.
Questionado um funcionário superior, lá foram recolhidos os caixotes.
Espero que a SIC volte lá amanhã à noite.
[Actualização: o Anarca, atchim, sempre de olho, atchim, também fala deste assunto, atchim, e remete para uma notícia do Público. Obri....Aaaaatchim... gado.]

Concor co o Liber Expres sobr o Fer

O Liberd de Expres pegou num text meu e cort aos bocad. cort, cort. Enfi, nad qu me espant vind de quem vem. Afin, el só queri dize mal do Fer Rodr, como de costu.
Pront par el nã se cans mai, aqu vai: concord com el - o Fer é munta feio, bué da fei. Nã se fal mai nis.

A chuva, ainda

Em dia com ameaças de chuva, não saia de casa sem ler isto. Serviço público sem taxa.

Às voltas, até ficarmos malucos II

O Liberdade de Expressão e a Grande Loja do Queijo Limiano (este através da e-mail) discordam do que escrevi sobre Ferro Rodrigues e a revista Le Point.
Aí vão alguns esclarecimentos, numerados, como o LE gosta:
1. O que o Le Point traz sobre Ferro é claramente baseado na manchete do Expresso: «Ferro consta do processo».
2. Essa manchete mereceu o seguinte comentário do PGR (24 Maio), citado pela Lusa: Numa nota hoje enviada à Agência Lusa a propósito destas notícias publicadas no "Expresso", a PGR assegura que "parte substancial dos factos referidos como incluídos no processo não constam efectivamente nele", mas não precisa quais.
3. Ferro Rodrigues nunca foi recebido pelo PGR no âmbito deste caso, mas apenas uma delegação parlamentar liderada por António Costa.
4. Ferro Rodrigues depôs, no DIAP, perante o juiz que instrui o processo, em 4 de Junho. Vários jornais disseram que ele ia pedir esclarecimentos. Não corresponde à realidade - o Conselho de Estado teve de dar autorização para ele depôr. Quem depõe não pede esclarecimentos, dá.
5. Eis o que Ferro disse numa conferência de imprensa, nesse dia: «Entrei com confiança que o Estado de direito e a Justiça vão continuar a procurar um esclarecimento total» do caso da Casa Pia, adiantou o secretário-geral do PS, acrescentando que saiu «com esta confiança reforçada». E mais: No final da conferência de imprensa, que decorreu às 18:00 no Parlamento, o secretário-geral deixou claro que continua a ser testemunha do processo. «Obviamente que continuo a ser testemunha», disse. (Notícia da Lusa).
6. Conclusão: Ferro foi ouvido sobre as suspeitas que constavam do processo, que sairam no Expresso e que o Le Point reproduziu. Mas não foi indiciado.
7. O LE, pela 98.ª vez este ano, prefere tirar a única conclusão que lhe interessa: «Ferro mentiu». Quanto aos limianos, gostava que me indicassem onde posso colher as declarações em que Ana Gomes considera credíveis as notícias do Le Point sobre os dois ministros pedófilos.
8. Insisto: não vale a pena andarmos às voltas, discutir o que já nem discussão tem. Ficamos todos (ainda mais) malucos.

Chuva e utopia

O Viva Espanha (curioso nome...), respondendo ao meu apelo sobre a melhor maneira de evitar os pingos de chuva, lembra que correr, embora evite a dita chuva, cansa mais.
O mundo perfeito, meus amigos, continua por inventar. É por isso que toda a utopia ainda faz sentido, embora todos os dias nos tentem demonstrar o contrário.

O sonho de qualquer jornalista

No Glória Fácil, transcreve-se o seguinte parágrafo do Grande Arquitecto:
«Abri clarabóias no telhado, fazendo entrar a luz. Os tectos amansardados foram forrados a aglomerado de cortiça na cor natural. Pintei todas as madeiras a esmalte vermelho escuro e forrei o chão com alcatifa de sisal.»
Eis o sonho de qualquer jornalista - ter um director que abra clarabóias no telhado.

Às voltas, até ficarmos malucos

Há coisas que uma pessoa, por mais voltas que dê, não percebe.
Por exemplo, porque é que o Fumaças escreve isto e o Grande Loja do Queijo Limiano subscreve.

E porque é que a Drª Ana Gomes não fala deste parágrafo do célebre artigo do Le Point, publicado já nos idos de Junho (nº 1605 - 20 de Junho)?
... Dernière personnalité sur le gril, Eduardo Ferro Rodrigues, le patron du PS portugais, dont certains témoins affirment qu'il assistait parfois, sans y participer, aux parties pédophiles.
Para mim, tem exactamente o mesmo valor de qualquer outro excerto do mesmo artigo!


Mas, então, não foi por isto que o Ferro Rodrigues foi ouvido, umas largas horas, pelo procurador que tem o processo? Isto da Casa Pia já é uma história de malucos, se andarmos às voltas, em círculo, ficamos tão malucos como eles.

Pedroso no Público

Notável a entrevista de Paulo Pedroso ao Público de quarta-feira.
Pelas respostas e pelas perguntas.

Pronto, desisto

Já a minha mãezinha me dizia para não brincar com coisas sérias...
Sou alertado pelo Bloguítica de que o Governo português, afinal, vai manter a publicidade na Time.
Repito, não se deve brincar com estas coisas. A realidade ultrapassa sempre qualquer tentativa de humor.

Tlim, Tlim, Tlim

O Conselho Executivo da AOL Time Warner, proprietária da revista Time, cadeia CNN e mais uma data de coisas importantes no mundo dos media, está reunido de emergência para analisar a decisão do Governo português de suspender a campanha do Euro'2004 naquele famoso news magazine.
«A notícia apanhou-nos completamente de surpresa», reconheceu o presidente honorário do conglomerado, Ted Turner.
A generalidade dos outros membros do Conselho escusaram-se a comentários, mas observadores bem colocados admitem a hipótese de a empresa ser obrigada a encerrar os escritórios no Togo, ou mesmo a suspender a publicação da edição em esquimó clássico, de forma a fazer frente ao rombo nos lucros que significou a decisão de Lisboa.
Nos meios económicos de Atlanta admite-se que uma das medidas retaliatórias poderá passar pela codificação do sinal da CNN para Portugal. A empresa estará em contactos com a TV Cabo, analisando a hipótese de a emissão da CNN poder chegar a Portugal com o som do Canal 18.
No entanto, os elementos mais moderados do Conselho Executivo preparavam-se para propôr uma tentativa de conciliação. Lisboa voltaria a fazer publicidade na Time e, em troca, Jane Fonda reataria relações com Ted Turner e viajaria de seguida para Portugal onde inauguraria um estádio a indicar pelo ministro José Luís Arnaut.
[Aos não iniciados, informa-se que o título deste texto é a tradução literal das campaínhas dos velhos telexes, a avisar que acabava de chegar uma notícia de última hora.]

Cruzado ele próprio

E, é claro, há quem não se fique pelas palavras. Quem parta mundo fora «atrás dos cruzados». Cruzado, também ele.
Já não fomos a tempo de lhe dizer: cuidado, «bizde daima Batı merkezlidir. Yani tangolar, rumbalar, mambolar falan». Até porque o tal imperador, que perdeu um combate há seiscentos anos, dorme um sono justo. Estes são tempos de outro(s) império(s).

Veki funkcias kiel diskutlisto?

À mesma hora a que o Eduardo Prado Coelho vê o Big Brother, em compactos, no Canal 43 e sabe-se lá se pela parabólica, o Francisco estuda línguas.
Sugiro-lhe esta: «Veki funkcias kiel diskutlisto kaj emas helpi la disvastigon de la internacia lingvo, instigi la novulojn al la praktikado de Esperanto kaj informi.»
Disseram-me um dia que isto seria perceptível por toda a gente. Enfim...

Havde vi glæden af et besøg?

Tenho aqui uma dinamarquesa em linha que quer saber se «en første lørdag og søndag i oktober havde vi glæden af et besøg fra vores søstermenighed i Tyskland. Vi lærte meget om at have en fælles vision, samt om at bygge tillid og vise respekt»?
Respondi-lhe que «det synes jeg simpelthen virker meget, meget mærkeligt. Jeg er lige ved at sige, at det ville være pligtforsømmelse», mas não sei se ficou convencida.
Com as dinamarquesas tenho sempre estes problemas. O discurso flui, mas sinto que a corrente não passa.

quarta-feira, 15 de outubro de 2003

Neurablogue ou blogoneura?

Uma volta pelos blogues do costume (cliquem ao calhas na coluna do lado...) e uma constatação: a neura é geral. Resta-me uma dúvida - será mais correcto chamar-lhe neurablogue ou blogoneura?

No comments

O jornalista Daniel Schneidermann trocou de máfia... perdão, trocou de patrão. Foi despedido pelo Le Monde e agora escreve no Libération... o jornal que mais barulho fez à volta do caso Le Monde. E, agora, quando Schneidermann resolver atacar os patrões do Libé? Ou será que o contrato tem alguma cláusula de excepção?

Por entre os pingos - uma sugestão

O João, d'a-metamorfose, sugere um um teste anti-pingo. Mais científico não poderia haver. Vou andar com uma cópia no bolso.

Por entre os pingos

Hoje, deparei-me com um dilema clássico. Quando chove, é preferível andar calmamente ou correr?
Sei que o problema foi estudado cientificamente há uns anos. Alguém se lembra da resposta?

Chega de brincadeira!!!

Parem lá com isso!!!
O patrão já andava desconfiado que eu usava os meios da empresa e o sagrado tempo dele para opinar contra a corrente. Agora, vai descobrir que a malta dos blogues ainda se diverte à brava com isto. Qualquer dia... qualquer dia... bloqueia-me o Blogger. E depois queixo-me a quem? Ao Bagão, ao Proença. Ou simplesmente ao Carvalho?

terça-feira, 14 de outubro de 2003

Ainda o Le Point

Pronto, desliguem as luzes, eu confesso tudo.
Alguém passou boa parte da tarde (pelo menos três vezes... ) a teclar no Google site:terrasdonunca.blogspot.com Le Point. Parece que há alguém muito interessado em saber a minha opinião sobre o assunto. E não é seguramente a Le Point para me oferecer uma assinatura. Então aí vai, numerado para se perceber melhor.
1. Não gosto da revista. Não a leio habitualmente. Tendo em conta o seu perfil político, deve ser muito lida nos gabinetes da coligação no poder.
2. O que escreveu sobre o caso da pedofilia é tão ou mais leviano quanto aquilo que muitos jornais e revistas portugueses escrevem acerca o que se passa lá fora. Como é «lá fora», pensa-se que se pode escrever tudo, sem o perigo da sanção. Escrevemos sobre as máfias russas como se toda a gente fosse mafiosa em Moscovo. Falamos de um político qualquer europeu e chamamos-lhe corrupto com toda a facilidade.
3. O facto de a revista ter acusado dois ministros do Governo português - um de pedofilia, outro de frequência de meios de prostituição - deveria ter levado o Governo português a reagir. A notícia afecta a imagem de Portugal. E era muito simples: uma cartinha para a revista a exigir publicação do desmentido e uma comunicação à Procuradoria-geral da República «para os devidos efeitos». O PGR diria, então, o que veio dizer agora. Não percebo onde está a dificuldade de perceber estas coisas.

Ainda a Time

Amanhã já não se fala mais nisso.
Mas o Cerco do Porto tem razão - o que deu a esta gente (rádios, mas, principalmente, televisões) para voltarem a Bragança, contarem as mesmas histórias que já tinham contado há meses, só porque uma revista estrangeira fez capa com as meninas brasileiras? É claro que a Time tem muito impacto (embora não me tenha dado ao trabalho de ver se as edições extra Europa Ocidental trazem alguma coisa de Bragança), mas não deixa de ser sinal de algum provincianismo este regresso ao local do crime.
Poderia dar-se o caso de a Time ter trazido qualquer coisa de novo sobre o assunto. Mas nem isso. De resto, a Time é uma revista de jornalismo mastigado, sem novidades.
Amanhã já não se fala mais nisso.
Última hora: embalado pela força da comunicação social, o Governo pondera suspender a campanha do Euro'2004 na Time. Começo a ficar rendido - os media têm, de facto, muito poder.

Agradecimentos

Ao Adufe por nos ter informado, minuto a minuto, do duelo entre a Ana Gomes e a Helena Matos. A Ana Gomes ganhou, é claro, apesar de todos os comentadores televisivos e blogueiros encartados dizerem o contrário.
Ao Retorta por me tentar levar por bons caminhos. Dá-me música, ainda por cima Young Marble Giants, mas já deve ter percebido que carrego uma maldição - entre a política e a jornalismo, sou um Diabo sem escolha.
Ao T-Zero. Diz o Ralo que eu não me ralo com ele. Olá se ralo, meu caro Ralo.
À Catarina, do 100 nada, por me ter transportado no saco de links para o Weblog.
Ao Alfacinha por ter tirado da prateleira o Marc Almond a cantar Brel. Vale a pena escutar.
E, porque não?, a todos os que tornaram isto possível. Sniff.

Jardim, os jornalistas...

Os partidos são organizações peculiares. Gosto de pensar neles como uma personalidade esquizofrénica.
Dou um exemplo. O PS. Há uma reunião do partido e decide-se que é preciso atacar o Presidente da República. É claro que não pode ser o líder, porque é amigo e é líder. Encontra-se, então, alguém tipo Manuel Alegre ou Medeiros Ferreira, que não terão qualquer problema em se atirarem ao PR pela esquerda. Mas imaginemos que o objectivo é atacar o Bloco de Esquerda por causa de questões relativas ao aborto? Helena Roseta, por exemplo. E para atacar a direita por causa do mesmo tema? Talvez Maria de Belém. Ou até Maria do Rosário Carneiro.
No PSD é a mesma coisa.
Por exemplo, vejam esta frase: Ou deixamos a comunicação social ter um poder corporativo crescente que nos liquide, ou então temos o poder e a coragem de liquidar o poder corporativo da comunicação social.
A frase foi proferida por Alberto João Jardim, nas jornadas parlamentares do PSD. Agora, imaginem que se pretendia fazer passar a mensagem junto de pessoas, digamos, mais cultas, que lêem livros, fazem blogues... Vá lá, imaginem quem seria a pessoa escolhida para passar a mensagem...

Internacionalização

Acabo de ter acesso, presumo que em primeira mão, a uma lista das iniciativas que as autoridades portugueses tencionam patrocinar para promover a imagem de Portugal no estrangeiro.
As duas primeiras, dispenso-me de as referir. Quem ainda não ouvir falar dos artigos sobre Portugal que sairam no Le Point e na Time?
A terceira acção de promoção decorre até ao final de Outubro e envolve a Newsweek, que trará, numa das suas edições europeias, um artigo com o título: Portugal revoluciona métodos científicos para a contagem de mortos por motivos sazonais.
Em Novembro, sairá na Economist um texto intitulado Universidades portuguesas testam com sucesso sistema europeu de acesso ao Ensino Superior com base em critérios extra-curriculares.
No último mês do ano, será a vez de a Science & Vie dedicar um dossier a Portugal, com o título genérico Os domingos stéreo, no qual será incluído um texto com o título: Televisão portuguesa inova tecnicamente ao emitir, em simultâneo, a mesma opinião veículada por duas pessoas diferentes.
A mão amiga que me passou o documento garante que a programação para 2004 está dependente das negociações entre os operadores privados encarregues das acções no terreno e a dra. Ferreira Leite.

Importam-se de especificar?

Brasileiras, prostitutas, Bragança, Time... não sei... acho isso tudo muito vago. Na próxima edição, importam-se de juntar os números de telefone, as tabelas de preços e o Número de Contribuinte dos clientes pra malta investigar?

Outros lugares

O Migalhas mandou-me um mail a partilhar dicas sobre blogues apaixonados. Teve a delicadeza de nem me alertar para um quase plágio de um título de post. Foi lá que reencontrei um blogue com uma ideia engraçada. O Thelma&Louise.
Às vezes de gosto de pensar... de passear... que há quem vá escrevendo por caminhos tão diferentes dos meus.

Intervalo para duelo

Hoje, ao fim da tarde, não há blogue pra ninguém. Vou estar em Gaia a assistir ao duelo entre a Ana Gomes e a Helena Matos. Não preciso dizer por quem torço, pois não?

Shiu

Nem mais meu caro, nem mais!

Faz-me um blogue

Estou a precisar de limpar os olhos. Ou será a alma?
Eu sei, a culpa é minha. Toda minha. Minha grande culpa. Entusiasmo-me com a Ana Gomes, irrito-me com o George W. e depois não há Brel que me sossegue. Que raio de ideia, sossego nunca rimaria com Brel... Adiante.
Do que eu gostava agora mesmo era de um blogue de amor. Com declarações arrebatadas, dilacerantes, dilaceradas. Talvez com um pouquinho de sexo, só na medida certa. Mas amor, isso sim.
Preferia sem imagens, sem música. Só a palavra. Que, em vez de me tentar convencer, me tentasse vencer. Que não desse luta, que lutasse comigo corpo a corpo. Um blogue como um oásis na cidade, um porto de abrigo.
Faz-me esse blogue!

Divergência?

Ó Francisco, porque é que o teu Sitemeter tem o código «divergência»?

Coisas da epiderme

Então é assim: o mundo é a preto e também a branco. E há os bons e os maus. Vamos lá a repetir: o mundo é a preto e branco, há os bons e os maus... Isso, vá lá: agora repita para dentro. Interiorize. Já está? Pronto: agora você pode chamar-se FNV e pode começar a escrever no Mar Salgado (link na coluna da direita, da direita, não se engane...).
Isso, vá repetindo: os bons e os maus, la la, la la...
Ah, já me esquecia. Os jornalistas são sempre maus. Nunca discuta ideias com eles. Ataque. Simplesmente ataque. Jornalista? Pum, pum. Não tenha medo, não está sozinho...

Retórica e reflexão

O Retórica e Persuasão é um daqueles blogues que cultiva a serenidade perante a turbulência. Um bom exemplo disso é o que escreve aqui e aqui sobre Pacheco Pereira.

Casa (pausa) Pia

Muito sinceramente, não me apetece escrever mais sobre a Casa Pia, o Pedroso, o PS, a justiça...
Acho que já disse tudo. Vou tentar fazer uma pausa.
Antes, porém, recomendo este texto do Avatares.

segunda-feira, 13 de outubro de 2003

Casa Pia - a politização

O que escrevi sobre Ana Gomes foi mais um ponto de chegada do que de partida. Porque o fundamental do que penso sobre o assunto já o havia escrito. Mesmo assim, aí vão mais umas achegas:
1. A politização. Como a memória é fraca, já ninguém se lembra que, nas primeiras semanas após a detenção de Pedroso, o nome de Ferro fez manchetes. Mesmo um caso patético do ISCTE fez manchetes. Ferro foi criticado pela maneira exagerada como reagiu. Tivesse ele reagido de forma mais tíbia e já hoje não seria líder do PS. Talvez estivesse preso.
2. A politização II. O PS, pelo que atrás ficou dito, ficou completamente refém deste caso. Durante meses, os jornalistas não perguntaram outra coisa a Ferro. Durante meses, o PS ficou limitado na sua capacidade política.
3. A politização III. Pedroso garante que está inocente. Os seus camaradas de partido acreditam e agem em conformidade - com a indignação de quem se sente injustamente acusado. Não vejo outra forma de reagir.
4. A politização parte IV. À semelhança da totalidade dos detidos, Pedroso ainda nem sequer tem acusação. Qur isto dizer que não se pode defender. Quer perante a justiça, quer perante a opinião pública diariamente intoxicada com noticiário libertado pela acusação.
5. A politização parte V. O juiz Rui Teixeira, quando recebe um recurso de Pedroso, antecipa a audição para confirmação da prisão preventiva, inviabilizando o recurso. O Tribunal da Relação lava daí as mãos e recusa o recurso. Nada disto é normal. Tratando-se de um processo complexo e mediático, é ainda mais anormal.
6. A politização parte VI. Quando o caso começa a chegar aos tribunais superiores, toda a investigação começa a ser posta em causa. De uma forma brutal.
7. A politização parte VII. Insisto num ponto fulcral que já abordei anteriormente: tratando-se de um caso desta gravidade, será normal que o resto da rede continue à solta? Ou não haverá mais rede e os anos (as décadas) de exploração de crianças da Casa Pia destinavam-se a servir a meia dúzia de senhores que estão detidos?
8. A politização parte VIII. Anda meio mundo irado com a politização que o PS estará a fazer deste caso. Mas pensará esse meio mundo que os juízes, os investigadores, vivem numa redoma, em ambiente esterilizado, e são imunes às pressões? Acha esse meio mundo que os juízes, os investigadores, são sensíveis às pressões do PS só porque fala alto e não às outras feitas em surdina, sopradas de locais inconfessáveis? Mas será que esse meio mundo é composto por virgens, acabadinhas de nascer?
9. A politização parte IX. Acabo de ver uma senhora chamado Dulce Rocha a levantar meias insinuações sobre os juízes da Relação? Isso não é pressão? Vi ontem as declarações patéticas de um psicólogo sobre os sentimentos das crianças da Casa Pia - mas essas crianças não têm direito ao recato? Se há ameaças de morte, que as comuniquem às autoridades. Expôr isso tudo na televisão não é uma forma de pressão sobre a justiça? Com isto ninguém se indigna? E nem falo do procurador...
10. A politização parte X. Uma certa malta indignou-se com a publicação de umas fotos do Paulo Portas, durante o congresso do PP, com a mão estendida, tipo nazi. Que era manipulação. Essa mesma malta acha normal que se montem imagens, na melhor tradição estalinista, misturando a libertação de Pedroso com a saída dos presos de Caxias? Ou com a libertação de Mandela?

Ana Gomes e os perguntadores

Hoje vi duas entrevistas a Ana Gomes na televisão. À hora de almoço na RTP, à hora de jantar na SIC.
Em ambas, os jornalistas perguntaram tudo o que havia a perguntar, com uma rispidez (ia a dizer agressividade...) pouco habitual na televisão (confesso, não tenho visto a TVI nas últimas décadas...).
Se não põem côbro a este esquerdismo das nossas televisões, não sei onde iremos parar.
Nota: o PGR esclareceu que aquilo do Le Point era tão vago, tão vago, que não tinha ponta por onde se lhe pegar. De facto: «ministros do governo português»... Mas qual governo? Há governo em Portugal?

Tomates de ouro

Este é um blogue de serviço público. Por isso, aí vai o alerta.
O El País (sem link, é a pagar) noticia hoje na primeira página: «Tomates a precio de oro». A coisa é simples: a generalidade dos produtos hortícolas está a registar aumentos de preço da ordem dos 25 a 50 por cento ao ano. A culpa, é claro, é da seca, mas, também, do crescimento descontrolado das margens de lucro por parte das grandes superfícies - houve uma concentração de grupos económicos, logo a concorrência ficou menos aguerrida, logo os preços aumentaram.
Para que conste: além dos tomates, estão a ser afectadas as «lechugas», algumas frutas e as «judias verdes» (sem relação directa com o conflito israelo-palestiniano).
Só estou a falar disto porque, como se sabe, quase tudo o que comemos vem de Espanha. Por isso...

Umas flores, porque não?

Eu gostava de enviar uma flores, malgré plus périssables, à Ana, para nesse gesto agradecer alguns textos simpáticos (não nomeio, simplesmente para não ser injusto por omissão) que circularam por alguns blogues durante o fim-de-semana.
Porque as flores, acho eu, se esgotam no gesto. Não perfumam o elenco de pequenas e grandes corrupções, acho eu.
Mas não devo. Sinceramente, não me apetece dar uma ponta, pontinha que seja, de razão a quem vê em tudo corporativismo e tráfico de influências.
Movem-me as palavras, as ideias. Em liberdade. Sem qualquer restrição de partido, sindicato, tribo ou lugar a defender.

Eu aplaudo Ana Gomes

É claro que aplaudo tudo o que disse Ana Gomes no fim-de-semana acerca do processo da Casa Pia. Quem leu o que já escrevi sobre o assunto deve achar até um pouco redundante esta minha declaração. Mas, neste tempo em que alguns preferem esconder-se por detrás de pensamentos pré-fabricados e na graça inconsequente, convém que se fale claro.
Que disse Ana Gomes ao DN?
«Falo no que o advogado de Paulo Pedroso falou: urdidura e maquinação. E temo que o objectivo seja, não atacar o PS, mas a justiça. E salvar os criminosos, da pedofilia ou outros.»
«Um caso como este , que se estende por décadas, não poderia ter chegado onde chegou sem cumplicidades fortíssimas, não só na instituição Casa Pia, mas noutras, incluindo do Estado. Espero que a justiça não se fique pela punição dos clientes, mas que vá aos orquestradores da rede.»
Considero estas afirmações de uma sensatez rara na política portuguesa. E acho espantoso que alguém as enquadre no mero jogo político. Ana Gomes sabe que, quando fala no aparelho do Estado, está a meter ao barulho o PS e que, se o caso for levado seriamente até ao fim, o PS será ainda mais chamuscado do que já está a ser. Mas, insisto, tem de haver seriedade e, pelo que temos visto até agora, isso é o que tem faltado mais. Presumo que por uma mistura explosiva de jogos de sombra e de incompetências várias.
Mas Ana Gomes disse mais no fim-de-semana. Exigiu que a justiça investigue se é, ou não, verdade que existem pedófilos no Governo, conforme noticiou o Le Point.
Outra das coisas espantosas que o caso da pedofilia trouxe ao espaço mediático é a convicção de algumas pessoas de que as denúncias anónimas são para deitar fora. Era o que faltava. O Ministério Público tem a obrigação, repito, a obrigação de averiguar todas as acusações feitas na praça pública, por maioria de razão se elas envolverem personalidades do aparelho do Estado.
É por isso que sempre achei que o Muito Mentiroso deveria ser investigado, até pela verosimilhança de algumas das acusações que lá constavam.
As denúncias anónimas sempre foram um dos pontos de partida fundamentais para qualquer investigação no campo da justiça ou do jornalismo. Uma coisa é publicar denúncias ou acusações anónimas. Outra, bem diferente, é investigar.

domingo, 12 de outubro de 2003

Sonhos roubados

«Truques para namorar com uma rapariga de 13 anos». Foi com esta frase teclada no Sapo que alguém visitou o TdN hoje à tarde. A estupidez dos motores de pesquisa tem destas coisas - misturam-se umas palavras, retira-se o contexto e voilá! Bom, não são apenas os motores de pesquisa a fazerem isto...
Do que eu realmente queria falar era da beleza daquela frase. Releiam: alguém quer namorar uma rapariga de 13 anos. Ninguém falou em «comer» uma «gaja» de 13 anos. Mas, nestes tempos agrestes, desconfiados, até aquele gesto belo, terno (qual de nós não quis namorar aos 13 anos?) ganha contornos de uma certa incomodidade.
Estamos a ficar reféns de todas as maldades do mundo.

Mota Amaral e os vândalos

Mota Amaral, presidente da Assembleia da República, mostrou-se muito «chocado» com o vandalismo que acompanhou a recepção a Paulo Pedroso no parlamento. Isto foi no Expresso, porque no JN de ontem parece que já se afirma «compreensivo».
A avaliar pela fotografia que acompanha a notícia do Expresso, Mota Amaral tem poucas razões para estar chocado. Acontece apenas que as mesas da Assembleia da República têm pés de barro. Como quase tudo naquela casa.